Not Like The Movies

Promessas não podem ser quebradas


“Algumas vezes, não há razão para justificar o significado... Posso ouvir um amém?"

Halestorm

O clima chuvoso deixava os corredores mais gelados e fechei minha jaqueta enquanto arrastava os pés, um pouco sem rumo por um bom tempo, até parar no refeitório. Empurrei uma das portas duplas e andei até uma das mesas mais afastadas do salão, não havia mais do que vinte pessoas ali dentro, mas os barulhos de mastigação e bandejas de metal sendo empurradas junto com as cadeiras eram extremamente altos.

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Puxei uma cadeira e afastei a bandeja com um sanduíche meio comido e um copo amassado; enfiei as mãos nos bolsos da jaqueta e escorreguei um pouco na cadeira. Ainda restavam mais três dias da Semana Zero e, desde a ressaca em grupo do começo da semana, eu havia conseguido empurrar para o fundo da minha mente os interrogatórios e as análises sobre o que Gaara havia dito sobre não ser o cara certo.

O assunto sobre o assassinato dos meus pais era manchado por dúvidas e medo. A maioria dos dedos acusatórios e das certezas haviam desaparecido desde que Gaara havia confessado, e minha cabeça não parava de comparar cada frase raivosa que Sakura havia despejado na minha cara com o que ele havia falado.

Não, ele está mentindo. Tem que estar, era o mantra irritante que surgia de tempos em tempos, mas parecia ser apenas um eco enfraquecido do que eu acreditava até então. A verdade era que eu não sabia mais no que acreditar desde que havia colocado os olhos no prontuário dele.

Também haviam as perguntas quase clichês que arranhavam a minha cabeça feito um disco arranhado, que começava com por que eu, e se estendiam até se ele não fez isso, então sabe quem foi? Era nesse meio tempo que eu escutava os velhos fantasmas, relembrava de cada detalhe daquela noite e sentia o cheiro de sangue impregnando a minha pele, e sentia que explodiria de vergonha e remorso se considerasse o que Gaara disse.

Um sorriso amargo repuxou os meus lábios quando percebi que eu estava levando mesmo a sério a teoria louca de que ele não havia mentido, e que talvez fosse a primeira vez em que havia um fiapo de honestidade nele.

Encarei a bandeja de metal outra vez, como se ela contivesse a resposta para cada pergunta que me atormentava.

Suspirei e olhei para o teto, e me esforcei para me distrair com as lâmpadas e manchas no teto relativamente branco. Virei o pescoço para o lado e avistei Naruto andando pelas mesas, com um copo plástico na mão; eu poderia culpar aquela sobrecarga de informações e sentimentos que haviam desestruturado boa parte do meu bom senso quando ergui a mão num aceno e sinalizei para o Uzumaki.

— Pensei que você não gostasse mais de mim — ele comentou num tom ácido e presunçoso enquanto puxava a cadeira à minha direita e sentava. O sorriso amargo no meu rosto pareceu ter rasgado minha pele quando exibi uma fileira de dentes. Naruto apoiou o copo na mesa e perguntou: — Então, quer falar comigo?

— Acho que você é o mais esperto dos três — o rosto dele pareceu sério enquanto eu me ajeitava melhor na cadeira e sentia meus punhos cerrando dentro dos bolsos da jaqueta. — Gaara... — o nome dele ainda queimava na minha boca, mas me forcei a continuar. — ...me disse que ele não matou os meus pais. O problema é que a Sakura me disse a mesma coisa, há algumas semanas, e os dois falaram a mesma coisa: que ele estava numa clínica enquanto os meus pais... — A minha garganta travou pela primeira vez e me forcei a sorrir mais um pouco. — Então, você acha que estou sendo tapeada? Isso é um novo truque dele?

