Nada Que Você Pensou

Capítulo 2 - Psicopata? Nem tanto assim.


Capítulo 2 - Psicopata? Nem tanto assim.

Na verdade, iríamos pegar um avião no aeroporto JFK, por ser realmente distante. Em menos de 30 minutos, lá estávamos nós descarregando as poucas malas que haviam ficado no carro e colocando nos carrinhos. Eu estava quase caindo de tanto sono, e Pietro ainda me ameaçou jogar água na cara se não empurrasse aquele carrinho. Eu já falei como eu amo esse meu irmão? Tá quase estampado na minha testa “I HATE, HATE, HATE Pietro Allen”. Ah, nem tanto assim, vai. Bom, a viagem foi super calminha, a não ser porque eu não consegui pregar o olho com um cara do tamanho de um armário roncando e ainda por cima chutando meu assento durante quase toda a viagem, e sabia que ia ter uma bela dor nas costas mais tarde. Pegamos um táxi e eu cochilei enquanto íamos para nossa nova casa. Senti alguém dar um pequeno peteleco em minha testa quando o táxi parou, e acordei, lançando um olhar homicida para Pietro, que ria divertido. Dei uma tapa em seu braço e ele reclamou.

- Caramba, Mah! Desde quando tá tão mal humorada assim? – ele disse esfregando a mão no braço.

- Desde que soube que vinha pra essa joça. – falei saindo do carro e batendo o pé até a varanda. A casa era até bonitinha, inha, inha, inha. Tinha um grande jardim na frente e era de primeiro andar, mas não chegava nem aos pés da nossa antiga. A fachada era em tons de bege, tinha um banquinho branco bem no meio do jardim, e aos fundos, um canteiro repleto de hortaliças. Fiquei esperando sentada no banco, que meus pais saíssem do transi *observar a casa por horas e horas* até dar um toque. – HEY! – gritei e eles viraram-se para me encarar. – Vocês vão entrar ou não? Eu ainda tenho que arrumar minhas coisas. – me levantei e fui até eles, e meu pai abriu a porta parecendo primeiro dia de um reality show.

- E… Bem-vindos á nossa nova casa! – disse ele todo animado, abrindo passagem para nós. Peguei minha bolsa.

- Hunpf, que seja. – falei subindo as escadas. Logo avistei um enorme corredor, parecendo como aqueles de filmes de terror, e me lembrei do filme “O Corredor da Morte”. Só faltava um psicopata sair com aquelas facas de açougueiro e começar a correr atrás de mim. Ou eu estava ficando louca ou vi uma sombra perto de uma das portas do quarto. Nem me mexi, ficando parada espiando o que era aquilo. Um garoto loiro de belos olhos azuis apareceu e eu desci as escadas rapidamente. EU E MINHA BOCA GRANDE! – Paaaaai, tem um psicopata invasor de casas aqui dentro! EU DISSE QUE O POVO DESSA CIDADE ERA MALUCO, MAS VOCÊ NÃO ME ESCUTOU! – gritei desesperada enquanto apontava para o topo da escada, onde o garoto que havia visto descia os degraus lentamente, com um sorriso maroto no rosto. Meu pai riu, e logo todos estavam rindo da minha desgraça. T.T

- Querida, ele não é psicopata coisa alguma. Esse é o Tiago, filho do meu sócio e nosso vizinho, que se ofereceu para ajudar com a mudança. – disse ele dando um tapinha em meu ombro. Nossa, a única coisa que eu queria agora era um buraco pra enfiar minha cabeça. – Bom, vamos pegar o resto das caixas. – meu pai disse me deixando com Tiago.

- Oi. Desculpe por isso, é que eu sou realmente doidinha. - falei super hiper mega sem graça e ele riu.

- Tudo bem. Eu sou Tiago Thompson. – estendeu sua mão e eu a segurei num segundo.

- Mary Allen. – sorri. Ele olhou para as caixas empilhadas atrás de mim, e eu me virei também.

- Precisa de ajuda com isso? – disse ele pegando uma delas.

- É sempre bom. – rimos e deixei minha bolsa na poltrona, pegando a caixa de pelúcias e subindo a escada bem devagar. – Tá, assim que eu souber onde fica meu quarto… - olhei de quarto em quarto, mas todos estavam vazios.

- Não se preocupe, eu sei. O seu é o quarto cinza. Eu estava me perguntando: Por que cinza? Não gosta de rosa, como a maioria das garotas? – ele me perguntou enquanto íamos em direção ao meu quarto.

- Ah, sei lá, eu nunca gostei muito de rosa. – respondi sacudindo os ombros e deixando a caixa no chão do quarto.

- Tiago, querido. – gritaram do andar de baixo. Ele deixou a caixa no chão e sorriu para mim.

- É a minha mãe. Até mais. – disse ele saindo do quarto.

- Até. – respondi dando um aceno. Comecei a arrumar as pelúcias nas prateleiras de madeira, coloquei a luminária no criado-mudo e as minhas roupas no closet. Assim que terminei, fui tomar um banho e coloquei um short e uma blusinha de malha confortável. Prendi meus cabelos num coque bagunçado, morrendo de cansaço. Sentei na cadeira no canto do quarto, e estava quase cochilando quando ouvi alguém chamar meu nome bem baixinho.

- Ei, Mary, cuidado para não dormir aí. – Tiago falou da janela vizinha, sorrindo divertido. Esfreguei meus olhos, numa tentativa inútil de conter o sono.

- Ah, oi, Tiago. Não sabia que seu quarto era de frente para o meu.

- Mas não é mesmo não. Esse é o quarto da minha irmã, mas como ela está no banho, acabei vindo ver como você estava.

- Morrendo de sono. Percebeu né? – perguntei rindo e ele me acompanhou.

- É, percebi sim. Bom, eu vou indo antes que a Susi chegue. Boa noite. – disse ele sorrindo.

- Boa noite. – assim que me virei, ele chamou novamente por meu nome. - Mary! – olhei para ele. – Já que amanhã é sábado, eu poderia te mostrar a cidade, que tal? – propôs, e não hesitei em aceitar.

- Claro! Mas eu durmo até tarde, não estranhe, viu? – ri.

- Tudo bem. Até amanhã, então.

- Até. – sorri e fechei a janela e as cortinas, apagando a luz e me enfiando debaixo das cobertas. É, quem sabe eu não me acostumo com esse finzinho de mundo.