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O almoço seguiu tranquilo desde o começo. Rey e Dio entraram silenciosos e permaneceram assim, nenhuma implicação entre si, nenhum comentário sobre os modos, as roupas ou o cheiro de Arme – que presumiu que isto seria uma coisa boa.

O silêncio foi interrompido no fim do prato principal, quando todos os empregados saíram e ouviu-se o som de portas sendo abertas. Dois mordomos entraram no campo de visão da pequena garota e seu coração geou, assim como os de ambos os servos.

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Arme ainda sentia o pano molhado e fétido em seu rosto e o impacto das palavras maldosas.

E sentia medo.

Coisa que os dois de preto também passaram a sentir. O que a garotinha lerda estava fazendo na mesa dos seus patrões? E se ela fosse alguém importante? E se contasse o que eles lhe fizeram? O salário era bom de mais para que perdessem o emprego.

Sem perder o passo ou vacilar, ambos depositaram à mesa as sobremesas de Dio e Rey – nada para Arme. Um olhou para o outro e ficou decido que seria melhor perguntar e acabar logo com a dúvida.

– Sinto muito, não preparamos para a senhorita ali sentada, não sabíamos que estaria aqui. – A pena em sua voz era falsa, porém tão bem representada que fez Arme se surpreender e se perguntar se aquele mordomo era o mesmo que a assustara há momentos atrás.

– Exatamente. – Zero ressaltou. – Não tínhamos a mínima ideia de que estaria aqui ou de quem seja. – Virou-se para Dio e disse manso: - Senhor, poderia me dizer quem é?

A risada depreciativa de Dio ecoou pela imensa sala de jantar e a preencheu. Zero odiava como a risada era repetida pelo eco que a sala fazia, odiava aquele som.

– Você poderia ser um pouco menos inútil, não? – Desprezo, desprezo e desprezo, era só isso que Zero ouvia. Sentia raiva, mas há muito tempo aprenderá a reprimir o sentimento e manter a compostura. – Para que serve um mordomo que precisa receber tudo na mão, sem nenhum esforço? Entregar as coisas a minha mão deveria ser o seu trabalho, mas parece que você não consegue cumpri-lo. Um completo inútil. – Outra risada depreciativa. – Isso é aquela coisa que pegamos outro dia, é a porcaria do motivo para estarmos aqui. Não tem de ouvi-la, apenas ignore.

Arme não gostava de ser chamada de 'coisa', porém sabia que seria pior se reclamasse, então apenas ficou quieta.

– Coisinha?

– Sim, senhorita Rey. – A roxinha respondeu ao chamado da nobre, mesmo não sendo seu nome sabia que era com ela que Rey falava.

– Coma isto.- O prato com sua sobremesa deslizou até a menos, que sem nada falar e com um sorriso contido começou a comer.

– Sua alteza, eu fiz especialmente para... – O ruivo começou a reclamar quando foi cortado:

– Jin – Rey disse sem olhá-lo, observando a garotinha. – Espero que isso não seja uma objeção às minhas ações. – Seu tom era ameaçador.

– Claro que não, sua alteza.

– Então fique calado.

Alguns momentos se passaram, Arme sentia o olhar de Rey sobre si, mas continuou comendo, assim que terminou e levantou a cabeça observou o sorriso maldoso que a nobre portava e sentiu que algo ruim a aguardava.

– Vejo que continua a mesma porca sem modos de sempre. – Ela disse isso com uma expressão calma em contraste com o nojo em sua voz. – Percebo que não me precipitei em te chamar, Lin.

Uma garota alta, de pele morena, olhos azuis e cabelos brancos saiu de um canto escuro do salão, apenas Rey sabia que ela estava lá, então foi uma surpresa para todos os outros.

– Lin? – Indagou Dio.

– Vai ensiná-la alguns modos, ela realmente precisa. Não aguento mais um refeição com essa porca.

– E decidiu isso sozinha? Sem me consultar ou algo assim?

– Não é como se você se importasse.

– Você tem um ponto. – Ele virou-se para a morena. – Arranje um jeito de melhorar a coisa, se você for capaz disso. – Levantou-se e saiu.

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– Faça o possível e o impossível para dar um jeito nesta coisa, não gosto de comer tendo a visão de um porco durante a refeição. – Encaminhou-se para uma das outras saídas, acompanhada pelo seu mordomo, o outro se retirou logo após.

