Nosso Amor Único

Capítulo 03


ANASTASIA

Depois que me despedi de Christian, no bate-papo do site, eu fiquei muito tentada em continuar conversando mais com ele, agora pelo Whatsapp, porém passava da uma e meia da manhã e nós dois precisávamos descansar para o nosso encontro, daqui a algumas horas.

Todavia, a ansiedade fazia uma espécie de barreira contra o meu sono, não deixando ele se apoderar do meu corpo. Em parte, eu estava gostando um pouco disso, pois tinha medo de ir dormir àquela hora e acabar acordando bem atrasada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Fiquei então relendo a nossa conversa várias e várias vezes, avaliando Christian com base em sua forma de se expressar por mensagens. O mesmo parecia ser um cara bem legal, centrado e muito educado, pois não ficou querendo logo meu número para pedir nudes.

Entretanto, eu precisava ficar com o pé atrás, pois a última vez que fui a um encontro com um cara que havia conhecido pela internet, acabei indo parar machucada na emergência do hospital, onde minha mãe trabalhava, devido o mesmo ter me espancado ao descobrir que eu era mulher trans, não operada.

Em consequência a esse ocorrido, fiquei com muito medo de ter novos encontros e passei dois anos sem querer tentar sair com outras pessoas, me focando apenas na minha empresa, no gerenciamento e na expansão das minhas Sex-Shops para fora dos Estados Unidos.

Aos 19 anos, cursando a faculdade de Administração, comecei a vender produtos eróticos para minhas colegas de alojamento. Mentindo sobre usar os produtos e achar os mesmos incríveis para termos prazer sem precisar dos garotos imaturos que estudavam no campus.

Como vendedora, eu fui excelente, então quando terminei a faculdade, comecei a correr atrás para abrir uma Sex-Shop com um atendimento mais diferenciado que as demais que já estavam no mercado.

Então, com uma ajudinha da minha mãe, que sempre me apoiou em tudo, tanto nos negócios como na minha transformação de menino para menina em minha adolescência, eu consegui abrir a primeira das quatro Sex-Shops, além da loja virtual, que administro atualmente.

Nos dois últimos anos, durante o período que me foquei mais em meu trabalho, consegui me lançar de vez no mercado de produtos eróticos, criando minha própria marca, que levava o nome da minha rede de Sex-Shops, e abrindo uma fábrica no Japão para produzir e exportar os produtos da Spicy Cherry.

Imersa em meus pensamentos, acabei me sobressaltando quando o celular vibrou ao meu lado na cama. Assim que eu o peguei, sorri ao ver quem me ligava pelo Whatsapp.

Ainda acordada trabalhando, filha?

— Oi para a senhora também, mãe – falei, fazendo ela rir do outro lado.

Oi, filha. É sério, mocinha. Você não deveria estar acordada a essa hora da madrugada, trabalhando.

— Não estou trabalhando, mãe. Estou sem sono, apenas.

Algum problema no trabalho, meu amor?

— Não, não. Está indo tudo bem, graças a Deus. Eu só estou um pouco ansiosa mesmo.

Ansiosa porque?

— A senhora lembra daquele site de relacionamentos que eu falei que ia tentar esse ano?

Lembro.

— Então... A quase uma hora atrás, eu conversei com um rapaz pelo bate-papo do site. Eu achei ele bem legal, super educado e bem respeitoso, e também divertido – comentei, rindo, lembrando de quando o mesmo me disse que era virgem.

Filha...

— Eu sei o que a senhora vai dizer, mãe. Que eu deveria tomar cuidado com isso, por causa do que houve comigo há dois anos.

Isso mesmo. Eu sei que você quer encontrar alguém para namorar, casar e ter filhos, mas me preocupo com a sua segurança, meu amor. Quero que você tenha muito mais cuidado com essas pessoas da internet. Não se apaixone tão facilmente por qualquer um.

— Mas eu não estou apaixonada pelo Christian, mãe.

Sua voz te condenou assim que você começou a falar dele, filha – ela disse, rindo, fazendo-me rir também – Então o nome do cara é Christian?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Sim. Ele tem 27 anos e é artista plástico. Pinta quadros, na verdade.

Já contou a ele sobre você?

— Não, mãe. Mas eu vou contar no nosso encontro daqui a algumas horas.

