Nossos Lugares

Capítulo Dois


“Don't have to look back to realize how far we've come

There are a million reason”

Lily Luna

Nós ficamos no quarto de Hugo até que o tempo ficou quente demais para aguentar. São tão raros verões quentes onde moramos. Nesses raros momentos lembro que íamos para a casa de vovó e ficávamos sentados na grama sem fazer nada, ou algum dos nossos primos inventavam uma guerra de água.

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Bons tempos.

Quando descemos as escadas da casa posso escutar tio Rony na cozinha, e faço o possível para resistir ao impulso de ir bisbilhotar o que ele faz, mas minha curiosidade sempre foi mais forte que eu, então ignoro a expressão de Hugo e vou em frente rumo às panelas.

— O que temos aqui? – Eu pergunto observando meu tio batendo coisas em uma vasilha redonda.

— Minha assistente. – Ele parece feliz, usa um avental engraçado que tenho certeza foi o tio George deu. Ele sempre diz que a tia Hermione é o homem da casa e que o tio Rony a mulher. Coisa de família.

— Cadê meu avental? –

Enquanto ele faz uma manobra rápida com a varinha e o avental vem até mim, Hugo senta-se à mesa com as mãos apoiando o queixo e os lábios sorrindo sereno.

Acho que isso começou quando tínhamos uns quatro ou cinco anos. Naquela época não era só o Hugo que ficava sentado assistindo, eu também não chegava perto das panelas, mas existia alguma magia, fora aquela recorrente, nas cozinhas. Não somente na casa dos meus tios, ou da minha avó, mas também na minha casa. Enquanto James e Alvo jogavam Quadribol no quintal eu ficava com minha mãe a vendo cozinhar, fazer lanches e dizer o quanto vovó Molly era melhor que ela quando o assunto era comida.

Eu fui gostando dessa coisa de misturar ingredientes e no final ter algo tão maravilhoso que preenche grandes memórias. Quem não adora se lembrar dos biscoitos de natal que comeu antes de dormir? Ou da torta de abobora em uma tarde qualquer na casa dos avós? Da primeira comida trouxa que experimentou? Foi aos onze anos quando Hugo quis comemorar o aniversário em uma lanchonete trouxa para a felicidade do nosso avô. Comi muitas batatas fritas.

Enfim, eu amo cozinhas e os cheiros presente nelas.

— Lily, acho que você já sabe o que fazer né? – Hugo diz. Ele estava me observando. – Por isso gostava tanto das aulas de Poções e Herbologia.

— Do que estão falando hein, crianças? – Tia Hermione e Rose entram na cozinha animadas. Vejo que Rose tinha acabado de acordar, seu cabelo estava ainda maior que o normal.

— Hugo está tentando resolver os problemas de todos. – Digo sorrindo para ela. – Um segundo na cozinha e já acha que serei cozinheira.

— Por Merlin, é claro que não. Quem iria comer suas gororobas? – Meu primo diz mostrando a língua. – estava falando do fato de identificar tudo através do cheiro. Já pensou em ser perfumista?

Estou surpresa, mas ele tem razão. Ele sempre tem razão e por isso que tem momentos que o odeio. Eu sou realmente boa com perfumes, por isso me saia tão bem em poções e em Herbologia, sempre adivinhava os ingredientes pelos cheiros deles.

— Não preferiria entrar para política? Sempre achei você tão influente entre todos seus coleguinhas. – Tia Hermione espera ansiosamente por algum membro da família do sexo feminino que queria mudar o mundo. Ela seria uma ótima orientadora.

— Lily sempre foi muito popular, mas não acho que levariam seus dizeres tão a sério. – Rose diz me analisando. – Lembra quando tentou convencer a todos a plantarem jasmim nos terrenos de Hogwarts?

Hugo e Rose estão gargalhando enquanto eu finjo que não me lembro desse momento desastroso. Eu queria deixar nossa escola mais bonita e cheirosa, mas ninguém parecia concordar com isso. Convenci alguns fantasmas, eu era bem amiga da Murta que Geme, e tinha um fantasma da época da segunda grande guerra que estava bem interessado em impressionar minha amiga transparente.

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— Os alunos da Lufa-Lufa me apoiaram. – estou tentando manter minha postura. Eles não deixam.

