Mirtilo

XIX - As metades do meu coração


Sehun colocou a cesta vazia sobre a bancada da cozinha antes de ir até a geladeira e vasculhar atrás de coisas que Minseok poderia gostar no café da manhã. Pegou o presunto, decidiu cortá-lo em fatias e colocar no pão. Sanduíche sempre lhe parecia uma ótima pedida para qualquer ocasião. Também colocou algumas frutas na cesta, uma garrafa de suco e também uma garrafa de café, preparado por si próprio. E então, estava saindo da casa de Ryeowook em direção a floresta, mais precisamente, em direção a casinha na árvore, onde — tinha certeza — que Minseok passara a noite e contava com a sorte, por isso, acreditava que Baekhyun tinha ido embora durante à noite.

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Por isso, se viu respirando fundo e estufando o peito quando começou a caminhar em direção a floresta naquele começo de dia. Estava sentindo-se um pouco privilegiado demais, afinal aquela seria a primeira vez, em tanto tempo, que ficaria à sós com Minseok. Eles poderiam, enfim, conversar sobre o relacionamento deles e quem sabe, encontrar uma solução, pois era óbvio que o Kim escolheria qualquer coisa que não fosse passar o resto da vida ao lado de Baekhyun. E Sehun estava disposto a protegê-lo, guarda-lo em sua alcateia e até mesmo a enfrentar uma guerra contra os Byun’s, pois bem sabia que o alfa não deixaria o primo ir embora assim, antes dos dois anos ou sem que ele tivesse a palavra final.

Segurou a alça da cesta com firmeza ao adentrar a floresta, escutou o canto dos pássaros e olhou em volta, um pouco assustado. Não havia algo como aquilo em sua alcateia e Sehun não fazia o tipo que gostava de se aventurar em lugares como aquele. Costumava gostar do ar livre e do cheiro que havia ali, mas sua saúde debilitada nunca contribuiu para que frequentasse a floresta da forma como seus primos sempre fizeram e mesmo quando estava bem o suficiente para sair do quarto, sua mãe limitava seus passos. Uma senhora muito protetora, Sehun pensou ao continuar andando.

Conhecia o caminho até a casinha, afinal já fora até ali algumas vezes e numa delas, foi acompanhado de Minseok. Sua mente ainda lhe presenteava com os detalhes daquele breve momento, uma das lembranças mais doces que tinha. O tipo de coisa que não tinha coragem de contar à ninguém, por medo de que se desfizesse em milhões de pedaços simples, porque, para si, a primeira vez que fez amor com Minseok era bem mais do que só simples.

O sol tinha acabado de nascer, então dentro da floresta ainda estava frio. A terra molhada embaixo da sola do seu sapato caro, notou o orvalho nas folhas e aos poucos foi tendo seu caminho iluminado pelos raios de sol que escapavam por entre as copas das árvores. Quase escorregou em algum momento, quase desmaiou em outro devido ao esforço de sair sem ter comido qualquer coisa, pretendia se alimentar na presença do ex-noivo. Reconheceu marcas de patas de lobo no chão e atribuiu ao primo Kim ou até mesmo, aos Lu’s, que tinham sua pequena vila montada em algum lugar por ali.

Todavia, a casinha logo surgiu no seu campo de visão. A madeira estava gasta e algum tipo de raiz crescia aos poucos, enroscando-se, em uma das paredes. Ele se viu suspirando ao perceber que teria que subir pela escadinha esculpida no tronco da árvore. Um pouco de esforço não faz mal à ninguém, quase escutou a voz do pai falecido em sua mente. Colocou a alça da cesta na boca, mordeu bem forte o trançado de palha e então começou a subir. Quase escorregou algumas vezes e arranhou o pulso em algum momento, mas quando colocou a cabeça para dentro do lugar de madeira, estava sorrindo.

O sorriso morreu aos poucos quando notou que não havia ninguém ali. A luz do sol que entrava pelas frestas nas paredes e telhado, deixava claro o quanto não havia ninguém ali há algum tempo. Notou uma lanterna abandonada no canto e um pote, que deveria ter algo dentro, vazio perto da entrada. Suspirou, frustrado com a sua pouca sorte. Era provável que Minseok tivesse saído antes de si e eles desencontraram-se na floresta? Pelo que percebia, sim.

Voltou a descer, dessa vez sem muito cuidado com a cesta de café-da-manhã, o que acabou ocasionando em uma queda. A comida se esparrou no chão e Sehun bufou, um pouco mais irritado. Arrumou tudo na cesta novamente com um certo alivio por nada ter estragado na queda. Voltou a segura-la e se preparou para sair dali, quem sabe encontrasse Minseok no caminho ou na casa de Ryeowook. Contudo, ao olhar para baixo percebeu como seus sapatos estavam sujos de lama.

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Suspirou, novamente, dessa vez erguendo a mão e jogando os fios escuros para trás. Não faria mal ir até o lago e tentar tirar o excesso de lama, se assegurou e seguiu pra lá. Pisou devagar no chão, temia sujar mais os sapatos, observou alguns pássaros voando aqui e ali, suspirou novamente quando focou seu olhar em todas as coisas que haviam na cesta. Era um bobo mesmo, pensou. Não passava de um bobo apaixonado.

O lago não ficava exatamente longe da casinha da árvore. Era só preciso seguir direto e dobrar no momento certo. Sabia que a Alcateia Lu tinha se alojado perto do lago, então bem podia se guiar pelo cheiro adocicado daqueles ômegas, por isso não demorou a chegar até lá. No entanto, quando achou que estaria aliviado com a possibilidade de limpar as mãos, o rosto e os sapatos, se viu travando os passos e escondendo-se atrás do primeiro arbusto que encontrou. Foi um movimento automático, o tipo de coisa que certamente ele não faria se não estivesse tão surpreso com que via.

Ele agachou-se atrás do arbusto, apertou a alça da cesta entre os dedos com uma irritação quente subindo por sua garganta quando percebia o que de fato acontecia na beira daquele lago. Se viu reconhecendo o cabelo loiro de Minseok e o escuro dos de Baekhyun, quase ficou de pé e foi até lá. Quase, porque no minuto seguinte, estava paralisado novamente, preso atrás daquele arbusto, como um criminoso a medida que a cena se desenrolava na sua frente.

A forma como Baekhyun empurrou Minseok contra o tronco da primeira árvore que encontrou, meio rindo, provocante com o cabelo escuro meio úmido. Eles pareciam estar brincando de alguma coisa quando o ômega sorria da mesma forma que o Byun, uma brincadeira que foi se tornando séria a medida que Sehun notava a forma como os toques de Baekhyun demoravam-se no corpo do primo. Apertando a cintura, olhando-o nos olhos, descendo os dedos por entre as coxas cobertas e depois subindo para aperta a carne dali. E então, Minseok estava correspondendo, para seu pesadelo total, fincando os dedos nas laterais da camisa do alfa, puxando-o para perto, enterrando seu rosto na curva do pescoço dele, aspirando seu cheiro de olhos fechados. Percebeu que Baekhyun fazia o mesmo com Minseok, respirava o cheiro doce do Kim como se fosse uma droga.

Os toques foram tornando-se mais incisivos, mais íntimos quando as peles começaram a procurar uma pela outra. Os sons ficaram mais altos e os olhos de Sehun arregalara-se diante disso. Queria sair dali, correr para bem longe ao mesmo tempo que queria se aproximar, empurrar Baekhyun, impedi-lo de tocar em Minseok. Mas entre o fugir e o ficar, Sehun ficou preso com olhos arregalados para a forma como o ex-noivo se deixava levar pelos toques do Byun, gemendo manhoso em seus braços, aceitando seus beijos, com os olhos abertos cheios de desejos. Seu lobo se encolheu inteiro em seu peito diante daquilo, mordeu o lábio e abaixou os olhos, tapou os ouvidos porque ver aquilo era horrível demais, doía seu peito.

Mas parecia não importar o tanto que ele amassava as palmas das mãos contra os ouvidos, ainda continuava a escutar o som que eles faziam. E num ato de total burrice, se viu abrindo os olhos novamente como que atrás de alguma certeza, alguma coisa que o encorajasse a ir lá e acabar com aquilo. Talvez, Minseok estivesse sendo obrigado... Talvez... Talvez, nada.

