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Capítulo QUARENTA E TRÊS


Capítulo
QUARENTA E TRÊS

Durante os quatro dias que passaram em Forks Edward não ligou uma única vez. Não fez questão de mostrar o quão zangado ele devia estar e prestes de cumprir a sua ameaça de tirar os filhos dela.

Bella não sabia como conseguiu ficar longe daquele celular, do celular que Alice tinha lhe dado e que desde então, desde a última conversa delas antes dela arrumar tudo e seguir com o carro alugado até o aeroporto, ainda continuava em algum lugar na mochila. Bem longe dela.

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Bella não imaginava que teria sido tão fácil se afastar. Quando ela nem ao menos imaginou que conseguiria e que ficaria tanto tempo, sem saber se poderia voltar. Se os planos de que tudo ficasse bem realmente se realizassem.

Não existiam mais sonhos, não quando suas esperanças, sua vida tinha sido estraçalhada da maneira que a sua tinha sido.

Ela nunca tinha pedido por aquilo. Deixar Nova York não foi uma opção, mas uma escolha, assim como a que a tinha feito deixar tudo para trás em busca de algo melhor, do outro lado do país, do lado aonde os sonhos se tornavam realidade.

A verdade é que ninguém te conta é que seus sonhos também podem se tornar pesadelos, pesadelos reais.

Benjamin tinha acordado com um incômodo forte na barriga, choramingando quando Bella acordou, assustada. Ela mão tinha conseguido pregar os olhos a noite noite, e se tinha conseguido fazer aquilo, foi por alguns minutos.

Afastando a coberta de cima do seu corpo que usou para se cobrir durante a noite, ela desceu da sua cama e foi até as duas pequenas camas que Charlie tinha montado para os netos a poucos passos da sua antiga cama.

Ainda chovia lá fora, Bella conseguia ouvir o barulho da janela chacoalhando conforme o vento ficava mais forte.

Bella viu que Noah continuava dormindo, com o cobertor enrolado em seu corpo, enquanto Ben parecia se contorcer na cama, em um pesadelo do qual ele queria acordar.

— Ben? - Bella chamou se sentando na cama e segurando na mãozinha do filho que chorava de olhos fechados com as duas mãos sobre a barriga. - Ben? - ela chamou de novo, quando ficou mais apreensiva porque ele não parecia ouvi-la.

Ele gemia enquanto respirava, e parecia estar tendo um pesadelo.

Bella sentiu algo molhado no pijama dele quando pegou Benjamin no colo. Ele continuava chorando, de olhos fechados, mesmo agarrado ao pescoço de Bella como ele estava.

Bella já tinha puxado o lençol da cama ainda com Ben em seu colo, quando o jogou no chão frio. Ela precisava limpar aquilo, mas antes ela precisava cuidar do seu filho.

Ainda estava escuro lá fora quando Charlie adentrou o quarto, batendo na porta antes quando viu Bella com um dos netos no colo, chorando.

Bella chorava também, e aquilo quebrou Charlie em maneiras que ele nunca achou ser possível, nem quando se despediu dela anos atrás. Mas forte como Bella era, a filha simplesmente balançou a cabeça e pediu que Charlie a ajudasse a acordar Noah e arrumar as coisas deles. Eles estavam indo embora. Ela sabia que precisava ligar para Edward, e ela não queria fazer aquilo - ele deveria ser a última pessoa a quem ela pensaria em ligar -, mas ele era o pai, e era por ele que Benjamin chamava, ainda preso a seus braços. Mas ela também ligaria para Alice.

Ela nunca mais estaria sozinha.

Ela já tinha dado um segundo banho em Benjamin, não porque a dor não tinha passado, mas porque ele tinha vomitado duas vezes seguida em si mesmo. Aquele líquido tinha ido embora com a água que escorria pelo ralo da banheira e tinha se misturado as lágrimas dos dois.

Lágrimas que continuavam escorrendo pelos seus rostos, enquanto Bella se sentou no chão do banheiro frio, com o vapor que ainda tomava todo o banheiro.

