Nossa Canção

Capítulo 25


Aqui estou, parada em frente a farmácia, cagando nas bases com medo de entrar. É uma coisa bem simples, eu sei, mas você não tem noção do quanto estou surtando agora.

Acordei meio pálida hoje e sentindo uma leve pressão em meu ventre, o que me deixou mais espantada ainda. Edward veio me pedir desculpas, disse que se exaltou e pensou alto demais.

— Não queria te assustar, meu amor.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Disse ele.

Eu o desculpei, é claro, não há motivo para ficarmos brigados. Ele só teve sua teoria e eu tenho a minha. Tenho certeza que não estou grávida.

— Mas se tem tanta certeza, por que não entra logo e acaba com isso? - Estou falando muito comigo mesma nas últimas horas. Isso sim está me deixando maluca.

— Moça, a senhora vai entrar ou não? - Um homem de jaleco branco me encara.

— Desculpe?

— Faz meia hora que te vejo parada ai na frente. Está perdida?

— Não, eu acho que me enganei de loja – Dou a meia volta e caminho na direção do meu apartamento.

Qual é Bella, vai bancar a covarde agora? Se tem tanta certeza de que não tem nada, então faz logo a droga do teste!

— Consciência, calada! - Falo alto demais e um casal que passava por mim me olha torto.

Paro de andar, e depois de pensar melhor, dou a meia volta. Tudo bem, é só comprar esse troço, ir pra casa, fazer xixi e deixar para surtar depois. Chego em frente a farmácia e o homem de jaleco levanta a cabeça.

Faço menção de entrar, mas paro de novo no lugar.

— Senhora, é sério, ou a senhora entra ou para de me deixar inquieto – Fala sem paciência.

— Ok – Respiro fundo e entro antes que desista de vez – Eu quero dois testes de gravidez – E então, como se eu passasse a ser a melhor pessoa que ele poderia ver no dia, ele abre um grande sorriso. Não um sorriso sacana, um sorriso de compaixão, doce. De apoio.

— Eu já volto – Some por trás de umas prateleiras e logo volta com duas coisas na mão – Leia tudo atentamente para que nada dê errado – Pago o valor que foi me dito e saiu, escutando um “Boa sorte” de sua parte.

Corro para casa, tenho que aproveitar que o Edward não se encontra. Ele saiu para terminar de resolver seja lá o que ele tenha que resolver. É alguma coisa relacionada a surpresa que ele me falou na noite passada, surpresa a qual eu estraguei por conta do meu comportamento.

Mas ele me prometeu que contaria tudo quando estivesse de volta.

Entro no banheiro e tranco a porta, não quero que ninguém me atrapalhe. Minha bexiga está doendo de tanto xixi que segurei para fazer esses testes. Nunca fiz, mas sei que tem que ser o primeiro xixi do dia. Pelo menos foi o que me disseram. Tenho em mãos dois tipos de testes: um que contém o potinho e a paleta e o outro que é para urinar direto na paleta. Pego primeiro o que tem o potinho.

Nem preciso dizer o quão ridícula me senti ao tentar fazer xixi no potinho e me molhar toda. Que nojo! Ao terminar, coloco, tremendo mais que tudo, a paletinha dentro do pote e deixo encima da pia do banheiro. Vou então para a próxima etapa, pego o que urina direto nele e sento no vazo sanitário.

Minha bexiga estava cheia o suficiente para fazer os dois testes. Que coisa, não?

Ponho os dois testes juntos e fico olhando para os dois. Quanto tempo será que leva mesmo? Pego as caixas já jogadas no lixo e vejo que levam alguns minutos.

— Tudo bem, você não pode ficar aqui esperando. Saia desse banheiro e vá fazer alguma coisa – Falo e me olho no espelho. Caramba, estou mesmo muito pálida.

Vou para a cozinha e encho um copo grande de suco de laranja. Meu estômago reclama quando tomo o primeiro gole, mas continuo mesmo assim. Não posso ficar sem comer nada, vou acabar desmaiando. Não quero dar motivos para o Edward me carregar ao hospital.

Algum tempo depois assistindo TV, e tendo minhas unhas todas ruidas, tomo coragem e caminho de volta ao banheiro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Olho para a pia e faço uni-duni-tê para ver qual eu analiso primeiro. Caiu no que tem o potinho. Pego a paletinha e sem olhar, caminho de volta a sala. Pego um lugar no sofá e tomo uma grande e profunda respiração antes de olhar.

