O Dezembro chegou e com ele trouxe o frio em força e os preparativos para o Natal.

Já disse como odeio o Natal? Não propriamente a festa enquanto festa familiar, com as prendas debaixo da árvore de natal, mas sim todo o consumismo exagerado à sua volta. As pessoas atropelam-se pelos centros comerciais a comprar prendas que os outros não querem apenas porque fica bem dar alguma coisa. Há muito tempo que se perdeu o prazer de oferecer algo para ser substituído por um fica bem dar qualquer coisa. O Transito fica ainda mais infernal e não se consegue ir comprar um pacote de arroz sem passar 30 minutos para estacionar o carro. Ando sempre ainda mais irritada nesta altura. Sou uma criatura de sol, não gosto do frio e da chuva e associado a isto, milhares de pessoas a acotovelarem-me é o remédio certo para andar a desejar hibernar e só acordar na primavera. Como gostava de ser um urso!

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Nunca fui depressiva. Sim irrita-me o trânsito, sim irrita-me as confusões no trabalho, o frio e principalmente o natal. Tirando isso….acho que sou uma pessoa razoavelmente feliz.

Nos últimos tempos tenho tido algo para adicionar às quatro irritações do costume. E essa irritação tem nome próprio, cerca de 2 metros de altura e mais de 1000 anos de idade.

Desde o dia em que ele literalmente saltou através da minha janela nunca mais ouvi falar dele. Não telefonou, não apareceu, não deu sinais de vida (ou de morte)! Verdade que eu também não o procurei mas tenho os meus motivos. Não consigo aceitar que sinta um desejo tão grande por um vampiro. Era quase como se me julgasse a mim por tamanha aberração.

Eu nunca procurei muitas qualidades num companheiro mas acho que estar vivo é um requisito aceitável. Quando paro para pensar racionalmente, condeno-me a mim mesma por pensar assim. No fundo ele está vivo, de uma certa forma, própria da sua espécie. Vive, fala, movimenta-se e alimenta-se. É verdade que não morre a não ser que a cabeça seja separada do corpo mas não é fácil algo assim acontecer-lhe. Também não andam durante o dia mas aprendi durante os últimos anos que não é verdade que se transformem em cinzas ao sol. São extremamente fotossensíveis, ficando praticamente cegos à luz do dia e a sua pele queima com facilidade, como os albinos. Desse facto, criou-se o mito que eles pegariam fogo expostos ao sol. É verdade que podem ficar com horríveis queimaduras solares mas não os mata, apenas enfraquece. O mito encarregou-se de aumentar alguns factos de modo a dar mais sumo à história.

Não sei ainda todas as particularidades sobre os vampiros, por exemplo desconhecia que podiam saltar de um quarto andar e sair ilesos. Ao que parece cada um terá os seus próprios poderes mais ou menos considerados sobrenaturais mas no fundo, podemos caracteriza-los como seres poderosos, com uma força descomunal, difíceis de matar, que não morrem de morte natural pois o seu corpo não se degrada naturalmente como o nosso. São incrivelmente rápidos e podem matar um humano em segundos. Após o primeiro ano de vida podem passar anos sem matar um humano para se alimentar. A fome (ou sede, como será melhor descrita) é menor e não precisam de beber um humano por completo. Um litro aqui, um litro acolá. Claro que tem o prazer associado à caça, matar a sua presa mas agora que tentam ser reconhecidos como parte deste mundo, os humanos mortos por vampiros, drenados até à morte, parece ser uma raridade.

Há regras próprias entre eles que os impede de continuar a matar indiscriminadamente sob pena de serem julgados pelos seus pares e condenados à morte final.

No que diz respeito particularmente só um vampiro me interessava e esse estava sempre presente desde que o sol se punha até que o sol nascia.

Tentei convencer-me que ando confusa e baralhada e que não conseguia sentir os sentimentos dele mas com o passar dos dias apercebi-me que toda esta irritação, que o meu desinteresse em certos assuntos mundanos, não eram sentimentos meus mas sim dele. Não era apenas ele que conseguia sentir os meus sentimentos, agora também eu conseguia sentir os dele. Nos últimos dias tenho tentado controlar-me melhor e começo a conseguir desassociar o que sinto, daquilo que ele sente. Andava a sentir-me um clone emocional do Eric mas de alguma forma aprendi a desassociar os dois sentimentos e agora até já me consigo divertir apesar de sentir que ele está zangado com alguma coisa.

