Nova fase'

A decisão final


Eu passei quase a madrugada inteira acordado, todas as vezes que eu fechava os olhos pra dormir me lembrava da ideia idiota que eu tive de incentivar essa viagem, e eu estou me odiando por isso, e me odeio um pouco mais a cada vez que olho pra ela, por que enquanto ela se envolve ainda mais em mim perdida num sono profundo, eu tento encontrar um jeito onde eu consiga dormir sem senti-la junto a mim e essa só parece uma tarefa impossível, o que significa que ou eu digo a ela pra ficar e me torno o cara mais egoísta e babaca do mundo ou eu encaro a minha decisão, apoio ela e em troca passo quatro meses infernais sem ela do meu lado, independente do resultado, eu estou ferrado.

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Como eu não consegui dormir, me levanto primeiro que ela, saio do quarto quase na ponta dos pés e vou direto para a cozinha, talvez isso soe como a coisa mais egoísta do mundo, mas talvez se eu a bajular bastante, ela perceba que também não pode passar tanto tempo longe de mim.

O que eu posso dizer? Sou apenas um marido desesperado, tão desesperado que decido arriscar tudo que sei na cozinha, mas pra minha sorte e a dela também, papai já está mexendo em algo no fogão.

— Bom dia! – falo assim que entro me aproximando, ele olha pra trás surpreso e confuso.
— Que milagre é esse? – eu o encaro pensando em fazer uma cara de ofendido, mas a quem eu quero enganar, eu realmente nunca acordo tão cedo.

— Eu pensei em fazer uma surpresa pra Lu hoje – ele abre um sorriso aprovador.

— E o que você tá pensando em fazer?

— Ovos, bacon, uma salada de frutas, vitamina, talvez arriscar aquela sua receita de panquecas, tentar achar algum pão de queijo que a mamãe não devorou – ele ri.

— Ok, eu só preciso levar isso pra sua mãe e já volto...

— Vai me ajudar?

— Eu gosto demais daquela menina pra deixar ela passar pela sua habilidade culinária logo na primeira refeição do dia – eu faço uma careta e ele ri, então me aproximo do fogão e vejo várias folhas dentro do caneco que ele está vigiando.

— E o que é isso?

— Um chá... Sua mãe não tá muito bem...

— O que ela tem?

— Ela teve um pouco de febre essa noite e vomitou todo o jantar...

— Será que é melhor ir ao médico? Eu posso levar

— Ah claro, por que eu não pensei nisso antes? Ela ama tanto ir ao médico quando começa a se sentir mal – ele fala com ironia, em seguida pega uma caneca e despeja o liquido meio esverdeado, joga mais um pó esquisito nele, mexe e coloca um pouco de mel – Isso aqui da conta... Eu ainda acho que foi por que ela exagerou no caldo de lentilhas ontem, mas ela nunca vai admitir – ele revira os olhos e pega também alguns biscoitos de sal e coloca numa bandeja.

— Tem certeza que não quer ajuda? – ele sorri.

— Eu dou conta – ele agradece e leva a bandeja com ele – Enquanto isso bota a água pra esquentar – eu faço sinal de continência e enquanto ele sobe, eu começo a me encontrar na cozinha, coloco a água pra esquentar e vou tentando adiantar as outras coisas, não sou muito bom na cozinha e menos ainda tão bom quanto ele, mas quando seu pai é o padeiro mais famoso do Distrito, você acaba aprendendo uma coisa aqui, outra ali, então mesmo nunca saindo nada muito fabuloso, eu sempre consigo me virar, por isso quando ele desce eu já estou com o bacon e os ovos quase prontos, e ele logo se junta a mim preparando as panquecas que sempre são motivos de disputas nos nossos cafés de família.

— Algum motivo especial pra tudo isso? – ele pergunta me olhando curioso.

— Eu a amo – mesmo não sendo a história toda, essa é a verdade mais absoluta da minha vida, eu a amo, ele sorri ainda mais pela minha resposta.

— Bom, acho que a roseira lá do quintal pode ter alguma coisa que te ajude nisso – eu sorrio e já saio pro quintal, ele está certo, a roseira está cheia de flores, tão vermelhas quanto conseguem ser e bastante perfumadas também, corto uma, me livro dos espinhos e volto pra dentro da cozinha sorrindo ansioso.

