No Mundo Das Séries

Nossa Amizade


Eu não sabia se deveria voltar. Mas eu realmente não tinha outra escolha. Já havia tentado me livrar daquele mundo de super-heróis e, como vocês bem sabem, foi uma tentativa falha. Talvez meu destino naquela terra fosse fazer parte dos Vingadores, salvar o mundo. Devo admitir que era um tanto egoísta da minha parte não usar minhas habilidades para ajudar as pessoas. E voltar também seria bom porque eu sabia que alguém ali conseguiria me ajudar com... bem, com a minha nova habilidade de ler mentes.

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Não conseguia entender o porquê de eu ainda não ter voltado. O último filme já havia terminado, não é como se houvesse outras histórias para eu fazer parte. Ainda faltava o Thanos. E o que mais me deixava intrigada era o fato de que eu não ia saber quando ou como ele apareceria. Eu não sabia de mais nada que iria acontecer.

Quando cheguei na base, fui recebida por alguns agentes. Eles me deram as boas-vindas e um crachá para que eu tivesse acesso ao elevador privativo dos Vingadores. Sorri em agradecimento e respirei profundamente. O elevador estava bastante silencioso, e aquilo pesou na minha mente. Como eu olharia para todos? Tudo bem que haviam passado três semanas.

Três semanas. Estávamos no começo de agosto. E em dois meses completaria um ano que eu estava naquele mundo. Um ano. Um ano sem ver a minha família, um ano sem ver meus amigos, um ano sem ver o meu mundo. Um ano sem estar longe de pessoas com poderes. Se eu contasse para alguém do meu mundo, eles me internariam numa clínica. Eu sabia que aquilo tudo seria uma história que eu guardaria só para mim quando acabasse.

A porta do elevador se abriu, revelando uma sala de estar totalmente vazia. Estranhei, mas então percebi que eles poderiam estar em uma missão. Entrei no local e fui em direção ao meu antigo quarto. Sorri ao constatar que ele ainda estava do mesmo jeito que eu havia deixado. Até mesmo as minhas roupas estavam ali ainda. Eles sabiam que eu voltaria.

Aproveitei para tomar um banho longo e quente. Quando saí, coloquei uma roupa confortável: uma calça cinza de moletom, uma camiseta branca e uma blusa cinza por cima. O dia estava um pouco frio. Sentei no sofá e liguei a televisão. Estava no canal de notícias – como sempre. Mudei imediatamente porque não queria saber da nova missão dos Vingadores. Eles me contariam tudo quando chegassem.

“Só quero uma xícara de chá e a minha cama” ouvi a voz de Wanda em minha mente. Eles estavam no elevador e meu coração disparou por alguns segundos. Era a primeira vez que eu veria todos desde que eu quase matei Steve. Respirei fundo e me posicionei de frente para o elevador.

Quando a porta abriu, vi Wanda, Steve, Natasha, Sam, Rhodes e Visão. Eles pararam imediatamente de conversar e olharam para mim, surpresos. Dei um sorriso tímido.

— Sentiram minha falta? – Perguntei timidamente.

Wanda abriu um sorriso e correu para me abraçar. Ela estava com um novo uniforme muito lindo. Devolvi o abraço com a mesma intensidade. Estava com muita saudade dela. Por algum motivo incrível, ela havia se tornado uma grande amiga.

— Quando você voltou? – Ela perguntou, se desvencilhando do abraço.

— Há algumas horas – respondi.

— Isso quer dizer que você está de volta à equipe? – Sam perguntou, sendo o último a sair do elevador.

— Se vocês me aceitarem – olhei para Steve, mas ele não estava olhando para mim. Ele encarava o chão, como se algo tivesse acontecido com ele.

— É claro que te aceitamos – percebi o quanto havia sentido falta do sotaque de Wanda.

Cumprimentei o resto do pessoal, mas fiquei chateada quando percebi que Steve já havia deixado a sala. Achei que ao deixar a carta, estaríamos bem um com o outro. Mas vi que não foi bem assim.