As pernas de Minseok estavam envoltas na cintura de Baekhyun, a camisa aberta enquanto o alfa já não tinha mais a sua, os peitos nus se chocavam com vontade durante o beijo afoito que davam. Pareciam duas pessoas que não se viam há dias, meses, décadas, uma vida inteira. Parecia puramente sexual até o momento em que Baekhyun quebrou o beijo e deixou selares simples na bochecha do ômega. Delicado demais para que Sehun não notasse, assim como quis não notar a forma como eles terminaram no chão de terra, na beira do lago, fazendo alguma coisa parecida demais com amor para que o Oh não prestasse atenção.

O alfa viu tudo com olhos arregalados, lágrimas presas nos cantos dos mesmos, e o coração pesado. As imagens gravaram-se na sua mente com ferro quente, machucavam demais. Percebeu que eles haviam acabado quando notou a forma como eles trocavam toques simples, cheios de risinhos e palavras que Sehun não podia nem queria escutar. Percebeu o sangue no ombro de Baekhyun e procurou, afoito, pela mesma cor no ombro de Minseok, mas não havia nada além de suor e terra na pele do mesmo.

Ele não fora marcado, pensou num alivio que não pertencia ao momento. Se deu conta, que ainda desejava Minseok mesmo depois de presenciar aquilo. Voltou a se abaixar, sentou-se no chão, as pernas esticadas à sua frente e os pensamentos longe. Não conseguia entender o que estava acontecendo, o que havia acabado de ver. Não parecia certo, parecia disforme, parecia surreal o suficiente. Onde Minseok estava com a cabeça? Ele e Baekhyun não combinavam de maneira alguma!

Um Kim e um Byun juntos? Não, não, não, não! Não era assim que funcionava. Os Kim’s deveriam odiar os Byun’s e não terminar fazendo sexo com eles ou dando aqueles tipos de sorrisos ou gemendo seus nomes. Minseok estava ficando louco se achava que Baekhyun realmente ficaria consigo. Todos sabiam como o ômega deveria ter se casado com Sehun, o próprio tio Leeteuk, tinha admitido seu erro para si quando deixou que Minseok casasse com Baekhyun. Eles não combinavam dessa forma, Junmyeon tinha lhe assegurado. Até mesmo Ryeowook tinha deixado claro como estava preocupado com a relação daqueles dois. Mas Minseok parecia ser o único que não via a forma como ele não pertencia a Baekhyun.

Escutou um som molhado, levantou o rosto para observar por sobre o arbusto e viu os dois na água, beijando-se vagarosamente. Seu coração se quebrou mais um pouquinho quando notava a forma como eles pareciam tão distraídos um com outro. Ficou de pé diante da forma como não seria notado, pegou a cesta de café-da-manhã e saiu de trás do arbusto, andou vagarosamente para longe daqueles dois.

E devia estar com uma cara péssima quando entrou na casa de Ryeowook, porque Kyungsoo foi o primeiro a perguntar o que havia de errado. Sehun não respondeu, se limitou a ir em direção ao quarto onde estava hospedado. Tomaria um banho demorado, quem sabe assim aquelas imagens saiam da sua mente. Todavia, não saíram. Elas continuavam voltando e voltando com força, machucando-o mais um pouco a cada pedaço de tempo. Sentou-se na beira da sua cama, os olhos fitando um ponto qualquer no chão. Não escutou quando Baekhyun e Minseok chegaram à casa.

Percebeu apenas a agitação no corredor, os passos pesados ali o irritaram o suficiente para ir até a porta e abri-la. Pretendia pedir um pouco de silêncio para que pudesse velar o seu coração quebrado, mas tudo que conseguiu foi ver a porta do quarto de Kyungsoo aberta. Arregalou os olhos, pensando que o primo mais novo podia estar com algum problema. Desfez a expressão irritada e foi até lá.

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Bateu na porta aberta para chamar a atenção de quem quer que estivesse ali dentro, mas não recebeu nada em troca. Viu a porta do banheiro aberta e foi até lá com passos vagarosos, cuidadoso o suficiente afinal não queria atrapalhar quem quer que estivesse lá, no entanto, logo estava correndo para dentro quando reconheceu a figura loira do ex-noivo debruçado na pia, vomitando tudo o que tinha comido no café-da-manhã até aquele momento.

— Min-minseok. — gaguejou o seu nome ao mesmo tempo que a mão levantava-se para pousar no meio das costas do mesmo. — O que aconteceu? — preocupou-se.

O ômega não respondeu, limitou-se apenas a debruçar-se mais um pouco sobre a pia. Sehun afastou os fios loiros da sua face, enxugou o suor da testa e observou, com terror, o jeito como o Kim tornava-se mais pálido a cada fração de tempo. Minseok tentou empurra-lo para em algum momento, parecia pior com a presença do alfa ali, mas Sehun não se deixou afastar e continuou oferecendo suporte à ele.

— Melhor? — o Oh perguntou quando Minseok, finalmente, parou de vomitar.

Ele assentiu, incapaz de falar devido ao ardor na garganta. Abriu os olhos e levantou o rosto para fitar-se no espelho acima da pia. Estava horrível, sentia como se estivesse girando numa máquina de lavar, tão enjoado. Respirou fundo mais um pouco e se afastou da pia, Sehun segurou-o e agradeceu por isso, porque as pernas tremiam como nunca.

Lavou o rosto com as mãos tremulas, o suor descia frio por sua nuca. Não sabia de onde tinha vindo aquele mal-estar, quando tudo estivera bem naquela manhã e estava com bastante fome quando sentou-se à mesa de café-da-manhã, comeu vagarosamente e bem, mas então... numa fração de segundos estava correndo para o primeiro banheiro que encontrará com o estômago se revirando em enjoou, da mesma forma como acontecerá no dia anterior.

Será que estava doente?

Quando sentiu a pressão no ponto certo, deixou que Sehun o guiasse até uma das camas ali. Na pressa, Minseok correra direto para o banheiro que havia no quarto que dividia com Kyungsoo. O alfa agachou-se na sua frente, com cuidado afastou os fios úmidos da sua testa e acariciou sua bochecha. Era o toque certo, feito pela pessoa errada, Minseok pensou com amargura. Mas não podia esperar que Baekhyun aparecesse ali quando eles tinham se separado alguns minutos antes do Kim passar mal. O marido havia ido visitar os pais, na casinha ao lado e por um momento, Minseok agradeceu por não ter aceitado o convite do Byun, afinal não queria preocupar ninguém com aquele pequeno mal-estar.

Minseok jogou-se para trás, caindo de costas na cama e pegando Sehun de surpresa pela forma como se afastou do seu toque. O alfa observou-o e então, estava abaixando os olhos, lembrando-se do que virá na floresta mais cedo. Juntou as mãos e ficou de pé, parou ao lado da cama, fitou o ômega de cima. Minseok devolveu o olhar, confuso pela forma como era fitado. Sehun não conseguiu não recordar-se da primeira vez que estiveram juntos como noivos*, a forma como o primo corava perto de si, o jeito como tudo nele entregava doçura, nada da malicia que ele havia visto nos braços de Baekhyun. Pensar nisso o fazia se questionar se realmente conhecia Minseok ou se ele estava apenas fingindo na presença do Byun.

Ele inclinou-se sobre o Kim, pegando-o de surpresa, fazendo-o se afastar um pouco, mas Sehun segurou-lhe o ombro para mantê-lo onde estava. Seus olhos inspecionaram o rosto do ômega, procurou algum sinal que pudesse por fim ao seu questionamento, mas tudo que encontrava no olhar delineado do ex-amante era surpresa e um certo receio. Então, estava afastando-se, sentando-se na beira da cama e fitando as próprias mãos.

Escutou quando Minseok ajeitou-se na cama, ainda muito pálido e com a garganta doída. O ômega o fitou de soslaio, não sabia o que tinha acabado de acontecer e muito menos sabia como perguntar sobre. Achava que não queria saber a resposta, então optou pelo silêncio ao contrário de Sehun.

— Está com o cheiro dele na pele. — falou subitamente, externando o que sempre o incomodava desde que Minseok casara com Baekhyun.