Naruto não desviou os olhos, apenas suspirou e segurou o copo de plástico por algum tempo antes de colocá-lo na mesa de novo. O silêncio dele era inquietante e foi o meu rosto que endureceu quando o Uzumaki murmurou, numa voz arrastada:

— Finalmente. — Trinquei a mandíbula quando percebi que ele analisava minha reação. — Eu pensei que ele ia bancar esse teatro por mais tempo antes de começar a usar a cabeça.

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— Você também sabia — afirmei e me agarrei àquelas palavras, mesmo que elas doessem. — Parece que todo mundo sabia sobre isso, menos a idiota aqui.

— Não é simples assim, Ino — a voz dele era séria e cansada, mesmo que os olhos estivessem endurecidos. — Isso nunca foi um assunto meu, ou do Sasuke, ou de qualquer outra pessoa que não fossem vocês dois.

— Que belos amigos que eu arrumei — retruquei amargurada e soltei o ar com força, respirei fundo e meus pulmões ardiam quando voltei a sustentar o olhar de Naruto. — A Hinata também sabia? — Eu senti a vergonha e a culpa me queimando assim que fiz aquela pergunta, porque havia um tom horrível de traição naquelas palavras.

— Não posso responder por ela, posso? — Ele arqueou uma sobrancelha e era a maldita convicção na voz dele que me irritou acima de tudo. — Até onde eu saiba, só eu e o Sasuke sabíamos sobre isso. Não é bonito apontar o dedo para outra pessoa, Yamanaka.

— Guarde a lição de moral na sua gaveta, rapaz. — Rosnei e não consegui controlar o tremor que escalou minha espinha ou a vontade súbita de chorar de raiva, frustração e cansaço. Mas eu fiz o que sabia fazer: imaginei o que a Ino Durona faria e repeti o que ela diria. — Ultimamente as pessoas têm mentido pra mim sobre muitas coisas e não estou no melhor dos humores para aguentar mais esse tipo de merda.

Respire um pouco. Segui a ordem de forma mecânica e tentei relaxar os punhos um pouco.

— Já que as coisas não são simples, explique. Por que vocês dois não disseram nada antes? — Eu não tinha mais paciência para construir uma frase elaborada ou pensar qual tom de voz era mais adequado, não quando tudo havia se tornado uma massa ácida e infecciosa de informações verdadeiras e mentirosas, não quando eu não sabia mais discernir ou controlar o que eu sentia.

— Você é mesmo dura na queda. Precisa ser mesmo — ele comentou e suspirou, jogou um braço sobre o encosto da cadeira. Aquilo não durou mais do que meio minuto, mas me pareceu uma hora. — Eu não posso te dizer o que o Gaara pensava ou o que ele planejava, ele não é o tipo de cara que fala o que pensa. Não é irritante como o Sasuke. Mas, se ele chegou ao ponto de te dizer a verdade, a culpa é do Sasuke.

Franzi o cenho e Naruto pareceu escolher as palavras enquanto me encarava.

— Eu sei que o Gaara veio parar aqui por conta da irmã dele. Era parte do trato: ele ficava aqui, a irmã dele ficaria internada numa clínica particular até melhorar. — A pausa pareceu mais longa do que o necessário, até que ele continuou: — Todo mês, alguém enviava um relatório dessa clínica, quase sempre com a mesma coisa, e foi há uns dois meses que o Sasuke disse que a irmã do Gaara estava morta há um bom tempo.

Acompanhei a linha de raciocínio que Naruto cuspia e a conclusão se formou na minha cabeça com pouca dificuldade em seguida.

— E foi por isso que ele confessou — sussurrei e me assustei com a minha própria voz, porque havia um fiapo de convicção e de crença que me deixavam nauseada. — Ele não tinha mais nada a perder.

— Até onde eu sei, não, ele não tinha — a voz de Naruto parecia velha e cansada demais. — O ponto é que as coisas não são simples assim.

