Acordei sem saber onde estava. Meio grogue, com pensamentos vindos lentamente. Minha visão se focalizava aos poucos e reconheci o teto amarelo-claro de meu quarto. Olhei em volta, me sentindo fora do mundo, sem nenhuma noção de tempo. Desde que adormeci, se olhasse a claridade do quarto, diria que não passou nem um minuto, mas poderia ter dormido por dias sem me dar conta. Meus lábios estavam ressecados e sentia minha garganta doendo, implorando por um copo d’água. Olhei a tela do meu celular, havia algumas mensagens não lidas, todas de Kiba. Ele falava que Shikamaru, Chouji, Lee e ele estavam preocupados, que eu não atendia o interfone. Que até Neji e Gaara perguntaram de mim. Indagava onde eu estava. Dei um sorriso. Amigos eu tinha. Deveria levantar e continuar.

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Fiquei de pé, vacilante, com medo de cair e não ter quem me segurasse. Fui rastejando até a cozinha e tomei um grande copo de água, indo para o banheiro tomar uma ducha quente. E foi o banho mais demorado da minha vida, ficando cerca de uma hora debaixo da água, como se ela pudesse me limpar. Vesti uma roupa qualquer e saí, pegando o caminho para a escola. Pelo visto, já estava no recreio, pois os alunos dominavam o pátio. O sobrancelhudo foi o primeiro que me viu e se aproximou genuinamente preocupado, perguntando como eu estava. Sorri fracamente e disse que estava bem, dava para segurar. Um por um dos meus amigos chegaram, provavelmente vendo minha berrante jaqueta laranja. Conversei um pouco com eles e mostrei que não precisava que eles se preocupassem, apenas tinha apagado na cama (por dois dias, descobri). E perguntou pela diretora, precisava vê-la. Ela estava lanchando, então devia estar na sala dos professores, Neji me informou. Agradeci e parti para lá.

Quando entrei no local (que eu não gostava nem um pouco, pois tinha um ar estranho), Tsunade, Kakashi e Iruka me viram e vieram até mim. Eles eram como minha segunda família. Sorri para eles.

- Já está tudo bem, gente. Sério. Mas já vou avisando, Kakashi-sensei! Não vou assistir aula hoje! – falei em tom divertido, mas ainda sim sério. Não estava com cabeça para isso.

- Ora, seu pestinha. – Tsunade ia me repreender, mas suspirou e me abraçou com força, numa rara demonstração de afeto – Por hoje, tudo bem. Mas não me preocupe mais. Nos preocupe, quero dizer. Venha amanhã.

Ela se afastou, falando sério. Eu fiz sinal de continência.

- Pode deixar, baachan! – parei por um momento antes de prosseguir. – E... Tsunade... Quando ele vai ser...?

Iruka passou um dos braços por meus ombros, murmurando um ”Naruto” baixinho. Tsunade falou calmamente, mas eu sabia que ela adorava aquele velho tarado. Provavelmente tinha derramado várias lágrimas.

- Amanhã.

- Ok então! Eu já vou, gente. Obrigado por tudo.

Acenei e me virei para ir embora. Meu ex-professor me chamou.

- O que foi, Iruka-sensei?

- Estamos aqui para te ajudar. Confie mais em nós e nos seus amigos, Naruto.

Kakashi se aproximou de mim e colocou uma das mãos sobre minha cabeça.

- Você não está sozinho, Naruto.

Abaixei a face por um momento, em silêncio. Fiz uma profunda reverência.

- Obrigado!

E fui embora. Como falei, não ia ficar na escola. Lembrei de Itachi. Será que ele sentira minha falta? Não sei, esperava que sim. Sentia urgência em vê-lo. Saí correndo em direção à Coffeeland, ansiando por estar com ele. Queria que ele tivesse se preocupado comigo. Queria sentir seu abraço forte. Corria o mais rápido que minhas pernas me permitiam, parando de uma vez em frente à janela do estabelecimento, com respiração ofegante, procurando por Itachi. Ele não estava lá e eu saí sem rumo pelas ruas, perdido. Aonde eu iria agora? Me sentia deslocado e não reparei quando trombei com alguém. Saí sem nem pedir desculpas, mas fui segurado pelo pulso e achei que estaria encrencado, chegando a fechar os olhos por reflexo, mas não foi isso que aconteceu.

