Motivos para mudar

Capítulo 4 - Planos e Voos


Ao chegar a casa, depois da viagem de algumas horas que fizera de Boston para Lisboa, Luísa estava faminta e, logo após ter largado tudo o que trazia consigo de qualquer maneira na sala de estar, dirigiu-se para a cozinha. Embora estivesse com fome, não lhe apetecia ter trabalho em preparar um jantar muito elaborado, – por causa da diferença horária entre os E.U.A. e Portugal, já eram quase 21h30 em terras lusitanas – então optou por fazer uns pastéis de bacalhau, que eram fáceis e rápidos de se prepararem. Foi até ao congelador, para poder começar a descongelar um pouco de bacalhau, mas, ao abrir a porta do aparelho e procurar nas gavetas no seu interior, constatou que não tinha mais daquele peixe que fazia boa parte da sua dieta.

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Suspirou, frustrada. Teria que arranjar outra coisa para saciar a sua fome. Depois de alguns minutos a procurar por algo para comer, encontrou alguns restos de carne assada do jantar do dia anterior. Ainda tinha bom aspeto, por isso decidiu que aquela seria a sua ceia, juntamente com umas batatas fritas que prepararia rapidamente.

Quando se preparava para aquecer a carne no micro-ondas, o seu telemóvel começou a tocar. Depressa terminou o que estava a fazer e correu para a sala para tentava achar o aparelho que insistia em tocar. Por ter deixado as coisas desarrumadas, demorou um pouco a encontrá-lo, mesmo seguindo o som que ele reproduzia, mas ainda conseguiu chegar a ele a tempo de o atender.

— Estou? – disse ao atender a chamada.

— Luísa! Sou eu, o Toris! – informou o moreno.

— Ah, Toris! Como estás? – sorriu ao perceber que era com o lituano que estava a falar.

— Estou bem. Então e tu?

— Sendo sincera, estou um pouco chateada… Já não tenho bacalhau! – resmungou, fazendo as suas bochechas incharem com o ar que retinha na boca, e franziu a testa.

— Bem, deve ser mesmo frustrante para uma portuguesa não ter isso em casa.

— É… Sobretudo quando me apetecia mesmo uns bons pastéis de bacalhau! – disse, um pouco desapontada – Ah, mas tu não me ligaste para eu estar aqui a aborrecer-te com uma conversa sobre a minha má sorte! Falemos de ti, que é esse o principal objetivo! – a lusa logo se lembro da razão para estarem ao telefone – Eu não cheguei a contar-te o que tenho em mente para te ajudar, pois não?

— Não, eu tive que sair à pressa para resolver assuntos de estado.

— E já estão resolvidos?

— Em princípio, sim. Devo estar livre durante os próximos tempos.

— Isso é excelente! Assim temos muito tempo para pôr o meu plano em prática. – disse, satisfeita.

— Ah, que bom, Luísa! Mas, afinal, que ideia tiveste para resolvermos a minha situação?

— Bem, eu falei com a Natália, logo depois de te teres ido embora, e pude confirmar o que eu suspeitava. – disse ela, com um sorriso de orgulho na face.

— E o que é que tu suspeitavas? – perguntou, curioso.

— Que a única maneira de a conquistares é tornando-te melhor que o Ivan, aos olhos delas!

— O-o quê?! M-mas como é que eu vou fazer isso, Luísa? É impossível! – questionou o lituano, desacreditando que a sugestão da portuguesa alguma vez se iria realizar. Afinal, ele tinha sido subjugado pelo russo durante anos. Nunca iria chegar ao seu nível, quanto mais superá-lo.

— Não é impossível, porque eu vou estar aqui para te ajudar!

— Obrigado… – o lituano nem tinha palavras para lhe agradecer. Só de imaginar que haveria alguma hipótese – por mais mínima que fosse – de conquistar o coração da amada, já ficava com a cabeça nas nuvens.

— Não tens de quê! – deu um sorriso e regressou à cozinha para ir descascando uma ou duas batatas e a seguir as cortar e as fritar – Bom, para te tornares melhor que o Ivan, vamos ter que te fortalecer tanto física como mentalmente. Eu sugeria que tu viesses passar uns tempos em minha casa para eu te ajudar na parte física, treinado o teu corpo. Em termos mentais, creio que não te serei tão útil… Mas sempre posso arranjar que o seja! – assim que terminou de falar, as batatas ficaram prontas e Luísa foi buscar o prato com a carne já aquecida ao micro-ondas e foi nele que colocou as batatas já fritas.

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— Parece-me uma boa ideia! – sorriu, mesmo sabendo que a lusa não o podia ver.

— Ótimo, ainda bem que estamos de acordo! – disse, pousando o prato com o seu jantar na mesa e sentando-se na cadeira ao seu lado – Então, quando é que te dá jeito vir para cá para podermos começar a preparar-te? – tinha-se sentado de lado na cadeira e repousava a cabeça sobre a mão, cujo braço estava apoiado na mesa.

— Por mim, posso ir já amanhã! – disse, entusiasmado – A-ah, se isso não for um incomodo para ti, claro! – atrapalhou-se.

