Nuvens de Sangue

Capítulo 20 - Maycon: Parte 2


O céu continua intangível, mas agora não transmitia a mínima vontade de ser tocado. Mesmo passando dias com essas nuvens cinzentas, ainda lembro do céu azul. Do que sinto mais falta é o calor do sol atingir meu rosto pela manhã, meu sol neste tempo, era a primeira mulher que amei na vida. Sem ela sou como essas nuvens, cinzas e sem vida.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ainda abalado com o que acontecera com Marry, abracei forte minha irmã. Não saberia se teria essa oportunidade novamente. Olhando para cima tentando desvendar os enigmas contidos atrás daquele muro feito por eles, um muro penetrável, mas que ao ultrapassá-lo a morte certa esperaria ansioso para abraçar quem quer que fosse. Olhando nos olhos claros e no bico torto de Clarice que chorou ao imaginar minha ausência, falei palavras rudes.

— Fique aqui, tenho que achar a Luiza.

— Quero ir com você.

— Não, fique aqui com seu irmão, logo nosso primo chegará para buscar vocês. — Léo aproximou-se de mim e me abraçou, puxando um dos meus braços de Clarice.

— Não quero ter que deixá-lo. — Leonardo chorou, derramou lágrimas e mais lágrimas, falou soluçando em um ritmo desordenado. Engasgou-se em seu próprio desespero, toquei com minhas duas mãos o seu rosto.

— Não fiquei assim, onde está o Léo, forte e destemido. Preciso de você firme para ajudar a Clarice, nossa irmã tem que ser protegida, escutou? — Léo pareceu entender. Olhando aquela feição de medo, lembrei de quando eramos crianças. Léo sempre chorava por tudo, talvez chorou tudo o que tinha de chorar até seus dez anos, por que depois dessa idade era raro ver suas lágrimas escorrerem. Por esse motivo a faixada de durão e frio, o garoto roqueiro que mergulhava em seus próprios medos, agora está demonstrando que sente tudo, como todos nós sentimos. Gostaria de aproveitar mais dele, mas sabia que se entrasse naquele esgoto poderia não voltar com vida. Luiza era mais importante do que eu naquele momento, pois minha promessa estava quase completada.

Torres continuou sentado sofrendo com sua mão amputada, teria que ser levado o quanto antes para o abrigo. Bruno não perdia tempo sempre cuidado das feridas de todos. Caroline aos prantos pela tia e Michela cuidando dela e de Clarice. Não tinha como dividir mais este grupo, estou sobrando. Por isso apenas eu devo ir atrás de Luiza, apenas eu...

— Então é aqui que nos despedimos, Bruno cuide de Torres, ele precisara de cuidados, e Michele conto com você para cuidar dos meus irmãos.

— Rapaz me escute, sozinho não existem meios de sobreviver. — Torres fez força para falar, mas não pude respondê-lo, pois deixei para trás todos aqueles que permaneceram comigo por todos esses dias de desgraças. Pisei um passo apenas antes de receber um enorme aperto em meu ombro.

— Não me diga para ficar, nunca deixarei você sozinho, eu te amo meu irmão. — Léo sorriu para mim, com sua feição cansada e desgastada. Caroline aproximou-se do garoto e ficou em sua frente.

Ele era um pouco maior que ela, os cabelos molhados de Caroline caiam sobre seu rosto, Léo fez questão de tirar as madeixas que interrompia o contato de seu rosto ao dela. Com um delicado beijo os dois selaram um sentimento nutrido há tempos.

— Você jura voltar?

— Eu juro Carol, voltarei para ficar com você. — Ela sorriu. Foi bom ver meu irmão mais novo conseguir manter-se vivo e até mais forte que eu. Um próximo beijo mais intenso surgira, Caroline corou no exato momento que seus lábios deixaram os de Léo e o sorriso dos dois foram confortantes. A menina indagou indo em minha direção.

— Encontre minha Tia, por favor, eu sei que você pode Nicolas. Me salvou, vai salvar a Luiza, ela te ama.

