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Enquanto estava em casa, as coisas andaram bem. Minha mãe estava trancada no quarto enquanto eu rodava pela casa atendendo aos pedidos da criaturinha. Fiquei com pena de não ter condições para fazer algumas iguarias para ele, porque temos uma renda não muito agradável.

–Como vou fazer para te esconder durante as aulas? Minha mãe vai ver você se ficar aqui em casa! Ela iria achar que eu virei uma louca pedófila. – Baguncei meus cabelos enquanto estava tendo a crise de nervos, até a própria entrar no meu quarto. Agarrei na mesma hora o Lambo e o joguei dentro da mochila.

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– Ei... E-Ei... – Ela cheirava a álcool. -... Mocinha, vá p-pegar mais bebida pra mim. – Disse, segurando forte meu braço. Empurrei-a para fugir e ir correndo ao caminho da escola. Lambo gritava a cada chacoalhada da minha bolsa; Imaginei-o sendo esmagado pelo meu estojo gigante de lápis de cor. Fui depressa ao ponto do metrô. Estava atrasada e normalmente prefiro fazer todo o percurso a pé, já que as estações costumam estar sempre lotadas.

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Já sentada e acalmando o bebê-vaca dentro do metrô, olhei para a janela: As calçadas se resumiam em casais de estudantes andando de mãos dadas como em um daqueles contos de fadas com final clichê. Meu estômago estava embrulhado com tanto agarramento.

–É impressão minha ou hoje é dia dos namorados? – Perguntei a mim mesma, mas talvez isso tenha soado alto demais. Uma vovozinha com cheiro de laquê se virou e respondeu:

–Claro minha filhinha! Não notou o clima da cidade? – E me entregou uma caixinha prata, que parecia ter algo dentro. – Dê para alguém que você ame de verdade.

– O-Obrigada... – Sorri, com minhas bochechas mais vermelhas do que minhas notas em matemática.

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Na frente da escola, o ar estava meloso, literalmente: eram chocolates e beijos por todos os lados! Subi a pequena escadinha frontal e tropecei na frente de várias pessoas; A mochila voou por cima de mim quando caí de barriga no chão. Só ouvi um grito, um barulho de bazuca e senti um cheiro de fumaça.

– Ora, Ora. Estou no futuro novamente.

A voz sintetizou-se em meus ouvidos como um coro de cupidos; Havia um menino sentado, de cabelos negros, trajando um terno. Ele me ajudou a levantar, mas eu estava com tanta vergonha que nem agradeci.

E aquele rapaz continuou ao meu lado.

–A... Algum proble... ma? – Perguntei, olhando para o chão.

Ele tocou minha cabeça. Suas mãos eram quentinhas e me deixaram arrepiada.

– Sou eu, o Lambo.

Arregalei os olhos e, na minha primeira tentativa de falar algo, o sinal tocou. A multidão veio de trás como um rebanho pronto para pastar. Acabei sendo levada por tanta gente. Não adiantaria seguir “contra a correnteza”, então subi as escadas para o segundo andar, onde a minha sala ficava; Assim que abri a porta, me deparei com uma menina de cabelos verdes trançados muito emburrada.

–Olhe por onde anda!

–Desculpe...

–Hunf! I-Pin odeia gente desastrada!

Ela me empurrou para passar e foi a sua respectiva sala, que era a do lado. Por um momento pensei: E eu ODEIO gente que fala na terceira pessoa! Enfim, as aulas foram muito entediantes, pois estava atenta aos movimentos suspeitos que davam para ver da janela. Quando o recreio tocou, saí em busca do Lambo.

–Argh! Por que eu fui perder de vista aquela vaca idiota? – Resmunguei ajeitando a roupa que havia ficado toda amarrotada, depois de me esgueirar pelos arbustos à procura do meu mais novo “animalzinho de estimação”. Tirei um pouco do pó da saia e me levantei, indo procurá-lo. Comecei a andar em direção ao pátio, quando ouvi os gritos histéricos de várias meninas. Todas estavam numa roda, em volta de alguém; Eu não conseguia ver quem era – esse é o mal de ser baixinha – me aproximei um pouco mais, e vi o que elas tanto queriam alcançar, a caixa prateada nas mãos do Lambo.

Pisquei várias vezes tentando assimilar o que via, por algum motivo desconhecido vê-lo daquele jeito cercado por garotas sem cérebro, metidas e com caixas de chocolates do dia dos namorados na mão me deixou com uma pontada de ciúmes, marchei firmemente em direção ao grupo que agora atraia o olhar de curiosos, espremi-me por entre uma menina alta e loira que agarrava-lhe o braço e uma morena que tentava inutilmente alcançar a caixa. Puxei-o para baixo pela gola da camisa fazendo seu olhos ficarem no mesmo nível do meu e quando eu abri a boca para falar, fui empurrada em direção ao chão pela nojenta, testuda, I-Pin.

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– Fica longe do Lambo, sua nerd! – ela apontou o dedo para mim e deu um sorriso sarcástico, pude ouvir as gargalhadas das pessoas em volta, mordi os lábios com força para não chorar, abaixei a cabeça e dei as costas a todos indo em direção ao banheiro. Senti então o toque de alguém nos meus braços, eu não precisei nem me virar para saber quem era, Lambo olhava para mim como se quisesse dizer algo, eu o fitei esperando e ele apenas abaixou a cabeça sendo engolido depois por suas fãs. Livre de seu toque eu fui embora, uma única lágrima escorreu por minha bochecha pingando na minha roupa, por algum motivo eu tive a sensação de que meu coração havia se partido.