“Lembre-se, você nunca será traído por inimigos. O verdadeiro perigo está bem a sua frente.”

– Você disse que me amava! – Gritava Rebecca, enquanto Moody tinha sua varinha apontada para a testa da garota. – Seu traidor desgraçado. – Aqueles olhos azuis penetravam em sua alma de um modo indecifrável. Ele estava prestes a lhe matar.

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– Não era amor minha querida... era vingança. – Uma gota de suor caiu cuidadosamente no chão batido. A ponta do penhasco mostrava-se prazerosa e retumbante. A lua completava aquele cenário de amor e ódio. – O que você fez é algo irreparável. – Becca chorava como criança. Moody não sabia se eram lágrimas de raiva ou arrependimento. – Não tenho mais nada para fazer... a não ser, isso! – Ele pressionou a varinha contra a testa da jovem, e uma só palavra mudou tudo:

– Obliviate! – Tudo virou cinzas.

. . .

Rebecca acordou desesperada. Aquele sonho parecia tão real. Se Moody descobrisse a verdade... aquele sonho seria fato. A garota olhou ao redor. Seu amado repousava frio no chão úmido. A única coisa que ela lembrava era de um homem encapuzado. Um assassino de sangue frio. Moody estaria morto? Na verdade não importava se ele estaria vivo ou não. Ela fracassou. A missão foi para o ralo. Pessoas morreram... Elizabeth, Robert, Moody. O desespero tomou conta da jovem. Os olhos dela varreram o recinto. A única coisa que dava para observar era a cadeira que ficava próxima a janela. A luz da lua contornava os traços da madeira antiga.

A menina desceu as escadas rapidamente. Sua varinha já havia sido apanhada. Ele me desarmou, mas deixou a varinha aqui. A cada momento o assassino lhe parecia mais estranho. Ao chegar no térreo o corpo de Elizabeth jazia no chão frio. Uma pontada de vingança tomou conta da bruxa... mas foi apenas uma pontada e nada mais.

Becca deu um chute na porta que dava acesso ao grandioso jardim. Lá fora a umidade entrou pelas pequenas narinas da adolescente. Uma chuva estaria preste a cair. Junto com a chuva vinha uma rajada de vento. Os cabelos vermelhos da moça esvoaçaram. A mansão Tuck as suas costas... era um aviso. Um presságio do que estava por vir. Aquele lugar sempre esteve com as luzes acesas. Hoje o breu era total. A luz que acendera no quarto de Robert foi apagada por um homem sem princípios. Um assassino que agora podia estar em qualquer lugar.

A vassoura velha de Batilda Bagshot aguardava Rebecca bem ao lado dos destroços do portão de entrada. Ela agarrou-se ao utensílio e partiu... rumo ao irreconhecível.

. . .

A muitos quilômetros de distância um garoto sem escrúpulos adorava seu mais novo artefato. O grande dia chegou. Hoje o mundo irá conhecer meu nome. O adolescente alto caminhou calmamente por entre os turistas e moradores bêbados. Paris nunca fora tão bela. O Louvre estava bem ali. Eiffel dominava pioneira o céu negro Parisiense. O Império de Napoleão. O trono que hospedara diversas revoluções. De Jacobinos a Girondinos. Aquela era Paris. O cenário perfeito para um colapso mundial.

Ele inalava o cheiro dos perfumes caros. O cheiro do poder material. Comparado ao que ele carregava os perfumes e os francos não eram nada. Absolutamente nada.

Tenho que ser breve, as pessoas não podem me ver, pensou o assassino. Mas era quase impossível sair despercebido daquela multidão. Sua roupa negra fazia com que o seu perfil fosse causador de desconfiança. O pátio estava lotado. A sua frente uma catedral cheia de estatuas, gárgulas e santos lhe esperava ansiosamente. No interior da basílica encontrava-se o seu futuro. O futuro de toda a humanidade. Em suas mãos suadas uma chave persistia em ficar presa. Aquela era a chave que abriria uma era de temores. Os temores que ele mais desejava que existissem.