Fiz questão de bagunçar os cabelos da jovem com minha mão, confirmei com positividade as palavras firmes da menina. Em seguida dei de ombros e segurei na nuca de Léo o trazendo comigo, mas foi neste momento que um helicóptero sobrevoou nossas cabeças, e chegou bem próximo de nós. Sabia que era a ajuda, fiquei aliviado em saber que resgatariam nosso grupo, que depois de tudo conseguimos chegar até aqui, mesmo perdendo tantos, sobrevivemos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Nunca havia visto um helicóptero tão grande. Ele era prata e verde, com a sigla C.U.F.A em destaque. Sem dúvida alguma era o resgate. Quando a aeronave chegou mais perto consegui ver, Marcos André parecia não estar lá.

Pousando um pouco a frente em uma área apropriada, dois homens desceram do helicóptero. Todos corremos até lá, Bruno e Michele ajudando Torres a se locomover pela precariedade de sua saúde. O homem era alto e forte, negro com uma feição de autoridade, devidamente uniformizado com uma vestimenta prata e verde. Em seu crachá o nome “Mauro” era o destaque. Já o rapaz do seu lado era jovem, vestia a mesma roupa que o maior, seus cabelos raspados e seu nome levado no peito, Raphael.

— Somos da Base Ita.600, viemos a pedido do Soldado Marcos André.

— Ele está bem? — Perguntei assim que me deparei com eles.

— Rapaz, ele está em confronto, as forças Zoens aumentaram e ainda não conseguimos achar uma forma de destruir a barreira que eles emitem em seu exterior. — Bruno então deu a voz, mostrando uma carteira de identificação para os dois homens.

— Meu nome é Bruno Village, sou o médico cientista da base Ama.590, acredito que sabem quem sou.

— Doutor Bruno, achamos que estava morto, é uma notícia ótima. — Falou Raphael, ajudando a pegar Torres com os braços.

— Só me digam uma coisa, a Doutora Júlia está em Itapecerica?

— Sim. — Falou o homem mais alto, — a situação do nosso Planeta é extrema, infelizmente a destruição da metrópole não foi suficiente, o Brasil foi afetado pelos Zoens durante esses dias e outros Países estão sendo atacados, há cada segundo mais mortes são confirmadas.

— Não pode ser. — Vociferei, — e o que é este frio intenso? — O mais jovem e menor indagou levando Torres para o helicóptero, enquanto o PM gemia de dor.

— Mudanças ocorreram na Atmosfera da Terra por eles estarem lá em cima, de alguma forma as nuvens que não somem mudaram o rumo meteorológico. Rios estão secando, árvores e plantas estão morrendo e o frio é apenas o começo. O Planeta Terra está entrando em um apocalipse mortal, o motivo de não caírem mais esferas mesmo com a abdução, é que o combate lá em cima deve estar feroz.

— Desculpem jogar assim na cara de vocês a nossa situação, sei que passaram por tempos terríveis aqui fora, mas está na hora de todos embarcarem. — Michele, Bruno, Torres e Clarice entraram.

— Eu não vou!

— E eu também vou ficar. — Léo confirmou, enquanto Caroline se despedia de Léo.

— Como não vão? — Diz o homem.

— Tenho que procurar uma pessoa.

— Como queiram, mas seu primo não gostará nada disso Nicolas. — Mauro jogou uma mochila para mim e deu uma piscadela, agarrei e retribui com um ar de parceria. Balancei a cabeça enquanto me despedia da minha irmã que chorou em desespero ao me ver não entrar naquele helicóptero.

— Calma Clarice, vou voltar. Juro que eu e Léo vamos voltar.

— Mas o que vou falar para a nossa Mãe.

— Diga que a amamos muito e que estamos ajudando pessoas, ela vai gostar de saber que Léo é um homem agora.

— Eu Te amo meus irmãos, não quero perder vocês.

— Não vai minha irmã, não vai... — Torres palidecido e febril esticou a única mão que tinha e direcionou em meu rosto.