— Por que Steve está assim? – Perguntei em um sussurro par Wanda quando terminei de cumprimentar a todos.

— Bom, a missão não deu muito certo e tivemos perdas de civis – ela suspirou. – Estamos tentando nos ajustar como uma equipe ainda. E tudo isso sobre o governo estar furioso desde o que aconteceu em Sokovia, você indo embora, Banner estar desaparecido... é muita coisa para um líder carregar.

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Começamos a caminhar em direção ao seu quarto.

— Tenho novidades – suspirei, mudando de assunto.

Entramos em seu quarto. Sentei em sua cama notando o violão que não estava ali antes. Ela pegou suas roupas e entrou no banheiro deixando a porta entreaberta.

— Eu também – ela disse.

— Você primeiro – usei meus poderes para trazer o violão para o meu colo.

— Steve está me ensinando a como usar meus poderes. Eu já consigo controlar até mesmo uma explosão de gás. Minha telecinese está melhorando, estou ficando melhor. Até aprendi a voar – ela disse e pelo seu tom, percebi que ela estava com um sorriso no rosto. – Sua vez.

— Bom, depois que eu saí daqui, fui para Central City, onde conheci um cara que tem super-velocidade. Então fui para Hell’s Kitchen, onde conheci outras pessoas com incríveis habilidades – sorri para o chão ao me lembrar de Matt. – Ah, e eu descobri que posso ler mentes.

Ela abriu a porta do banheiro imediatamente. Ela usava uma calça de moletom preta e uma camiseta azul escura. Ela estava boquiaberta por causa da notícia.

— Ler mentes? – Ela arqueou uma sobrancelha, tentando entender melhor o que eu havia falado.

Assenti, colocando o violão em cima de sua cama.

— Sim. Por isso que eu sei que agora você está pensando em como gostaria de comer pipoca e assistir um filme – sorri, lendo sua mente rapidamente.

— Isso é – ela se sentou ao meu lado na cama – incrível!

— Nem tanto – suspirei. – Nas primeiras noites eu não consegui dormir, mas aprendi a controlar com o tempo. Agora eu decido quando quero entrar na mente de alguém ou não. Mas ainda preciso treinar algumas coisas. Foi por isso que voltei – olhei para as fotos que ela tinha grudadas na parede. – Preciso da sua ajuda. Você consegue manipular a mente das pessoas, o que significa que você deve conseguir resistir a alguém entrando em sua mente. Você é tipo a única pessoa que conheço que pode me ajudar a controlar isso.

Ela ponderou por alguns segundos as minhas palavras. Não esperava por menos, sabia que entrar na mente dela poderia ser doloroso para nós duas.

— Tudo bem – ela respirou fundo. – Vamos lá.

Ela cruzou suas pernas, jogando seu corpo todo para cima da cama e eu fiz o mesmo. Ergui as mãos e coloquei nas laterais de sua cabeça. Respirei fundo e me concentrei em saber tudo o que ela pensava.

De início, não senti nada. Então respirei fundo e tentei novamente. Dessa vez foi como se alguém tivesse enfiado uma faca dentro do meu cérebro. Consegui ver todas as suas memórias e dores. Vi seus pais morrerem e senti sua dor. Senti sua angústia ao tentar se mexer, mas não conseguir por causa do míssil. Senti sua dor ao ganhar seus poderes. Senti sua dor ao ver seu irmão morrer. E, por fim, senti a dimensão de seu poder. Era um poder enorme. Tudo o que ela podia fazer e ainda não sabia, era incrível.

Quando não pude mais aguentar, sai de sua mente. Foi um alívio tão grande. Eu estava ofegante e percebi que Wanda também estava. Lágrimas escorriam de nossos rostos. Aquela foi uma experiência um tanto perturbadora, mas me provou que eu podia fazer aquilo.

— Desculpe – eu disse, quebrando o silêncio.

— Não, tudo bem – sua voz estava um pouco fraca e demonstrava uma tristeza grande. – Só percebi que sinto muito a falta do meu irmão.

