Morte aos Lobos

Capítulo 17 - Revolta


Debato-me desesperadamente, sem saber ao certo se estou batendo em pragas ou nos meus amigos. Soltei a mão de Thiago quando atingimos a água, e agora estou perdida no meio de um amontoado de corpos. Nado em busca de oxigênio, mas não consigo chegar à superfície. Sinto que algo está me puxando para baixo e quando vejo, é uma praga com um enorme calombo no rosto que está se agarrando em mim. Bato os pés até que suas mãos me soltem, e quando isso acontece, sigo para cima o mais rápido que posso. Respiro nervosamente, absorvendo todo o ar fresco que consigo. Já mais calma, busco meus amigos com o olhar. Terry está nadando para terra firme, mas está longe de mim; Julie o segue. Onde estão Thiago e Bob?

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A razão me pede para nadar até onde Terry e Julie estão, mas acho que esse não é o certo a se fazer. Ou será que é? Antes que eu tenha tempo para pensar demais, mergulho e procuro os dois. Bob está bem perto, tentando livrar-se de duas pragas. Vou até ele e damos um jeito nelas com as facas. Como ele está perto de desmaiar por conta da falta de ar, não perde tempo e nada até acima. Continuo nadando, indo ainda mais para baixo. É quando identifico Thiago, imóvel, caindo em direção ao fundo do rio.

Chego até ele em menos de dez segundos, mas preciso de muita força para tirar nós dois dali. Eu o puxo pela camisa, mas, sem sucesso, não saímos do lugar. Agarro sua mochila e me esforço ao máximo para tirá-lo dali. Fico descontrolada por não conseguir sair desta situação. Balanço Thiago com força, na desesperada esperança de que ele acorde. Nada.

Escuto um choque na água e noto alguém vindo em nossa direção. No primeiro momento, não sei quem é, mas, quando ele chega perto de nós, vejo que é Zac. Ele leva Thiago até a superfície, com uma incrível facilidade. Novamente na superfície, agora respiro aliviada. Eu e Zac levamos Thiago até a terra firme, e ele está muito azul. Fico nervosa ao pensar que talvez seja tarde demais. Começo a tremer. O que direi a Carol se ele morrer? Eu me culparia pelo resto dos meus dias por sua morte.

Terry pede licença e inicia uma massagem cardíaca. Une as mãos, deixando o corpo ereto e os braços paralelos entre si, e pressiona o peito de Thiago, para que a água seja eliminada de seus pulmões. Depois de muita insistência, Thiago finalmente espirra água da boca, voltando à vida. Noto que todos ficaram tão satisfeitos quanto eu. Quando ele se recupera, tira a bolsa das costas e senta. Nossos olhares se encontram e ele sorri. Mas ele se esvai por completo quando vê Zac ao meu lado.

Thiago é tomado por uma raiva que eu nunca presenciei, e parte para cima de Zac. Joga-se em cima dele, prendendo-o ao chão. Eu sei que Zac poderia sair dali se quisesse, mas não o faz.

— Onde está Carol? O que você fez com ela? — grita Thiago sem nenhum controle.

— Eu não sei nada sobre sua irmã — responde Zac firmemente.

— Se você tiver feito alguma coisa com ela, eu juro que corto você em mil pedaços! — berra novamente.

Fico extremamente chateada com a reação de Thiago, e apanho o colarinho de sua camisa, erguendo-o para longe de Zac. Quem ele pensa que é?

— O que você está fazendo, Thiago? — grito para ele. — Ficou maluco?

— Não sei como consegue confiar nele, Amy! Esse cara é uma farsa — diz apontando para Zac. — Ele se faz de vítima para esconder sua verdadeira face!

— Se faz de vítima? Você está escutando o que está dizendo? — devolvo. — Acha mesmo que uma pessoa que passou por tantas coisas ruins ainda é capaz de fazer o mal?

— Você acha mesmo que ele sofreu tudo isso? Pois eu não acredito nisso!

