O Alvorecer de Uma Nova Era

Capítulo IV - Amor e Guerra


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“Os romenos detinham na época um poder imenso. Quando fizemos o primeiro ataque, haviam sete Nascidos e mais quinze Criados. Na época havíamos feito um acordo com a casa D’Antoine francesa, então éramos em seis Nascidos e mais vinte Criados. Essa aliança só foi possível porque a líder da D’Antoine e eu éramos... casados.”

Marcus disse esta última parte com uma certa dificuldade, mas não pude ouvir sua mente dizer o motivo. Presumi que ela devia ter morrido em batalha, mas foi só então que notei que, apesar da mente de Marcus ser enorme, nada havia nela. Estava completamente em silêncio. Isso era estranho, já que normalmente, quando uma pessoa está falando, posso ouvir sua mente falando o mesmo, ou até mesmo pensando na próxima sentença.

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Curiosidade, receio, e uma pontada de desconfiança me assolaram nesse instante, mas consegui segurar-me e deixar que ele terminasse seu relato. Todos estavam concentrados em Marcus.

“O primeiro ataque foi contra os Báthory. Seis vampiros ao todo, dois Nascidos. É claro que não resistiram por muito tempo, mas tiveram tempo suficiente para matar quatro de nossos Criados e deixar de prontidão os Draculea e os Vladesco.

“Quando chegamos no Castelo de Bran, a morada dos Draculea, fomos recebidos pela maioria dos Criados que os romenos possuíam. Nove ao todo, e mais três Nascidos. Essa foi a batalha mais tensa de toda a campanha contra os romenos. Numericamente estávamos sim em maioria, mas alguns romenos são excepcionais no que concerne à poderes psíquicos. Erzsebeth Báthory, a líder dos Báthory podia plantar informações e cenas na mente de quem quer que fosse à distâncias praticamente continentais. Foi assim que as outras linhagens ficaram sabendo de nossa aproximação.

“Bom, para encurtar a história, foi uma grande sorte que a maioria dos Draculea não tivessem poderes. Podíamos resguardar nossas energias para os Vladesco, que guardavam a fama de serem tão poderosos física quanto mentalmente. Quando Caius, Sarah e eu derrotamos Tsepesh Draculea, o líder deles, os outros vampiros que restavam desbaratinaram do campo de batalha, entre eles Stefan, mas nunca chegaram a se juntar aos Vladesco. Aqui perdemos praticamente todos nossos Criados restantes, e nós mesmos estávamos completamente exaustos, mas acabamos por decidir continuar, caso contrário, não teríamos outra chance.”

Parecia que Marcus havia se esquecido que tantos olhos se fixavam nele nesse exato momento. Agora ele se levantara e tinha ido em direção ao vidro. Olhava para o longínquo horizonte glacial, perdido em pensamentos mudos. Quando falou, depois de alguns minutos, sua voz era pesadamente carregada de dor, angústia e sofrimento velados pela melhor das atuações de um imortal.

“Foi a pior decisão que tomei em toda minha eternidade, certamente. Eu compactuei com prosseguirmos a campanha, quando meu próprio coração queria voltar, reorganizar-se e daí então atacaríamos os Vladesco. Mas não, eu insisti. Se deixássemos que eles tivessem tempo para respirar, logo os remanescentes dos Draculea se juntariam, reergueriam seu contingente de Criados e nunca seríamos capazes de vencê-los. Agora eu vejo. Estava ludibriado de poder e glória, sim, mas o que realmente me fez perder a visão foi Aro. Aro e Ístria.”

Ninguém ousou questionar Marcus sobre quem era Ístria. Todos estavam gritando de curiosidade, mas não fazia sentido perguntar em voz alta. Marcus certamente não ouviria. Ele dizia, com todas as palavras, e ainda assim completamente emudecido que não estava ali, realmente. Estava no campo de batalha, rememorando tudo que havia visto, sentido e sofrido.

“Agora haviam dois Nascidos. Vladimir e Alexander Vladesco. Vladimir era originalmente um Draculea, mas foi viver com Alexander muito jovem. Alexander nunca criara nenhum vampiro, e nem tinha parentes consangüíneos, mas sua habilidade era incomparável. Ele podia literalmente controlar qualquer ser vivo. Um pássaro, um cão, um ser humano. Nem as plantas escapavam de seu domínio. Total subserviência”.

“Não se precisa dizer o que ocorreu depois. Alexander tomou o controle de cada um de nossos criados restantes, um por um. Por fim, nossos dois irmãos, Cratos e Severus, se sacrificaram para permitir nossa fuga. Apesar da vitória, Alexander não reclamou novamente o poder para si, e assim nós Volturi pudemos governar. Porem, eu não compartilhava das aspirações de poder dominador que Aro e Caius tinham. Entendam, eu havia encontrado meu coração e agora nada mais importava realmente. Tenho sorte de poder falar isso com vocês” Marcus finalmente se lembrara que estávamos ali, virando-se com um sorriso de gratidão “só quem já encontrou seu coração entende que quando se encontra, só o que queremos é ficar com ele, e nada mais”.

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O que se seguiu foi uma inversão de situações. Agora quem ficara esquecido fora Marcus. Sua voz tornara-se apenas uma narração, ao fundo, daquilo que cada um pensava quando olhava para seus, como Marcus nomeava, corações.

Ele esperou pacientemente até que todos olhassem para ele novamente. Olhassem não para o altivo e antigo vampiro que se sentava em um dos tronos brancos de Volterra e vestia uma capa negra, mas sim para um ser que perdera sua alma, não por matar humanos para viver, mas porque perdera aquilo que lhe provava a existência de uma alma. Ele perdera seu coração, o amor mais incondicional e transcendente que pode haver.

“Sim... eu perdi aquilo que vocês são uns dos outros. Eu perdi Sarah poucos anos depois de voltarmos a Volterra”.