Como resposta, Minseok corou inteiro e meio se encolheu onde estava numa vergonha bonitinha que fez Sehun morrer por dentro mais um pouco. O ômega mordeu o lábio, prendendo a resposta que o alfa não queria ouvir apesar de precisar. Era claro que sabia porque a pele de Minseok estava sempre com o cheiro de Baekhyun. Céus! Ainda podia escutar o som dos gemidos do Kim, a forma como ele derreteu-se inteiro com os toques do outro, aquele maldito outro. Bufou e balançou a cabeça, queria afastar aquelas imagens, mas não adiantava. Elas continuavam voltando para si, como uma maldição.

— Eu os vi na floresta. — contou de uma vez, quem sabe assim pudesse se livrar da dor do seu pecado. Molhou os lábios com a ponta da língua, saboreando o amargor daquela sentença. — No lago. — especificou o local apenas para ter os olhos do ômega arregalando-se em mais vergonha.

— Sehun, eu... — o tom era de desculpas, o alfa conseguia perceber, mas não se compadecia o suficiente e ao contrário do que acreditou, ficou com raiva da forma como ele usava aquele tom.

— Nem sequer está arrependido. — completou por ele, fazendo o mesmo engolir em seco.

Seus ombros encolheram e Minseok recolheu as pernas para perto de si, abraçou-as como um filhotinho assustado e observou o alfa Oh. Eles fitaram-se por tempo suficiente para que Sehun fosse o primeiro a desistir, um pouco magoado pela forma como o Kim não tentava se defender, provando que não estava arrependido de nenhuma forma. Então, fitou de pé, a mão subiu para a nuca e arranhou a pele, descontando um pouco da frustração com aquela situação toda.

— Ele o obrigou? — tentou mais um pouco.

Minseok soltou as pernas, as esticou sobre o colchão antes de levantar-se. Parecia fraco, um pouco tonto quando se aproximou do alfa. Ainda estava um tanto pálido, Sehun notou.

Hunnie. — usou o tom suave, ergueu a mão na sua direção, queria tocar em seu braço numa forma de acalmá-lo, mas Sehun não queria se acalmar, queria respostas mesmo que não estivesse nenhum pouco preparado para ouvi-las. — Esqueça isso. — Minseok pediu.

— Só pode estar brincando. — Sehun guinchou, numa risada estranha. — Você está por aí transando com aquele idiota e quer que eu esqueça?!

O Kim piscou diante da aspereza das palavras, deu um passo para trás.

— Não fale assim. — desviou os olhos do alfa. — Eu e Baekhyun somos amigos. — havia uma certeza engraçada na sua voz, que só serviu para fazer Sehun ficar mais irritado.

— Amigos? É assim que define aquela cena no lago?! — ergueu os braços, virou-se de costas pra ele. — Amizade! — havia desdém demais naquelas falas para que o loiro não começasse a se irritar.

Trincou os dentes e subiu a mão para arrumar os fios claros do seu cabelo, lançou um olhar irritado para Sehun quando o mesmo voltou a fita-lo.

— O que esperava que acontecesse? — se viu jogando de volta no mesmo tom. — Nós estamos casados, caramba!

— Eu queria que me esperasse, droga! — Sehun rebateu. — Você só tinha que me esperar pela, droga, de dois anos em vez de sair por aí dando para aquele alfa como uma puta! — a fala escapou com mais raiva do que queria e o tapa que acertou o seu rosto foi merecido, reconheceria isso mais tarde. Mas naquele momento, só se viu avançando em Minseok, empurrando-o contra a cama e subindo sobre seu corpo.

O ômega debateu-se embaixo de si, tão cheio de raiva quanto ele próprio. Ele apertou as mãos envolta do pescoço do Kim com uma força que não achava que teria nem em um milhão de anos e num golpe surpresa, Minseok revidou com um chute na altura da barriga. O alfa afrouxou o aperto, deixando que o ômega escapasse o suficiente para fincar os dentes na carne do ombro do mesmo, por sobre o tecido da camisa. Sehun gritou e o gosto de sangue inundou o paladar do Kim, que só apertou a mordida.

O Oh o empurrou de volta para cama e Minseok deixou quando percebeu a forma desleixada que o alfa o fazia. Suas costas bateram contra o colchão, os lábios estavam úmidos de sangue e os olhos arregalados de adrenalina quando fitava o teto, assustado com a sua reação. Sehun se afastou cambaleando, a mão direita apertando e encharcando-se com o ferimento. Encostou-se na primeira parede que encontrou e respirou fundo, sentia a pressão baixando-se. Tudo estava ficando escuro diante dos seus olhos enquanto escorregava até ficar sentado no chão, o vermelho manchando a parte da frente da sua camisa.

Ainda ergueu os olhos para fitar a imagem de Minseok sentando-se na beira da cama, sobre as pernas cruzadas e os lábios, as bochechas, o queixo, manchados de vermelho. Seus olhos brilhavam num avelã perigoso.

— Por Dal! — Sehun ainda escutou e quando desviou os olhos em direção a porta, encontrou a figura preocupada de Ryeowook.

O barulho da bandeja que ele segurava caindo no chão, regeu o momento em que Sehun fechou os olhos e se deixou desmaiar. Da cama, Minseok não conseguia se mexer. Se limitou a ficar parado, observando o pai buscar ajuda para Sehun e para si. E quando Heechul apareceu acompanhado de um Junmyeon tão surpreso quanto si próprio se sentia pela cena sangrenta, Minseok foi capaz de desviar os olhos do corpo do ex-noivo. O irmão alfa se prostrou à sua frente, balançou-lhe os ombros com urgência enquanto a boca se mexia, proferindo palavras que Minseok não conseguia anexar e muito menos entender.

Viu, por sobre o ombro, do irmão o momento em que o corpo de Sehun foi levado do quarto com a ajuda de Leeteuk. Kyungsoo estava parado na entrada, nervoso e preocupado, a mão parada sobre a barriga de sete meses — quase oito. E Junmyeon o ajudou a ficar de pé e o levou na mesma direção que Sehun seguira. Se deixou guiar, porque não sabia mais o que deveria fazer e muito menos sentia vontade de fazer alguma coisa.

Terminou sentado numa das macas do pequeno hospital da Alcateia Kim, fitando o nada com um cobertor sobre os ombros que ainda tremiam. O sangue tinha sido limpo da sua boca, mas o gosto ainda prevalecia sobre sua língua. Kyungsoo tinha o seguido até ali, estava sentado na cadeira ao lado da maca, fitando o gêmeo com olhos grandes de preocupação por trás das lentes arredondadas dos óculos. Minseok estava usando os seus óculos também, o Kim mais novo tinha o trazido para si e colocado em seu rosto. Agora, tudo parecia normal, sem o desfocado de sempre. Contudo, o que ele fizera ainda estava na sua mente, repassando-se em câmera lenta, com bordas desfocadas por conta da raiva do momento.

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— Minseok? — escutou Kyungsoo chamar depois de tanto tempo.

Virou o rosto na direção do irmão, a garganta doía por conta do aperto que estivera ali antes e constatar isso, o fez engolir em seco.

— Tudo bem? — perguntou com cuidado, queria se aproximar, mas seus pés inchados e doloridos o fizeram continuar sentado.

Minseok assentiu automaticamente. Nenhum pouco bem. Kyungsoo comprimiu os lábios diante daquilo, queria perguntar o que acontecerá, mas achava melhor dar um tempo para o irmão se recuperar. Então ficou quieto, deu algum silêncio para Minseok até o momento em que o pai entrou na sala, acompanhado de um Baekhyun com o olhar preocupado. Kyungsoo observou a forma como eles se fitaram e achou melhor deixá-los sozinhos, por isso levantou-se e saiu do quarto. Iria aproveitar para saber o estado de Sehun.

Ryeowook saiu do quarto algum tempo depois, deixando Baekhyun sozinho na presença de Minseok. Ambos se fitaram por mais um tempo, até que o ômega suspirasse em desagrado pela forma como tinham se encontrado de novo. Quis pedir desculpas, mas acabou falando outra coisa:

— Eu o matei?

Baekhyun cruzou os braços, se aproximou da janela e negou com a cabeça.

— A mordida não foi profunda o suficiente. — o alfa contou. — Mas se tivesse mordido alguns centímetros para cima poderia ter feito um estrago irreparável.