Anastasia! Você não aprende mesmo, hein!? Olha, se você chegar aqui na emergência toda lascada de novo, eu te espanco mais ainda, mocinha.

— Eita, que agressiva! – murmurei, rindo – Não se preocupe, mãe. Prometo que assim que eu ver ele, vou falar que sou transgênera.

Não esqueça de dizer também que você não é operada, filha, porque ele pode pensar “Ah não, tudo bem, ela fez a cirurgia para trocar de sexo”.

— Eu sei, mãe. Eu vou contar isso também.

Tudo bem, meu amor. Vou rezar para que tudo ocorra bem no seu encontro. Bom, vou ter que desligar, porque estão me chamando na emergência.

— Ok, Dra. Trevelyan. Te amo muito.

Também te amo, minha filha linda.

Ela encerrou a chamada, então depositei o celular na mesinha de cabeceira, desliguei o notebook e fiquei deitada na cama, olhando para o teto. Todavia, logo me levantei e fui para o closet a fim de poder escolher uma roupa para o encontro.

★ ★ ★ ★ ★

Era por volta das seis da manhã, quando comecei a me arrumar. Não havia conseguido dormir nada essa noite, pensando no meu encontro com Christian e em como eu iria contar à ele sobre mim.

Após o banho, fiz o meu ritual de sempre.

Subi meus testículos para o canal, vestindo em seguida minha calcinha especial para mulheres trans, pois eu não precisava prender meu pau com uma fita como a maioria fazia, era só eu colocar ele para trás e subir a calcinha, que a mesma deixava ele firme no lugar.

Depois vesti uma legging preta, coloquei um sutiã azul escuro e botei uma camiseta branca, vestindo por cima da mesma uma jaqueta cinza. Passei então uma escova nos meus cabelos, deixando-os soltos. Por fim, calcei meus tênis, antes de pegar minha bolsa e meu celular.

Passei apenas um pouco de batom, cor de boca, e sai de casa.

★ ★ ★ ★ ★

Dez minutos depois, estacionei meu Honda Civic Sedan LX em uma das vagas do estacionamento do parque. Tirei o telefone da bolsa e mandei uma mensagem para Christian, avisando-o que eu já havia chegado.

Joguei minha bolsa para o banco de trás e sai, trancando o carro. De repente, meu celular apitou. Christian havia me respondido.

Já estou aqui também. Estou do outro lado da ponte. É fácil de me achar. Sou o cara em pé ao lado de uma toalha de piquenique, segurando um buquê de flores.

Sorri ao ler a mensagem, então mandei um “Ok. Estou chegando aí” e me encaminhei rumo à ponte. Assim que cheguei ao outro lado, o vi um pouco distante e me aproximei, sorrindo para ele à medida que chegava mais perto.

— Bom dia, Chris – o cumprimentei, parando a sua frente.

— Bom dia, Ana. Espero que goste de flores.

— Eu gosto sim. Obrigada – murmurei, sorrindo, pegando o buquê que o mesmo me oferecia – São lindas.

— Não mais que você – ele disse, fazendo-me encará-lo.

— Imaginava que você era fofo, mas não tanto assim – falei, então me inclinei para frente, esticando-me um pouco, pois Christian era alguns centímetros mais alto que eu, e dei um beijo em sua bochecha.

Imediatamente, notei que ele corou sutilmente com aquilo e para disfarçar, o mesmo me chamou para sentarmos sobre a toalha de piquenique.

— Você é um gato. As mulheres devem se matar para ficar com você – comentei à medida que eu me sentava.

— Não muito, mas quando isso acontece, elas logo se afastam de mim.

— Jura? São umas idiotas e eu uma sortuda.

Ele sorriu para mim, então de repente lembrei do que eu tinha prometido à minha mãe.

— Christian, eu preciso, antes de tudo, te falar uma coisa sobre mim... – comecei a falar e ele me encarou, franzindo o cenho, já parando de mexer na cesta – Eu deveria ter te falado isso antes, durante nosso papo no site, porque assim teria evitado de você ter saído de casa à toa.

— Você mentiu e é casada ou tem namorado? – ele inquiriu e eu vi um lapso de tristeza passar por seu rosto.

— O quê? Não, não. Não é isso, Christian.

— O que é então, Ana?

Respirei fundo, o encarando nos olhos.

— Eu... Eu sou transgênera.