Notas de Sal e Papel

O Último dos Cânticos


Eu queria que fosse uma historia de amor

Eu queria, mais do que tudo, ser um escritor

Eu queria te mostrar a minha alma, a minha dor

E eu mostrei, ao mundo eu me declarei.

Eu queria ser mais forte do que eu sou

Queria saber sempre o que dizer e a maneira certa de fazer as coisas

Queria sempre ter a resposta para todas as suas perguntas

E queria que minhas respostas fossem mais do simples resignação

Eu vim aqui para amar e declamar, mas não por bondade

Em desespero, escrevi estes poemas como quem não quer nada

Estes poemas começaram como um grito de angústia no meio da noite

Terminam como um suspiro pesaroso, com um ultima sopro de vida

Em vão tento justificar, para mim mesmo, a minha miséria

E depois de muita hipocrisia, também me repreendo; ora

A vida é cheia de dor, cheia de pesar, trate de aguentar

Ninguém merece ouvir tanta rima de alguém que só sabe reclamar

Pois, estes não são versos como aqueles que os precedem

Pesarosos sim, mas garanto que esforços não medem

Para reparar um dano que eles mesmos causaram

Para deixar aqueles que a muito me abandonaram

Me sinto um velho que dia após dia vive do passado

Me sinto um caduco que luta sozinho uma guerra perdida

Dragões nem moinhos abalam meus sonhos

Não durmo por morrer de medo do que virá pela manhã

Novas decepções? Uma nova calamidade?

Ou quem sabe novos amores, uma bela mulher para chamar de minha

Mas de que vale a valentia se não tenho um prato por dia?

De que me vale a chance se o que me resta são apenas versos de consolação?

Devo, então, morrer?

Morrer para o renascer de um novo homem

Seguro, independente, confiante e de uma autoestima invejável

Eu morreria antes de virar esta mentira

Por que no final dos dias, tudo o que me resta é dor

No final dos versos não existe nada se não o tédio

No final da vida não existe nada se não o nada

E buscar o nada não seria, então, desespero mas pura compaixão.

Ouço sussurros que me segredam as verdades do mundo

Depois de um tempo tudo ficará bem, eu estou exagerando

O sol está alto, o céu é azul, esqueça suas decepções e sorria!

Sorria, desgraçado.

A verdade é que a culpa é toda minha

Talvez por amar de mais, talvez por amar errado

Talvez por amar os outros e considerar esse papo de amor próprio um saco

A verdade é que amar me fez morrer, um dia de cada vez

Mesmo que não seja o amor o culpado, mas a falta dele

Mas ninguém é obrigado a amar ninguém, e aqueles que amam são os únicos culpados

Desgraçados, criminosos... e ainda me vem escrever versos

Infantis como estes, justificando seus erros nas estrelas

E aos poucos eu descobri que as grandes coisas da vida

A depressão, a decepção e o suicídio

Não são opções, não são regras e não são itens de chantagem

São pedidos de perdão

E cada uma dessas coisas tem pouco haver com o desespero

E muito haver com o amor

Com a esperança

E com o medo

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Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.