— Obrigado rapaz, e venha logo atrás de nós, desculpe não puder ficar. — Uma lágrima caiu de meus olhos, larguei Torres sem dizer nenhuma palavra. Caroline subiu e nos afastamos do helicóptero para ele dar voo. A felicidade invadiu meu corpo e não sentia absolutamente nada. Apenas vontade de encontrar Luiza e ir para o abrigo de alguma maneira. Escutei uma voz fraca de cima gritar, - Voltaremos para buscar vocês. - Sabia que tínhamos uma chance de encontrar essas pessoas novamente, minha família. Isso é o que importa agora, que tenho uma nova família que cuida de mim, que quer me ver bem, vou vencer por eles, vou conseguir. Eles sumiram em meio ao horizonte, e minha preocupação voltou aos escombros do lugar destruído.

Abri a mochila que o soldado me deu, deparei-me com uma arma, duas garrafas de água e um cinto com algumas granadas. Com seriedade joguei uma garrafa para meu irmão, peguei a arma de bruto calibre e a armei. Enrolei o cinto de granas em minha cintura, tomei um gole da minha água e sequei o suor frio que saia de minha testa, mesmo estando com um ar gélido sendo soprado sem parar em nossas faces. Aquele lugar completamente silencioso me fazia gemer de dor.

O que esperar entre essas muralhas de pedras destruídas por todos os lados? O rio Tiete devastado com suas margens em ruínas escorria água em enxurradas para todos os lados. Fogo ainda queimava e o odor de carne podre percorria o ar junto com o vento. Não sabia por onde começar procurar a Luiza, mas tinha que achá-la. Tinha que saber onde ela estava.

— Luiza está viva, eu sei disse Nic.

— Obrigado pela força, e obrigado por ter ficado junto comigo. — Abracei o ombro de Léo. Andamos sorrateiros entre a decadência mútua do lugar, sempre atentos a qualquer movimento. De longe avistamos alguns Zoens, e mesmo estando longe não exitamos. Atirei em um acertando seu crânio, meu irmão fez o mesmo acabando com dois deles.

— Me acostumei ver sangue, até que é uma cor legal.

–— Você me surpreende Léo. — Disse e assim que me calei uma voz familiar saiu detrás de um prédio.

— Quem me surpreende aqui é você Nicolas!

Congelei, não de frio, mas de surpresa. Como pode estar vivo diante de meus olhos? Suas roupas surradas e sujas, sua barba por fazer. Mas era ele, Maycon, sabia que era ele. Veio em minha direção sozinho segurando uma arma, não fiz outra coisa apontei a minha. Percebi que mancou de uma perna, a mesma perna que Torres debilitou com um tiro.

— Como?

— Como? Como estou vivo? Seu desgraçado, largue as armas.

— Não vamos largar. — Gritou Léo, — você está sozinho e nós somos dois.

— Garoto imbecil, acha mesmo que estou sozinho? — Maycon assoviou e detrás de muros, carros, árvores e boeiros, pessoas saíram. Homens, mulheres, velhos e jovens, não consegui contar, mas passara de trinta. Todos estavam armados até os dentes, vestiam a mesma vestimenta surrada de Maycon e não pareciam bem, e sim, acabados pelo estado que encontravam-se.

— O que significa isso Maycon? Quem são essas pessoas?

— Somos o futuro dessa merda de Planeta. — Gargalhou, mancou até mim e repetiu, — larguem as armas ou mataremos ela.

— Ela? — Um homem saiu da multidão e jogou Luiza amordaçada e amarrada em minha frente, — Luiza! Seu filho da puta, solte ela.

— Vamos conversar primeiro, as armas, por favor. — Joguei a minha arma no chão junto com o cinto de granadas e Léo fez o mesmo, — muito bem, Hector pegue as armas e as granadas. — Um rapaz que aparentou ter seus quinze anos, nos olhou dos pés a cabeça e cuspindo no chão pegou as armas e se pôs atrás de Maycon.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Por que está fazendo isso? Como nos encontrou Maycon?