Bella nunca tinha se sentindo tão vulnerável como estava se sentindo agora, com Ben enrolado em uma toalha que Charlie tinha trazido para ela, dormindo em seu colo, ainda gemendo e com lágrimas que ainda escorriam pelo seu rosto, enquanto ela olhava para o celular em sua mão.

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Ela já tinha ligado para Alice, que preferiu não lhe bombardear com nada sobre o que tinha acontecido nos últimos dias, optando por deixar com que Bella falasse, seja lá o motivo que a tenha feito ligar aquela hora.

Bella lhe contou o que estava acontecendo, e claro que Alice tinha dito que era uma péssima ideia ligar para Edward... ele talvez não estaria em casa e dificilmente seria capaz de encontrar o celular, não o que ele tinha quebrado quando o arremessou contra a parede quando se encontrou com Alice.

Claro que o se encontrar de Alice era uma maneira de minimizar as consequências da sua fuga, e aquilo fez Bella se sentir muito mais ansiosa do que já estava.

Bella estava nauseada, com a boca seca e sentia o aumento das batidas irregulares do seu coração. Ela demorou para saber que esse último sintoma não era algo bom. Nenhum deles eram.

Alice sabia ser discreta e manter a boca fechada quando queria, mas não hoje.

— Bella, o Ben só deve estar cansado, ele vai ficar bem, ele já teve isso antes.

Alice não disse aquilo de uma maneira relaxada, mas sabia o que Bella estava querendo fazer. Estava prestes a desistir dos passos que a trouxeram até ali, e aquilo não era um bom sinal.

— Alice, dessa vez é diferente - Bella se argumentou, se lembrando dos gemidos e do vomito e de como ele não parava de chorar, mesmo dormindo em seus braços como estava agora.

— Ok, talvez isso faça aquele idiota acordar e ver todo o mal que ele fez não só pra você, mas para os filhos também.

Bella passou a mão nos cabelos, afastando o celular do ouvido quando soltou um suspiro longo e um soluço que não conseguiu conter, assim como as lágrimas queimando o seu rosto. Ela queria se acalmar, mas aquilo era muito difícil. Ela tinha mantido o controle pelos filhos, mas aquilo era muito difícil. Era tão mais fácil deixar que os outros decidissem.

Então Alice disse para ela tentar ligar para o escritório e deixou um alerta antes de desligar: que Bella não confiasse em nada do que o irmão poderia falar para convencê-la de que tinha feito uma coisa errada.

— Ainda não acabou, mas não se esqueça de que você não tem culpa de nada.

Já eram mais de 3 horas da manhã em Forks, e em Nova York devia ser meia noite e quando ele atendeu, Bella não sabia mais o que falar. A voz tinha sumido, e as batidas do seu coração estavam misturadas a sua respiração ofegante que ardia em seu peito, como o fogo. Em chamas. Em dor. Aquilo não podia ser bom.

Tudo o que lhe causa dor, senão for pra superar, então lute contra e não se renda.

— Alô - sua voz estava muito baixa, como se ele tivesse atendido o telefone no viva voz e estivesse distante. A voz estava arrastada, lenta, quase como se fosse muito difícil falar.

Bella escondeu seu rosto na toalha que cobria e aquecia Benjamin em seu colo e ela reprimiu o grito do seu peito, incapaz de soltá-lo. Um grito desesperado por todos aqueles anos de promessas inúteis e mentirosas.

Bella quis gritar que se eles estavam naquela situação, se ela tinha fugido - sim ela tinha fugido, não tinha como tentar se enganar mais - e vindo até Forks, pelo o tempo que fosse, seja para pensar, seja para proteger ela e os filhos era por culpa dele, assim como Benjamin estar ali, em seus braços, tendo uma crise, um ataque era por culpa dele. A sua ansiedade que reavivava medos vividos era por culpa dele também. Somente dele.

Mas ela conseguiu reprimir, e tentou puxar o ar que escapava dos seus pulmões continuamente, não conseguindo afastar o celular a tempo, antes que ele pudesse ouvir.

