Logo assim que Nicholas saiu, eu me levantei e voltei a caminhar para as lojas. Uma loja de jóias me chamou a atenção e eu entrei. O lugar tinha uma iluminação incrível e um cheiro muito agradável. Vários colares estavam expostos e também diversas pulseiras e jóias de todo tipo. Uma delas me chamou a atenção. Era uma pulseira de ouro com um pingente que parecia uma bola de vôlei, seria um ótimo presente para Matt, mas quando olhei o preço quase caí para trás. Aquilo era caro demais, mas eu me senti tentada a comprar.
Um homem que parecia ter cerca de quarenta anos se aproximou de mim. Ele se vestia como um jovem. Usava um camisete jeans, uma bermuda e um sapa tênis. Tinha olhos castanhos e cabelos grisalhos.
— Bonito, não? — Ele disse apontando para o colar.
Não entendi qual era a dele, mas ele possuía um charme único e sorria de lado. Eu podia jurar que ele era gay, mas resolvi disfarçar e finalmente o encarei. Ele reagiu de uma forma estranha. O homem simplesmente se afastou como se quisesse ter uma melhor visão de mim e sorriu triunfante em seguida. Eu franzi as sobrancelhas como resposta.
— Você é quase perfeita. — Ele comentou parecendo analisar algo, ou melhor, eu.
Tá, aquilo estava ficando realmente estranho. Muito estranho pra ser sincera.
— O que você quer dizer? — perguntei confusa.
— A gente pode conversar em outro lugar? Pode ficar tranquila, eu não sou um pedófilo e nem gosto de mulher pra ser sincero — ele afirmou e olhou em meus olhos.
Algo me dizia que ele era confiável, mas eu não sairia andando por aí com um estranho para baixo e para cima. A curiosidade me tomava aos poucos e acabei cedendo.
— Vamos até a praça de alimentação — Sugeri e ele pareceu aliviado.
Caminhamos silenciosos até uma mesa vazia dentro de uma cafeteria. Ele se sentou e puxou minha cadeira. Sorri com o gesto e ele sentou com as pernas cruzadas e com o olhar sobre mim. Pediu um cappuccino para si mesmo e um para mim que insisti que estava cheia. Ficamos em silêncio até que o café chegasse e eu só conseguia mexer as pernas. Estava ansiosa demais.
— Então, mocinha — Ele chamou minha atenção e eu o olhei atentamente. — O que faz da vida?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Nada. Ou melhor, sou estudante quase formada — respondi mexendo meu copo de café de um lado para o outro.
— Já te disseram que você deveria ser modelo? — Ele questionou.
— Nunca — Suspirei ao lembrar que sempre fui à excluída e também que tinha passado bons anos sendo gorda.
— Descobri um diamante bruto! Sou um gênio! — ele falou para si mesmo e eu continuei sem entender.
— Como?
— Você com certeza não têm altura para a passarela e acho que suas bochechas são um pouquinho gordas para algumas fotos de perto — Ele afirmou categoricamente e eu confesso que me ofendi. Ele me chamou de baixinha e bochechuda. — Mas seus olhos têm um brilho especial e a sua pele me lembra a de Audrey Hepburn, só que bem mais bronzeada. Você é muito normal, mas ao mesmo tempo parece diferente. Sei lá, misteriosa. Você com certeza seria uma excelente modelo para o anúncio que quero fazer. Sem contar que o seu cabelo é o ideal para o comercial de televisão.
Quando ele finalmente terminou, eu estava abismada. Ele estava me chamando para fazer um comercial de televisão. Mesmo que nada daquilo estivesse em meus planos, seria uma ótima oportunidade para mim, já que eu queria ser atriz. O que me intrigava é que logo eu, que nunca me achei nada especial, tinha chamado a atenção dele. Ele só podia estar louco.
— Então, o que me diz? — ele perguntou.
— Digo que você é louco de pensar isso de mim. Fala sério! Eu não sou feia, mas modelo? Parece demais para alguém que alguns meses atrás usava orelhas de coelho e se escondia atrás de moletons!
— Que isso, menina! Você é muito bonita. Se usava essas coisas é porque era insegura e se não usa mais, é porque já não é — Ele segurou minha mão.
Então eu parei pra pensar em como mudei. Antigamente eu costumava deixar pessoas como Katherine e Angela me fazerem me sentir um lixo, mas desde que me aproximei de Matt as coisas mudaram. Eu me tornei incrivelmente confiante de um tempo pra cá e se esse homem que mal me conhecia já tinha percebido, porque eu ainda não?
— Primeiramente, quem é você? — perguntei desconfiada.
— Simon Hansen. Trabalho com publicidade há quinze anos e pode confiar que posso te transformar em uma estrela se deixar — Ele piscou um olho.
— E esse comercial é sobre o que?
— Um shampoo de cabelos novo. Contrataram a minha empresa para criar o comercial de TV, mas eu ainda não havia encontrado a estrela — Fechei os olhos quando ele disse a palavra "estrela".
— E suponho que a estrela seja eu, certo?
— Certo. Qual é o seu nome?
— Melanie Clarckson Guire — respondi e ele mexeu nos cabelos.
— Certo, Melissa Guire
— Melanie. — corrigi.
— Desculpe Melanie — ele se desculpou e sorriu sozinho.
— Sem problemas, Samuel — provoquei-o.
— Simon. — ele me corrigiu.
— Desculpe Simon — Ele riu.
— Gostei de você. Se quiser mesmo ser a estrela desse comercial, vá até esse endereço com seus pais. Você é menor de idade, eu presumo — ele falou e eu confirmei. — Você não precisa fazer teste algum, vamos apenas ensaiar e cuidar da tua imagem.
— Tá bom — eu falei. Estava louca para simplesmente me distanciar.

