Nico

Eu não acredito no que estou vendo!

Na minha frente está o meu bom e velho amigo de infância, o garoto que fugiu do lar pra crianças problemáticas ainda quando nós éramos crianças e foi dado como morto. Caramba, eu nunca pensei que o veria outra vez!

— Eu não acredito Percy, você tá vivo!?! – Me aproximo e nos encontramos em uma abraço caloroso.

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— Mais é claro que eu estou vivo, acha mesmo que eu morreria facilmente? – brinca se afastando com seu sorriso bobo tão conhecido.

Percy e eu praticamente crescemos juntos. No lar para crianças problemáticas ele foi meu colega de quarto, a pessoa que me acolheu quando cheguei. Juntos nós aprontamos muitas coisas, deixamos o senhor D com muitos cabelos brancos e ainda mais impaciente. Eu senti muita falta dele e desde seu desaparecimento minha vida nunca mais foi a mesma, não consigo mensurar minha felicidade ao ver ele nesse momento.

— Então vocês conhecem meu filho – uma voz masculina vinda do auto pergunta. Ao seguir o som vejo um homem alto e moreno, com incríveis olhos verde mar e uma roupa havaiana muito inesperada. Ele estava em uma varanda no primeiro andar do galpão, o que me fez reparar na quantidade de andares que o lugar aparenta ter. É muito maior do que parecia por fora.

— Pai, eles são meus amigos do orfanato – Percy coloca um braço ao redor do meu ombro e outro ao redor do de Thalia enquanto nos vira de frente para o pai dele.

Pera, pai dele???

— Espera aí – Thalia se esquiva de Percy e o encara com um olhar interrogativo – Você tem pai?

— Mais é claro que eu tenho pai – afirma ele em resposta, como se isso fosse óbvio.

— Como assim? – me desvencilho dele também – Como você veio parar em um grupo de traficantes no meio do nada? Desde quando você tem pai? E que raios de lugar é esse? – me altero ao me deixar levar pelas emoções.

— Calma, calma, calma – Percy, com um sorriso sínico levanta os braços em sinal de rendição. – Uma pergunta de cada vez! A proposito eu estou bem, muito obrigado por perguntar.

— Não fuja do assunto Jackson – alterou-se Thalia. – Eu tive um dia de merda, me perdi na floresta na desprezível companhia do di Ângelo, tomei uma bela de uma queda quase perdendo o dedo do pé, andei por horas em trilhas confusas sem nenhuma esperança de encontrar o caminho para casa, entro em um galpão supostamente abandonado e me deparo com várias pessoas mascaradas apontando armas para minha cabeça e para completar sai você de sabe-se lá onde e ainda vem pra cá dá uma de coitadinho? Saiba que eu não estou nem aí para sua saúde, no momento eu estou mais preocupada com a minha e você também deveria estar. Se você não percebeu eu estou em um estado deplorável e a cada minuto minha paciência diminui, então abre o bico e conta logo que merda está acontecendo aqui – em meio a um galpão cheio de estranho Thalia desabafa desse jeito deixando todos a sua volta, eu incluído, de queixo caído por sua ousadia.

— Calma aí mocinha – mais uma vez sou surpreendido por alguém atrás de mim. Ao me virar vejo com uma mulher de aproximadamente trinta anos, loira dos olhos azuis acinzentados com uma aura dominante que me parecia conhecida – Não tem por que fazer um espetáculo.

— Isso, sendo amiga do meu filho e tendo encontrado esse lugar sem ajuda pode se dizer que você está em casa – o homem que a pouco estava na varanda também aparece na minha frente. Ele realmente é a cara do Percy – Meu nome é Poseidon, eu sou o coordenador disso tudo, e como vocês já sabem, eu sou o pai de Percy. Essa é Atena, a subcoordenadora daqui. Apesar da recepção nada acolhedora posso garantir a vocês que somos do bem e que nada de ruim acontecerá a vocês aqui.

— É isso aí pessoal, aqui todo mundo é paz e amor – disse Percy – Ninguém vai fazer mal a vocês.

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— Se não vão fazer mal a gente, por que que ainda estão com as armas apontadas para nós? – Observou Thalia, enquanto eu observava que ela teve coragem de gritar com o Percy sabendo disso.

— Abaixem as armas, como todos já perceberam foi um alarme falso, isso aqui não é uma invasão – o comandante ordenou e rapidamente todos em uma sincronia bizarra começaram a se retirar.

Sem as armas apontadas para minha cabeça senti um peso ser retirado das minhas costas, pela expressão de Thalia creio que ela também.

— Então, podemos conversar agora? – a loira que foi apresentada como Atena indica um caminho e rapidamente ela e Poseidon o lideram, sendo seguidos por Percy. Após um segundo analisando a situação sigo os dois, sentindo que atrás de mim vem Thalia.