Nós terminamos de preparar as coisas e a bandeja fica bem cheia, colorida e super convidativa, agradeço a ajuda dele, ele sorri orgulhoso e eu o deixo assistindo ao jornal na sala e vou para o quarto, entro devagar e ela permanece dormindo tão profundamente quanto eu a deixei, coloco a bandeja no móvel ao lado da cama e com cuidado me inclino sobre ela, o lençol escorregou do seu corpo deixando as costas nuas totalmente a vista, assim como uma de suas pernas, meus dedos logo tocam seu joelho e sobem lentamente pelo caminho da sua coxa, ela se mexe, mas ainda continua dormindo, então toco meus lábios na pele das suas costas beijando-a delicadamente em um caminho até seu ombro.

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— Bom dia pra você também – sua voz é rouca, baixa e incrivelmente sexy, sorrio e então ela escorrega sob os lençóis e se vira ficando com o rosto de frente pro meu sem se preocupar com o lençol, ou melhor, a falta dele, quase de forma automática meus olhos descem pelo seu corpo, seus seios, sua barriga, então ela toca meu queixo e traz meu rosto para de frente do seu – Meus olhos estão bem aqui – ela me dá uma piscada.

— Mas eu gosto bastante dessa vista aqui – toco sua barriga e deixo meus dedos escorregarem para baixo do seu umbigo, eles continuam descendo até estarem no meu lugar preferido, bem entre suas pernas que logo me dão espaço, quando a olho, seu sorriso me diz que devo seguir em frente, e quando ela passa as pernas ao redor do meu quadril, quer dizer que eu devo ir logo em frente, sorrio e acabo colocando a segunda parte do meu plano a frente da primeira e quando eu ouço ela chamando meu nome enquanto se contorce e estremece embaixo de mim mais uma vez eu tenho a certeza que não consigo ficar muito tempo longe dela.

— Você fez tudo isso? – ela me olha sorrindo, mas desconfiada quando eu coloco a bandeja sobre as pernas dela.

— Eu posso ter tido alguma ajuda – dou de ombros e pego uma uva, o sorriso dela não diminui, pelo contrário aumenta ainda mais e ela se estica toda até alcançar minha boca e me dá um beijo rápido.

— Quer saber? Eu vou sentir falta disso, de ser paparicada – ela fala sorrindo e uma parte minha perde qualquer diversão que tinha, mas tento disfarçar.

— Eu tenho que tomar banho, já estou quase me atrasando – aviso já me afastando da cama.

— EI! – me viro pra olhar pra ela e seus lábios se movem lentamente e embora não saia som da sua boca, eu entendo perfeitamente - Eu amo você – eu dou uma piscada e entro no banheiro.

Eu deveria estar feliz por ela, principalmente por que foi minha ideia insistir pra ela aceitar isso, mas depois de ter pensado por uma madrugada inteira eu ainda não sei o que deu na minha cabeça, mas agora está feito, eu só queria desfazer, só não sei como.

— Eu devo chegar mais tarde hoje, quero ver se passo lá na Paty pra dar a notícia, se não ela vai reclamar ainda mais que eu a abandonei – Paty é a melhor amiga da Lu, depois que nos casamos ela e Léo foram morar juntos no apartamento que elas dividiam, e anda não conseguimos marcar o jantar lá desde que voltamos da lua de mel, embora já tenhamos visto eles varias vezes, ela sempre reclama que ainda não fomos lá.

— Tudo bem... Eu tenho que ir, não posso me atrasar, manda um beijo pra eles– dou um selinho rápido nela e saio do quarto.

Vou direto pro trabalho, mal entro no Hangar e já me trazem todos os problemas do dia, isso acaba levando toda a minha manhã e ainda me deixa com várias coisas pra revisar à tarde, por isso eu acabo abrindo mão do meu horário de almoço, aproveito cinco minutos de calmaria pra poder dar uma olhada no pessoal que está com os novos aerodeslizadores, tudo está indo bem e sinto um pequeno orgulho já que foi ideia minha os novos protocolos e todo mundo está adorando e dizendo quanto é mais fácil trabalhar agora, com meu ego devidamente elevado, deixo eles trabalhando e volto para os escritórios.

— Na minha época não era essa moleza, não – implico quando vejo Theo e mais dois dos estagiários rindo enquanto estão em suas mesas.

— Por que na sua época o chefe não era tão bom que já fazia tudo – Theo fala puxando meu saco, e eu ainda acho incrível ver como ele se encaixa tão bem aqui, desde o primeiro dia, ele simplesmente ama estar aqui e faz tudo perfeitamente, não que eu duvidasse de sua competência, sempre soube que ele seria excelente em qualquer coisa, mas é que ver que aquele garotinho que me pedia pra treinar basquete com ele, hoje ser esse cara mais responsável que eu as vezes, é meio engraçado, principalmente quando penso no irmão dele que morreria se tivesse que ficar uma hora que fosse trancado num prédio, mas embora totalmente diferentes, eu morro de orgulho deles dois, é como se fossem meus filhos também.