Mas não, não foi o que fiz. Na verdade o que fiz se resumiu a ficar parada esperando que ele dissesse algo e ele não o fez.

— Então, eu já vou indo. Não deixe de ir até o local, eu estarei te esperando com a minha equipe – ele anunciou, se levantando e caminhando em direção ao balcão.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O homem deixou uma nota de vinte dólares com um dos funcionários e saiu em seguida. Eu continuei parada sem pensar muito e em seguida me levantei e caminhei até Vanessa e Cory, que brincavam como duas crianças que eram. Eu sorri ao ver os dois e me sentei toda aberta em uma cadeira.

— O que aconteceu? Você está estranha! — Cory comentou e eu abaixei a cabeça. Estava pensando sobre a oferta do homem e sobre o que faria da minha vida, mas não deixei transparecer. Abaixei a cabeça e em seguida levantei jogando o cabelo pra cima.

— Não aconteceu nada e eu não estou estranha.

— Mel, você está mais do que estranha — Vanessa observou.

A verdade era que por mais que eu pensasse, não conseguia achar uma solução. Matt com toda certeza precisaria se mudar por conta de sua carreira e eu também não poderia frear minha vida simplesmente porque namorávamos. Era tudo uma questão de ser madura o suficiente e fazer a escolha correta. Se a oportunidade estava aparecendo, eu deveria agarrá-la com unhas e dentes e fazer valer à pena. Minha consciência insistia em gritar que Matt havia recusado ir para a Rússia por mim e eu estava sendo egoísta em pensar daquela forma, mas eu deveria simplesmente explicar a situação para ele e torcer que ele entendesse. A vida é muito mais que namoricos adolescentes e paixões infantis. A vida precisa ser vivida, com ou sem um amor.

— Eu não estou estranha, parem em insistir com isso! Eu estou perfeitamente bem e vocês parecem estar também. Vamos apenas nos levantar e ir para casa — falei sem não entender exatamente o que estava dizendo.

— Que bicho te mordeu, Mel? — Cory perguntou, intrigado e eu revirei os olhos.

Eu estava tão estressada e tão imersa em meus próprios pensamentos que nem me dei o trabalho de respondê-lo. Levantei-me e caminhei até o estacionamento, esperando que os “pombinhos” me seguissem, e caso eles não seguissem, eles ficariam a pé.

Entrei em meu carro com rapidez e logo vi que os dois entraram atrás. Liguei a rádio e tocava uma música qualquer, aumentei o volume e acelerei. Abri as janelas e deixei que o vento acabasse com o meu cabelo. Em menos de vinte minutos estávamos em casa, mas não sem eu ter avançado um sinal. Eu nunca tinha levado uma multa antes, então meu pai não se importaria de pagar essa. Guardei o meu carro na garagem e eu estava decidida a ir falar com Matt, quando ela apareceu. A baixinha que eu não via há dias, Angela Ventura estava na porta da minha casa.

