Capítulo 22

Mia

Não quero ir para o colégio. Como vou encarar o Érick? Como vou encarar o David?
Eu fugi do Érick tão de repente que nem lhe dei a chance de falar porque meus sentimentos são um incomodo para ele. Talvez ele já goste de alguém...
Essa suposição... Meu peito dói...
A campainha tocou e eu fui atender desanimada.
— Por que ainda está de pijama?
David?!
— Não me diga que estava pensando em faltar? Meu Deus... você é tão covarde assim? Pediu para eu não te evitar, mas você já estava pensando em fazer isso?
..............NA MOSCA............
Neguei com a cabeça, e subi correndo para me trocar.
Na escola, não encontrei com Érick (ainda bem), tomara que tenha faltado hoje. Mas ele não é de disso, então se não vier, quer dizer que está doente ou que aconteceu alguma coisa grave com ele, e eu não desejo isso porque eu...
TUDO BEM! Retiro o que disse. Espero que tenha vindo... Mas espero mesmo que eu continue sem encontra-lo.
No horário do almoço, David e eu almoçávamos juntos quando eu o vi de longe, rindo com alguns colegas. Eu gostava quando ele sorria...
Nossos olhos se encontraram.
Vamos lá, coragem! É só sorrir.
Sorri o cumprimentando. Ele desviou o olhar e voltou a conversar.
Isso... Ele realmente ficou incomodado com o que sinto. Só queria saber como tinha descoberto. Talvez David tenha razão, devo ser mesmo alguém transparente.

***

Não tinha jeito, ele me ignorou o dia inteiro hoje. Quando tinha que falar comigo nem se quer olhava para mim. Bem, eu também não conseguia olhar para ele... Meu coração continuava acelerando, mas ao invés de sentir euforia, eu sentia algo angustiante e sufocante.
O horário de saída já estava perto e o corredor do segundo andar estava deserto. Eu carregava a última pilha de scripts do clube de teatro, quando trombei em alguém.
— Desculpa. – olhei e congelei. Já ele continuou andando, com as mãos nos bolsos.
Abaixei e comecei a recolher os papéis sozinha.
Ele tinha me feito prometer que não o evitaria nunca mais, mas ele podia? Meus sentimentos são tão incômodos assim? Por quê?
Eu não conhecia esse lado dele... Por que meu coração está tão pesado?

Érick

Eu deveria ajuda- lá, mas não consigo olhar para ela sem deixar de lembrar do que aconteceu. Isso me deixa com raiva e faz eu me senti patético por ainda querer tocá- lá.
Ela consegue recolher sozinha...
— Você é o pior!
Parei.
Eu sou o pior? Ela vai embora, ignorando meus sentimentos, e no dia seguinte ainda sorri e age como se estivesse tudo normal, como se nada tivesse acontecido, e eu sou o pior?!
Ao me virar para retrucar, a vi ajoelhada chorando em cima dos papéis espalhados no chão.
— O que eu fiz de tão errado para você me tratar assim? Se não queria mas me ajudar, então porque não disse logo?
As lágrimas começaram a molhar os papéis.
Meu peito se apertou. Eu a tinha feito chorar...
Ah, sou um babaca... A culpa não é dela por não poder corresponder meus sentimentos. E sendo uma criança, é óbvio que não sabia lidar com esse tipo de situação. Talvez tenha fugido para não me magoar com palavras erradas. Ela já tinha provado que sou importante, e que se preocupava comigo.
Acho que o único que agiu como criança, fui eu...
Agachei na frente dela. — Você vai molhar tudo, idiota.
— A culpa é sua. – esfregou os olhos com raiva.
Suspirei. — Eu sei. – e afaguei sua cabeça – Desculpa.
Ajudei-lhe a pegar tudo e levar para onde deveria ser entregue.

***

Eu realmente tinha a magoado. Até deixa-la em casa, ela não disse mais nada, o que não era normal. Só deu um “obrigada” e entrou. Nem sorriu.
Não vê-la sorrindo era...angustiante.