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Três dias antes do natal a Catarina ligou-me. Tinha saído da clínica e gostava de me ver antes do natal. Combinamos encontrarmo-nos aqui em casa. Era sábado e após o almoço, a minha amiga tocou à porta. Eis a Catarina de sempre e não a miséria humana que resgatei do fundo do poço em Setembro.

Bebemos café, comemos uns chocolatinhos, enquanto ela me contou o seu regresso ao mundo dos mentalmente sãos. O tempo que passou na clínica, a terapia que fez e a forma como agora encarava o passado, como se conseguiu perdoar, como encara o presente e principalmente as suas expectativas para o futuro. Senti-me feliz ao ouvi-la. É uma boa recompensa ajudar alguém e ver frutos dessa nossa acção.

Quando finalmente acabou de me contar tudo perguntou:

- E tu minha amiga como vais?

Txiiii, por onde hei-de começar…

- Tudo bem mais ou menos

- O meu pai contou-me o que fizeste para me resgatar, que foste ao Fangtasia e que o Eric Northman te ajudou. Como raio conseguiste isso?

- Nem sei bem, se queres que te diga, mas porquê?

- Bem, eu vi o Eric quando, sabes, quando lá fui com o João e ouvi algumas coisas que se diz dele, sabes que no meio onde andei metida fala-se muito de vampiros e ele era e é um dos mais temidos

- E? – De alguma forma sentia que não devia ter perguntado

- Bem, o Eric não é propriamente uma criatura disponível. Parece ignorar todos os humanos, como se fossemos apenas poluição. Dizem que ele é implacável e que não abre excepções. Por isso que atingiu a idade e o poder que tem. Não tem sentimentos de qualquer ordem, excepto a lealdade que exige dos seus subordinados. Dizem que é um animal sexual mas não sei se haverá muitas humanas que lhe interessem. Ele é extremamente bem-parecido mas parece matar apenas com o olhar. Enfim, não consigo perceber o que lhe poderás ter dito ou feito para ele aceitar ajudar-me, ou ajudar-te.

- O que queres dizer com o poder que tem? – Resolvi ignorar toda a parte do sexo

- Bom, dizem que ele não é apenas o dono do Fangtasia. Que tem um alto cargo na hierarquia dos vampiros, que é um dos que controla os vampiros mais novos para que a ordem seja mantida e que quando um falha não há perdão. Ah e parece que é extremamente rico também, fruto de múltiplos negócios e participações que tem. O bar é apenas a ponta visível do iceberg.

A Catarina sabia muito mais da vida do Eric do que eu que já tinha bebido o seu sangue por duas vezes e até já tinha estado nua na sua frente.

- Sabias que ele consegue saltar de um quarto andar sem se magoar? – Saiu-me sem pensar

- A serio???? - Os olhos da Catarina quase saíram das orbitas.

- Como sabes isso? – Perguntou ela sôfrega

- Vi!

- A serio? Quando? Conta??

Será que lhe devia dizer a verdade? Oh que raio preciso de alguém com quem desabafar e tudo começou por causa dela.

- O mês passado ele teve aqui em casa e saltou pela janela do meu quarto. Fiquei em choque.

Quem estava em choque era a Catarina que até estava vermelha. Com um enorme sorriso perguntou:

- Oh sua grande maluca! Queres explicar-me o que o Eric Northman fazia aqui em tua casa e no teu quarto?

E largou-se a rir agarrada à barriga. Como ela reagiu tão bem a esta informação, enchi-me de coragem e desbobinei tudo aquilo que estava engasgado. O nosso primeiro encontro, os outros encontros, a troca de sangue, ele sentir-me, o ter sido esfaqueada, ter acordado no meu quarto com ele, o beijo e finalmente agora a novidade de também eu conseguir senti-lo.

A Catarina manteve-se silenciosa enquanto ouvia atentamente. Sorriu quando lhe contei das provocações dele, ficou triste quando lhe contei do ataque e finalmente estava com um sorriso de orelha a orelha quando acabei.

Finalmente falou:

- Minha amiga, tu és um poço de surpresas. Nem sei por onde começar!

Agradeceu-me uma vez mais tudo o que fiz por ela, enalteceu vezes sem conta a minha coragem, de inclusive beber o sangue dele para poder ir liberta-la. Disse que lamentava que eu tivesse sido atacada, que sentia que mais uma vez a culpa era dela.

Após isso tudo disse-me:

- E no fim o que mais me surpreende é esse teu jogo de gato e rato com o Eric. Do que se fala dele não me parece coisa que ele normalmente faça ou que se quer tenha interesse nisso. Alguma coisa despertou nele para ele se dar a semelhante trabalho.