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O som de badaladas foi mais que um sinal para que o jovem assassino percorresse os metros que o separava do destino final. Alguém incitou os sinos... Notre-Dame lhe acolhia de braços abertos.

. . .

– Fredy! Fredy! Acorde! – Os olhos verdes de Marco fixavam-se nos de Moody. – Levante! – A cabeça do jovem orbitava em um mundo inexistente. Seu cérebro parecia não estar ativado. Um braço forte agarrou-se aos seus fracos e sensíveis. Seu melhor amigo o puxava para a realidade. – Você está mal... muito mal.

Alastor levantou e demorou alguns segundos olhando para Marco. A lembrança de seu melhor amigo agarrando sua amada surgiu imediatamente, vinda como um torpedo de seu subconsciente. A vontade era avançar no pescoço dele. Soca-lo até a morte. Foi então que bem ao lado de Marco algo lhe incomodou... O corpo de seu pai posicionava-se imóvel no chão molhado de orvalho. Um balde de água fria caiu sobre a cabeça do rapaz. Não foi um sonho.

– Moody... eu sinto muito. – A raiva que ele sentia por Marco se esvaiu. O amigo foi em direção a Alastor. Com um abraço apertado a paz estava selada... por enquanto. – A cidade inteira está lá fora. A polícia não chegou ainda e ninguém se atreveu a entrar na casa. Eu fui o único... eu sei o que aconteceu aqui... eu sei quem fez isso.

Como assim ele sabe o que aconteceu aqui? Ele estava agarrado com a Rebecca na praça central. Traidor... A raiva regressou instantaneamente. Junto com ela veio a dor da perda. O medo de que mais alguém tivesse morrido. Eu falhei... o assassino fugiu. Na noite passada, ao chegar em casa, o garoto deu de cara com o corpo de sua mãe. Elizabeth, a durona, havia caído. Subiu as escadas... alguém estava lá em cima. E não era só seu pai. Foi então que tudo aconteceu. Assim que ele adentrou no quarto do patriarca Tuck um feitiço lhe atingiu. A única coisa que ele viu foi uma cadeira balançando e uma capa preta esvoaçando a luz do luar. Depois disso, tudo era breu.

– Como assim você sabe quem fez isso? – Marco não hesitou. Sua boca mexeu com uma sensatez incrível.

– Eu estava na praça... assistindo o show da Joana. Foi então que escutei uma explosão. Eu olhei ao redor e ninguém parecia ter escutado aquilo. Todos só prestavam atenção na sua prima – Moody alternava seu olhar de Marco para Robert... Estirado no chão... Seu pai passou meses doente. Ele sabia que um dia a morte chegaria, mas nunca imaginara que seria daquela forma. – Eu pelo contrário, notei que algo estranho tinha acontecido. Sai da praça e fui em direção a rua principal. – É claro... ele viu de longe. O grande problema, ou a solução de Fulford era esse... de um ponto você poderia observar o vilarejo inteiro. A mansão Tuck ficava sobre um grande monte. Qualquer um que estivesse na praça poderia ver o que acontecia ali. Mas a noite era de festa... ninguém perceberia. O assassino foi muito inteligente. – Eu olhei adiante e vi o portão de sua casa destruído. Tive medo de vir... mas uma coisa chamou minha atenção. Ou melhor, uma pessoa.

Passos surgiram no corredor. Aparentavam ser de duas pessoas. Marco estancou. Em questão de segundos os raios do sol se encontraram com os cabelos vermelhos de Rebecca. Ao seu lado estava Brian, o irmão mais novo de Moody. O rapaz de quatorze anos chorava como um bebê. Alastor correu em direção ao irmão... o abraço mais reconfortante de toda a sua vida, foi isso que Moody sentiu.