Minseok piscou na sua direção, apertou o cobertor contra seu corpo e suspirou. Queria encolher até sumir, encolher de arrependimento. Não quis machucar Sehun realmente, foi apenas autodefesa. O tipo de coisa que sempre acontecia quando era atacado. Não conseguia se livrar dos instintos e muito menos de tudo o que havia aprendido na Academia.

“Uma mordida no lugar certo e vocês podem considerar serviço completo. O alvo sangrara até a morte bem na sua frente.”

Eles ficaram em silêncio, com Baekhyun fitando o ômega. Estava esperando mais detalhes acerca da briga. Mas pela forma como notava o tom arroxeado dos dedos de Sehun no pescoço de Minseok, percebia que tudo parecia um pouco mais sério do que imaginava. Baekhyun mordeu a parte interna da bochecha.

Minha mãe está viva. — disse subitamente e conseguiu a atenção do marido para si. Sabia que não deveria contar assim, mas também sabia que não queria ver Minseok daquela forma, encolhido em culpa bem na sua frente. Preferia distraí-lo com outra coisa. — Hyukjae me contou no dia que saímos do seu território, ele espera que eu possa encontrá-la para si. — contou mais um pouco e descruzou os braços.

Era incrível a forma como se sentia mais leve em externar aquilo, como se o ato de se escutar pudesse dar mais simplicidade as palavras, mesmo que soubesse que não eram simples assim.

— Não me surpreende que ele tenha feito um pedido desses. — Minseok se pronunciou, a voz parecia mais firme agora e os ombros não estavam mais encolhidos. — Essa foi a condição que nos tirou de lá? — perguntou e quando Baekhyun assentiu, Minseok balançou a cabeça meio sorrindo da ousadia do tio do marido. — E os seus pais?

Então, era a vez de Baekhyun se encolher. Os olhos desviaram-se para outro lugar. A relação com os pais estava um tanto complicada, precisava deles para encontrar Jihyun e sentia raiva disso. Queria poder encontra-la sozinho, mas sabia que não era possível quando nem ao menos conseguia lembrar de todas as notas do seu cheiro. Havia tentado conversar com os pais pela manhã, o que não deu muito certo. Tudo o que ele teve foi uma negação sobre encontrar a mãe e mais culpa nas suas costas por ter gritado com Donghae e Siwon. Odiava a forma como os estava tratando, mas também odiava a forma como estava sendo protegido.

Jihyun ainda era sua mãe e ele tinha direito de encontrá-la, mesmo que fosse para entregá-la nas mãos do seu pior pesadelo.

— Eles se recusam a dar a localização dela. — suspirou, estava cansado daquela história.

Queria um descanso daquilo tudo, um pouco de risadas e conversas descontraídas como tinha tido mais cedo na presença de Minseok. Queria a cena do lago novamente.

— Dê tempo à eles. — Minseok pediu e Baekhyun o fitou, sem entender o pedido. — Eu sei que está chateado, mas acho que eles só querem evitar que se machuque mais.

Como esperado, Minseok conseguia ver além de si mesmo. O marido tinha aquele olhar doce na sua direção, como se conseguisse ver tudo o que Baekhyun tinha passado até ali e uma parte do alfa agradeceu por isso, afinal, haviam coisas que ele não era capaz de colocar em palavras. Minseok estendeu a mão na sua direção e Baekhyun se viu sorrindo quando se aproximou, sentou-se ao lado do marido na maca e deixou que ele apoiasse a cabeça no seu ombro.

— Nós não deveríamos ter saído da floresta hoje. — Minseok comentou depois de muito tempo que ficaram em silêncio.

Baekhyun entrelaçou os dedos com os do ômega e observou a forma como a luz do sol derramava-se contra a parede, denunciando o fim da tarde. Aquele dia tinha passado rápido demais, pensou.

— Você tem razão. — concordou com ele e Minseok riu, baixinho.

Eles ficaram em silêncio novamente, os dedos brincando um com o outro.

— Eu e Sehun nos descontrolamos. — o ômega contou, a voz cheia de culpa. — Ele nos viu na floresta... — continuou e Baekhyun escutou tudo em silêncio. — E... eu não sei. — suspirou. — Em um momento, ele estava me fazendo perguntas e em outro estávamos gritando um com outro e então, estávamos nos machucando. — Minseok enfiou o rosto na curva do pescoço do alfa e fungou.

Baekhyun arregalou os olhos pela forma como ele estava chorando. Acariciou suas costas.

— Está tudo bem. — assegurou, baixinho.

— Eu não estava pensando. — Minseok fungou mais um pouco. — E-eu só queria que ele se afastasse. — continuou o acariciando, tentando passar algum conforto com gestos.

— Tudo bem. — repetiu mais um pouco.

Minseok agarrou-se em si de uma forma desajeitada, no meio do ato, os óculos deslizaram do seu rosto. Baekhyun assustou-se com o barulho da queda, mas o marido não deixou que ele se afastasse e então, eles terminaram deitados um ao lado do outro na maca. O choro do Kim cessou aos poucos e deu lugar a um ressonar baixinho, que quase fez Baekhyun dormir também. Mas o alfa não se deixou levar, limitou-se a afastar-se devagar do marido, recolher seus óculos e colocá-lo sobre a cadeira mais próxima e então, estava saindo dali. Andou algum tempo pelo hospital atrás do quarto de Sehun.

Na porta havia um tipo de janelinha, que o ajudou a saber se o alfa estava sozinho ou não. Quando não constatou a presença de ninguém ali, entrou. Sehun estava dormindo, provavelmente sedado. Ou pelo menos foi isso que Baekhyun achou até o momento em que percebeu as pálpebras dele tremerem e os olhos se abrirem devagar. Aproveitou para sentar-se na cadeira vazia ao lado da cama.

Sehun despertou aos poucos, com piscadelas vagarosas e respirações pesadas. Não demorou muito até que ele virasse o rosto para o lado e encontrasse a figura séria de Baekhyun. O Oh arregalou os olhos, o que só serviu para que Baekhyun franzisse as sobrancelhas e cruzasse os braços.

— O-o que está fazendo aqui? — Sehun perguntou primeiro.

Baekhyun descruzou os braços e fitou as próprias unhas, os olhos estavam perigosos mesmo longe do líder Oh.

— Não parece tão valentão agora, não é? — Baekhyun provocou e desviou os olhos minimamente na direção do outro.

O alfa mais novo fechou a expressão e rosnou na direção do Byun, que se limitou a rir da forma como era enfrentado. Então, ele ficou de pé e se aproximou da cama de Sehun, olhou-o de cima com uma superioridade que deixou o Oh enojado.

— Se o quer tanto assim, então duele comigo. — ofereceu o desafio. — Mas saiba que não vou facilitar pra você. — tocou com a ponta do indicador em cima do curativo no ombro do mais novo. — Eu só vou parar quando arrancar sua cabeça.

— Não se eu arrancar a sua primeiro. — devolveu no mesmo tom e Baekhyun sorriu antes de se afastar.

— Vou esperar ansioso por isso, senhor Oh. — teve coragem de desdenhar antes de sair dali de vez.

Sehun sustentou seu olhar até o momento em que a porta se fechou.

***

Hyukjae encarou a vista do seu escritório, de frente para a enorme janela, contou mentalmente os ladrilhos coloridos das ruas da Alcateia Park. Estava um dia bonito, sol quente e muito vento. Um dia perfeito para passar o dia na praia, com amigos ou família. Queria poder fazer justamente isso, mas Dasom estava num mau humor horrível naquela manhã e por isso adiou os planos. A filha não tinha ficado exatamente feliz com a forma como ele manteve Baekhyun e os seus ali, presos como criminosos e agora, tinha colocado na cabeça que os Park’s deveriam se desculpar com o primo.

Pensar nisso só fazia Hyukjae querer rir. Um Park nunca se desculparia com um Byun, nem mesmo se fosse do sangue do seu sangue. Contudo, Dasom discordava disso. Tinha herdado o jeito doce da mãe, apesar de tudo. Cruzou os braços em frente à janela apenas para escutar a porta ser aberta, olhou para trás e encontrou sua secretária parada ali.