- Naruto-kun? O que houve? Venha comigo. – era a voz de Itachi, que me puxava suavemente pelo pulso.

- E o seu trabalho? – murmurei.

- Hoje é minha folga. Toda quarta e domingo.

E fiquei em silêncio, deixando que ele me guiasse. Não vi quando chegamos, só reparando que estávamos na frente do meu prédio quando paramos. Ele me olhou e pediu que eu abrisse, já que a casa dele era longe e demoraria mais a chegar. Assenti e o fiz, subimos até meu apartamento. Minha sorte era que a limpeza que tinha feito outro dia estava durando, até. A casa estava consideravelmente limpa.

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- Você parece com fome. – ele comentou, deixando algumas sacolas em cima da pia. – Vou fazer uma omelete e um café bem forte para você.

- Obrigado. – sorri fraco.

- E ouvi dizer que você conheceu o Sasuke. E brigaram.

- Ah, é. Desculpe dizer, Itachi, mas seu irmão é uma mala. Parecido com você, só na aparência.

- E você também parou de usar o “san” com meu nome. – pelo tom, achei que ele estava sorrindo. – E aqui está. Uma omelete de queijo com presunto e café.

Ele colocou em cima da mesa e fui atraído pelo cheiro, reparando como eu estava com fome. A última coisa que coloquei na boca foi água. Me sentei em uma cadeira e devorei tanto a comida quanto o café, mesmo que eu não gostasse tanto quando estava tão forte como o que ele fez. Mas caiu perfeitamente para mim.

- Estava bom?

- Sim, uma delícia! Estava com muita fome.

Itachi retirou os pratos e os lavou, deixando de lado para que eles secassem. Foi só terminar isto e puxou uma cadeira, sentando-se ao meu lado.

- Então, o que aconteceu, Naruto-kun?

Eu senti meu coração falhar numa batida e abaixei o olhar, reparando que minhas mãos tremiam levemente e, tentando pará-las, coloquei uma sobre a outra. Fechei os olhos com força, ficando com uma dificuldade de respirar, e senti um dos braços de Itachi passando por meus ombros.

- Eu... O ero-sennin... Jiraya... – respirei fundo, tentando sugar todo o ar que me faltava ao falar daquilo. – Ele... morreu.

Soltei com dificuldade e apertei meus olhos com as mãos. Estava me sentindo frágil e achei que assim poderia esconder meus sentimentos. Estava quase me arrependendo de ter falado mediante o silêncio do Uchiha, mas ele não me deixou aflito por muito tempo, fazendo uma pergunta, uma simples pergunta, que me fez desabar.

- Você já chorou por isto, Naruto-kun?

Abri os olhos e encarei meu colo. Sem perceber, as lágrimas se formaram, deixando meus olhos marejados e com visão embaçada. Tentei esconder minha fraqueza com os cabelos. Senti que Itachi me abraçava, encostando minha testa em seu ombro. Por reflexo, fiquei tenso por algum tempo antes que realmente deixasse tudo escapar. Me permiti fazer algo que não fazia direito tinha muito tempo: eu chorei.

Chorava por tudo. Pelos anos sofrendo com agressões, também agredindo os outros e me machucando por isto. Os anos sem meus pais. As tristezas de meus amigos. A morte de Jiraya. Por mim mesmo. Encolhi o corpo e literalmente desabei, algo bem fora de meu costume. Não gostava de demonstrar fraqueza para ninguém e estava mostrando meu lado mais frágil para aquela pessoa que conheci tinha pouquíssimo tempo, mas que eu já entregaria minha vida. E ele nada fez. Ficou ao meu lado, me abraçando e deixando que encharcasse sua blusa, sem reclamar. Apertava meu corpo a cada soluço mais alto que dava, deixando que eu retirasse tudo de mim. Chorei horrores. Chorei tanto que achei que ia ficar cego quando esfreguei meus olhos para fazer as lágrimas pararem, mas Itachi logo me fez parar com isso, segurando meus pulsos.