— Pra quem? — Devolvi e senti minha garganta fechando. — Não tente defendê-lo, Naruto. O canalha podia ter falado a verdade desde o começo. Ele poderia... — as palavras fugiram da minha boca quando percebi a compreensão nos olhos azuis do Uzumaki, como se ele entendesse o que eu queria realmente dizer. — Esquece.

— Desculpe se pareceu que eu banquei o advogado do diabo agora, Ino. — Franzi um pouco o cenho quando escutei aquilo e Naruto suspirou outra vez. — Eu te contei a verdade do que eu sei.

O tom de voz dele continuou baixo e ergui a cabeça para acompanha-lo quando ele empurrou a cadeira e levantou; minha cabeça doía com o que eu havia escutado e Naruto pegou o copo de plástico depois de colocar a cadeira no lugar.

— A verdade, hã? — Meus lábios mal se mexeram e senti que meus músculos começaram a relaxar, como se a urgência em obter respostas fosse trocada por uma dose cavalar de calma anestésica. — Também vou te contar uma coisa, Uzumaki. Preste atenção, porque eu não gosto de me repetir.

Ele não se moveu e puxei e soltei o ar mais duas vezes até sentir que podia controlar melhor o timbre da minha voz.

— Seria legal se você também falasse a verdade para a Hinata. Ela precisa saber dos seus motivos, já que até uns meses você a desprezava, não é? — Percebi que eu também estava escolhendo as palavras, exatamente como Naruto havia feito comigo. — Eu sei por que você odeia os Hyuuga. Se isso não inclui a Hinata, então é melhor parar com essa porcaria e dizer a verdade agora.

O silêncio que se instalou era pesado e mexi a boca, empurrando as palavras o mais rápido possível antes que Naruto dissesse alguma coisa.

— Não ferre as coisas com ela, Naruto. Não minta, se você se importa mesmo com a Hinata — os olhos dele continuaram sérios e cruzei os braços. — Não se aproxime dela se ela acabar magoada em algum momento. Ela não merece nada dessa porcaria.

Enquanto Naruto sustentava o meu olhar e continuava quieto, eu quis acreditar que aquelas palavras não serviam perfeitamente para a minha situação. Ignorei qualquer sentido duplo naquele conselho, e estudei o rosto do Uzumaki, mas só havia seriedade e uma espécie de análise calculista nos seus olhos.

Levou um tempo até ele mexer a cabeça em uma concordância muda e se afastar até a saída. Voltei a encarar o teto antes de remoer aquela conversa e deixar que a dúvida voltasse a me corroer feito ácido. Girei o pescoço na direção das portas duplas e endireitei a postura de forma inconsciente quando reconheci Karin e Sasame desfilando com autoridade até uma mesa na metade do refeitório.

Um sorriso gelado e arrogante puxou um pouco meus lábios para cima assim que Karin olhou ao redor e seus olhos pararam em mim. Você disse que a pegaria. Não é bom deixar as pessoas esperando por muito tempo. Aquelas eram as palavras mais racionais que haviam surgido na minha cabeça desde que aquela guerra silenciosa contra a ruiva e suas malditas sombras havia começado.

Não é educado deixar as pessoas esperando por tempo demais. E, como uma pessoa educada com a mais refinada etiqueta, eu não poderia deixar aquela garota esperar por mais tempo.

* * *

Eu só precisei esperar pouco mais de quatro horas até Karin ficar completamente sozinha.

O dia havia escurecido rápido quando eu segui Karin pelo corredor amplo e praticamente vazio, apressei o ritmo assim que ela desacelerou um pouco os passos e a agarrei pelo braço. Enfiei as unhas na manga da blusa de lã que ela usava e a puxei até o quarto 201, chutei a porta com força assim que empurrei Karin para dentro.

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Não havia muita mobília no quarto além de uma cômoda quebrada e uma cortina rasgada que cobria um pouco a janela quadrada com grades reforçadas – exatamente como Sasuke tinha dito. Havia um tipo novo de fúria e frieza que agitavam o meu sangue e me faziam respirar mais rápido enquanto eu assistia Karin levantar e bater as mãos na roupa com irritação.