- Sim, tesão! – Disse-lhe eu

- Naaaaaaaaaaa, é mais que isso. O Eric pode ter o sexo que quiser com quem quiser. Vampira ou humana. Isso não explica ter-te ajudado sem te conhecer de lado nenhum ou sequer ter confiado em ti…não explica ter-te avisado que corrias perigo e muito menos salvar-te de morte certa. E ainda, não explica porque raio quis ele sentir as tuas emoções. Que raio, qual é o gajo que está minimamente interessado numa mulher para querer saber o que ela sente? Vampiro ou humano os gajos nunca estão minimamente interessados nisso, muito mais quando apenas querem dar umas cambalhotas!!

- Ora Catarina e que outra explicação há? Não vais ficar a pensar que ele está apaixonado por mim e que foi paixão à primeira vista pois não?

- Não sei!!

- Cat!!! Volta à realidade! Tu mesma disseste que ele não nutre sentimentos por nada nem ninguém!

- É verdade, diz-se isso e parece isso mas alguma coisa há entre vocês! Mais que não seja ele está…

- Está?

- Curioso!

- Curioso com o quê? Sou uma tipa normalíssima, sem nada de transcendental que faça uma criatura de mil anos ficar curiosa. Já pensaste na quantidade de mulheres que ele conheceu ao longo de mais de um milénio??

- Tu não és uma tipa normal, como tu dizes. Nunca Achei isso Alex. Acho-te única. Tens uma força incomum. Tomas as rédeas da tua vida. Nunca te vi arrepender realmente de nada, nem quando sabes que erraste. Sempre aprendes com os erros e aceitas como uma lição. És espontânea e clara como a água. Mostras-te ao mundo como és e quem gostar gostou!

- Não é bem assim. Não sou essa rocha que pareço! Também tenho duvidas, incertezas e os meus próprios traumas e mágoas.

- Todos temos mas nunca te vi condicionar as tuas atitudes por causa disso, excepto agora..

- Como assim?

- Bom, tenho que ser verdadeira contigo Alex. Eu no teu lugar já tinha rebolado com ele na cama, no chão, no sofá, onde calhasse. Estás com medo do quê?

Pois, a pergunta do milhão de euros.

- Não sei realmente Catarina. Penso que é por ele ser vampiro, por ser um morto-vivo, por ser extremamente forte, até já me passou pela cabeça que não tenho estrutura física para fazer sexo com um vampiro mas não é só isso. Sabes quando sentes que estás à beira do precipício e que se deres um passo vais-te despenhar lá em baixo? É isso que eu sinto!

- Talvez não te despenhes. Afinal parece que ele consegue saltar por cima de precipícios!

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Desta vez rimos as duas!! E soube tão bem!!

- Seja como for, não sei nada dele há mais de um mês. Por isso é mais que obvio que a curiosidade como tu lhe chamas, desvaneceu-se. Não vale apena falar mais do assunto.

- Procuraste-o?

- Não, claro que não!

- Tu pediste-lhe para ele não te forçar, ele não te está a forçar. O próximo passo tem que ser teu, minha amiga. Vampiro ou não, o jogo é igual e as regras são as mesmas.

Ela tinha alguma razão, ou toda!

- Esquece isso! O assunto terminou. Hei-de arranjar forma de ignorar o facto de que o sinto todos os dias, ou melhor, todas as noites e pôr uma pedra sobre o assunto.

- Não sei se terminou – disse ela com um ar divertido – Ele tem todo o tempo do mundo e de certo que aprendeu a ter paciência ao longo da sua longa vida. Depois me dirás se tenho ou não razão.

- Ok – disse-lhe.

Mudamos de assunto e falamos de coisas banais, como o Natal, as prendas, com quem íamos passar a consoada. Ela ia passar com os pais e eu sozinha como sempre nos últimos anos. Os meus pais já não estão entre nós há uns anos e sou filha única. Não tenho marido ou namorado pelo que o natal é uma noite igual às outras. Não me faz grande mossa. Estou habituada e sinto-me bem sozinha em casa. É o meu lar! Lar de apenas uma, mas o meu lar.

A Catarina tentou convencer-me a ir passar a noite com ela a casa dos pais dela mas declinei. Não me sinto necessitada de companhia, a serio.

Finalmente despedimo-nos com a promessa de futuros cafezinhos e muita esplanada quando o sol voltar.