- Pare. Não faça isso. – o fitei nos olhos, mesmo com vergonha – Não se segure, Naruto-kun.

E, daquele jeito, ficamos durante um bom tempo, até que meu choro ficasse baixinho e finalmente parasse. Quanto tempo demorou? Não sei... Mas eu queria continuar ali. Estava quente e seguro. Retribuí o abraço, com força, escondendo minha face, respirando com mais facilidade. O peso não saiu de meu corpo, mas diminuiu. Céus, chorar às vezes era bom. Eu estava precisando daquilo e Itachi percebeu.

- Obrigado, Itachi...

Murmurei baixo e abafado, ainda com voz de choro. Ele se afastou um pouco e me encarou.

- Está melhor?

- S-sim... Obrigado.

- Fico aliviado. Estava preocupado contigo.

- Desculpa. – sorri fraco.

- Não tem que se desculpar.

- Agora, te devo ainda mais que antes, né? – comentei, com vergonha, me endireitando na cadeira.

Ele se agachou, aproximando-se de mim.

- Você não me deve nada, Naruto-kun.

Engoli em seco, mordendo meu lábio inferior. Me sentia meio culpado. Itachi me tratava tão bem, era tão legal comigo, e eu queria fazer algo por ele.

- Não há nada que eu possa fazer por você...?

- Tem, sim. – eu o olhei, esperando que ele falasse. – Mas melhor não dizer.

- Por favor! – me agarrei à blusa dele. – Eu quero, eu preciso fazer algo. Céus, Itachi, estou me sentindo um completo inútil, de verdade!

Ele tomou minhas mãos e me olhou de um jeito que, sei lá, senti um arrepio. “Feche os olhos”, pediu ele. Eu obedeci. Não conseguia negar algo que ele pedia, não com aquela voz. Sentia nossas respirações se mesclando, o cheiro de hortelã vindo dele bem próximo de mim, sentindo seu calor. Via aquilo muito nos filmes, mas não conhecia a sensação de ter algo revirando o estômago, uma ansiedade, suor nas mãos. Não me agüentei e encostei os lábios nos dele, soltando suas mãos e puxando-o pela camisa.

Senti que ele se afastara um pouco, mas apenas para pedir que eu entreabrisse os lábios. Sim, eu era um tanto quanto inexperiente em qualquer área sentimental, mas deixava que ele me guiasse, fazendo o que ele pediu. Senti na boca um gosto que, não vou mentir, não era doce como morango ou chocolate, mas sim um gostinho amargo de café. Não era da xícara que tinha tomado, tinha certeza; vinha dos lábios do outro, que me envolvia gentilmente com os braços, prontamente retribuído por mim, que envolvi seu pescoço e entrelaçava os dedos nos fios negros.

Eu não estava pensando em muita coisa. Não estava pensando em nada, para ser sincero. Itachi poderia estar querendo se aproveitar de minha fragilidade devido ao momento mas não, ele não era daquele tipo. Nos separamos e nos encaramos por um breve momento, como se não houvesse nada com o que se preocupar. Meus olhos ardiam, meu corpo latejava, mas aquela sensação era uma sensação nova e boa. Sentia-me cansado, mas era um cansaço bom, deixando que meu corpo pendesse nos braços do Uchiha, que me pegou no colo e me levou até meu quarto, deixando que eu descansasse sobre o colchão que nunca me pareceu tão gostoso como agora.

- Você vai ficar bem, Naruto-kun?

- Vou, sim. – sorri levemente. – E eu prometi que ia à aula amanhã... Eu só preciso... Dormir um pouco. Desculpe, Itachi...