— Que merda você pensa que tá fazendo? — Andei com calma até a porta e virei a chave na porta. O barulho da tranca aumentou ainda mais o tremor leve das minhas mãos quando girei os calcanhares para encarar a ruiva. — Sai da minha frente — ela falou e deu alguns passos para frente, mas praticamente parou no lugar quando notou o taco de baseball apoiado na parede, há menos de meio passo de distância de onde eu estava.

— Você não vai a lugar nenhum hoje, Karin. — Minha voz mal passava de um sussurro e olhei para a direita, outro tremor escalou a minha espinha quando estiquei os dedos e segurei o cabo, ergui o taco com facilidade e apontei para a ruiva . — Eu te avisei que ia te pegar.

A frieza calculista quase se sobrepôs à massa de fúria que dominou a minha cabeça quando desferi o primeiro golpe e a acertei bem no joelho, a madeira parecia assobiar quando ergui o taco e segurei com força quando a acertei na altura da coxa e depois na barriga.

Karin gritou e gemeu mais alto no terceiro golpe, ela deu um passo falho para trás e ergueu as mãos para se proteger do quarto golpe. Meus braços estavam duros assim que eu a acertei de novo. O urro de dor dela encheu o quarto quando os braços amorteceram boa parte do estrago que seu rosto levaria.

— Eu te disse que você passou dos limites, garota — parecia que eu estava em transe, já que não sentia meus braços se movendo, meus pés se mexendo na direção de Karin e encurtando a distância que ela criava com passos trôpegos para trás; eu enxergava muito bem a raiva nos olhos dela, um pouco acima do medo e da dor.

Balancei o taco para o lado enquanto ela caía para trás e começava a chutar o chão, tentando se afastar de mim.

— E você acha que não está passando da porra dos limites, hã, órfã? — Os dentes estavam arreganhados enquanto ela mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender a tempo do próximo golpe. — É assim que você consegue me encarar? Com a porra de um taco de baseball?! Só assim é que você consegue me encarar, sua vaca?

Uma parte muito pequena na minha cabeça registrava o que ela dizia e traduzia numa tentativa de ganhar tempo, talvez para levantar e arrancar o taco das minhas mãos ou achar alguma coisa para se defender. Aquilo quase me fez sorrir, já que não havia nada que ela pudesse usar como arma. Só havia eu e meu taco de baseball e doses cavalares de ódio, fúria, frustração e vingança acumulados.

Apertei um pouco mais o cabo do taco quando Karin começou a olhar ao redor, e praticamente prendi a respiração quando levantei e desci o taco com força no pé direito dela e depois subi para o joelho. Chutei seu rosto assim que ela abriu a boca e começou a berrar.

Escutá-la gritando de dor parecia não ser o suficiente para acalmar aquela sensação ácida de ódio e adrenalina, que acabava com qualquer linha de raciocínio que não envolvesse alguma forma de surrar Karin até que ela perdesse a consciência, exatamente como ela havia feito com Sakura e Hinata.

Agarrei o couro cabeludo dela com a mão livre e a forcei a me olhar.

— Sabe de uma coisa, você está certa. Eu estou passando dos limites. — Ela conseguiu reunir saliva suficiente para cuspir no meu rosto e apoiei a ponta do taco em cima do joelho direito dela. — Eu sei disso. Mas quem é que vai me parar?

O único tipo de resposta que eu conseguia dela era um berro ensandecido de dor.

Girei o pulso parar erguer o taco o suficiente para acertá-la no mesmo joelho e lhe dei as costas, deixei o taco apoiado na porta enquanto Karin rolava de dor no chão, segurando o joelho, xingando e cuspindo ameaças.