— Vocês ainda precisam terminar a atualização do programa até o fim do dia– eu aviso e ele faz uma careta.

— Só falta terminar a última mudança e a gente já lança – Douglas, o outro garoto avisa todo orgulhoso.

— Querem um incentivo? Quando terminarem podem ir – eles fingem voltar desesperados pra tela do computador, eu sorrio e deixo eles voltarem a trabalhar, mal entro na minha sala e Ian vem atrás com alguns documentos que preciso liberar, eu reclamo, ele ri e diz que se eu reclamar mais ele arranja pelo menos mais meia dúzia de documentos, então eu guardo a reclamação e apenas mostro o dedo do meio, ele ri e sai da minha sala me deixando com vários papéis pra ler, revisar e assinar.

Por mais que eu ame meu trabalho, agradeço quando o dia chega ao fim e saio do Hangar, vou direto pra Aldeia, mas quando desço do carro entro na casa do outro lado, bato apenas uma vez e entro na casa, estranhamente está silenciosa, vou até a cozinha e está vazia, volto pra sala e já ia chamar quando Lucca desce as escadas apressado.

— Eles estão no escritório – ele avisa quando me vê – Tá bonitão ein – ele fala fazendo uma cara de impressionado e eu o olho desconfiado.

— O que você quer?

— Nada, só elogiar meu tio gato – ele me dá um sorriso divertido, vem até a mim, segura minha cabeça e me dá um beijo exagerado na bochecha.

— Não tá arrumado e cheiroso demais pra bancar o garçom, não? – ele dá de ombros.

— Eu sempre tô assim – ele pisca um dos olhos – É melhor você gritar eles, por que eu tenho quase certeza que eles não estão conversando – ele ri quando faço cara de nojo e então sai de casa.

— Ô DE CASA – eu grito da sala e me jogo no sofá, demora alguns minutos e eles saem do escritório.

— Eu espero que seja algo urgente... Eu tava ocupado – Pyter reclama, mas de um jeito divertido.

— Na verdade, eu quero falar com a Keyse – ela tenta disfarçar a cara surpresa.

— O que você quer falar com ela?

— Achei que o grande Pyter não sentia ciúmes - ele alcança a almofada da poltrona e joga na minha cara, Keyse que vinha logo atrás dele ri.

— Fiquem a vontade... Eu vou fazer um chá pra vocês– ele fala com ironia e se afasta da sala.

— Você pode ficar se quiser, é só que eu preciso falar com ela...

— Tudo bem, eu não entendo nada de maquiagem mesmo – ele dá de ombros e entra na cozinha.

— Você sabe que essa cena não é por causa de mim, né? - eu acabo sorrindo.

— Eu diria que tá 50 a 50 - ela ri.

— O que eu posso dizer... Ele não sabe não ser o numero 1 – ela acha graça e se senta do meu lado – Então, qual o problema com a Lu?

— Como que você sabe que é com ela? – ela me encara – OK, é com ela... Quer dizer... Talvez comigo...

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— Se você me explicar eu ajudo a decidir...

— Bom, ela recebeu uma oferta incrível pra exposições inteiras só dela, sem a associação com a Pérola e eu sei que ela sempre quis isso, por mais que ela ame trabalhar no ateliê...

— Isso parece ótimo...

— E é... Se ela não tivesse que sair em turnê daqui há duas semanas...

— Quanto tempo?

— Quatro meses... 2 meses na Capital, 2 no Distrito 7

— Uau! – ela também parece achar tempo demais – E o que você disse?

— Que ela deveria ir... Na verdade eu insisti pra ela ir...

— Por que você é um idiota – a voz não vem dela e sim do dono da mão que surge na minha frente com uma garrafa de cerveja, eu aceito e ele dá a volta entregando outra garrafa pra Keyse e depois se jogando na poltrona – São 4 meses... É o dobro de tempo que vocês estão casados...

— É, ela disse isso...

— E tá certa! A última coisa que vocês precisam agora é ficarem tanto tempo longe...

— Pyter! – Keyse repreende, mas ele não parece se arrepender e a verdade é que depois de pensar melhor eu concordo com ele – É uma decisão muito importante, Pietro, vocês precisam pensar no que isso pode causar em vocês, tanto o ir quanto o não ir...