– A mamãe... Fredy, a mamãe... – Os olhos verdes de Brian percorreram o quarto e pararam no cadáver no fundo do recinto. - Não! Não pode ser! – Brian era mais alto de Moody, mas naquele momento parecia ser o menor dali. Choramingava no ombro do irmão mais velho. – Quem fez isso... Vai pagar!

– É claro que vai. Ele... ou ela... vai pagar. – Seu olhar fugiu de Brian para Rebecca. Ela estava com roupa de dormir. Os cabelos bagunçados. Tudo o que ele mais queria era abraçar ela... mas ela o traiu. – Marco... você pode levar o Brian lá para fora? – O rosto de Marco demonstrou a recusa que veria a seguir. Mas Moody foi mais rápido. – Por favor. Eu sei me virar. Leve ele até a Tia Romilda.

Marco segurou o ombro de Brian. Eles tinham a mesma altura e quase o mesmo peso. Fortes e robustos. O incrível é que tinham a mesma idade... mais novos que Moody um ano, mas aparentavam ser mais velhos que ele quase quatro anos. – Venha Bri! – Os dois saíram do quarto e deixaram Rebecca e Frederick sozinhos.

A garota estava prestes a se pronunciar, até que o rapaz deu as costas para a porta e consequentemente para ela. Moody foi em direção ao cadáver do pai. Os olhos do quarentão Robert Tuck se escondiam atrás das pálpebras. Um herói... o meu herói . Alastor beijou a testa de seu amado pai. Tirou um lenço do bolso e pousou no rosto do homem a sua frente. Alisou pela última vez o cocuruto calvo de Robert e deu as costas para o corpo. Ele se foi... é minha obrigação vinga-lo.

Rebecca já tinha deixado o arco de entrada a segundos. Agora ela estava bem ao lado de Moody. A garota abraçou-lhe. Aquelas mãos suaves eram a partir de agora seu refúgio. Sua fortaleza...

– Vai dar tudo certo. – A voz suave e angelical de Rebecca fez com que a sua tontice passa-se. Na rua um barulho de sirene alertou a presença da policia. Ele não queria se desvencilhar dos braços de Becca... mas foi preciso. Os dois desceram a escada ladeada de mármore. Moody pode ver o corpo de sua mãe coberto por um lençol branco. Ele não fazia ideia de quem teria arrumado aquele lençol... poderia ter sido o Marco. O garoto evitou olhar para o corpo estendido. Partiu em linha reta rumo à porta de entrada. Rodou a maçaneta e enfrentou a luz do amanhecer. Lá fora ele pode ver toda a Fulford em busca de respostas. Pessoas sem ter o que fazer. Um homem vestido de preto dava ordens para que seus subordinados isolassem a área. O idiota trouxa não vai encontrar nada aqui, pensou Moody.

Ele andou em direção ao casal que nesse momento descia os degraus de pedra da mansão.

– Olá senhor... – Ele tinha olhos negros. Cabelo espetado e dentes amarelos. Um cheiro de peixe estragado veio junto com ele.

– Senhor Tuck. Frederick Tuck. – Alastor respondeu e trocou olhares com Rebecca.

– Bem Sr.Tuck... meu nome é Bertrand Stadtlober. Mas pode me chamar de Inspetor.

. . .

Algumas horas antes de Frederick Tuck se acordar na mansão de seus pais em Fulford, Inglaterra... Algumas horas antes de Rebecca sair desesperada daquela casa, sem que ninguém a descobrisse como bruxa... Algumas horas depois de chegar em Paris, o assassino já tinha adentrado na catedral de Notre-Dame. Tenho que ser breve, ainda tenho coisas para resolver em Fulford. Centenas de pessoas lotavam a última missa daquele dia. O relógio marcava nove da noite. O dia certo. A hora certa. O grande número de pessoas facilitaria a ação daquele pervertido. Elas estão na palma da minha mão.