— Senhor Park, há um visitante. — ela anunciou tímida sem olhar em seus olhos e Hyukjae franzio a testa.

Fazia muito tempo desde a última vez que alguém se dignou a visitar sua alcateia, ainda mais sem ser convidado como parecia ser quando não lembrava-se de nenhuma reunião com outro lobo.

— Quem é? — perguntou dando um passo em direção à sua mesa. Descruzou os braços e tocou com a ponta dos dedos a beira de madeira da mesma.

— Senhor Wu Yifan, líder da Alcateia Choi. — respondeu na mesma timidez.

O Park ergueu uma sobrancelha. Um Choi no seu território era uma novidade, afinal aqueles lobos chineses eram reclusos o suficiente para limitar-se ao seu pequeno território no leste da China, depois da muralha com montanhas os protegendo de qualquer presença humana. Quem olhasse de longe, os taxaria como uma pequena aldeia ainda presa nos antigos costumes, o que de fato era verdade contudo havia um acréscimo: o sangue de lobo.

— Mande-o entrar. — o líder Park deu permissão. Estava um tanto curioso para saber o porquê da presença daquele lobo ali quando todos os Choi’s costumavam ser tão orgulhosos quanto Park’s.

Sentou-se em sua cadeira atrás da mesa e esperou que a porta fosse aberta novamente, coisa que não demorou a acontecer. Logo, um alfa terrivelmente alto estava entrando. Tinha o cabelo escuro e os olhos da mesma cor, um rosto sério apesar da malícia estampada no canto da boca e as botas de couro deixavam-o um tanto mais alto além de contribuir para sua aparência de badboy. Hyukjae ergueu uma sobrancelha na sua direção, um pouco surpreso por ele parecer tão jovem. Mas devia ter esperado por isso, afinal só alguém jovem e mais forte para eliminar o velhote que estava no poder dos Choi’s antes.

Ofereceu o lugar vazio à frente da sua mesa e observou Wu Yifan sentar-se ali, as pernas se cruzando sem elegância nenhuma, na verdade a cada vez que Hyukjae olhava para aquele garoto, só um pouco mais de selvageria e muito menos de liderança. Um tanto diferente do que costumava ver em seu sobrinho ou em Kim Junmeyon. Ambos carregavam um ar sério e elegante, como se soubessem calcular seus passos, coisa que não acontecia quando analisava o alfa Choi.

— É uma surpresa tê-lo em meu território. — o Park começou e Yifan sorriu, envergonhado.

— Sinto muito pela aparição repentina. — disse. — Mas eu estava passando aqui perto e achei que não faria mal visita-lo. — havia um tom casual na sua fala que não agradou Hyukjae.

— Realmente, não fez. — fingiu simpatia. — Mas o que estava fazendo pelos arredores da minha alcateia?

Yifan descruzou as pernas, apenas para agitar uma das pernas nervosamente num tique que fez Hyukjae desconfiar das reais intenções do mais novo.

— Estou hospedado na Alcateia Oh. — contou de uma vez. — Mas meu anfitrião deixou-me sozinho para poder correr atrás de um ômega comprometido. — riu no final da frase, o que fez Hyukjae rir também afinal, pela primeira vez, havia gostado de algo no Choi: a acidez nas palavras.

— Sehun nunca soube quando parar. — acrescentou. — Aliás, o ômega a qual se refere é marido do meu sobrinho, Byun Baekhyun. — na menção do nome do alfa, os olhos de Yifan brilharam. — Já deve ter ouvido algo sobre ele. — fez-se de pensativo. — Chama-se Kim Minseok.

Belíssimo. — Yifan elogiou e Hyukjae sorriu. — Vi algumas fotos. — explicou.

— Mas tem uma personalidade horrível. — comentou.

Yifan ergueu uma sobrancelha e esperou por mais, contudo não obteve, comprovando a ideia de que aquele não passava de um comentário solto, fruto de alguma frustração do Park. Resolveu deixar isso para outro momento, afinal precisava estar na Alcateia Oh até à noite, antes que Sehun aparecesse, mesmo que achasse que o Oh não fosse voltar tão cedo aos seus afazeres na própria Alcateia. Era como Hyukjae dissera: Sehun não sabia a hora de parar. E incrivelmente, Yifan não conseguia culpar o amigo, porque se encontrava no mesmo estado. Mas ao contrário de Sehun, Yifan simplesmente não podia parar, não queria.

Ainda não.

— Então, garoto, — Hyukjae saiu do seu devaneio e voltou a focar sua atenção no mais novo. — o que veio fazer exatamente aqui? — o tom não deixava brechas para que Yifan jogasse mais uma das suas frases prontas.

Apoiou os cotovelos nos braços da cadeira e resolveu dizer a verdade:

— Estou aqui para ver a bruxa. — observou o jeito como a expressão de Hyukjae continuou neutra. — Àquela que chamam de Lee Hi.

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— A dona de um bordel. — corrigiu. — O que há entre as pernas dela realmente é mágico, mas não a chamaria de bruxa. — brincou com a fala do outro.

Nunca gostou da forma como qualquer um podia aparecer ali em busca de Lee Hi, atrás de usar os seus dons para benefício próprio. Ela pertencia à Alcateia Park e por isso, devia prestar serviços apenas à eles. No entanto, a beta nunca fez muita distinção de quem a procurava. Gostava de ajudar qualquer um, como algum tipo de pedido de desculpas por ter traído o Santuário na sua época de sacerdotisa, mas Hyukjae não se importava com isso. Gostava da exclusividade que tinha com ela e queria que permanecesse assim.

— Não estou atrás de companhia, se é isso que pensa. — Yifan respondeu um pouco mais sério do que queria. — Preciso da ajuda dela. — tentou algo mais suave, mas Hyukjae já não se importava.

— Ajuda. — repetiu pensativo, girou na sua cadeira e ficou de frente para a paisagem da sua janela. — O que alguém como você está querendo? — perguntou enquanto avaliava a forma das nuvens naquele fim de tarde.

— Nada que vá prejudica-lo. — o Wu prontamente disse, afinal não queria ser taxado como uma ameaça.

— E vai prejudicar quem? — voltou a girar a cadeira, parou de frente para o alfa mais novo. — Oh Sehun? — agora parecia um tanto animado e Yifan riu, achando que era uma piada.

— Ninguém. — respondeu para o desagrado de Hyukjae. — Estou à procura de alguém. — revelou de uma vez. — Um ômega.

— Lee Hi não é uma rastreadora. — o Park cansou de fugir e também, estava curioso sobre quem Wu Yifan estava atrás. — Ele está mais para uma vidente. — contou.

A beta não fazia o tipo que encontrava objetos perdidos ou pessoas perdidas. O seu dom ia um pouco além disso. Sua mãe costumava dizer, que Lee Hi via o que existia na alma de alguém: seus medos, inseguranças, lembranças boas e ruins, o seu futuro, sua morte... Mas Hyukjae também sabia que a amante tinha alguns dons escondidos na manga, quem sabe um deles não pudesse servir para o senhor Wu Yifan?

— Ela poderia me ver no futuro com esse ômega? — Yifan pareceu quase esperançoso e Hyukjae riu, alto, jogando a cabeça para trás.

— Se tiver sorte. — disse, por fim e começou a se levantar. — Venha comigo. — chamou quando de pé. — Te levarei até ela.

— Obrigado, senhor Park. — o alfa se curvou para si em respeito, o que só serviu para amaciar seu ego.

Eles saíram do escritório lado a lado. O Park pediu à secretária para cancelar seus últimos compromissos para aquele dia e então, continuou seu caminho até à saída do escritório. Ambos andaram em silêncio pelas ruas do território Park, apesar de Yifan ter tentado começar um diálogo aqui e ali, mas sem sucesso. Hyukjae estava disposto ao silêncio, em parte porque ainda pensava sobre o trato que tinha com Baekhyun. Estava ansioso para que o sobrinho cumprisse sua parte o quanto antes, afinal, tinha até mesmo mandado preparar o quarto da irmã. Comprara roupas para ela, todas na medida do corpo da sua secretária, que acreditava ter o mesmo tamanho que a Park mais nova.