— Bella... - ele chamou, inseguro, agora muito perto do aparelho, sua respiração se misturando ao angustia que ele devia estar sentindo. Bella não duvidava daquilo. - É você?

Era tão fácil chamá-la pelo o apelido quando ele não queria machucá-la, quando ele dizia que não queria fazer aquilo, quando ele simplesmente se afastava completamente perturbado e voltava, horas depois, como se nada tivesse realmente acontecido. Como se ele não tivesse quebrando um pouco mais dela.

O que era fácil para ele, era mil vezes pior para ela, porque ela não ouvia mais a voz do homem que amava, mas sim a voz de um monstro que tinha tirado tudo dela. Um monstro ao qual ela tinha entregado tudo, sem medo, sem ressalvas, sem precedentes quando já tinha esgotado as suas forças em se manter longe quando um dia teve a chance. Algo que devia ser normal entre qualquer casal, normal se Edward Cullen não tivesse escondido todo aquele tempo sobre a sua razão em continuar com aquilo, com aquela farsa.

O que o motivava, Bella desconhecia.

Mas realmente importava? Faria alguma diferença saber? Ela não tinha a resposta para aquilo.

Apesar de tudo, ele tinha lhe dado duas pessoas pelas quais merecia lutar e não desistir. Era por eles que Bella se levantaria. Se ergueria.

— Eu quis te dar o tempo que você precisava... Mas eu estava ficando maluco... - ele disse, sabendo que era ela do outro lado.

Ele devia estar pensando que ela estava ligando por sentir saudades. Se fosse há um tempo atrás, e mesmo agora, com todas as suas inseguranças, ela teria dado razão para ele.

Bella quis rir, ainda sentindo as malditas lágrimas queimando o seu rosto. Ben agora parecia respirar com um pouco mais de tranqüilidade em seu sono, quando ela enxugou as lágrimas dele que já começavam a secar, com a toalha.

Ela quis rir sobre o que ele tinha acabado de dizer.

Ele estava lhe dando um tempo. Um tempo para quê? Para ela pensar se estava fazendo a coisa certa? Se deixá-lo tinha sido a coisa certa? Não. Bella sabia que tinha deixado aquela mansão, tinha pego aquele voo porque ela queria provar para si mesma que era possível, era possível quebrar as correntes que a prendia a Edward - ela só não esperava que ter ignorado o fato de que realmente estava fugindo a faria perceber que realmente nunca mais voltaria.

— Edward - ela falou quando ele ficou em silêncio, incapaz de dizer qualquer outra coisa, ou de pedir desculpas, de falar mentiras que ele esperava, como das outras vezes, que ela acreditaria. - Benjamin não está bem.

Nova York podia representar tudo o que Bella não conhecia, mas era lá que ela teve os seus filhos e era o único lugar no mundo que eles queriam estar.

Fugir nunca era uma opção. Não quando você achava estar sozinha e que ninguém mais se importava com você. Mas tinha sido a opção que fez Bella se afastar enquanto ela ainda desconhecia os resultados.

— Eu preciso ir pai - Bella puxou a única mala que tinha trazido para fora e viu quando o motorista desceu do carro para colocá-las no bagageiro. Um carro preto que os esperava na entrada de carros da casa de Charlie, um homem desconhecido contrato em uma dessas empresas de motoristas particulares qualquer em Port Angeles por Edward Cullen. O motorista de terno preto e de cabelos grisalhos os levaria até o aeroporto.

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O dia não estava longe de amanhecer quando Charlie se aproximou dela com Bella olhando para os filhos já dentro do carro. Apenas Noah estava sentado, um pouco sonolento, mas acordado enquanto Benjamin estava deitado, com as pernas para a porta do passageiro fechada Charlie já tinha se despedido dos meninos, mas só faltava a filha.

— Eu sei que errei Bella. Errei em deixá-la sozinha, quando eu...

Bella balançou a cabeça e uma lágrima escorreu pelo seu rosto quando ela abraçou o pai e disse que o amava e que ele nunca tinha errado, diferente do que um dia ela podia ter pensado, e do que Charlie ainda carregava, mesmo depois de tanto tempo.