— Eu sei... Eu não quero que ela deixe de ir e depois se arrependa por não ter seguido o sonho dela, entende? Eu sei que ela sempre quis isso, parece egoísta eu simplesmente falar pra ela ficar...

— E ela ir significa que vocês vão ficar longe por 4 meses! – Pyter me relembra.

— Mas tem os fins de semana, você poderia ir até ela...

— Ah claro, se ele sair na sexta depois do trabalho consegue chegar na Capital antes das duas da manhã, talvez ela não esteja tão cansada de toda a correria do dia, mas tudo bem, ainda tem o sábado, se ela não tiver nenhum compromisso agendado vocês podem até passar algumas horas juntos, o difícil mesmo é decidir se você volta domingo a tarde pra conseguir descansar antes do trabalho ou se arrisca voltar a noite e ir sem dormir pro trabalho onde você acabou de ser promovido...

— Pyter! – agora a voz da Keyse é mais séria e ele para de falar imediatamente – Você pode ver se a Íris já fez o dever de casa? – ele revira os olhos, vira a garrafa num gole longo e então sai da sala subindo as escadas.

— Ele não tá errado – concluo depois que ele sai.

— Olha, eu não vou te dizer que é uma decisão fácil, por que não é, tanto o sim quanto o não envolvem muitas coisas, mas vocês precisam saber onde estão se metendo...

— Eu não posso dizer pra ela não ir...

— E nem pra ela ficar... Você não manda nela, Pietro, você é só... O marido dela... Não se trata de você dizer vai ou fica... É só sobre você contar como se sente sobre ela ir ou ficar... A decisão é dela, vocês só precisam estar de acordo com o combinado...

— Se fosse você... Você iria? – ela sorri, mas nega.

— Somos pessoas diferentes, Pietro...

— Eu sei, eu sei... Só... Iria ou não? – ela respira fundo.

— Meu sonho sempre foi ser a mãe dos filhos do seu irmão, eu nunca tive um sonho muito além disso, pra mim estava bom seguir com a loja dos meus pais, rodo esse lance de agora, veio de bônus, mas eu não sonhei com isso durante noites e noites, ela sim, a Lu sonhou por anos em fazer o que ela faz hoje e eu tenho certeza que ela te ama e é louca por você e deve estar tão desesperada quanto voce está pensando nesses meses separados, mas ainda assim é o sonho dela - ela segura minha mão - Eu tenho certeza que o amor de vocês supera qualquer distância, mas vocês dois precisam conversar claramente sobre isso, por que fácil não é, mas é possível se vocês forem sinceros - ela me dá um sorriso encorajador.

— Eu a amo! Meu Deus, eu amo demais aquela mulher - me jogo pra trás no sofá e bebo um longo gole da cerveja.

— Eu sei que parece horrível, mas... Sexo de não te toco a uma semana é maravilhoso - eu acabo rindo e me viro pra olhar pra ela.

— Os de vou embora em duas semanas, também parece bom - dessa vez ela ri.

— Vai dar tudo certo - ela garante enquanto passa os dedos pelo meu cabelo e nós terminamos nossa garrafa de cerveja - Eu tenho que terminar o jantar...

— E eu tenho que iniciar uma conversa longa e que com sorte vai terminar em sexo - ela ri.

— As vezes você é igual seu irmão

— E isso é ruim? - a voz vem das escadas, ele ainda está meio de bico fazendo o charme clássico dele.

— Ruim? Se eu for metade do que você é, já tô bem - ele revira os olhos.

— Você não pode me excluir dos seus assuntos e depois me elogiar - eu acabo rindo, vou até ele, seguro seu rosto e dou um beijo na sua bochecha igual o Lucca fez em mim, não preciso dizer nada, ele faz uma careta, mas sorri sem mágoas.

— Obrigada! - falo pra Keyse e ela sorri.

— Boa sorte - dessa vez eu sorrio e saio da casa deles, encontro papai e mamãe saindo de casa, ela está com uma calça jeans e uma camisa de lã de manga comprida que semore a deixa parecendo mais jovem, papai está com uma bermuda e um casaco de moletom, eles estão conversando e rindo de alguma coisa.

— Posso saber onde vocês vão tão animadinhos? - papai sorri ainda mais.

— Dá uma volta na praça, comer alguma coisa, exibir a mulher mais linda do Distrito - mamãe tenta revirar os olhos pra mostrar indiferença, mas o sorriso no canto do rosto não mantém sua pode durona.