— Espere, Nicolas. Torres confirmou que o Maycon tinha morrido, não foi? — Léo disse desconfortável com o que via, não pude responder.

— Seu herói não falou nada Léo? Ele me deixou para morrer naquela maldita delegacia.

— Não é verdade, você matou aquele homem e atirou em mim. — Berrei, Léo apertou os olhos e torceu o lábio sem entender, mas Maycon colocou sua mão na perna e retrucou.

— Olhe isso, me deixou aleijado. Atingiu nervos importantes da minha perna, mas felizmente não se agravou. Sabe quanto foi difícil escolher atirar em você Nicolas, achava que você era igual a mim. Forte e franco, sabe? Mas você é um inútil, que não conseguira sobreviver nesse novo mundo.

— Maycon deixei você para trás, por que, estava ameaçando o grupo, mas joguei a arma do lado de fora era possibilidade de você se salvar.

— Não Nicolas, você só deixou aquela arma para não se sentir culpado, todavia queria me ver morto. Porem sobrevivi e neste novo Mundo não existe lugar para o Nicolas. — Luiza gemia no chão tentou levantar, mas não conseguiu, seus braços estavam presos com arames, sua boca tapada com uma fita. Percebi vários hematomas e cortes pelo seu corpo, não podia continuar daquele jeito, tinha que fazer algo.

— Maycon, o que você pretende fazer? — Ele caminhou até Luiza e a ergueu, dei um passo para frente desesperado e ele armou seu revólver na cabeça dela. As lágrimas e sofrimento de Luiza me atingiam, mas se eu fosse até ela tudo estaria acabado.

— Olhe esse povo Nicolas, eles são sobreviventes como nós, mas diferente de você eles querem seguir em um mundo que não existem leis absurdas.

— A sua ideologia que é absurda seu louco. — Léo vociferou e Maycon repentinamente atirou na direção do meu irmão acertando o chão ao seu lado.

— Cale-se não terminei de falar, se me interromper a bala será na altura de sua testa, errei de propósito. — Que maldito, me deu uma vontade de ter matado ele quando tinha chances, - depois que consegui fugir da delegacia encontrei um pequeno grupo de pessoas e foi com eles que fiquei. Foi difícil encontrar você Nicolas e seu grupinho de idiotas, mas encontrei. Com a certeza que estavam no mercado, planejamos tomar o seu abrigo, entretanto ficamos sabendo graças a um canal de rádio que São Paulo seria destruída por bombas.

— Então sabia que estávamos no mercado?

— Claro, foram meus companheiros que estouraram o cadeado do depósito. — Me enfureci ainda mais, gritei cuspindo palavras de ódio.

— Desgraçado, por sua culpa João morreu.

— Ele era um homem bom, me desculpe não queria ele morto queria ele do meu lado. Nicolas fiquei ainda mais fodido de raiva por saber que está do lado do governo, quando escutei aquele soldado lhe chamando para o abrigo deles tive a certeza que você é um inimigo.

— Eles não são inimigos quem são nossos inimigos são os Zoens.

— Você está errado, olhe o que o governo que você tanto defende fez com nossa cidade. Nicolas entenda eles não exitarão em matar para o bem deles, um dia você poderá acordar e ver que o abrigo que lhe acolheu tentara matar sua mãe para o bem do abrigo, não tem como confiar neles. Se não fosse pela voz daquele Soldado todos estaríamos mortos, o governo não liga para nós. Quando escutamos que iriamos ser bombardeados corremos para os tuneis de energia, por isso estamos vivos.

— Então em quem confiar? — Falei em um tom desagradável, ele retrucou sorrindo.

— Na nova geração de humanos, olhe para nós! Temos nossas próprias regras, exploraremos esse mundo e viveremos em comunidades, acha mesmo que o mundo sobrevivera por muito tempo? Não, o Planeta Terra vai morrer em breve e quero viver meus últimos momentos como uma pessoa livre de regras, mas você não entende seu viado. Cada pessoa aqui tem sua própria vida e juntos construiremos um exército. Você achou mesmo que eram os únicos vivos? Imbecil.