— Oh meu Deus – Sussurro. Viro a paleta de lado várias vezes para ter certeza do que estou vendo.

No mesmo instante em que deixo a paletinha escorregar pelos meus dedos, a porta é aberta e Edward passa por ela, todo sorridente.

— Ai está a mulher mais linda do mundo – Ergue minha cabeça e me dá um breve selinho – Trouxe algumas besteiras para comermos, aproveitar o dia a sós. Daí não vamos precisar cozinhar nada – Continua falando enquanto caminha para a cozinha.

Ele não para de falar, está bem animado em passar o dia comigo. Mas tudo o que entra em meus ouvidos é “Blá, blá, blá”. Não é por mal, só não consigo me concentrar em uma palavra sua. Não conseguia, até ouvir ele dizer que ia trocar de roupa para se juntar a mim. Droga, ele não pode entrar no banheiro!

Levanto em um pulo e corro em direção ao quarto. Só que já é tarde demais, ele está saindo do banheiro com o teste em mãos. Sua expressão é de espanto, confusão e alegria.

Alegria? Como ele pode se sentir assim depois de ter ficado todo animado com a ideia de eu estar grávida?

— O que significa isso?

— Eu posso explicar.

— Você fez isso agora? - Fala sem tirar os olhos da paleta.

— Sim – Suspiro – Você ficou falando tanto sobre isso ontem que eu mal consegui dormir, eu não ia ter paz enquanto não tivesse alguma certeza. Por mais que eu já soubesse que não estou grávida – Agora ele está me olhando.

— Como é?

— Edward, eu não estou grávida – Falo devagar, como quem fala com uma criança.

— E o que significa uma carinha feliz? - Carinha feliz?

— Do que você está falando? - Vou até ele e tomo a paleta de sua mão – Meu pai, deu positivo – Exclamo. Corro para a sala e apanho do chão o outro teste – Deus só pode estar de brincadeira comigo, cada um diz uma coisa diferente – Choramingo.

— Eu acho que a gente devia ir em um hospital, fazer o exame de sangue – Abro a boca para protestar, mas tudo o que tenta sair é a ânsia de vômito que meu estômago proporcionou. Graças a Deus deu tempo de chegar ao banheiro, agachei-me e coloquei tudo o que eu já não tinha para fora.

Ao levantar, ele me encara com uma sobrancelha erguida e braços cruzados.

— Ainda acha que não está?

— Edward… - Levanto rápido demais e tudo escurece. Sinto os braços dele me amparando. Estou flutuando agora – Espera – Falo quando vejo que ele está me carregando, mas não para perto da cama – Hei, o que está fazendo?

— Estamos indo para o hospital agora – Esbraveja. Seu corpo é jogado para trás quando prendo minhas duas mãos nos lados da porta, nos impedindo de sair do quarto.

— Não vamos a lugar nenhum – Ponho toda força que tenho para que ele não consiga me arrastar de lá.

— Deixa de ser criança, larga essa parede, Bella! - Tenta me puxar.

— Eu não quero ir, não estou doente.

— Não é o que diz o vômito no seu vazo.

— Me põe no chão, eu não sou obrigada a nada, Edward! - Grito. Ele me olha por um tempo, até suspirar.

— Ok, eu desisto – Se dá por vencido. Quer dizer, engano o meu! Ao afrouxar meus braços da parede, ele me puxa de vez e prende meus braços, só Deus sabe como, nos tirando de dentro do apartamento em minutos e só me soltando quando estamos dentro do carro.

Foi bom a enfermeira ter me dado um calmante, só assim eu não estrangulo o Edward por estar nesse maldito hospital, vestindo essa maldita bata, enquanto Sam e sua enfermeira estão buscando os resultados dos meus exames.

Exames, no plural!

Porque o meu namorado tomou a liberdade de pedir alguns exames, inclusive o de gravidez, sem minha autorização. Mas ok, quem escuta uma moça pálida, caindo nos braços do homem que a sustenta? Malditos!

— Quando eu sair daqui, Edward, acho melhor você ter um lugar para ficar – Cruzo os braços, apesar de ainda estar um pouco sonolenta – Porque você não fica mais comigo.

— O único lugar onde eu vou dormir essa noite, é na sua cama – Fala – E deixa de drama e fica quieta – Rouba um selinho meu e eu bufo. Estou com muita moral por aqui, cadê meu respeito, Senhor?

Ia começar meus mil e um argumento sobre ele estar me matando por estarmos ali, porém a porta do quarto é aberta e vejo o Sam passar por ela.

