Novamente Alice ~sendo reescrita~

Cheshire e um chá de loucos



Depois de certo tempo pensando em qual era o caminho correto a seguir, percebi que não fazia a mínima ideia de como voltar, “ótimo Alice você tinha que esquecer o caminho”, e para melhorar estava começando a entardecer e eu nem sabia mais onde estava, mas sem pensar em desisti continuei dando pequenos passos e olhando ao redor, belo plano.

Até que um brilho no mato me assustou, quando olhei mais atentamente vi a sombra de alguém, “E essa agora”, pensei revoltada com minha sorte magnifica. — Quem está ai? – "Se é que realmente quero saber", perguntei me aproximando um pouco e percebi a sombra se movimentar, por um instante pareceu pensar um pouco, mas depois decidiu dar um oi ou algo do tipo.

— Falando comigo? – A sombra começa a se aproximar e logo acaba se revelando um garoto, que aparentava ser um pouco mais velho que eu, cabelos loiros e olhos amarelos tão intensos que me deixou arrepiada, ele possuía um ar perigoso e unhas literalmente afiadas, não sei dizer que o fato das unhas estarem pintadas de preto me assustavam ou me deixavam mais calma, devo admitir que ele me lembrava um pouco White, mas a diferença era que ele possuía um leve sorriso sínico e parecia sempre ter uma resposta para tudo.

— É... Sim! – Respondi um pouco sem jeito e ele voltou a se aproximar lentamente aumentando um pouco seu sorriso, eu dei um passo atrás quando ele chegou bem perto, mas ele se ajoelhou pegando minha mão e a beijando, oque me deixou paralisada. — Que... Quem é você?

Pouco tempo depois ele se levantou e me olhou nos olhos, no mesmo instante senti minha vida inteira passar como um filme na minha cabeça, era como se eu estivesse na mira de um grande predador.

— É... Cheshire. – Ele disse lentamente, me libertando do transe e soltando minha mão — E a senhorita seria?

— Alice... – Olhei novamente sem seus olhos. — Mas tenho a impressão de que você já sabia disso. – Ele apenas sorriu e ficou em silêncio por um tempo, como se decidisse se matava ou não a presa indefesa. — Ei... Cheshire?

— Sim doçura.

— Sabe como faço para achar o caminho para sair daqui? – Perguntei tentando ignorar a ultima parte do que ele disse.

— E para onde você quer ir?

— Esse é o problema! Não sei onde estava. – Eu me virei para observar o caminho que parecia ainda mais confuso.

— Então não importa o caminho que você escolha...

— Contanto que dê em algum lugar! – Completei a frase de modo tão automático que nem mesmo percebo, como se já soubesse que deveria dizer isso. Cheshire sorriu novamente.

— Se é assim te pedirei um favor... Naquela direção. – Ele disse apontando para a direita.

— O que tem lá? Oque quer que eu faça. – perguntei com a sensação de problema a vista.

— Não oque, mas quem... – Ele diz me olhando com expectativa e logo uma vaga lembrança pairou sobre mim.

— A casa da lebre de março...

— É.. Lebre. – Ele murmurou um pouco sonhador.

— E se bem me lembro, minha avó disse que tinha mais alguém... – Pensei um pouco, mas tinha a impressão de que a palavra já estava na ponta da língua — Chapeleiro! – Eu lembrei, notando que Cheshire parecia orgulhoso e olhava na direção apontada. — Mas ele é louco... Como um louco pode me ajudar?

— Nós somos todos malucos aqui. Eu sou louco. Você é louca. – Agora fui eu quem lhe lançou um olhar fatal.

— Como sabe se sou louca? – Pude sentir que já sabia a resposta, como se toda essa conversa estivesse se repetindo e a ideia não me pareceu nada agradável.

— Você deve ser! – Ele afirmou me fitando e sussurrou ao meu ouvido — Ou então não teria vindo para cá.

Aquilo fazia mero sentido, mas não achei que provasse alguma coisa, por isso continuei — E como você sabe que você é louco?