— Não estou afim, não vou viver do seu lado Maycon, solte a Luiza, nós iremos embora e tudo termina aqui. — Maycon deu de ombros apontou para um homem gordo e balançou a cabeça para ele trazer algo, não conseguia ver o que era. Porem quando por trás da multidão um Zoen surgiu, não entendi o plano daquele insano.

O Zoen era magro em certos pontos de seu corpo, seus ossos apareciam, sua arcádia dentaria era estampada para fora de sua pele. Gritando como um animal, ele tentou se soltar das correntes que o prendiam. Seus braços e pernas estavam imobilizados e em seus olhos uma venda evitara sua visão. O que aquele demônio pretendia fazer? Todos aqueles olhares sobre mim e meu irmão me faziam tremer, para aquelas pessoas nós eramos os vilões. Maycon conseguiu destruir a mente deles com aquele papo de vandalismo e opressão contra o governo, maldito...

— Antes de ir embora Nicolas, vou soltar sua namorada e seu irmão, entretanto, — ele fixou os olhos para minha pessoa, — você será devorado vivo. — Luiza arfou em berros abafados pela mordaça. Léo apertou minha mão e gritando soltou o que prendia em sua garganta.

— Não Maycon, se eu for com você, você deixa eles irem? Luiza e meu irmão?

— Léo? O que ele está falando? — Maycon riu e esticou uma de suas mãos.

— Proposta tentadora garoto, você será muito útil em nosso grupo. Vamos fazer um trato venha até mim e eu deixo eles escaparem. — Léo soltou minha mão, fechou os olhos e seguiu até Maycon. Passou por mim sem ao menos dizer uma palavra, fechando os olhos ele entrou em um caminho obscuro que se trilhou até aquele maluco. Não posso deixar acontecer, Léo tem que voltar!

— Leonardo, eu prometi...

— Cale-se Nic, sou um homem agora e essa foi minha escolha. Agora pegue a Luiza e vá embora, volte para os braços da nossa mãe. — Sabia que ele não falou sério, pois chorou lágrimas discretas.

— Felix leve esse garoto até o prédio de concentração, agora. Se ele tentar algo não exite em matá-lo, tenho que ter certeza que está se juntando conosco por vontade própria, por que, se for um jogo, pode crer que morrerá.

— Não é um jogo. — Léo virou de costas e não se despediu, apenas sumiu em meio a multidão.

— E o que acontece agora Maycon? — Perguntei e ele apontou para o Zoen.

— Você morre.

— O que? — Luiza arregalou os olhos e balançou a cabeça. Maycon puxou a corrente do Zoen e o posicionou para mim, olhei ao redor e miras de armas seguiam em minha cabeça, se tentasse algo seria morto.

— Seu irmão é precioso, mas você é mais ainda para eles, se ficar vivo vai arruinar nosso plano de vida. — Maycon ainda segurando Luiza e o outro homem soltaram as correntes do Zoen que pareceu atordoado por não enxergar. -— Descobrimos que os Zoens matam pela visão direcionada, ou seja, quando ele ver você é o fim.

O Zoen permaneceu em minha frente, alguns metros separam minha morte. Luiza rebateu-se contra Maycon que ainda a prendia. Desculpe mãe, não pude voltar, saiba que Léo escolheu aquele caminho para me salvar, porém não imaginou que Maycon era um rato-de-esgoto. Me ajoelhei e olhei para o céu. Depois desse tempo todo, assim que acabaria, eu morreria na mão de um cara que me salvou no começo de tudo isso, pai encontrarei você? Será mesmo que existe um mundo melhor afinal? Aceitarei minha morte, mas antes tenho que ter certeza.

— Só mantenha sua palavra, deixe Luiza viver.

