Morte aos Lobos

Capítulo 22 - Diferenças


Escuto alguém chamando por mim ao longe, e quando penso que estou em um pesadelo, identifico a voz de Thiago em meio ao barulho da tempestade. Quando abro os olhos, seu rosto está bem próximo do meu e mesmo na escuridão, sem poder vê-lo completamente, sei que está preocupado quando diz:

— Terry avisou que tem alguém lá fora.

Meu coração acelera. Alguém com que se preocupar, ou alguém precisando de ajuda?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Tateio o chão em busca da minha lanterna e a acendo no momento que a encontro. Thiago me ajuda a levantar, e uso a luz para focar nos outros. O último a levantar é Bob, que tem muita dificuldade em acordar devido aos cinco dias que passou sem dormir direito.

Sigo Thiago até a porta, onde Julie já está conversando com Terry nervosamente. Zac está com eles, tentando dizer algo, mas minha irmã aparentemente o está impedindo. Os outros estão logo atrás de mim, e tentamos nos juntar para conversar uns com os outros, mas o trailer está com o espaço cada vez mais limitado para isso.

— Não vamos simplesmente abrir a porta – escuto Julie dizer.

— Essas pessoas estão correndo um risco enorme ao bater assim na porta de desconhecidos – devolve Terry. – Devem estar desesperados.

— Como sabe que tem mais de uma pessoa lá fora? – pergunta Thiago.

— Ora, olhei pela janela antes de vocês aparecerem com toda essa luz – diz ele.

— Quantas? – pergunto.

— Duas. Não dá pra saber muito, eu só vi suas silhuetas na escuridão – responde.

— Dá pra abrir logo a porcaria da porta? – explode Zac.

— Não! – diz Julie ainda mais alto. – Antes, precisamos pensar.

— Eles podem ter mais gente escondida entre as árvores – lembra Gwen.

— Ou podem estar em apuros, congelando de frio e morrendo de fome – diz Bob.

Uma coisa ruim sobre sobreviver em grupo: personalidades diferentes geram opiniões diferentes e, consequentemente, muitas discussões.

— Pensava que você fosse mais cuidadoso, Bob – diz Julie cerrando os dentes.

Ele assume uma expressão raivosa ao devolver:

— Podemos muito bem ter cuidado e, ainda assim, ajudá-los. Não somos monstros.

— Bob tem razão – diz Carol. – Ficamos de guarda, atentos, até sabermos suas intenções.

— Ah, sim, é claro que você ia concordar com seu namoradinho – rebate Julie. – Vê se pensa sozinha da próxima vez.

— O que você quer dizer com isso? – grita Carol. – Eu tenho um pensamento crítico individual e...

— Ah, fala sério! “Pensamento crítico individual” – imita Julie. – Você só está caidinha por ele.

— Já chega! – intervêm Bob. – Será que dá pra voltarmos pro atual problema aqui?

Mais uma batida na porta, agora acompanhada de um “Por favor”. Definitivamente, uma das duas pessoas é mulher, pela voz.

Eu encaro Thiago e ele olha de mim para Julie. Mas nós sabemos o que o outro está pensando, e estamos divididos entre ajudar e ter razão. É claro que concordo com Carol sobre o cuidado extra, mas Gwen pode estar certa sobre mais pessoas à espreita na floresta. Abrir a porta pode significar assinar nosso atestado de óbito, ou mostrar o quanto somos piedosos, apesar de todos os nossos defeitos.

Thiago finalmente fixa o olhar no meu, e sei que nós dois vamos decidir o impasse, porque certamente chegaremos à mesma resposta juntos.

— Vamos ter cuidado – diz ele só pra mim.

Faço que sim com a cabeça e me viro para olhar Terry e dizer:

— Abre essa porta.

Julie revira os olhos, e percebe que perdeu essa. Ela saca a pistola e a deixa preparada para atirar, enquanto avisa:

— Se for uma armadilha, dou no pé e deixo todos vocês pra trás.

Todos nós pegamos nossas armas e apontamos para a porta, inclusive Zac. Gwen sobe em uma das mesas e se ajoelha, ficando em uma posição ameaçadora.

Terry está com a mão sobre a chave quando nos dá uma última olhada, verificando se estamos todos em posição. Ele enfim abre a porta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Duas pessoas entram, com as mãos erguidas, e eu uso a lanterna para que possamos vê-los: um homem e uma mulher. O trailer parece ficar ainda menor.

Ambos indicam ter cerca de 30 anos, e estão em péssimas condições: desnutridos e desabrigados há dias. Mesmo nessa situação, possuem certa beleza. De estatura média e incrivelmente magra, ela possui cabelos loiros e ralos, os olhos verdes muito claros olhando esperançosos para nós. Ela nos retribui com um sorriso envergonhado, porém surpreendentemente encantador, e um breve “Obrigada”.

Ele aparenta ser mais reservado, mas não consegue esconder o alívio de estar sob um teto, protegido da tempestade. Mesmo encharcado, seu cabelo escuro permanece alto e cheio. Ele nos encara com seus olhos cinzentos, mas não transmite ameaça. Também está muito magro, mas possui músculos notáveis; e é mais alto que a mulher ao seu lado.

Algo me chama a atenção: eles estão de mãos dadas, apoiando-se firmemente um no outro.

— Por favor, só queremos um lugar pra dormir esta noite – diz ele.

— Quais seus nomes? – pergunta Julie.

— Natasha – responde a moça. – E esse é Mark, meu noivo.

A informação é previsível, tanto pelas mãos dadas quanto pelos olhares que trocavam de vez em quando.

— Estão sozinhos? – indaga Terry.

— Estamos – responde Mark.

— Como podemos confiar em vocês?! – lembra Julie.

— Pelo amor de Deus, vocês estão em vantagem – choraminga Natasha. – É sério, só queremos comer algo e dormir, nos recuperar e retomar nosso caminho depois que essa tempestade acabar.

— Damos nossa palavra, juramos! – diz Mark. – Somos só nós dois.

Julie dá um risinho de desdém:

— Não é o suficiente.

— Entreguem as armas – pede Thiago.

Eles imediatamente fazem o que foi pedido. Jogam três facas médias e uma pequena arma de fogo, que não reconheço, no chão.

Quando ela está se desarmando,noto um leve brilho metálico sob sua blusa molhada e imediatamente o reconheço.

— O canivete também – digo.

Pela primeira vez, vejo em seus olhos o seu verdadeiro veneno, e ela arremessa o objeto para junto das outras armas, tentando esconder seu desconforto em estar totalmente desarmada.

Julie apanha as armas do chão enquanto Terry lhe dá cobertura, para o caso de o casal tentar algo. Quando ela recolhe todas, Terry fecha a porta e, naquele momento, sinto insegurança. Será algo de errado com os novos visitantes ou simplesmente minha cautela falando mais alto? Eu decido tirar minhas dúvidas muito em breve.