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Ele caminhou como um falcão rasante por entre os presentes. Um pobre padre levantava a hóstia no altar bem a sua frente. Com um latim perfeito, o padre falou:

Et ad tactum cinis peccatum dominus- O idoso baixou a hóstia e olhou adiante, para todo os seus fiéis. Mas ele conseguiu perceber que alguém em meio as crianças bem vestidas e os pais compromissados parecia estranhamente familiar. Era ele... o garoto tinha descoberto a verdade. Oh mon Dieu, falou o padre em foz alta. A igreja surpreendeu-se junto a atitude do padre que quebrara o ritual da comunhão. Todos encararam o alto sacerdote e seguiram sua linha de visão... mais de três mil pessoas pousaram seus olhos frenéticos em um rapaz de capa negra e cabeça encapuzada. Ele notou e decidiu agir rapidamente.

– Adieu... mon oncle – Adeus, meu tio... falou ele em alto e bom francês. As pessoas adivinharam o que viria a seguir. O rapaz tirou um pedaço de madeira do interior das vestes. Media cerca de trinta centímetros. Apontou para o padre que por anos fora seu tio... que tanto lhe amara. – Avada Kedavra! – Um jato de luz verde acertou o sacerdote e nesse momento Notre-Dame parecia pequena. As pessoas tentavam sair aos montes... mas o assassino foi mais rápido.

Propinquus. – Gritou o louco de capa preta. Todas as saídas de Notre-Dame lacravam-se gradativamente. Crianças choravam. Pais seguravam seus filhos o mais forte que podiam. O pior estava por vir.

– Bonsoir, amis français. – Boa Noite, amiguinhos franceses, disse ele com deboche. - Ce soir, vous assisterez à un fait historique. – Com uma voz grave ele tinha dito: Hoje a noite vocês presenciarão um fato histórico. - Vous verrez le début de la fin – Vocês verão o começo do fim. As palavras le début de la fin pairaram no ar com um tom cortante. Todos, sem exceção, tinham seus olhos virados para o louco.

O homem deu as costas para o público. Caminhou até o altar. Passou por cima do corpo de Monsieur Gerard. Avistou os coroinhas tremendo desesperadamente, e sorriu desdenhosamente. Seu rosto estava coberto, ninguém conseguia identificar a verdadeira identidade daquele ser. A varinha continuava empunhada na mão direita. Chegou o momento... você vai conseguir, pensou ele junto a sua bipolaridade. O jovem retirou a chave de seu bolso. A chave que ele roubara há quase duas horas. Aquele idiota caiu como um bebê.

Ele deu mais dois passos e encarou um homem pendurado em uma cruz de madeira. Uma estátua que representava o maior sacrifício da terra. O rapaz ajoelhou-se diante da magnitude do grandioso objeto.

– Pardonnez-moi, monsieur. – Perdoe-me, senhor, disse ele. A chave presa à mão esquerda. Ele visualizou uma abertura no altar. É ali que as coisas mudarão. A mão suave do assassino pousou a chave no interior da abertura e girou. O encaixe estava perfeito, mas para sua surpresa nada aconteceu. O que ele temia havia se concretizado. O jovem olhou para trás. Três mil franceses retribuíam os olhares de ódio e medo. Ele levantou sua varinha e gritou:

– Accio vassoura! – A porta central da catedral se abriu e uma vassoura pousou como um raio nas mãos do assassino. Ele segurou a vassoura junto a sua varinha, e com a mão esquerda retirou a chave do altar. Passou uma perna sobre o objeto voador e partiu. Rumo a Fulford, novamente. Se tivesse sorte chegaria lá ao amanhecer. Deixou os trouxas sem explicação e uma tarefa e tanto para o ministério da magia. O céu noturno e seu vento gélido lembraram ao maníaco que a missão parecia ser mais difícil do que ele pensava. Como ele desconfiara desde o princípio... a chave só funcionaria se seu guardião a usasse... Moody ainda estava em Fulford. Aquela história estava apenas começando.