Eu não sabia dizer por quanto tempo esperei até que ela levantasse e se apoiasse na perna esquerda, mas mantive os punhos bem cerrados assim que ela ergueu o queixo e começou a abrir a boca; a voz dela me irritava, vê-la respirando me irritava, lembrar o que ela havia feito, dito e como agia até aquele momento – tudo aquilo intensificou todo o ódio que fervia o meu sangue.

Encurtei a distância com facilidade e meu primeiro soco a acertou na mandíbula, ela se afastou um pouco para a esquerda e só precisei de meio passo para acompanhá-la; no segundo murro, ela gemeu baixo e a puxei pelos cabelos quando acertei duas joelhadas na sua barriga. Eu soltei a ruiva e ela caiu com os dedos esticados, tentando agarrar qualquer coisa para se apoiar.

Minha respiração era uma sequência curta e ofegante de puxadas de ar e o suor brotava nas minhas costas e nas minhas pernas. Os músculos dos meus braços queimavam, mas eu me recusava a parar. Eu ignorava os gemidos de dor dela, o sangue que brotava do rosto da ruiva, eu ignorei o cansaço que começava a me consumir e todo o resto enquanto continuava a socá-la.

Levantei assim que percebi que ela mal se mexia, seu rosto estava virado para a direita e as mãos estavam abertas, inertes ao lado do corpo. A fragilidade dela me enojou.

— Você achou mesmo que acabou, sua desgraçada de merda? — Cada palavra saiu com dificuldade, já que eu a chutei no estômago mais duas vezes antes de me afastar e pegar o taco de baseball. Destranquei a porta e a escancarei enquanto Karin rolava para o lado e se encolhia bem devagar, tossindo e juntando as mãos com dificuldade.

Me forcei a andar na direção dela enquanto sentia os músculos repuxando e afastei o cabelo dos olhos quando parei a menos de dois passos dela. Eu a puxei pela axila e a forcei a ficar de pé, a cabeça dela pendia para baixo e os pés não se firmavam direito quando a puxei para fora do quarto.

O ar gelado era reconfortante e larguei Karin no chão do corredor; arfei assim que girei os calcanhares e escutei a tosse dela ecoando pelo lugar. Virei o pescoço na direção da porta e olhei para Sasuke e Naruto parados no batente da porta; nenhum deles disse nada quando puseram os olhos em nós duas, Naruto apenas meneou com a cabeça e tragou o cigarro que prendia com os dentes.

Andei até a porta ao lado da 201 e bati nela com o taco, depois segui para a próxima e insisti um pouco mais com as pancadas antes de seguir para a porta ao lado.

Atravessei o corredor e bati em mais algumas portas. Ignorei os olhares sonolentos e curiosos enquanto me forçava a andar até onde a ruiva rastejava, eu a alcancei com facilidade e a chutei mais uma vez. Na minha cabeça, o processo todo levou mais de uma hora, mas não haviam se passado mais do que vinte minutos desde que eu havia jogado Karin para fora do quarto abafado.

Minha respiração continuava alterada quando um semicírculo se formou e meus lábios estavam secos quando consegui puxar o ar. Eu senti parte da frieza de antes retornando e congelando meu sangue, mas a adrenalina ainda mantinha meu pulso acelerado.

— É isso o que acontece quando alguém se mete comigo, seus putos — apontei para Karin com o taco e continuei de queixo erguido quando os cochichos começaram. — É bom que ninguém se esqueça. — Agachei na altura da ruiva e me controlei para não agarrá-la pelo couro cabeludo outra vez quando ela ergueu a cabeça; ela tremia e gemia quando me encarou só com o olho esquerdo.

O olho direito dela começava a inchar e o sangue escorria em filetes grossos do nariz e do supercílio. Karin tossiu mais uma vez e precisou se esforçar para levantar a cabeça.

— É melhor você não se meter comigo de novo, Karin. Porque se isso acontecer, eu não vou ser legal como fui hoje. — Sussurrei e estudei seu rosto machucado. — Da próxima, você vai acabar com as duas mãos quebradas.