Ela parecia diferente. Vestia uma calça jeans clara e usava uma regata comum. Nada de saltos dessa vez. Ela calçava simples sapatilhas que acabavam por mostrar a sua real altura, ela não devia medir nem 1,50. Parecia uma anãzinha, mas eu tinha que admitir que ela era muito bonita. Tão bonita e tão imbecil.

— Então aqui está ela — Angela gritou apontando para Vanessa.

— Lá vem! Não estou com paciência para crianças hoje — Vanessa respondeu suspirando.

Cory me olhou confuso e eu devolvi o olhar. Vanessa já havia brigado com Angela e nessa ocasião quem tinha salvado a "vida" de Vanessa tinha sido Cory. Angela empurrou Vanessa de uma altura enorme e eu jurei ter escutado sons de ossos se partindo no dia. Por sorte Cory a segurado e impedido o estrago. Desde esse dia, eu não falava com Angela.

— O que você fez foi cruel. Quando eu provar que foi você que adulterou meu shampoo, você estará muito mal! — Angela gritou e foi aí que reparei em seu cabelo.

O cabelo de Angela costumava ser liso e sem nenhuma ondulação e escuro e brilhante. Era um liso japonês e eu podia dizer que era um dos cabelos mais bonitos que eu já tinha visto. Ele tinha peso e balanço e andava sempre muito arrumado, mas hoje ele estava completamente diferente. O cabelo de Angela parecia ter sido cortado com uma navalha e caía sem vida em cima de seu ombro. Eu tive que fechar os olhos para não reparar no resto. Agora o cabelo tinha uma cor totalmente estranha, estava alaranjado em algumas partes e amarelo em outras.

— Meu Deus! O que aconteceu com o seu cabelo? — perguntei confusa e ela deu um sorriso debochado.

— O que aconteceu, Mel? Sua amiga que você preza tanto e que fez você me odiar, colocou alguma coisa no meu shampoo e isso aconteceu com o meu cabelo. Agora eu não sei mais o que faço, minha cabeleleira disse que nunca viu nada do tipo e acha que se mexer pode piorar — ela respondeu olhando tristonha para o seu cabelo.

Eu não queria, mas senti pena. Com certeza o que Angela tinha feito era ruim. Ela havia destruído minha amizade com Vanessa e depois quase a quebrou em várias partes, mas ainda sim eu sentia pena. Eu não tinha certeza de que tinha sido mesmo Vanessa a culpada, mas eu poderia imaginar que sim.

— Pare de me acusar dessa forma! Todos sabem quem é a verdadeira malvada aqui! — Vanessa se defendeu e Cory se aproximou de Angela.

Vanessa pareceu irada com isso e eu fiquei sem entender. Cory nunca foi amigo de Angela e eu tinha duvidas se ele pelo menos gostava dela.

— Eu posso ver? — ele perguntou e a baixinha assentiu.

Cory puxou uma mecha do cabelo dela e aproximou de seu nariz, em seguida passou os dedos e olhou com aparente pena da garota.

— Adicionaram algum tipo de erva aqui e com certeza algum ácido fraco também — ele concluiu e eu olhei no mesmo instante para Vanessa.

Estava óbvio que foi ela. A única pessoa que teria acesso a ervas era ela, já que sua avó fazia remédios caseiros. Era errado culpar alguém, mas pela expressão de Vanessa, era impossível não fazê-lo. Ela deu um sorrisinho de lado e em seguida fixou os olhos em Cory.

— Eu posso explicar — ela começou, mas eu não deixei.

— Não diga nada.

— Ela quase me matou, Mel — Vanessa observou. — O que queria que eu fizesse? Deixasse quieto? Eu não tenho sangue de barata e ela mereceu!

Cory estava boquiaberto. Provavelmente todo o progresso que havia feito com Vanessa tinha ido água abaixo.

— Eu fiz apenas o que podia. Queria que eu deixasse você me estapear? Mas isso? Foi cruel, Vanessa! — Angela exclamou.

Eu sabia que tinha que fazer algo.

— Angela, vá para casa — disse olhando no fundo de seus olhos. — E Vanessa, vamos entrar.

Vanessa se aproximou de mim e nós caminhamos em direção à porta. Cory ainda conversava com Angela. Lancei-lhe um olhar de reprovação e ele deu de ombros.

Meu dia estava sendo difícil até ali, mas eu sabia que ele ainda não tinha acabado.