— Devo esperar vocês acordados?

— Melhor não - dessa vez é a mamãe que responde e eu tenho certeza que papai pode acabar com o rosto desfigurado de tanto que sorri.

— Bom, então juízo - pisco pra eles, subo os dois degraus da varanda e abro a porta, assim que isso acontece sei que tem algo diferente, está tudo apagado e eles nunca saem e deixam tudo apagado, estranho, mas entro, uma música suave vem do lado de dentro, fecho a porta atrás de mim e vejo a luz amarelada vindo da sala, caminho na direção dela e vejo as pétalas vermelhas espalhadas pelo chão, mais dois passos e tenho a visão completa da sala, no tapete principal que sempre está impecavelmente preto, agora está cheio de petalas vermelhas também, o castiçal com três velas esta no meio sob uma travessa prateada, em outra travessa está uma garrafa de vinho que é a minha marca preferida, ao lado duas taças, do outro lado do castiçal uma travessa está tampada mantendo o segredo de seu conteúdo, eu me aproximo olhando cada detalhe, as pequenas luzes brilhantes que parecem estrelas que caíram do céu estão passadas pelo sofá e formando um círculo, como se criasse uma espécie de redoma em volta do tapete preto que está perfeitamente preparado, antes que ela fale alguma coisa eu sinto o calor da sua presença e o perfume inconfundível, então apenas dou um meio giro e paro de frente pra ela, ela parece levemente surpresa por eu ter virado, mas libera um pequeno sorriso orgulhoso, seus olhos parecem ainda mais brilhantes e azuis com toda onda de expectativas que está nele.

— Achei que você fosse estar na Paty...

— Eu acabei indo na hora do almoço por que tive essa ideia meio louca de fazer uma noite especial pro meu marido - ela de ombros e eu sorrio.

— Me considere um homem de sorte então - ela sorri.

— E então? - ela parece meio nervosa olhando em volta - Eu não sou tão boa nisso quanto você e confesso que também tive uma ajudinha, mas... - ela espera que eu fale algo, mas não tenho nada pra dizer que parece bom o suficiente, então apenas puxo sua cintura e a beijo lentamente - Então você meio que gostou - ela brinca quando o beijo acaba.

— Eu meio que amei - ela sorri animada e me dá um beijo rápido.

— Você ainda não viu tudo - ela pega minha mão e me leva para dentro do círculo iluminado, então destampa a bandeja misteriosa revelando o seu melhor talento na cozinha.

— Cookies de chocolate?

— Com gotas extras - eu coloco a mão na direção do coração e faço uma careta, ela ri orgulhosa.

— Você sabe que eu só casei com você por causa disso, não sabe?

— Sempre desconfiei - ela dá de ombros, então mais uma vez eu a puxo pra junto de mim, dessa vez não a beijo, mas afasto seus cabelos para trás de sua orelha, depois deixo-o deslizarem pela lateral do seu rosto, meus olhos acompanham o caminho até seu ombro e mais uma vez me lembro do quanto sua pele é macia, sempre quente como se fosse um eterno convite ao meu toque, meus dedos sobem o caminho novamente e eu sei que nada no mundo jamais vai ser tão perfeito quanto a sensação de sentir sua pele e me dói profundamente saber que não a tocarei todos os dias como eu jurei a mim mesmo que faria por cada dia do nosso casamento.