Ele apenas riu, colocando a mão na testa e olhando para o céu — Só sei que sou, mas estarei observando de longe, como sempre. – Depois ele simplesmente piscou pra mim e desapareceu comprovando sua teoria de que eu estou ficando louca.
Depois de um minuto ou dois, comecei a caminhar na direção que Cheshire me apontou, não tinha ido muito longe antes de avistar o que imaginei ser a casa da Lebre de Março: eu achei que deveria ser a casa certa porque as chaminés eram feitas com a forma de orelhas e o teto era coberto com peles.

Havia uma mesa arrumada embaixo de uma árvore e a que julguei ser Lebre de Março, que de lebre só tinha o nome, pois era apenas uma garota de uns 14 anos por ai, com um vestido rosa e um laço enorme azul nos cabelos curtos e cinzas e o que imaginei ser o Chapeleiro era um homem bem pálido e aparentemente confuso que ainda assim tinha certo charme, olhos verdes e cabelos encaracolados bem clarinhos que acabaram ficando escondidos pelo grande chapéu preto, ele usava um sobretudo preto e um calça cinza, ambos estavam tomando chá e um pequeno menino de talvez uns sete anos que também possuía cabelo cinza estava sentado entre eles, mas este dormia profundamente.

A mesa era bem grande, mas os três amontoavam-se num canto. “Não tem lugar! Não tem lugar!”, a suposta lebre de março gritou quando me viu chegando, era só oque me faltava.

— Como pode não ter lugar – Então para provar minha teoria me sentei em um dos acentos disponíveis. — Se esta mesa está arrumada para muito mais que três convidados. - Ela apenas virou a cara enquanto tomava uma xícara de chá
— Seu cabelo está precisando ser cortado - disse o Chapeleiro - ele estivera me observando todo esse tempo com grande curiosidade e esta fora sua primeira intervenção, eu o encarei surpresa.
— E você deveria aprender a não fazer esse tipo de comentário pessoal- Retruquei um pouco sem jeito.

— Falou a garota educada que senta na mesa dos outros sem ser convidada- Se intrometeu lebre. - Ih! Rimou!

— É diferente tá! - Eu a respondi com raiva e voltei a encarar o chapeleiro — E isso é muito grosseiro de se dizer a uma dama.

O Chapeleiro arregalou os olhos ao ouvir isso, mas tudo que ele disse foi - Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?

''Ótimo! Como eu achei que esse bando de loucos poderia me ajudar'', era tudo oque conseguia pensar — Eu sei lá, deve ser tudo a mesma coisa.

— Não é a mesma coisa nem um pouco! - disse o Chapeleiro, e despejou um pouco de chá quente sobre o nariz do pobre menino, que balançou a cabeça impacientemente e disse, sem abrir os olhos: “Chocolate e morango.’’ — Let está dormindo novamente. Você já adivinhou a charada? - perguntou o Chapeleiro, virando-se novamente para mim.

— Não, eu desisto! – Admiti — Qual é a solução?

— Eu não tenho a mínima ideia — disse o Chapeleiro com um sorriso inocente iluminando o rosto.

— Nem eu - Disse a Lebre de Março.

— Ah! Esqueçam isso. Preciso da ajuda de vocês! Estou perdida! - Supliquei, pra sei lá, algum lado racional que ainda possa existir neles.

— Perdida ou desencontrada? – Perguntou o chapeleiro tomando um gole de chá.

— Perdida. – Pensei que era uma pergunta estúpida, mas não comentei por medo da possível resposta ser ainda mais estúpida. — Preciso encontrar White.

— Então esta desencontrada! – Retrucou Lebre de março que parecia distraída olhando o céu, suspirei, já estava ficando sem paciência.

— Será que podem me ajudar? – Neste instante encarei chapeleiro, mas ele estava parado olhando para a xícara que ia cair e quebrar, ia, por que ela estava parada no ar, "mas como?", pensei olhando melhor ao redor e notei que nem chapeleiro e nem nada se movia, o tempo tinha parado e só eu e mais uma pessoa podíamos nos mexer, Lebre de março.

— Cópia barata, a outra Alice era muito melhor. – Ela disse e sorriu.