Minha voz ia diminuindo aos poucos e a última coisa que ouvi foi um “não se preocupe”, enquanto minha mão se soltava da barra da blusa dele e meus olhos se fechavam. Dessa vez, dormi de verdade. Acordei no outro dia até mais cedo, com um cheiro agradável no ar. Levantei e fui seguindo-o, ainda não completamente acordado. Em vez de dar de cara com alguma parede, parei na minha cozinha, dando de cara com Itachi, de avental, preparando meu... café da manhã?

- Bom dia, Naruto-kun. Vá se trocar, pois está quase pronto.

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- O que você tá fazendo aqui?! – exclamei, surpreso.

- Fazendo seu café da manhã.

- Ah... Não, espera, isso eu estou vendo, mas...?!

- Como? Bem, tomei liberdade de pegar sua chave, sair e comprar comida de verdade para você. Você só vive de ramen.

- Ah... Vou me trocar.

Fui para meu quarto, tomando uma ducha e me vestindo com o uniforme antes de voltar para a cozinha e me sentar na mesa, já posta.

- Aprecie sua comida.

- Sim... – comecei a comer, até que lembrei. – E seu trabalho?!

- Eu vou apenas mais tarde.

Soltei um murmúrio e comi, logo sendo expulso da minha própria casa pelo Uchiha. Achei-o meio doido nesse momento, mas fui logo para a aula, para não chegar atrasado. Alguns até acharam que eu estava doente, pois sempre chegava ao soar do sino ou apenas um pouquinho antes. Tirando isto, foi um dia normal. Matei algumas aulas, assisti a outras. Eu podia viver! Eu sabia disso. Ao voltar para casa, até tomei caminhos diferentes, principalmente pelo fato de não querer me demorar na cafeteria (que era no caminho que eu normalmente tomava) e ter curiosidade de descobrir o estado de minha casa. E tive uma surpresa! Estava brilhando como nova. E novo era um adjetivo que não cabia na mesma frase que “o apartamento onde moro”.

Fiz minhas tarefas de qualquer jeito e saí. Queria agradecê-lo. Por tudo. Acabei comprando alguns biscoitos pensando nisso. Cheguei na cafeteria e me sentei, olhando em volta. Será que ele não estava? Estava começando a cogitar ir embora, mas uma voz atrás de mim, bem conhecida, me despertou.

- O que deseja, sir?

- Ah! – me assustei – Itachi?!

- Sim, eu mesmo.

- O que está fa... argh, você trabalha aqui!

- Então, o que deseja, sir? – ele repetiu me dando vontade de esmurrar sua cara.

- Agradecer. – estendi os biscoitos, embrulhados em um lenço bonitinho, para ele. – É para você.

Desviei o olhar, me sentindo igual àquelas garotas apaixonadas. Ele pareceu surpreso, mas aceitou de bom grado.

- Obrigado, Naruto-kun.

- Não há de quê. – resmunguei e me levantei. – Eu vou embora, bom trabalho, Itachi.

Eu sorri e o abracei rapidamente, saindo em seguida, torcendo para não terem visto. Estava com vergonha. Muita vergonha. Mas, com o passar dos dias, a vergonha foi passando e eu tomava liberdade de abraçá-lo um pouco mais demoradamente, mas ainda mantendo a discrição. Não sei se era certo dizer que estávamos juntos, mas eu gostava dele, disso eu tinha certeza. E, claro, ele gostava de mim. Não nos encontrávamos todos os dias, de lei era apenas domingo e quarta à noite. Era quase como uma rotina, que era quebrada por gestos simples como um presente fora de datas especiais, ou uma pequena declaração. Não precisava ser algo grande. Eu estava feliz. Mas, com o tempo, Itachi me parecia estranho, ficando a olhar para o nada vez ou outra. Achei que ele estava apenas cansado e achei que ia passar, mas não passou. Fiquei preocupado quando, em uma quarta-feira, encontrei um bilhete passado por debaixo da minha porta. A caligrafia estava meio trêmula, mas ainda sim era bonita. Era de Itachi. Dizia que ele não poderia se encontrar comigo hoje por alguns problemas.