Abracei-a. Ela retribuiu o abraço e começou a chorar baixinho. Sabia muito bem como era sentir de alguém, por isso senti uma certa empatia por ela. E assim, passamos a noite. Conversamos sobre todos os assuntos possíveis e assistimos ao filme que ela queria assistir.

(...)

Lá pelas quatro da manhã, Wanda já estava dormindo, mas eu estava sem sono e com muita fome. Por isso, sai de seu quarto e fui para a cozinha, comer algo. Quando cheguei lá, Steve estava comendo cereal no balcão. Quando me viu, ele não parou, apenas ficou em silêncio comendo.

Suspirei. Por que ele não falava comigo? Era ele quem havia terminado comigo! Era eu quem deveria estar brava!

Ignorei os meus sentimentos, como estava fazendo há muito tempo, e peguei um pedaço de bolo que havia ali. Sentei na sua frente e comecei a comer, em silêncio.

— Por que você foi embora? – Ele quebrou o silêncio. Sua voz tinha uma certa amargura. – Na verdade, por que não se despediu?

— Você me convenceria a ficar – suspirei. – Eu não podia ficar. Não tinha motivos para fazer isso.

— Você tinha a mim – ele falou, olhando para a tigela.

— Você terminou comigo, se lembra? – Comecei a ficar estressada. Por que ele queria fazer as lembranças voltarem?

— Me lembro do motivo também – ele olhou para sua tigela de cereais. – Mesmo que nós não estejamos juntos, você me devia pelo menos uma despedida. Antes de sermos namorados, erámos amigos.

— Olha Steve, eu confesso, ok? Eu estava fugindo. Ficar perto de você e não te ter para mim era insuportável. Meus poderes estavam descontrolados e eu quase te matei! Então me desculpe se eu não fiz uma cerimônia de despedida, mas eu realmente não queria ser obrigada a olhar nos seus olhos e dizer adeus. Eu não sou boa com isso – desabafei. Senti meus olhos marejarem um pouco, mas respirei fundo e espantei as lágrimas.

— Desculpe, eu não sabia – ele suspirou. – Estou apenas estressado por causa de todas essas missões que não dão em lugar algum. E ainda tem o Bucky...

Segurei sua mão, fazendo ele parar de falar.

— Olha, eu estou aqui agora. E te fiz uma promessa que pretendo cumprir: nós vamos achar o Bucky – disse, carinhosamente.

Ele sorriu, docilmente.

— Nós erámos uma boa dupla, não erámos? – Ele disse, nostalgicamente.

— Sim, nós erámos – me reclinei na cadeira. – Sinto falta de nós. Da nossa amizade.

— Eu também – ele confessou, em um suspiro. – As coisas se tornaram complicadas.

Então a lembrança de Steve sendo estrangulado por mim voltou para a minha mente. Sua vida saindo pelo seu corpo, sua respiração se tornando escassa. Não consegui impedir as lágrimas de descerem. Quando ele viu que eu estava chorando, chegou perto de mim e me abraçou. Sentir seus braços me segurarem novamente me passou uma certa segurança.

— Desculpa – murmurei entrei um soluço e outro. - Odeio o que eu fiz a você. E sei que não podemos voltar atrás. E eu sinto muito – a tristeza em minha voz palpável.

— Ei, ei – ele me fez olhar para ele – Está tudo bem. Não vou fingir que não sinto falta de nós, porque eu sinto. Mas não é sua culpa.

Olhei para seus olhos azuis, mas eles não me fizeram sentir o frio na barriga de antes. Apesar de ainda sentir um carinho enorme por Steve, eu já não o amava mais. Não daquele jeito. Meu coração pertencia a outro par de olhos azuis. Tais quais pertenciam a outra pessoa.

— Por favor, diga que podemos voltar a ser amigos – o abracei novamente, afundando meu rosto em seu peito.

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— Nunca deixamos de ser – ele sussurrou, passando a mão em meu cabelo. – E nunca vamos deixar.