— Claro que não! Aliás, quanto mais cedo iniciarmos o treino, mais cedo estarás pronto para conquistar a Natália!

— S-sim! Tens razão! – o lituano corou um pouco – Então, vou já começar a fazer as minhas malas e apanho o primeiro voo para Lisboa. – tinha um grande sorriso no rosto.

— E eu cá te espero! – sorriu.

— Bom, vou preparar tudo. Boa noite e até amanhã, Luísa. E, mais uma vez, obrigado pela ajuda!

— De nada! Tem uma boa noite e até amanhã, Toris.

Assim que a chamada foi desligada, Luísa suspirou. Um suspiro de contentamento por poder ajudar um amigo. Virou-se de frente para a mesa, colocou o telemóvel sobre ela e começou a jantar, já a pensar em qual seria a melhor maneira de iniciarem o treino no dia seguinte.

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— Já lhe disse que esse salmão que me quer vender está caro demais para estar a ser vendido na lota! – disse o holandês, fechando a mão em punho, visivelmente irritado.

— M-mas s-senhor… Este salmão é da melhor qualidade… Isso justifica o preço! – tentou defender-se o pescador, já um pouco assustado com o tom e a postura do loiro.

Tal como fazia todos os meses, Abel foi à lota norueguesa, bem cedo, para tentar fazer bons negócios na indústria do peixe. Porém, naquela manhã, essa tarefa não estava nada fácil.

— Não me interessa! Está a tentar vender-mo aqui ao preço dos supermerca--

— Qual é que achas que seria o melhor bacalhau para eu levar hoje à Luísa, Feliks? – questionou Toris ao melhor amigo polaco.

Ao ouvir o nome da portuguesa ser pronunciado pelo moreno, Abel interrompeu a discussão que mantinha com o pescador e passou a prestar atenção à conversa alheia.

— Ah, tipo, qualquer um serve, não, Liet? – perguntou Feliks com uma expressão de desinteressado.

— Claro que não! Estamos a falar de alguém que tem este peixe incluído em muitos dos seus pratos tradicionais. Assim como não dás qualquer tipo de batata para o Ludwig, também tens que usar esse critério com a Luísa, Feliks. – explicou, cruzando os braços.

— Hum… Se tu o dizes. Mas, tipo, nem tu nem eu percebemos nada de bacalhau, Liet. – cruzou os braços atrás da cabeça, ainda com cara de desinteressado.

— É, isso é verdade… – suspirou enquanto olhava para os peixes nas caixas, acabados de pescar – Acho que não temos outra solução a não ser ir pelo aspeto, não é? – coçou a nuca e sorriu de maneira hesitante.

— É, concordo. Então, tipo, que tal estes aqui? – apontou para uma caixa com peixe no seu lado direito.

— Hum… Parece bom. – aproximou-se do amigo e analisou o conteúdo da caixa – Então, acho que vou levar um quilo desses.

— Ah, um quilo? – o polaco levantou um sobrancelha – Estás, tipo, a agradecer-lhe ou, tipo, a tentar conquistá-la pelo estômago? – interrogou, cruzando os braços frente ao peito enquanto olhava para o moreno.

— O-ora, Feliks, óbvio que não! – respondeu com o rosto um pouco rosado – Tu sabes perfeitamente que eu só tenho olhos para a Natália. – cruzou os braços.

— Hum… Tipo, tu lá sabes. – voltou a cruzar os braços atrás da cabeça com olhar desinteressado.

— Pois sei e… – verificou as horas no seu relógio de pulso e constatou que já passava das 8 horas, sendo que tinha o voo marcado para as 9h15 – Feliks, eu já estou a atrasado! – tirou a carteira do bolso do seu casaco, disse ao homem que tinha pescado o bacalhau que iria levar a quantidade que queria e pagou-lhe. Assim que agarrou no saco com a sua compra, pegou na mão do amigo e saiu disparado pelo cais – Vamos que daqui até ao aeroporto ainda demora!

— Ai, ai, Toris! Não vás, tipo, tão depressa! – protestou o loiro, sendo ignorado pelo moreno que o puxava em direção à sua casa.

Os dois amigos corriam tão apressados que nem repararam no holandês, quando passaram por ele.

— Senhor…? – o pescador tentou chamar a atenção de Abel, que se tinha distraído com o diálogo dos outros dois. Uma vez que estes lá se tinham ido embora, voltou-se novamente para o homem à sua frente, mal-humorado.

— Oiça bem, – agarrou-o pelo colarinho da camisa e levantou-o do chão – ou você aceita de uma vez o preço que lhe estou a propor pelo salmão ou vai perder-me como cliente e garanto-lhe que não vai gostar nada das consequências disso… – semicerrou os olhos.

— E-está bem, está bem! Negócio fechado! – cedeu o pescador, assustado.

Assim que obteve o que queria, largou o pobre homem, que quase caiu para trás, pela falta de equilíbrio naquele momento. O holandês queira despachar aquilo rapidamente, pois teria que partir para Portugal o mais depressa que pudesse.