Minha primeira reação? Chutar a primeira coisa que tinha na minha frente, no caso, uma mesa com alguns porta-retratos, acabando por derrubar alguns. Se ele tinha problemas, por que não me falava deles? Ele não podia me excluir assim da vida dele, merda! Eu fazia parte da vida dele. Respirei fundo e tentei me acalmar, pensando no que poderia ter acontecido e com quem poderia obter informações. Só uma pessoa me vinha à mente: Uchiha Sasuke. E eu poderia tomar liberdade de perguntar já que nós muito brigávamos, mas ainda sim éramos amigos. Era como se fossemos irmãos.

Decidido, tomei o caminho para a casa do Uchiha, que eu havia decorado naquele meio tempo com Itachi. Bati na porta e Sasuke me atendeu.

- O que pensa que está fazendo aqui eu já disse que não sentia nada por vo... - ele me olhou – Ah, é só você.

- Hey, hey, calma aí! O que houve, Sasuke?

- Terminei com a Sakura. Ela até saiu do emprego pra ficar atrás de mim. – ele cedeu espaço para que eu entrasse. – Menina irritante. Só estava com ela porque ela era a única que não me enchia tanto o saco.

- Er... Sério?

- Hn.

- Você é um monstro, Sasuke! – franzi as sobrancelhas enquanto via ele se sentando no sofá.

- Hn.

- E daí? Como “e daí”?! – eu comecei a traduzir os “hn” também.

- Ela era muito pior, você sabe.

- Isso é verdade. – murmurei, me sentando também.

- E então? O que veio fazer aqui, usuratonkachi?

- Cale a boca, Sasuke-teme. Quero saber do seu irmão. – mostrei o bilhete a ele.

- Ah, ele foi ao médico.

- Médico?

- Sim.

- Ele está doente? – comecei a ficar irritado e preocupado.

- Sim.

- Por que está me contando agora?

- Ele pediu para não falar nada, então... senti vontade de contrariar.

A relação dos irmãos Uchiha tinha melhorado consideravelmente, mas ainda havia algumas briguinhas e implicâncias, típicas de irmãos, acho eu. Afinal... Eu vivia brigando com Sasuke, não é? Não tenho irmãos, então não sei, mas acho que é esse elo que podemos chamar de irmandade.

- O que ele tem?

- ...

- Sasuke. O que ele tem?

Mais silêncio. Não me controlei e puxei-o pela gola, obrigando-o a ficar de pé.

- Sasuke! Me responda.

- Hn.

Vi os olhos negros do Uchiha mais novo faiscarem em cima de mim.

- Me responda!

Ele pareceu pensar por um momento e suspirou.

- Me solte, antes.

Eu obedeci, largando-o no sofá e me sentando ao seu lado.

- E então?

- Ele acordou e sem enxergar e foi ao hospital.

- ...O quê?

- É. E ele pediu para eu deixar isso embaixo da sua porta. – ele indicou o bilhete.

- ...Qual hospital é?!

- Você não vai desistir de ir lá, certo?

- Exatamente!

- Então... – suspirou e se levantou – Eu vou com você. – ele reparou que eu o olhava assustado e surpreso e me encarou. – O que foi? Apesar de tudo, ele é meu irmão.

- Ah, verdade. – passei as mãos por meus cabelos.

- Vamos.

- Sim.

Saímos da casa e fomos andando até o hospital. A cada passo eu aumentava a velocidade sem querer e Sasuke, cansado de me acompanhar, me mandou andar calmamente, já que não sabia o caminho. O pior é que ele estava certo. Se eu soubesse o caminho, já estaria correndo para lá. Para minha surpresa, o hospital era ali no centro mesmo e não demoramos muito para chegar. Deixei que Sasuke cuidasse de perguntar onde Itachi estava, afinal, ele era o parente.