Dasom tinha visto esses preparativos e perguntará se o pai estava se encontrando com alguém e Hyukjae confirmou. Estava esperando uma visita importante de alguém igualmente importante. Isso o fazia se sentir um adolescente ansioso para o seu primeiro beijo.

— É aqui. — Hyukjae apontou com o queixo. — Ela costuma ficar atrás de uma porta vermelha. — explicou e se preparou para ir embora.

O Wu o fitou, um tanto confuso com a forma como ele se afastava.

— O senhor não vem? — perguntou pateticamente.

— Por que iria? Seus assuntos românticos não me interessam. — rebateu e além do mais, Lee Hi lhe contaria tudo mais tarde, quando estivesse dividindo a cama consigo.

Ele só precisava ter paciência e demonstrar indiferença, afinal não queria dar brechas para uma relação que não sabia valer a pena. Yifan assentiu para si, se dando por vencido e seguiu em direção a entrada do bordel. Parecia um lugar melancólico naquele fim de tarde, mas Hyukjae sabia que à noite estaria bem iluminado e cheio de vida. Começou a fazer seus passos para longe dali ao mesmo tempo que Wu Yifan entrava no local.

As mesas estavam afastadas em direção as paredes, deixando o salão livre para, o que lhe pareceu, uma limpeza. Haviam mulheres em roupas curtas com esfregões nas mãos e baldes de plástico no chão. Ele recebeu olhares confusos das moças e encolheu os ombros, um pouco envergonhado por aparecer tão de repente em um momento não-comercial do lugar.

— Está perdido, docinho? — um ômega perguntou e o alfa olhou na sua direção.

Não o tinha notado sentado sobre uma das mesas, o short curto deixava suas coxas à mostra e camisa larga escondia sua barriga e a curva da cintura. Yifan piscou na sua direção, não sabia muito bem como falar o que viera fazer ali quando todos pareciam conhecer Lee Hi apenas como a dona de um bordel e além do mais, ele nunca tinha feito o tipo que frequentava aqueles lugares. Em parte, porque desde aquele mal entendido na adolescência, nunca fora capaz de desejar qualquer ômega ou sentir atração por eles. Era um inferno, praguejava todos os dias.

— Na verdade, não. — falou polidamente, a voz soando alta e clara no meio do burburinho que estava causando. — Estou atrás de uma beta chamada Lee Hi. — contou e observou quando o ômega passou a mão no cabelo, jogando os fios para trás e logo depois, estava em pé indo até si.

— Por aqui. — decidiu o guiar e Yifan relaxou os ombros.

Seguiu o outro para longe do salão, deixou para trás os olhares desconfiados das mulheres. Alcançaram o corredor em silêncio. Ele observou as portas entreabertas ali, todas de uma cor diferente e com camas arrumadas. Se perguntou se era ali que acontecia a mágica a qual Hyukjae se referiu antes, balançou a cabeça com esse pensamento e continuou seu percurso. Não demorou até que chegassem no final do corredor e parassem em frente à uma porta vermelha. Yifan fitou o topo da cabeça do ômega, esperava ser anunciado, fato que não aconteceu quando o mesmo apenas levantou o rosto para fita-lo e lhe disse que ali era o escritório de Lee Hi.

O alfa lançou um olhar irritado para forma como o ômega ia embora. Se sentia ultrajado, afinal, ele era um alfa, merecia algum respeito e o mínimo que aquele ômega deveria fazer, era anunciar sua chegada. Suspirou tentando se acalmar e só então bateu na porta, segurou a maçaneta e a abriu. Colocou a cabeça para dentro e encontrou a figura de uma mulher em um vestido florido em pé, de frente para a janela. Ela olhou para trás, em direção ao barulho que ele fizera.

Tinha o cabelo escuro preso em um coque, uma pena segurava o penteado e despontava por trás da sua cabeça com um charme que Yifan não achou que pudesse existir. Seu rosto estava limpo de maquiagem, os olhos redondos em surpresa por encontra-lo ali. Lee Hi era terrivelmente bonita, o Wu se deu conta e isso o surpreendeu tanto, que se viu abrindo a boca minimamente, coisa que não passou despercebido para a beta, que sorriu em resposta.

— Esperava outra aparência, senhor Wu? — Lee Hi provocou e saiu de perto da janela, andou até sua mesa e sentou-se na beira de madeira.

O vestido ia até os tornozelos com desenhos de flores vermelhas em um fundo branco, as mangas cobriam-na até os pulsos, mas o decote em V deixava que Yifan tivesse um pouco mais da beleza de Lee Hi. Ele se aproximou, parou alguns passos à sua frente, não sabia se poderia se sentar ou não, então esperou o convite. Coisa que não veio e isso começou a irritá-lo, porque odiava a forma como sua classe era deixada de lado. Ele era um alfa e um líder, merecia certos mimos.

— Como sabe meu nome? — decidiu perguntar, afinal, até aquele momento, eles nunca tinham se encontrado.

— Um palpite. — ela brincou e se afastou da beira da mesa, puxou sua cadeira e sentou-se ali, cruzou as pernas e pela primeira vez, Yifan notou que ela estava sem sapatos. — E então, por que veio até mim?

— Não tem um palpite sobre isso também? — provocou e a bruxa sorriu.

— Talvez. — de alguma forma, Yifan sabia que ela não estava blefando, tudo nela denunciava como sabia exatamente o ele viria até ali. — Mas por que não me conta para que eu tenha certeza? — Lee Hi indicou o acento à sua frente e Yifan foi até lá.

— Estou atrás de alguém. — disse. — Um ômega.

Lee Hi desviou o olhar para o quadro na parede, atrás de Yifan. Suspirou. Não era o tipo de informação que ajudava e parecia ser apenas o que o alfa tinha. Um ômega. Haviam tantos, não? Mesmo que tivesse tantos dons, não podia fazer milagres.

— Querido, preciso de mais informações do que isso. — pediu e desviou os olhos para encontrar a irritação tomar conta do rosto do Wu.

— Não há mais informação. — ditou firme, apenas para que a beta risse. — Acha que é uma piada? — Yifan começou a se irritar, Lee Hi podia identificar o tom de alfa na sua voz, como se isso pudesse intimidá-la.

Eu sou uma beta, ela pensou antes de revirar os olhos e encostar as costas na cadeira, descruzou as pernas e ficou um pouco mais confortável.

— Você é quem parecer achar que isso é uma piada. — ela rebateu casualmente, deixando Yifan atordoado com a forma como a bruxa parecia normal. — Eu sou uma beta, querido. — explicou diante dos olhos desfocados em surpresa do Wu.

Yifan engoliu em seco, um tanto envergonhado de ter esquecido desse detalhe. Estava acostumado a lidar com ômegas, a deixá-los com medo ou ao menos a ter todos lhe obedecendo, sem que ninguém o questionasse. Mas isso acontecia em sua Alcateia e Yifan não estava no seu território.

— Então, não pode encontra-lo? — a voz tornou-se suave.

As mudanças de humor deixavam Lee Hi atordoada, mas preferia não demonstrar seu espanto. Percebia cada vez mais que Wu Yifan tinha problemas de controle um tanto sérios.

— Você tem algo dele? — ela tentou mais um pouco. — Um fio de cabelo? Uma roupa? Algum objeto pessoal?

— Uma mordida? — ele disse e a beta piscou.

Yifan desabotoou a camisa escura que usava, tirou-a por completo, expondo o peitoral definido e uma pele cheia de cicatrizes. Lee Hi observou-as, interessada na forma como percebia que o alfa era um lutador selvagem. Isso ao menos explicava porque sua áurea era tão disforme, brilhando em cores diferentes a cada segundo. O Wu virou-se de lado para si, expondo a cicatriz enorme no ombro direito, bem em cima da junta onde o braço começava. A bruxa levantou-se e se aproximou para observar de perto. Estava apagada pelo tempo, esbranquiçada o suficiente para que Lee Hi se perguntasse a quanto tempo ele carregava aquilo no corpo, feito com tamanho ódio. Quase conseguia sentir a fúria com a qual aquilo tinha sido marcado na pele do alfa, simplesmente porque ômegas apaixonados não faziam aquilo. As cicatrizes nunca duravam na pele dos seus parceiros mesmo se fosse funda o suficiente.