XXX

Hugo Weasley

Lembro-me de Lily com seus 13 anos carregando uma cesta cheia de mudas de flores. Eu fiquei observando ela recrutando alunos, alguns apenas riam da idéia, mas alguns também riam dela o que me deixa muito chateado. Foi por isso que convenci alguns amigos da Lufa-Lufa a ajuda-la. Mesmo sendo da Corvinal eu sempre me dei bem com todas as casas, até mesmo com Sonserina, porque nunca fui de julgar os outros apenas por terem sido escolhidos por um chapéu falante para casas segmentadoras. Precisamos ter princípios.

Quando a chamei de lado e a levei até os fundos do castelo, perto da casa em que Hagrid vivia nos tempos dos nossos pais, e mostrei as flores que tinha plantado. Ela sorriu radiante e me abraçou. Eu estava satisfeito e podia ignorar todos os alunos implicando com a minha Lua Avoada. Lily Luna Potter sempre foi a pessoa mais singela que cheguei a conhecer. Acho que vai continuar sendo.

— Hugo? Hugo? – Meu pai está me chamando. Ele me olha de maneira engraçada, e quando volto ao tempo presente seu sorriso me diz que ele podia ver em quem eu estava pensando.

— Oi?

Sério. Muito estranho com ele faz isso. Normalmente Hermione G. Weasley que descobre todos os nossos podres, como quando saímos escondidos para um festival trouxa, a ideia foi de James. Ou quando nós contrabandeamos pizza para Hogwarts e foi uma festa no dormitório dos meninos. Mas quando o assunto era Lily, sempre era Ronald Weasley que percebia o que estava acontecendo, ou o que não estava acontecendo.

Não quero enganar ninguém, nem a mim mesmo. Eu gosto muito dela. Gosto mesmo. Mas nós nunca chegamos a dizer isso em voz alta. Muito menos um para o outro. Somos primos. Somos melhores amigos. Nós nunca trocamos um beijo para que mudasse tudo. E conseguimos viver assim, apesar dos conflitos.

— Estava perguntando se está tudo preparado para sua viajem. – Meu pai diz jogando um pano em mim. Ele sempre tenta ser engraçadinho quando mamãe está por perto. Ela sempre revira os olhos, mas sorri.

— Sim. – Olho para Lily que tem os lábios em forma de sorriso, mas os olhos estão tristes. – Quase tudo.

— Não pode deixar tudo para ultima hora. Melhor terminar o que ainda falta. Nunca se sabe o que pode acontecer, e se precisar ir antes? – Mamãe é sempre muito organizada, diferente de todos nós.

— Hermione, esperamos que ele não tenha que entrar em uma guerra e sair fugido de casa. Querida, deixe-o aproveitar os últimos momentos em casa, com a Rose, os primos. – Ronald Weasley, pisca para sua esposa e logo em seguida aponta com a cabeça para Lily. Ela acena afirmativamente e muda de assunto.

São em momentos assim que penso em quanto quero ser um pouco parecido com ele. Meu pai é engraçado, e parece ser um amigo leal, ele é um pouco ciumento e reclama bastante de tudo, mas ele é incrível. Tenho orgulho quando dizem que pareço com ele, mais fisicamente do que na personalidade, mas não me importo.

— Valeu mãe. – Me aproximo da mulher forte, inteligente e no momento viciada em corridas e a abraço forte. Não preciso ver seu sorriso, mas sei que ele está ali. – Mas não quero partir antes do dia certo.

— Vocês são uns mimadores de Hugo Weasley. – minha irmã diz com a cara de deboche que eu tanto conheço. – Quando eu comecei a vida adulta ninguém ficou me mimando desse jeito.

— Rose, você é uma mentirosa. – Lily diz rindo. – Tio Ron quase teve um ataque, ele ia todos os dias conversar com papai sobre o quanto era difícil aceitar que você iria se mudar para Londres trouxa, e morar sozinha.

— Só está com ciúmes de mim. – Estou agarrando minha irmã e bagunçando ainda mais seu cabelo. Por sorte está sem a varinha, ela é ótima em azarações. – Vamos dar uma volta?

Eu pergunto para Lily. Tenho todo tempo do mundo para ficar com meus pais e com minha irmã ciumenta, mas meu tempo com Lily está acabando. Eu sei que poderemos nos reencontrar no Natal, ou que podemos aparatar e nos ver em qualquer lugar do mundo. Mas não é como andar rua abaixo e encontra-la esperando em frente a sua casa. Não é como estar dormindo e tê-la batendo na janela. Não é como ter minha melhor amiga o tempo todo perto de mim.

— Vamos. – Ela beija meus pais e minha irmã, e sai ao meu lado.

Vamos pela rua, sem um rumo especifico apenas aproveitando a companhia um do outro. Sua respiração é como uma música. Gosto de ouvi-la.