— Está estampado nos olhos dele! Tudo pelo o que ele passou, está claro! E sabe por que você não vê isso? — indago. — Porque você não sabe o que é sofrer!

— Como é que é?

— Foi o que você ouviu! Você foi criado a vida inteira com tudo que era do bom e do melhor, nunca precisou correr atrás de nada, sempre teve tudo de bandeja. Sua vida não se compara à de nenhum de nós — solto ao me lembrar de tudo o que Thiago um dia me contou sobre ele.

— Você fala de dinheiro, mas eu acredito que uma pessoa que passou anos rodando o mundo tenha tido riqueza o suficiente para fazer tal coisa.

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— Não venha jogar isso na minha cara. Eu e meu pai viajamos em condições precárias, em um carro de segunda mão. Muitas vezes deixávamos de comer para comprar gasolina e continuar com nossa busca.

— Ao menos você tinha seu pai — diz ele amargamente. — Meus pais não eram presentes, eles passavam o dia no trabalho e, quando estavam em casa, queriam distância de mim e de Carol. Por que acha que eu e ela somos tão próximos? Sempre fomos a única família um do outro. Quando essa epidemia começou, meus pais viajaram com o governo, nos deixaram para trás para morrer. Eu não tive uma vida tão boa quanto você imagina!

Ele pega a bolsa do chão, raivoso, e segue em direção às árvores que estão na nossa frente. Julie, Terry e Bob vão atrás dele. Mas eu fico sem reação, totalmente crente de que o que acabara de acontecer não era necessário. Zac ao menos está do meu lado.

— Desculpe — sussurro.

— Vamos — diz ele. — Não podemos ficar muito longe deles, não é seguro estar separado de seu grupo.

— Será que ainda somos um grupo?

— Vocês não vão se separar por causa disso. Eu sei que não.

Nós os seguimos, mas Zac vai à frente, e eu fico na retaguarda, sozinha. Penso no que acabou de acontecer. Thiago tem razão, eu tinha meu pai enquanto ele não tinha amor de mãe e pai nenhum. Carol ainda tinha e tem ele como sua figura paterna. Mas como eu disse, ele teve uma excelente vida, nunca passou fome e dificuldades. Não. Esse tipo de pensamento é errado. Ele não tem culpa de ter nascido na família que nasceu, não é como se ele pudesse escolher. Conhecendo-o bem, sei que não se orgulha muito de ter lutado tão pouco para conseguir as coisas sem ajuda de dinheiro e status. Eu errei muito com Thiago hoje, assim como ele errou com Zac. Estou arrependida, assim como ele talvez esteja. Esperarei o momento certo para pedir desculpas a ele.

**

Estamos andando há mais de duas horas, em um caminho sem rumo. Conversamos muito pouco, pois o clima entre nós continua pesado e triste. Ainda não sei como me desculpar com Thiago, mas ele também não parece interessado. Mais à frente, vejo que Thiago e Julie estão tocando o solo, provavelmente viram algo. Quando me aproximo, vejo uma poça de sangue, onde o sangue está quase seco. Um rastro de sangue continua pela floresta, e nós o seguimos.

Aparentemente, houve uma briga por aqui. O chão está cheio do líquido vermelho, e com muitos buracos que indicam a luta. Depois de muitos metros, enxergamos um tecido largado no chão, encharcado de sangue e sujeira, e foi todo rasgado por compridas garras. Quando Thiago o ergue, vemos que é o casaco de lã que Caroline usava quando nós a vimos pela última vez.

Thiago corre, aflito, ainda seguindo o rastro. Daqui escutamos a corrente de um rio. Quando chegamos nele, uma praga está morta perto da beira, com uma faca presa no crânio. Terry a puxa e temos a certeza: a faca é de Carol. Mas nenhum sinal dela. O que sabemos: ela conseguiu matar o moribundo, mas teve muita dificuldade nisso, e está muito machucada, talvez correndo risco de vida. É quando Thiago desaba no chão, chorando.