Culpa dos hormônios liberados, Lee Hi estudara isso na sua adolescência como sacerdotisa no Templo. Haviam tipos de mordidas, todos se diferenciando pelo tipo de emoção aplicado. Marcas feitas por alfas tendiam a deixar cicatrizes, mesmo que fracas, culpa da possessividade que aquela classe pareciam sempre carregar. Até mesmo betas podiam ser afetados por marcas de alfas, mesmo que não por muito tempo. Nesse quesito, costumava se achar sortuda, afinal nunca teria que se preocupar em ser marcada, em ter sua vida entrelaçada com a de um alfa para sempre.

No entanto, ômegas... pobres ômegas, Lee Hi se compadecia. Não passavam de meros cachorrinhos, feitos para serem usados e abusados como objetos, não passavam de um pedaço de carne que depois de muito mastigado, era jogado fora.

Ela ergueu a mão e tocou com a ponta dos dedos na cicatriz na pele de Yifan. O ômega que fez aquilo deveria odiá-lo tanto, pensou, então por que Yifan estava atrás de si? A bruxa fechou os olhos e esperou que as visões viessem até si. Um turbilhão vermelho tomou conta da sua mente com força, fazendo-a se afastar da cicatriz com pressa.

— Então? — Yifan parecia esperançoso.

Mas tudo que havia no interior de Lee Hi era horror. Tudo o que ela tinha visto não passava de vermelho. Sangue em toda parte. Ela desviou os olhos para as próprias mãos e as encontrou sujas de sangue, mas antes que pudesse ofegar notou que havia mais sangue no chão, uma trilha inteira de puro vermelho. Seguiu com os olhos a trilha até o momento em que avistou a figura de Yifan, ainda sentado e sem camisa na cadeira, seu cabelo escuro pingava sangue. Os lábios estavam manchados da mesma cor, mas o sangue descia em grande vazão do seu pescoço onde estava faltando um pedaço de carne. Lee Hi arregalou os olhos para aquela visão e deu um passo para trás.

— Você o viu? — ele perguntou mais um pouco. — Onde ele está?

A bruxa engoliu em seco quando suas mãos fincaram-se na beira da mesa de madeira, estava atrás de um pouco de estabilidade. Seu coração estava aos saltos e o estômago se embrulhava em enjoo pela cena que estava gravada em sua mente.

Ele vai mata-lo.

E como que para confirmar esse pensamento, Lee Hi sentiu o cheiro do assassino. Por cima de todo o cheiro irritante de Yifan, havia um doce... algo leve, parecido demais com lírio para não ser. Se viu erguendo o olhar mais um pouco, alcançando a figura ensanguentada de Yifan mais uma vez, apenas para encontrar alguém em pé atrás do mesmo. Havia uma mão manchada de vermelho sobre o ombro esquerdo do alfa, um gesto dominante o suficiente para que a beta soubesse que aquele era o causador de toda aquela bagunça. Contudo quando tentou focar os olhos em seu rosto, tudo que teve foi a voz de Yifan ficando mais urgente e então, tudo havia voltado ao normal. O vermelho tinha ido embora, mas ela sabia que sua expressão ainda estava assustada o suficiente para que o líder Choi soubesse que havia visto algo.

Lee Hi virou-se de frente para a mesa e respirou fundo. Muitas vezes, suas visões vinham acompanhadas de um mal-estar, devido a demanda de energia que dedicava à elas. Contudo, daquela vez, o que a perturbava era a forma brutal com que Wu Yifan seria dilacerado se continuasse trilhando o seu caminho em direção àquela pessoa. Suspirou, tentando afastar as imagens da sua mente, o pegajoso do sangue em suas mãos, porque ela bem sabia que estaria compactuando com isso se o deixasse seguir em frente, mas também sabia que não podia interferir no futuro dele.

Era uma regra, uma das muitas que era obrigada a seguir. Não podia interferir e isso a tornava cúmplice. Engoliu em seco ainda de olhos fechados, a boca do estômago ainda estava queimando. Não percebeu quando o alfa ficou de pé e se aproximou, sentiu apenas a sua mão sobre seu ombro, acordando-a daquele transe de horror e impotência.

— O que viu? — ele perguntou numa voz profunda.

Lee Hi levantou os olhos para fita-lo, então ergueu a mão e tocou-lhe o rosto, acariciou a bochecha num gesto automático antes de puxa-lo para perto e ficar na ponta dos pés para beijá-lo. Queria olhar dentro da alma do Choi, saber se valia a pena quebrar a regra ao menos uma vez, no entanto, tudo que encontrou era tão vermelho quanto o sangue da sua visão.

Wu Yifan era um sádico, selvagem e violento o suficiente para não medir as consequências dos seus atos. Contudo, merecia morrer? Lee Hi deveria ditar sua vida assim? Afastou-se dele vagarosamente e resolveu que era melhor continuar da forma como sempre esteve: no alto do muro, sendo apenas a intermediaria.

— Ele cheira a lírio. — sussurrou contra os lábios do chinês, de olhos fechados da forma como uma amante faria.

— Onde posso encontra-lo? — pediu, numa urgência que nenhuma pessoa deveria ter quando se falava da própria morte, mas Yifan não sabia o que se passava na mente da bruxa.

Lee Hi abriu os olhos e o fitou mais um pouco. Nas lembranças de Yifan, coletadas durante o beijo, não havia muita coisa que pudesse aproveitar. Gritos, sangue, uma luta, ódio, olhos violeta cheios de raiva. Ela o empurrou vagarosamente, sua mente estava borbulhando com tantas coisas, mas não sabia qual deveria aproveitar. Suspirou novamente, dessa vez mordendo os lábios em seguida. Yifan fitou-a, atordoado pelo beijo e pela urgência em saber a localização do ômega.

— Não acho que ele quer se encontrado. — ela confessou, por fim, fazendo o peito do chinês descer.

O ar esperançoso deu lugar a uma raiva sinistra. Ele empurrou-a contra a mesa, prensando seu rosto contra madeira. Queria esmagar sua cabeça ali mesmo, apenas para tentar apaziguar sua frustração de ter perdido tempo ali, arriscado sua recente amizade com Oh Sehun. Lee Hi ofegou contra a madeira, surpresa pelo golpe, mas não lutou contra. Os dedos de Yifan enfiaram-se mais na pele, apertando a lateral do rosto e pescoço, até que suspirou e se afastou.

A bruxa o observou colocar a camisa novamente, encasando os botões com irritação e pressa.

— Não passa de uma mentirosa. — atacou. — Tenho certeza que não viu coisa nenhuma.

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— Se é o que acredita. — não fez questão de se defender. — Mas deixo meu aviso, ele não quer ser encontrado. — repetiu e Yifan rosnou na sua direção.

O alfa saiu batendo a porta, sem perguntar mais nada ou exigir qualquer coisa. Lee Hi agradeceu por isso, a presença daquele Choi a estava deixando atordoada quando nunca sabia o que viria pela frente. Andou até a janela e o observou saindo do bordel, os passos pesados de raiva quando sumiu na multidão de lobos Park’s. Então, voltou até sua cadeira e sentou-se ali, descansou o rosto entre as mãos, de olhos fechados desfez o coque no cabelo e suspirou.

— Me agradeça algum dia, senhor Lu. — sussurrou para ninguém em especial.

***

Siwon encarou a filha nos braços do amigo ômega, Heechul. Apertou a alça da bolsa da filha, onde tinha colocado tudo o que Ji Eun precisaria enquanto ele estivesse fora e Donghae descansando no quarto.

— Aqui tem tudo o que precisa. — falou ao amigo e Heechul revirou os olhos, um pouco irritado pela forma como o alfa estava paranoico com aquela breve saída.

— Por Dal, Siwon! — exclamou quase rindo. — Não está saindo da Alcateia, está apenas indo no escritório do meu filho. — referiu-se a Junmeyon. — E além do mais, eu tenho três filhos, sei como cuidar de um bebê. — balançou a afilhada nos braços.

Siwon suspirou, estava mesmo se comportando como um louco. Mas aquela era a primeira vez que se separava de Ji Eun desde o nascimento, não estava nenhum pouco acostumado com aquilo. Contudo, quando Junmyeon requisitou sua presença na Sede dos Kim’s, o alfa não teve escolha a não ser chamar o amigo de longa data para que cuidasse de sua filha.