— Oi Bella, como está?

— Não enche, Sam, e me libera logo.

— E paciente já passa bem – Anota em sua prancheta e tenho vontade de socá-lo.

— Sam, já temos os resultados de todos os exames? - Edward toma a frente e pergunta.

— Sim – Analisa novamente a prancheta – Tenho uma notícia não muito boa para você, Bella.

É definitivo, eu vou ser mãe. O Sam sabe o quanto eu não quero ter um bebê agora, então só pode ser esse o motivo de ele dizer que tem uma má notícia para mim.

Talvez eu só quisesse estar morta, porque não me sinto nem um pouco preparada. Se eu estiver mesmo grávida, não sei o que vou fazer da vida. Acho que vou sair daqui direto para um manicômio.

— Só desembucha, estou quase tendo um ataque aqui – Não consigo conter a carranca.

— Então, eu deveria te dar uns tapas por isso, porque sempre te falei que você precisava fazer as pazes com a água e usá-la mais. E por falta disso, você está com Cistite…

— O que é isso? - Edward pergunta.

— Infecção Urinária, só que é específico na bexiga – Gemo frustrada, porque já sei que lá vem remédio por ai.

— Ok – Edward parece inquieto – E o bebê?

— Que bebê? - Eu e Sam falamos ao mesmo tempo.

— Sam, o bebê que a Bella está esperando.

— Edward, não existe bebê nenhum – Falo.

— Como não? E todos os enjoos, tonturas, sono excessivo e tudo o mais.

— Você está equivocado, querido amigo. Sinto muito lhe informar, mas esses são alguns dos sintomas da infecção – Sam parece se sentir culpado.

— Então ela não está grávida?

— Então é só a infecção? - Eu e Edward perguntamos ao mesmo tempo. A única diferença é que eu estou esbanjando alívio.

— Não, desculpe – Sam sorri solidário – E sim, só é infecção - Sam rola os olhos por conta da minha postura - Bella, você já está liberada para ir – Sento na cama e ele vem até mim – Vou te receitar os medicamentos, por favor, tome-os direitinho – Me dá um abraço apertado – Se cuida, meu amor – Lhe dou um beijo.

— Onde está a Patty?

— Atolada de coisas para fazer – Disse – Queria muito vir aqui falar com você, mas está presa. Iremos te fazer uma visita ainda essa semana.

— Vou passar na sala dela – Ele me para imediatamente.

— Nem pensar, você vai para casa e vai repousar se não quiser despertar as dores horrorosas que essa infecção pode proporcionar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Agora vou ter que ficar de molho? - Não que eu esteja reclamando.

— Não, só por hoje – Sorri – Beijos, até mais, Edward – Os dois trocam aquele velho abraço de homem e Edward me ajuda a caminhar até o carro. Ele liga o aquecedor, me passa um casaco e põe o carro em movimento.

Percebi que desde que saímos, que ele está bastante calado. Muito quieto, na verdade. Liguei a rádio e começou a tocar uma música que a gente gosta muito. Fiquei cantarolando e olhava para ele e sorria, mas ele não estava retribuindo.

— Porque está tão quieto? O que você tem?

— Oi?

— Oi? - Imito seu comportamento – Por que está tão quieto?

— Não é nada – É tudo o que diz. Eu já notei que quando ele mira sua frente e trinca o maxilar, é sinal de que ele não quer mais tocar no assunto. Então, eu respeito, fico na minha cantarolando a música até chegarmos em meu apartamento.

Assim que abro a porta, o telefone toca. Corro e me jogo no sofá antes de atender.

— Alô?

— Oi Bella, é a Esme. Como vão as coisas? - Como assim, o que eu teria para contar? Chegamos da casa dela ontem.

— Estão bem, Esme. Obrigada.

— Você fez o exame? Para quando é o bebê? - Arregalo os olhos e fito o Edward.

— Esme, que história é essa?

— Eu tentei me segurar, mas o Edward disse que você está grávida e disse que ia tentar te convencer a fazer o exame para confirmar tudo – Toma uma grande respiração – E então, para quando é?

— Esme, me desculpe ser a portadora da má notícia, mas eu não estou esperando um filho – Escuto ela arfar.

— Mas como não? E todo os enjoos, sono e tudo o mais – Fala quase as mesmas coisas que o filho também falou para o Sam.

— Estou com Cistite, por isso estou sentindo essas coisas – Encolho os ombros, mesmo ela não podendo ver.