Charlie acenava do asfalto enquanto o carro se afastava pela rua escura, iluminada pelo farol do carro e pelos postes de luz que logo dariam espaço para o novo amanhecer quando Bella se recordou, sem querer, de como Charlie tinha tornado tudo muito difícil depois do seu casamento, mas ela nunca o culparia. O laço de pai e filha era muito mais forte do que eles poderiam imaginar, e nenhuma separação foi capaz de destruir aquilo. Bella tinha certeza, senão ela nunca teria escolhido Forks para ser o seu refúgio - uma cidade que sempre chovia, não importava a época do ano que estivessem, mas que como agora, com o sol saindo de trás das nuvens espessas Bella só conseguia pensar que estava indo embora pela segunda vez. Estava deixando tudo novamente para trás, mas agora, diferente do que tinha sido da última vez, ela não se deixaria vencer pelas dificuldades, pelos sacrifícios e principalmente pelo medo que teria que enfrentar. O medo que era mais fácil abaixar a cabeça e se deixar ser tomada por ele, a lutar.

O carro preto envidado por Edward ganhava velocidade e ela sabia que não existiria um amanhã sem escolhas e decisões a serem tomadas, por mais difíceis que elas fossem.

***

Fugir nunca tinha sido uma opção, ela sabia disso porque ela sabia que não tinha acabado, ela tinha que voltar.

— Mamãe - Noah a chamou, deitado em seu colo com as pernas para a porta do segundo carro que Edward tinha alugado para buscá-los no aeroporto de Nova York. Benjamin ainda estava adormecido, os dois com a cabeça em seu colo, e ele só tinha acordado uma única vez durante o voo.

Bella acariciava o cabelo liso dos dois e aquilo a distraia enquanto o carro ganhava a estrada ao redor da ilha de Manhattan.

— Já estamos chegando Noah.

Ela não reconhecia a sua voz. Não queria ter falado naquele tom sério que usava quando estava brava. Na verdade ela estava cansada. Algo estava errado com Ben, e Bella não conseguia parar de olhá-lo e chorar, e Noah parecia entender tudo aquilo. Ele só queria chegar em casa, para tudo o que ele conhecia, e para tudo o que Bella queria esquecer.

Eles não estavam indo para a mansão, o voo particular que Edward tinha reservado as pressas fez com que eles chegassem ainda de manhã em Nova York, e agora eles estavam indo para o hospital.

Não era algo que Noah pudesse entender.

Eles estavam ali tão rápido devido as influências de Edward. Ela tinha ligando para ele porque sabia disso. Tinha pedido a ajuda dele porque pelos filhos, ela sabia, ele faria tudo. Era uma pena que as coisas tinham chegar ao ponto que chegaram para que ele esquecesse a raiva de ter sido enganado, como com certeza ele devia estar se sentindo.

Quando ela deixou Nova York, Bella tinha deixado tudo para trás dizendo que seria por pouco tempo, que não seria para sempre, mas agora ela voltava para Nova York como uma outra pessoa. Alguém que os seus filhos teriam orgulho quando eles tivessem idade o suficiente para entender aquilo.

***

Nova York, um dia, podia representar tudo o que Bella não conhecia, assim como também o seu pior pesadelo. Mas era lá que ela teve os seus filhos e aquele era o único lugar no mundo, naquele momento, que eles queriam estar.

Mesmo que fugir nunca tinha sido uma opção, para Bella era uma estratégia, um forma de sobreviver. Mas agora era a hora de encarar o seu pior pesadelo. Ao se afastar ela queria acreditar que tinha conseguido resgatar tudo o que tinha perdido, o controle sobre si mesma, sobre a sua vida, e quando ela o viu em pé parado perto da recepção enquanto os enfermeiros tiravam Benjamin do carro, o mesmo que tinha ido buscá-los na saída do aeroporto de Nova York, ela viu medo em seus olhos. Diferente do que tinha sido durante aqueles anos, ela viu medo real nos olhos dele.

Velhos fantasmas assombravam aqueles olhos, mas talvez, pela primeira vez ele se sentia vulnerável e apreensivo com o que poderia acontecer agora.

