Eu queria que ela estivesse aqui agora.

Ela faz tanta falta que eu sinto como se não houvesse ninguém no mundo. Mas algo me impede de ir procurá-la. Talvez seja vergonha de olhá-la, talvez seja meu orgulho. Eu não sei.

Tento imaginar o que ela está fazendo. Talvez esteja correndo até a estação. E trombando em todos que cruzam seu caminho. Esse pensamento me faz rir um pouco.

Eu ainda queria que ela estivesse aqui.

Penso nesses cinco dias em que estivemos juntos. Foi tão pouco tempo. Mas para mim, parece que passamos um vida juntos. Eu sinto que ela esteve comigo desde que nasceu.

\"Me desculpe Sophie.\" é tudo o que eu quero gritar. Mas eu sei que ela não iria escutar, e mesmo se fosse, eu não teria coragem de fazê-lo.

Eu a desejo incondicionalmente e me arrependo a cada segundo de tê-la deixado ir. Talvez ela esteja melhor sozinha. Sophie sempre foi independente e eu já não temo por sua vida. Sei que ela sobreviverá. E, caso contrário, sua morte não teria sido em vão.

Não quero parecer frio ao mencionar essa última frase, porém, eu sei que talvez ela fique melhor se não estiver aqui.

Mas a quem eu estou tentando enganar? A morte dela não é uma possibilidade a ser cogitada. A eternidade parece um longo tempo sem Sophie para alegrá-la.

Eu a amo.

Queria ter coragem para dizer essas palavras diretamente a ela. Mas sei que talvez nunca poderei dizê-las.

Uma súbita onda de emoção percorre meu corpo e eu sinto um forte nó na garganta. Sei que se tentar dizer algo, minha voz sairá embargada e eu não conseguirei evitar uma lágrima.

No momento culminante de toda a infantil nostalgia, me levanto e corro até a esquina. Passando por todos os quartos e saindo do hotel. Não irei chorar sua perda até ter certeza de que ela é definitiva.

Continuo correndo até a estação. E, em um momento de inconsciência, percebo estar rezando para encontrá-la antes de sua partida. Rezando para um Deus ao qual julguei nunca existir e que agora me parecia uma última esperança, o jeito mais simples de encontrá-la.

Eu entro na estação e a primeira coisa que consigo ver, apesar do embaçado graças a algumas lágrimas prestes a cair, é o rosto angelical e maroto de Sophie. Ao lado dela está um homem, mais velho, que eu julgo ser alguém que possa faze-la feliz.

Em um instante percebo que ela pode me ver. Porém, no instante seguinte, essa certeza desaparece e eu me pergunto se a visão dela dentro de um dos vagões não foi apenas uma ilusão. Uma prova de que minha mente a deseja tanto quanto meu coração.