Levantei assim que o olho esquerdo pareceu um pouco maior pela compreensão imediata. Pisei nas costas dela e puxei sua mão direita, apoiei um pé em cima do pulso da ruiva e Karin fechou os dedos com força, percebi os nós brancos que se formavam enquanto ela se recusa a manter a mão aberta.

— Se não abrir a porra dos dedos, eu quebro a merda do seu pulso também.

— Vai pro inferno, órf...

A voz estridente dela virou um berro de pura agonia quando acertei seu pulso com força com o taco de baseball. Eu não precisava acertá-la pela segunda vez, mas eu não dava mais a mínima para o que era certo e o que era errado. Eu havia transformado aquilo numa afronta pessoal.

— Me chame de órfã de novo, Karin. Estou esperando. — Não reconheci aquela calma insana que pareceu clarear minha cabeça e intensificar o silêncio que havia brotado no meio daquele corredor. Ergui os olhos para o semicírculo outra vez e ignorei os berros dela enquanto trotava para frente, a maioria se afastou e criou espaço suficiente para duas pessoas passarem.

Continuei andando em linha reta e apoiei o taco no meu ombro. Meu braço tremia pelo esforço e parecia que eu não conseguiria dar mais do que seis ou cinco passos antes dos meus joelhos dobrarem de cansaço. Virei o pescoço para a direita e percebi que Naruto e Sasuke haviam de alcançado sem esforço.

— Tinha gente o suficiente? — Perguntei quando os berros de Karin diminuíram um pouco e calculei ter percorrido pouco mais de trinta metros até dobrar o corredor.

— Eles vão falar sobre isso, não se preocupe — Naruto ainda fumava e soltou a fumaça num sopro casual antes de comentar: — Todo mundo vai saber que a Karin levou uma surra.

— É bom saber disso — Sasuke falou e quase não reconheci a frieza em sua voz; ele continuava olhando para frente com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans escura. — Você arrebentou bem a desgraçada, Ino?

— Pode apostar que sim, Uchiha. — Respondi e senti meu maxilar travando. — Não foi como se ela realmente teve o que merece, se quer saber.

— Ah, ela teve o que merece. — Naruto respondeu num tom sombrio e parei de andar automaticamente quando um sorriso apareceu nos lábios dele. — Ninguém vai fornecer remédios ou a porra de um médico. Eu cuidei disso.

Um pouco da adrenalina abaixou quando percebi a satisfação nos olhos de Naruto e no rosto de Sasuke quando o loiro tragou o cigarro de forma mecânica. Mas, bem no fundo, eu senti a mesma alegria mesquinha e cruel atiçando meus nervos e sussurrando na minha cabeça que aquela era a minha forma de conseguir um pouco de justiça, mesmo que fosse na base de violência pura.

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Mas.

Aquele era o combinado entre nós três: eu pegaria Karin, a arrebentaria o máximo que os meus músculos permitissem antes que o cansaço realmente me dominasse e eles fariam o que estivesse ao seu alcance para espalhar para todo mundo daquele maldito lugar que Karin havia levado uma surra e impedir que ela ganhasse ajuda de Sasame ou Matsuri por um dia ou dois.

Foi bom e quase reconfortante perceber que eu não era a única a me importar com o que havia acontecido com Sakura e Hinata por causa de Karin e suas duas sombras.

— Você está bem? — A pergunta de Sasuke quase me fez sorrir.

— Eu não me sentia bem há um bom tempo, na verdade — confessei e escutei os gritos da ruiva por meio minuto antes de voltar a andar. — É bom mesmo que todo mundo saiba o que aconteceu hoje. Cansei dessa merda.

— Aleluia — Sasuke murmurou e continuamos seguindo em frente. Quando os berros de Karin diminuíram de vez e o ar ficou mais gelado, voltei a respirar um pouco melhor.