— Ah não – Sinto o pesar em suas palavras – Será que posso falar com o Edward?

— Sim, claro – O chamo – Até mais, Esme – O entrego o telefone – Vou trocar de roupa – Saiu andando de mansinho até o quarto. Já que não vou sair mais para canto nenhum e o Sam indicou que eu usasse roupas folgadas para não apertar muito minha bexiga, eu peguei um short de moletom e um top e me troquei.

— Eu sei, mãe – Escuto a voz do Ed ainda no corredor – Eu também queria que fosse verdade – Paro no lugar de imediato.

— Acho que não era para ser ainda, estou um pouco triste, mas vai passar – Que merda de conversa é essa que ele está tendo com a mãe?

— Desculpe também ter te dado um falso alarme, sei o quanto estava animada com a ideia.

Encosto-me na parede e fico sem reação. Meu pai, por essa eu não esperava. Tarde demais eu escuto os passos do Edward vindo em minha direção, tento correr até o quarto, mas ele me vê.

— Bella, por que está correndo? - Viro-me devagar e o encaro. Meu coração se parte em mil pedaços ao ver sua expressão. Pura tristeza, e seus olhos estão um pouco vermelhos.

— Eu pensei ter esquecido a torneira aberta – Tento disfarçar.

— Você pede nosso almoço? Quero tomar um banho – Ele passa por mim e lhe dou um beijo no rosto antes de ir para a cozinha.

Enquanto ligo para o restaurante daqui da rua, fico pensando no Edward. Eu não achei que ele ficaria tão abalado pela notícia, achei até que ele ficaria aliviado. Estou confusa.

Edward já se encontra na sala, com a TV ligada, contudo ele não está dando a miníma atenção. Tiro seu braço e me sento em seu colo.

— Meu amor, eu não gosto de te ver assim – O puxo para mim e ele encosta a cabeça em meu peito – Fala comigo, por favor.

— Desculpe, Bella, eu só não sei lhe dar com isso – Fala depois de mais alguns minutos de silêncio – Eu não sei porque estou me sentindo assim, mas é que… Eu estava gostando da ideia de ter um filho com você – Ele fala – Eu deveria estar aliviado ou algo assim, mas eu não estou. Queria mesmo que fosse verdade, que tivesse acontecido – Levanta a cabeça – Acredita que eu já até te imaginava gritando comigo e pedindo para eu comprar algo que você estava com desejo? - Dá um sorriso sem vida.

— Eu sinto muito, meu amor – O abraço – Sinto muito, mesmo.

— Como você se sente? - Pergunta ainda grudado em mim.

— Edward, eu não posso imaginar a sua dor, porque, sinto tanto o que vou dizer, mas estou mesmo aliviada. Olha, não que eu não quisesse um filho seu, esse não é o ponto. É que eu não me sinto pronta para isso, é uma responsabilidade muito grande, eu não sei se consigo lhe dar com isso.

Meu coração aperta ainda mais quando seus braços se apertam ao meu redor.

— Não quero ser dura, desculpe.

— Tudo bem, eu não posso te culpar.

— Quem sabe um dia, certo? Deus sabe de todas as coisas e ele sabia que um filho agora não seria o melhor para nós. Você ainda vai conseguir o que você quer – Falo.

— Só quero conquistar esse presente, se for com você.

— Eu te amo – Me sinto emotiva e engulo um grande bile que se emprega em minha goela.

— Eu te amo – Repete. A campainha toca, estourando nossa bolha construída a pouco.

Com as pernas ainda bambas por causa da conversa e confissão, tento me recompor e vou abrir a porta.

O clima foi ficando mais leve, a gente almoçou em silêncio, trocando uma palavra aqui e outra ali. Eu e ele deitamos no sofá, ele deitado de bruços sobre mim e entre minhas pernas. Adormeceu em meus braços após tomar remédio para dor de cabeça.

Fiquei o encarando enquanto mexia em seu cabelo. Sua expressão não se suavizou por inteira, ainda existia um pequeno V entre o alto de seus olhos. Depositei um beijo ali e ele respirou fundo, mas não se mexeu.

Enquanto o observava, só podia pensar no quão frágil esse homem é, o tanto que eu ainda não sei sobre ele.

Agora eu percebo que ele já sofreu muito e ainda é abalado por isso. É um homem sofrido, desesperado por atenção e amor. E eu prometo, que por mais difíceis que as coisas ficarem, vou fazer de tudo para não abandoná-lo.

Ah, meu amor, o que aconteceu com você que eu ainda não sei?