Arme encarou sua nova tutora. Cabelos brancos... Onde eles estavam na classe social? Ah... Lembrou-se de ter visto em algum lugar algo sobre em sua maioria serem muito ricos, geralmente burgueses, tinham algum dinheiro e importância, mas não tanto quanto os nobres, nem de longe, então foram chamados de subnobres... Ou alguma coisa assim. O que a fez lembrar que Zero tinha cabelo cinza e se enquadrava na classe dos albinos, e também se perguntou o que um subnobre fazia trabalhando como mordomo.

A mulher se aproximou, sorrindo, e soltou um 'olá' amigável e prometeu uma agradável tarde juntas. Ela cumpriu o prometido.

Primeiro começaram com uma aula chata de como usar cada talher, qual usar dependo da ocasião, aprendeu a como manuseá-los , era cansativo e cheio de repetições, e ela dizia que ainda tinha muita coisa para aprender! Ainda havia mais!

Mais ou menos no meio da tarde ela declarou a hora do descanso, ela a guiou até um aposento com uma enorme tevê, ficou deslumbrada. Obvio que já havia assistido televisão, mas somente aquela que havia no orfanato, um aparelho de tamanho mediano, minúsculo comparado ao da sala que se encontrava, onde todos se apertavam para assistir alguns filmes.

Foi divertido, bastante divertido. Ela viu espertas crianças nobres encontrarem pistas para resolver um mistério. Outro grupo de garotos nobres que combatiam fantasmas. Dos desenhos passaram para programas com pessoas reais, não havia somente pessoas com cabelos roxos ou rosas, mas de varias outras cores, eles gritavam, choravam e sorriam, Arme descobriu que aquilo era atuar. O programa que a pequena mais gostou era um que contava a vida no fundo do mar de uma esponja amarela, era extremamente divertido.

O tempo foi passando e quando perceberam a noite já havia caído, assim que viu a hora, Arme saiu correndo, sendo seguida por Lin, que perguntou enquanto apressavam o passo:

– Para que a pressa?

– O jantar! Não posso me atrasar para o jantar! Já está na hora!

' Pelo menos ela se importa com o horário. ' Notou Lin.

Arme adentrou no recinto no mesmo momento que Rey e Dio passavam pelas outras entradas, sentou-se em seu lugar antes que eles chegassem perto da mesa.

– Está suada. – Disse a voz enojada de Dio.

– Sinto muito, senhor Dio, vim correndo. – Disse com cuidado para que sua respiração pesada não atrapalhasse sua fala e ela pronunciasse alguma palavra errada.

– Não me importa.

Os três sentaram a mesa. Arme fez tudo exatamente como Lin a ensinara, sabendo que estava sendo observada. Ela comeu mais vagarosamente, usou os talheres certos em vez de qualquer um e não fez nenhum barulho enquanto comia. Certo que ainda precisava aprender, errou algumas vezes o uso do talher, mas ela tinha tido uma melhora considerável. No fim, ela encarou os dois, esperando o veredito.

– Não está tão ruim quanto antes. – Declarou Rey.

– Mas ainda sinto nojo. – Dio complementou.

– Vamos continuar com você, Lin. – Rey se levantou. – Estou me retirando para dormir.

– Boa noite, senhorita Rey. – Arme desejou sorrindo, quando se virou para falar o mesmo para Dio, ele já havia sumido. A pequena virou-se alegre para Lin, que observara a cena de longe, e viu nela uma expressão sombria.

Ela não estava nada feliz. Sua experiência dizia que precisava ser gentil e agradável com seus alunos, pois os pais geralmente se importavam se eles estavam felizes com o tutor.

' Eles sequer perguntaram o que ela achava de mim' Reclamou Lin mentalmente ' Certo, eles a tratavam com desprezo, mas achei que eles se importavam. ' Ela suspirou ' Aguentei essa miniatura de pessoa irritante e fui gentil com ela por nada. Nada! '

– Lin? – A albina foi puxada para fora de seus pensamentos pela voz infantil e melosa da roxinha. – Tudo bem?

Ela lançou um olhar raivoso para a garota.

– É senhorita Lin para você. Não me teste, menina. – Deu-lhe as costas e bateu a porta.

' Amanhã. Amanhã ela vai ter o que merece por ter me feito gastar minha paciência por nada. '

Arme entortou a cabeça, sem entender. Foi para seu quarto a fim de trocar de roupa para dormir. Assim que chegou perto de sua mala percebeu que era a primeira vez que iria mexer nela nos dois dias que esteve ali. Ela abriu-a e seu coraçãozinho apertou.

Ali estava. Como deveria, a encarando: seu pedaço do passado, sua melhor lembrança, seu ursinho de pelúcia.