Thalia

Após horas andando pela floresta com o pé machucado finalmente fui guiada até um lugar tranquilo. Poseidon e Atena até agora foram bem educados e assim como disseram que seria me trataram como se eu fosse de casa, me trazendo junto com o di Angelo até uma enfermaria onde eu pude tomar um banho e meus ferimentos foram tratados. Agora eu tenho um pé enfaixado e um corpo confortavelmente acomodado em uma espécie de cama.

Quando eu acordei hoje pela manhã e me toquei que teria que ir em uma excursão com o insuportável do di Angelo eu pensei que o dia seria chato e estressante, mas nem em meus dias mais criativos eu imaginaria algo assim. Eu sempre tive uma vida bagunçada e muito estranha, principalmente após a morte de minha mãe. Desde esse fatídico dia minha vida virou de cabeça para baixo e nada nunca mais foi o mesmo. Há oito anos eu escrevia cartinha para Papai Noel, pedia ovo da páscoa, brincava de boneca na varanda da minha casa e sempre que possível saia para a rua para me divertir com meus amigos. Desobedecia a minha mãe e fazia tudo ao contrário do que ela me mandava, inclusive naquele dia de chuva, dentro daquele carro as minhas últimas palavras para ela foram de ódio.

Agora, oito anos depois, eu não tenho mais mãe, nem natal, páscoa, ou meu irmão. Se não bastasse perder minha mãe, meu irmão que seria minha única família restante, desapareceu sem deixar rastros. Todos dizem que ele nunca existiu mais eu tenho certeza de que ele era real, não tem condições de tudo aquilo, toda minha vida ter sido uma ilusão, nenhuma criança criaria uma pessoa de forma tão real. Alguém que te ensina a nadar, que te faz sorri nos momentos mais tristes, que te defende quando os valentões do colégio te perturbam, que te consola quando seu pai vai embora sem deixar rastros.

Eu não sei por que eles fingem que se esqueceram dele ou por que ele foi embora, mas eu nunca vou esquecer. Como eu queria que ele estivesse aqui para dizer que vai ficar tudo bem, que foi tudo um pesadelo e que nada disso aconteceu. Infelizmente isso não vai acontecer, meu irmão não vai aparecer do nada com uma mensagem positiva de esperança. Estou sozinha no mundo e apesar de já ter me acostumado com essa solidão, acho que a loucura do dia e a exaustão física fizeram meus sentimentos assumirem o controle. Meus olhos estão ardendo enquanto lagrimas se preparam para dissipar essa quentura, não consigo segurá-las e meu rosto é banhado por uma onda de lagrimas desesperadas. Fecho meus olhos em busca de controle, mas a cada segundo que se passa fleches de memória me marcam, me obrigando a abri-los novamente, me deparando com uma imensidão tão negra quanto a noite.

Nico me olhava com apreensão. Não sei de onde ele surgiu, mas agora ele estava ajoelhado a minha frente. Antes que eu pudesse ter alguma reação fui surpreendida por sua mão em meu rosto, carinhosamente secando minhas lagrimas.

Agora sim eu acredito que estou maluca. Nico di Angelo, meu maior inimigo a anos está secando CARINHOSAMENTE meu rosto banhado em lagrimas? Pisco os olhos para dissipar essa alucinação, mas para a minha surpresa ele continua lá.

— Ei, eu não sabia que o seu pé estava doendo tanto – disse pegando carinhosamente em minhas mãos.

Que merda que está acontecendo?

— Eu não estou assim por causa do meu pé – Me sentei na cama, aproveitando para me desvencilhar do di Angelo que levantou e se sentou ao meu lado – Não quero falar sobre isso, caso seja sua intenção perguntar.

Ficamos assim por alguns minutos, calados. Pude perceber que a sua presença, por mais estranho que pareça, começou a me acalmar. Por alguns minutos sentada ao lado de Nico eu não me senti tão sozinha quanto antes e as lagrimas aos poucos se secaram. Assim que pensei em perguntar a ele o porquê de suas atitudes ouço uma batida na porta.

— Com licença, mas me mandaram aqui para chamar vocês – Uma menina morena, de cabelos castanhos e olhos azuis com aparentes 15 anos disse da porta – O coordenador está esperando.

— Sabe o que ele quer? – Nico pergunta, se levantando.

— Não, ele me disse apenas para vir até aqui e levar vocês até ele.

— Então vamos descobrir – seguindo o exemplo do di Angelo me levanto da cama e cuidadosamente sigo em direção a porta.

Após esse dia louco e exaustivo sinto como se nada mais pudesse me surpreender, então é com coragem que sai da enfermaria seguindo a menina com Nico ao meu lado.

Espero estar certa.