- Vem, Naruto. Ele está no terceiro andar.

- Ok.

Subimos as escadas e eu ia sentindo uma impressão ruim tomando conta de todo o meu ser. Que sensação era aquela? Não, não podia acontecer algo de ruim com Itachi. Eu não suportaria perder mais alguma coisa. Paramos em frente a uma sala de exames e nem precisamos bater, um médico saiu de lá e veio ter conosco.

- Conhecidos de Uchiha Itachi?

Assentimos que sim.

- É complicado. Estamos terminando os exames, mas ao que tudo indica, ele perdeu permanentemente a visão.

Eu fiquei surpreso, Sasuke pareceu já esperar por aquilo. Mas, como assim? Senti meu estômago dar uma volta de 360º graus e cair de uma vez, num estrondo que não me surpreenderia que todo o hospital tivesse ouvido. Como aquilo pode ter acontecido com Itachi? Senti que Sasuke pegara minha mão e a pressionava. Apesar de tudo, eles eram irmãos. Tanto quanto eu, Sasuke deveria estar incrédulo.

- Podemos ir vê-lo? – perguntei.

- Daqui a pouco ele será liberado, aí vocês podem falar com ele.

O médico pediu licença e voltou à sala, mas eu estava chocado. Sasuke me fez sentar em uma das cadeiras que havia ali perto.

- Sasuke... Você já sabia? – o olhei seriamente.

- Para ser sincero, ele não havia me dito. Mas dava para reparar que ele estava perdendo, pouco a pouco, a visão.

- É. Até eu reparei que havia algo estranho.

Ficamos em silêncio que logo foi quebrado pela minha voz.

- Queria fazer algo por ele. Ele já fez muito por mim.

- Naruto...

Uma porta se abriu e tanto eu quanto Sasuke nos levantamos rapidamente. Era Itachi. Eu corri e o abracei com força. Não precisei falar nada, ele me reconheceu e pousou uma das mãos sobre minha cabeça.

- Desculpe te preocupar, Naruto-kun.

- Idiota! – as lágrimas ameaçavam cair. Mas não, não! Eu ia ser forte.

- Sasuke?

- Sim?

- Me desculpe você também.

- Hn.

- E seu trabalho, Itachi? Você vai sair dele, não é?

- Sim. Para ser sincero, já saí.

Fiquei em silêncio. Ele continuou a falar, vendo que tanto eu quanto Sasuke estávamos incomodados.

- Mas não é tão ruim assim. Ainda posso fazer tudo. E é só esperar um transplante.

Eu não pensei em mais nada. Um transplante? Apenas isso? Se for apenas isso, eu deveria tomar uma decisão. Eu poderia dar meus olhos para Itachi. Afinal, ele sempre fez tudo por mim, me apoiou em tudo! E eu disse que ia retribuir um dia. Acho que, finalmente, este dia chegara. Mas e se Itachi ficasse bravo comigo? Era melhor falar com ele antes, pois sabia que ele não iria gostar, então daria tempo para ele se conformar. Minha decisão já estava tomada. Eu ia fazê-lo voltar a enxergar, de qualquer jeito.

Voltamos para a residência Uchiha, comigo e Sasuke ajudando Itachi. Naquela noite, Sasuke cozinhou – e não é que o idiota cozinhava bem? – e comemos em silêncio. Itachi parecia normal, levando a comida até a boca com destreza, mas seus olhos, que antes me faziam cair num abismo, estavam opacos e não mentiam. Ele estava cego.

Depois que comemos, falei que iria falar com Itachi a sós e Sasuke assentiu, indo lavar a louça. Levei Itachi até seu quarto, sentando com ele na cama. Não acendi luzes, já que para ele não faria diferença. A única que nos iluminava era a lua com seus feixes pálidos de luz, me permitindo ver as feições do meu amado. Segurei-lhe a mão e criei coragem para dizer o que estava pensando.