— Eu vou fazer a turnê, Pietro - ela fala como se estivesse acabado de ler meus pensamentos, um embrulho no estômago aparece como se eu tivesse acabado de ser golpeado, mas ao mesmo tempo uma dormência leva tudo embora quando olho pro seu rosto e vejo uma lágrima escorrendo, é como se nada mais fosse bom enquanto ela está mal, rapidamente meus dedos enxugam a lágrima dela e ela me abraça forte, meio desesperada, meio apressada, eu apenas a abraço de volta - Eu pensei nisso o dia inteiro, toda hora, cada minuto e eu... Eu quero ir - ela me aperta mais e eu sinto o seu desespero e isso só me deixa ainda mais perturbado - Me desculpa - entao eu seguro seus braços e afrouxo o nosso abraço, fazendo a desencostar de mim e me olhar, as lágrimas são em maior quantidade agora e isso destrói meu coração de um jeito completamente novo pra mim - Eu amo você, amo ser sua esposa, amo quem eu sou do seu lado, amo cada segundo da nossa vida juntos, mas eu quero ir, eu... Eu quero realizar o sonho daquela menina que rabiscava bolsas na última folha do caderno durante as aulas, da maluca que veio pra cá atrás de uma chance... E eu sei que isso pode parecer egoísta, mas eu passei o dia pensando nisso e eu preparei tudo isso pra te dizer que eu ia recusar o convite, que eu não ia entrar num trem daqui duas semanas, mas eu não consegui... Eu olho pra você e vejo o melhor homem do planeta, você é chocantemente lindo, extremamente gostoso, inteligente, engraçado, dedicado, paciente, romântico, e eu tenho tanto orgulho de voce, tanto, você é o marido perfeito, antes mesmo de ser oficialmente o meu marido, e você merece que eu abra mão de tudo só pra ficar do seu lado cada dia da minha vida só pra te fazer feliz, como eu jurei nos nossos votos, mas... Eu também quero que você se orgulhe de mim, mas de uma maneira incrivelmente egoísta eu também quero me orgulhar de mim, de tudo que eu consegui, quero poder olhar pra trás, pra aquela menina que achava que nunca ia ter um casamento perfeito e o emprego dos sonhos e dizer: Hey, nós conseguimos e é muito melhor do que nós pensávamos - um sorriso triste é nostálgico aparece no rosto dela, junto com mais lágrimas - Eu não quero arriscar nosso casamento, mas do fundo do meu coração, eu quero ir - ela solta o ar indicando que terminou de falar, então eu puxo meu ar indicando que é a minha vez.

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— Engraçado você dizer tudo isso, por quê... Eu entrei em casa pensando em te pedir exatamente o contrário - seus olhos se apertam - Eu também passei o dia pensando sobre isso e sobre como eu me arrependi de ter te incentivado a aceitar, eu conversei com a Keyse e vim pronto pra te dizer pra não ir, pra não entrar naquele trem daqui duas semanas, pra não me deixar aqui por 4 meses, pra não me tirar o prazer de te tocar todos os dias - ela tenta enxugar as lágrimas, mas elas não param e eu a ajudo, enxugando com meus dedos - Então eu entrei aqui e vi tudo isso e vi você, e... Eu me senti um merda... Um merda por que eu estava prestes a entrar aqui e te pedir pra desistir de um sonho seu só por que eu tô inseguro demais ou sou mimado demais pra abrir mão de alguns meses com você, e eu não quero ser assim... Não quero ser um merda pra você quando você é a mulher mais incrível do mundo pra mim, não quero que você desista de absolutamente nada na sua vida por causa de mim, por que você feliz é o que me faz feliz, e por que meu amor por você é forte o suficiente pra continuar te amando daqui há 4 meses ou 6 ou 1ano... Mas pelo amor de Deus, que não chegue a um ano - ela acaba rindo mesmo no meio das lágrimas - Eu amo você, Lu, você aqui ou na Capital ou no 7, te vendo todo dia ou apenas os finais de semana e eu vou continuar te amando por cada segundo da minha vida, por que amar você é o que faz todo o resto ter sentido, então é, você vai pra sua turnê e eu vou ser o cara mais invejado do mundo por ter a mulher mais gata, gostosa e talentosa do planeta - sorrio, seguro o queixo dela e lhe dou um rápido beijo - Agora será que a gente pode voltar pra parte que eu sou "chocantemente lindo e extremamente gostoso"? - a gargalhada dela ecoa pela sala.

— Eu amo você!

— E eu amo você - dessa vez o beijo é cheio de paixão e quando a mão dela alcança o cinto da minha calça, um sorriso me escapa.

As duas semanas seguintes passam mais rapidas do que eu queria, mas eu aproveitei cada segundo delas, passamos praticamente todo nosso tempo livre juntos, depois que nos resolvemos, ela finalmente deu a resposta final, avisamos a todo mundo e todo os preparativos começaram, foram dias corridos pra nós dois, mas todos os dias a partir das 19h até as 06:30 do dia seguinte, o tempo era só nosso e fizemos valer a pena, mesmo assim quando chegamos a Estação de trem, meu coração se alerta quando damos o beijo da despedida.

— A gente se vê no sábado - tento parecer confiante e ela também, mas sei que os dois estão nervosos, então pra não nos torturarmos mais tempo, eu lhe dou outro beijo rápido - Eu tenho que ir, não posso me atrasar - ela sorri.

— Te amo!

— Te amo também - ela se inclina pro último beijo, então eu sorrio, viro as costas e volto pro carro tentando não pensar que ainda falta uma semana pra eu vê-la de novo.