Os enfermeiros levaram um Benjamin desperto na maca. Ele tinha acordado com aquele movimento todo, e aquelas pessoas a sua volta - algo que nem Bella foi capaz de fazer, nem mesmo quando eles estavam próximos a aterrissaram em Nova York e Bella se lembrou de como Benjamin gostava de sentir a sensação da pressão puxando-o pra baixo.

— Papai, mamãe - ele chamava enquanto ainda estava sonolento.

— Aqui filho - Edward se aproximou, acordando do seu transe e letargia momentânea e do seu choque com a cena que se desenrolava a sua frente, e sobre tudo o que ele não seria capaz de controlar daqui pra frente.

Bella viu quando ele segurou a mão do filho, enquanto ela apertava Noah em seus braços. Este sim não tinha dormido durante a viagem inteira, até que chegaram em Nova York quando ele fechou os olhos, terrivelmente cansado. O que ele podia estar fazendo, tentando afastar o cansaço, Bella não sabia. Talvez dormir custasse para ele, quando ele não podia ter certeza se teria sonhos bons ou ruins.

Ela beijou o cabelo do filho, respirando o seu cheirinho calmo e tranquilo, implorando em silêncio que Ben pudesse voltar aos seus braços logo.

***

Noah não estava mais com eles. Esme tinha chegado com Carlisle e o levou rapidamente.

Alice também estava lá, mas depois dos abraços do encorajamento e das palavras de que Benjamin ficaria bem, ela pediu uma última vez que Bella se afastasse.

Edward tinha saído para pegar um café para ele, quando Bella recusou com um leve aceno de cabeça a oferta de que eles fossem juntos.

Esme já tinha ido embora, e antes tinha pegado Bella de surpresa, abraçado-a tão forte, que era quase como se ela tivesse sentido os braços da mãe a sua volta, confortando-a.

Palavras não eram necessárias em momentos como aqueles, não quando atitudes falavam por si só, não quando você sentia o apoio das pessoas que amava. Bella tinha achado que estava sozinha, mas ela estava enganada, desde o começo.

Depois do que pareceu uma eternidade desde que Benjamin tinha entrado na sala de exames acompanhando pelo seu pediatra e mais alguns especialistas, Bella conseguiu respirar.

O médico que estava cuidando de Ben tinha descartado algo mais sério depois do resultado dos exames em mãos.

Agora eles estavam juntos na sala de luz amarela e confortável, onde ela e Edward estavam sentados em poltronas estofadas com uma mesa redonda de centro com tampo de vidro, com café, suco e água sobre uma bandeja de prata, enquanto o médico, diferente do que Bella poderia imaginar, tinha arrastado a sua cadeira giratória para ficar mais perto deles, esquecendo a sua mesa habitual de trabalho.

Bella desconfiava que aquilo era para deixá-los mais tranquilos e também, agora que ela já sabia do que se tratava, porque o médico não sabia muito bem como perguntar, como abordar o que ele precisava confirmar.

Ele tinha sido o médico dos meninos desde sempre, desde que eles tinham nascido, e ele desconfiava sobre o que acontecia naquela mansão, á poucos quilômetros de onde ele também morava.

— Bom, vocês podem ficar tranquilos - o pediatra continuou. - Ben está bem e agora dorme no quarto. Ele ficará apenas essa noite em observação e amanhã vocês podem levá-lo para casa, e não será necessário nenhum remédio, pelo menos é o que esperamos.

O médico abaixou os olhos para a mesa onde ele já tinha deixado os exames de lado e olhava para o café e a água intocados, com receio.

Bella reconhecia aquilo.

A vergonha que ela sentia naquele momento não poderia ser maior. Ela cruzou as pernas e com a ponta dos dedos enxugou seus olhos, olhando para o chão, quando ela viu pelo canto do olho Edward fazer um movimento involuntário com a mão para tocar o seu braço, mas Bella se encolheu um pouco mais na poltrona, impedindo-o que continuasse. Aquilo antes nunca o tinha impedido.