- Itachi... Eu...

- Pode falar, Naruto. – ele estava com a face virada para minha direção, esperando que eu falasse.

- Eu... Eu resolvi que quero te ajudar. – ele abriu a boca, mas não deixei que falasse. – Eu vou doar meus olhos para você.

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Fiquei esperando a reação e ela aconteceu. Uma exclamação muda foi solta e ele franziu as sobrancelhas, como se me reprovando.

- Não permito que faça isso, Naruto.

- Mas...! Essas filas podem demorar anos, até! Eu sei disso. E eu não quero que você perca algo... Diferente de mim, você tem tudo. E eu só tenho você. Não posso permitir que lhe aconteça algo e fique parado, apenas olhando teu sofrimento! – fechei os olhos, sentindo-os arderem. – Eu disse que ia retribuir tudo que você fez por mim e, finalmente, chegou a hora. Eu sinto isso, Itachi. Por favor, não me impeça...! Eu não quero... perder tudo de novo.

Senti que as lágrimas escorriam por minha face e tentei enxugá-las, Itachi segurou meus pulsos e beijou minha testa.

- Eu te amo, Itachi. Tanto que não agüento.

- Agüenta sim. Se não, não seria Uzumaki Naruto, certo? – assenti com a cabeça. Ele confiava em mim. – E eu nunca disse isso, mas...

Era apenas um sussurro a voz dele, enquanto seus lábios se aproximavam dos meus. Meu coração palpitava forte, abrindo os olhos para fitar-lhe a face, decorando cada pedacinho, cada traço dela.

- Eu te amo, Naruto.

Eu soltei uma risada. Estava tão contente! Nossos lábios se encontraram e senti o mesmo gosto de café de quando nos beijamos pela primeira vez. Tive certeza de que nada mudou e seríamos felizes juntos. Naquela mesma noite, nosso amor virou ato e nos entregamos um ao outro, de corpo e alma. Agora, éramos um só.

Alguns dias mais tarde, fomos ao hospital. Enchi o saco dos médicos para fazer a cirurgia, eles falavam que isso era antiético e um enorme sermão, mas... Que se dane a ética! Eu amava aquele rapaz. Daria minha vida por ele. Por que não dar minha visão também? Eu não ligava. No final, minha persistência foi maior e eles me fizeram assinar uns mil termos de que eu estava ciente das consequências e tudo mais. Eu não tinha dúvidas daquilo. Itachi mesmo pediu para pensar muito bem antes e eu pensei. Não precisava disso, mas ele insistiu, então eu atendi.

Marcamos o dia da cirurgia e Sasuke veio conosco. Ele ficaria esperando. Não precisávamos falar nada, todos nós sabíamos o que viria. Entramos naquela sala branca e deitamos lado a lado. Itachi segurou minha mão, com força.

- Naruto, só saiba que eu sempre vou estar com você.

- Itachi... Obrigado.

Os médicos vieram e nos sedaram. Não senti nada e a última coisa que vi foi Itachi cair no sono, para logo depois acontecer o mesmo comigo.

Agora, era só escuridão.

A cirurgia fora um sucesso e Itachi não me rejeitou – nem tinha como, né? Ele agora tinha sua visão de volta e eu estava jogado permanentemente no abismo de seus olhos, afinal podia imaginar perfeitamente sua expressão, seu sorriso - que ele oferecia só a mim - e a cor de seus olhos. Era como se eu tivesse caído neles, não era uma sensação ruim.

Demorei um tempo a me adaptar àquela nova condição, mas Sasuke e principalmente Itachi me ajudaram. Comecei a morar com eles e não me sentia um inútil: com o tempo consegui até mesmo a ajudar na faxina da casa e chegava até a lutar com o Uchiha mais novo! Claro, sempre sob o olhar atento de Itachi.

Eu não estava mais sozinho. Não ia mais perder nada. Já estava perdido onde queria estar: no abismo de seus olhos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.