— Tudo bem. Adeus Nicolas. — Maycon soltou a venda dos olhos do morto que focou seu olhar negro e rangiu os dentes soltando de sua garganta um líquido visgoso de cor preta.

Foi em questão de segundos, o Zoen correu em minha direção. Mas foi em milésimos que vi Luiza se soltar da mão de Maycon e correr ao encontro do Zoen, não tive tempo de fazer nada, pois quando me levantei Luiza já estava sobre as costas do morto. Derrubou o infectado no chão para impedir minha morte. Não acreditei quando vi aqueles dentes, aqueles decrépitos dentes cravar nas costas do meu amor, ela não podia se defender por estar amarrada, se sacrificou por mim. Não me importei com as armas apontadas para minha cabeça, corri para salvar Luiza. Chutei com extrema força aquele maldito monstro e com uma pedra destruí sua cabeça, sujando minha face com seu sangue imundo.

— Luiza, não meu amor, por que? Não! — Tirei sua mordaça e desamarrei seus punhos. Ela sorriu para mim. Naquele momento só existia ela em minha visão, não queria saber de mais nada, o mundo desapareceu. Por um momento não existia Zoens, não existia Maycon e nem um apocalipse.

— Nicolas, eu faria tudo de novo, eu te amo.

— Eu também te amo muito Luiza. — Sobre suas costas mordidas, Luiza morreria em poucos minutos e viraria um Zoen.

— Que vadia, garota não ia te matar, mas agora serei obrigado. -— Virei minha visão para o roqueiro de cabelos de palha em minha frente e me entreguei, fechei meus olhos e a escuridão me consumiu. Ele me mataria

— O que? — Escutei gritos e um barulho atormentador seguido de um impacto em minha frente. Abri os olhos e a escuridão da morte que havia me dominado sumiu e abriu espaço para um feixe de esperança.

— Desculpe a demora primo, mas eu estava ocupado. — Era Marcos André? O que era aquilo? Vestia uma espécie de robô de uns três metros de altura de cor prata, grande esqueleto, parecia uma máquina mortífera. — Vão embora ou querem ser presos? — Das mãos da armadura robótica, armas foram criadas e apontadas para o grupo de Maycon.

— Vamos embora. — O maldito olhou para mim e sorriu, — nos vemos outro dia.

— Não, quero meu irmão de volta Maycon.

— Ele fez uma escolha, não obriguei. Adeus

Fiquei imóvel vendo Maycon desaparecer com seu bando. Minha namorada morrendo em meus braços, meu irmão com aqueles loucos, o que farei? Olhei para meu primo que saiu da armadura de imediato, me abraçando e sussurrando palavras confortadoras em meus ouvidos, mas nada mais importou. Sabia que não restava mais tempo para ela.

— Meu Deus ela foi infectada? Onde está Léo?

— Não importa.

— Não temos tempo vamos levá-la conosco. Prendemos ela e...

— Não vai adiantar, eu sei o que acontece, — Luiza indagou fraca, — desculpe soldado, mas poderia nos deixar sozinhos por alguns minutinhos?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Claro. — Marcos saiu, entrou na armadura e se locomoveu para longe. A abracei.

— Eu te amo tanto garota, obrigado pelos momentos de alegria que me proporcionou, não vou conseguir viver sabendo que se sacrificou por mim.

— Viva Nicolas, por fim, descobrimos realmente o que seu nome significa.

— Não, não consegui levar você a vitória.

— Errado, conseguiu, me trouxe paz e isso é minha vitória. — Encostei minha testa na dela e foi quando o barulho ensurdecedor, nos tirou a atenção. A abdução ia começar novamente, e foi quando uma ideia surgiu dentro da minha cabeça, ao ver as granadas deixadas por Maycon e a abdução surgindo em meio aos céus.

— Quero que me escute Luiza, vou trazer a vitória de que tanto fala que trarei.

— O que vai fazer?

— Entrarei na nave, sumirei junto ao feixe de luz da abdução direto para o coração daqueles malditos.