Não ensinavam na faculdade de medicina como abordar uma vítima de relacionamento abusivo, muito menos quando o médico era pediatra, que estava ali para cuidar dos seus filhos. Mas eles estavam ali para alertar os pais, para identificarem comportamentos. Alguns passavam desapercebidos ou eram ignorados. Aquele pediatra estava se esforçando muito e Bella quase queria consolá-lo, quando ela se lembrou que ela era a pessoa que precisava ser consolada, a pessoa que precisava de ajuda.

— Sabem se Benjamin passou por algum momento de estresse, algo que o deixou ansioso?

Ele tinha que ser cauteloso, afinal de contas, Edward Cullen estava na sala.

Bella poderia pensar em muitos, e não somente em um.

— Fora o incidente da minha esposa levá-los para longe de mim sem a minha permissão como pai? - Edward se manifestou pela primeira vez, irônico, voltando a ser por um minuto quem ele era. Prepotente e acusador.

— Senhor Cullen, discutir não é a solução - o médico falou, ganhando a atenção de Edward, quando Bella viu que o médico tirava alguns panfletos que ele agora deixava sobre a mesa, tirado do bolso do avental. - Reveja o que o senhor acaba de dizer, e tente se lembrar de como esse tipo de atitude que o senhor está tendo agora, dentre outras podem interferir na vida dos seus filhos.

Bella ainda olhava para aqueles panfletos. Azuis com branco e com o logo do hospital, nem um pouco atenta a conversa que se desenrolava.

O médico percebeu que Bella analisava os dois panfletos e sorriu brevemente para, algo que Edward podia ter sido capaz de perceber, mas que não fez nada.

O panfletos sobre a mesa de centro permaneceram mesmo quando o médico se retirou da sala, dizendo que tinha mais um paciente para visitar e voltando a ressaltar a importância da saúde e bem estar não só de Benjamin, mas como também a de Noah, e o que eles poderiam fazer para mudar aquilo.

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Afinal, Bella sabia, era uma via de mão dupla. Ou ela tomaria um caminho, ou permaneceria ali, vivendo um ciclo que ela bem conhecia. O estágio da lua de mel de aproximava, ela podia sentir, e pela primeira vez aquilo não a tranquilizou, pelo contrário, ela sentiu asco e nojo de si mesma por um dia ter se sentido bem quando Edward chegava com buque em casa e a beijava delicadamente nos lábios.

Ela não tinha culpa de confiar nele.

No silêncio que se formou com a saída do médico Bella se levantou e pegou os dois panfletos, não sendo capaz de olhar na direção de Edward dessa vez, nem pelo canto do olho. Mas Bella sentiu o que ela sabia que não que era a última tentativa dele tocá-la e de esclarecer que eles estavam apenas vivendo tempos difíceis, mas que saberiam superar aquilo, juntos.

Saindo daquela sala, ela deu as costas para as desculpas dele antes que ele fosse capaz de dizê-las, quando ela só conseguia pensar em seu filho, nos dois, e nela mesma e em mais nada. Nada seria capaz de desviar a sua atenção, não quando ela deveria lutar por dias melhores para eles.

***

— Olha pra mim quando eu estiver falando com você - Edward agarrou o seu braço com força no meio da escada enquanto Bella estava descendo apressada.

— O que você vai fazer? - ela se virou, puxando o seu braço com força e se soltando dele. - Vai me empurrar? - Bella gritou em desafio, mas se arrependeu do que disse quando viu Noah no topo da escada, um pouco atrás de Edward. Ele tinha acordado com toda aquela gritaria e saiu para fora do quarto para ver os pais discutindo, de novo.

Eles brigavam na frente dos meninos, e daquela vez tinha sido Noah, mas quantas vezes não tinha sido Benjamin?

Aquela não tinha sido a primeira vez que os meninos presenciavam algo como aquilo. E todas às vezes Bella queria se bater por deixar aquilo acontecer, quando nada podia fazer, quando ela não tinha controle sobre os momentos ruins de Edward. Nem quando e nem como eles podiam vir a tona.