— Donghae está dormindo. — o Byun continuou. — Tente não acordá-lo, sim? Ele teve uma noite de sono péssima. — o tom era preocupado e Heechul assentiu. Então, Siwon estava sorrindo. — Obrigado por vir cuidar dela.

— Amigos são para essas coisas. — Heechul disse e fez bico para a pequena em seus braços, que tinha os olhos abertos em curiosidade.

O alfa deixou a bolsa cor-de-rosa no sofá antes de dar uma última olhada na filha e então, sair da casa onde estava hospedado por aquela temporada nos Kim’s. Andou o mais rápido que podia até a Sede do lugar, afinal não queria ficar tanto tempo longe do marido e da filha ainda mais para resolver um assunto irrelevante como aquele. Era mais do que óbvio que lobo chamado Kim Jongdae não era um dos seus, apesar do mesmo gritar isso aos quatro ventos.

O rumor tinha se espalhado por entre os lobos Kim’s e agora, Siwon recebia bem mais do que olhares azedos. Haviam alguns insultos e alguns presentes eram deixados na sua porta. Palavras, como traidor se faziam presente em cartazes colados na sua janela ou pichados na madeira da porta. Tudo isso por conta do que Kim Jongdae estava dizendo, sobre sua possível paternidade em relação ao lobo. Contudo, Siwon nem ao menos sabia a aparência do Kim, como poderia compactuar com ele para derrubar Kim Junmyeon da liderança? Era isso que esperava descobrir quando estivesse cara a cara com o alfa criminoso.

Parou em frente à Sede, um pouco atordoado pela forma com chegou tão rápido. Balançou a cabeça e meio sorriu antes de dar um passo para em direção a entrada. O lugar estava calmo. Avistou Lu Henry em sua mesa, digitando algo no computador. Siwon ergueu as sobrancelhas, havia esquecido que o chinês trabalhava como secretário de Kim Junmeyon. O ômega notou sua presença antes que pudesse dizer qualquer coisa.

— Senhor Byun. — Henry ficou de pé para fazer uma reverência quando notou sua presença.

Siwon ergueu a mão para impedir o ato, afinal já se conheciam por tempo suficiente e não precisavam de tanta formalidade. Henry assentiu e esperou que o alfa falasse a razão de sua visita.

— Tenho hora marcada com Junmeyon.

— Na verdade, — o Lu pareceu envergonhado. — o senhor Kim desmarcou os compromissos de hoje à tarde para resolver os detalhes do seu casamento com meu irmão, Jongin. — contou. — Sinto muito, senhor. — curvou-se mais uma vez. — Esqueci de avisá-lo.

— Tudo bem. — Siwon suspirou e olhou em volta. Isso ao menos explicava porque aquele lugar estava tão vazio. — O que ainda faz aqui? — perguntou ao Lu quando percebeu que ele deveria ter uma tarde inteira folga.

— Adiantando alguns documentos e planilhas. — respondeu e voltou a se sentar. Fitou o alfa de baixo, esperando que o mesmo se despedisse, no entanto, Siwon parecia um tanto relutante com isso. — O senhor precisa de alguma coisa? — decidiu intervir depois de um tempo.

— Pode me dar acesso a cela de Kim Jongdae? — Siwon perguntou, de uma vez, num tom urgente que não combinava com sua personalidade tão séria.

Henry engoliu em seco, havia sido pego de surpresa por esse pedido. Afastou o teclado do seu computador para frente e apoiou as mãos ali, nervoso. Olhou em volta, sabia que não tinha mais ninguém além dos dois, mas não custava nada checar mais uma vez.

— Soube sobre os rumores? — devolveu a pergunta, como se isso pudesse ajuda-lo a tomar uma decisão.

A verdade, era que Henry não pertencia a nenhum dos lados em que aqueles alfas estavam dispostos. Em um, se tinha Kim Junmyeon com seu olhar doce e cabeça cheia de inseguranças, tentando impedir que seus lobos enlouquecessem com mentiras sobre Byun Siwon e sua prole. No entanto, Minseok estava enfiado até o pescoço nessa confusão e com a adição das palavras de Jongdae, tudo parecia cada vez pior para o ômega Kim. Isso fazia Henry se questionar quando Junmyeon tomaria coragem para chamar o próprio irmão para um interrogatório, afinal as acusações feitas pelos lobos Kim’s estavam tomando proporções preocupantes, principalmente devido a mudança de alguns Byun’s para o território dos lobos agricultores.

Contudo, Henry sabia a verdade. Havia convivido o suficiente com os Byun’s para saber que Siwon não tinha coisa alguma haver com Jongdae e suas palavras. E por isso, acabava se compadecendo da forma como o alfa estava sendo atacado, principalmente, quando nem ao menos sabia a história completa.

— Estão em toda parte. — Siwon quase rosnou em frustração. — Só um idiota não escutaria.

O Lu suspirou, os olhos desviaram-se para a tela do computador. Havia uma planilha semipreenchida ali, piscando em verde e branco diante dos seus olhos. Voltou a olhar para o alfa, mordeu o lábio e ficou de pé. Com certeza, seria demitido quando Junmyeon soubesse o que fez, mas não podia deixar que Siwon fosse privado de uma conversa com o culpado daquela confusão toda.

— Venha comigo. — afastou a cadeira, saiu de trás da sua mesa e começou a andar. As mãos estavam suando em nervosismo quando escutou o alfa seguindo-o. — Vou leva-lo até a cela do Kim.

Siwon relaxou os ombros sem perceber e continuou atrás do ômega. Eles alcançaram uma porta, em um certo momento, e desceram até o porão da Sede. A cada passo pela escada, Siwon notava o começo das grades da cena, brilhantes demais à sua frente. Eram feitas de prata, percebeu antes mesmo de Henry lhe dizer.

— Ele está ali. — o ômega apontou.

— Obrigado. — agradeceu com uma breve reverência.

— Só não demore tanto, sim? — havia um certo nervosismo na sua voz que denunciou como aquele encontro era ilegal.

Siwon assentiu e o viu ir embora, com passos apressados como se assim pudesse se afastar da sua culpa. O alfa seguiu na direção oposta, andou até as barras da cela. A luz precária do lugar não o deixava ver os detalhes de tudo, mas por um momento depois que a porta se fechou, tudo ficou tão terrivelmente silencioso que o alfa se perguntou se havia mesmo alguém preso ali. Espreitou por entre as barras, tomando cuidado para não tocar no temível metal.

— Não achei que apareceria até o momento em que apareceu. — alguém disse, riu no final da frase, a voz esganiçada como se não falasse há dias.

O Byun se aproximou mais um pouco e então percebeu os contornos maltrapilhos da figura de Kim Jongdae. Estava sentado no fundo da cela, as costas encostadas na parede, o cabelo escuro sujo e o rosto coberto por um começo de barba. Os olhos eram escuros e selvagem e talvez... um pouco melancólicos. Siwon deu um passo para trás e esperou que o alfa continuasse falando qualquer coisa, mas depois de cinco minutos, não havia nada mais.

— Eu escutei os rumores. — o alfa mais velho falou, por fim.

— Rumores. — Jongdae ecoou. — É só isso que sabe? Rumores? — havia uma acidez desconhecida em suas palavras, deixou Siwon confuso.

— O que mais deveria escutar? — rebateu.

Jongdae suspirou, abaixou a cabeça e continuou onde estava. Parecia querer começar uma guerra de silêncio, o que só serviu para que Siwon ficasse irritado. Estava ali, afinal, então por que aquele Kim não começava a lhe contar tudo?

— Não sabe mesmo? — o Kim desconfiou, com aquela ponta de graça que Siwon odiou.

— Você não é meu filho. — o mais velho decretou de uma vez.

O Kim balançou a cabeça no escuro, ato que passou despercebido pelo outro. Queria poder acreditar nisso, na verdade, queria poder acreditar em qualquer coisa. Queria ter uma crença, quem sabe assim pudesse ter um objetivo e com um objetivo pudesse seguir em frente em vez de querer cada vez mais o fundo do poço.

— Como pode ter tanta certeza? — Jongdae provocou e arrastou-se minimamente em direção ao suposto pai, ainda faltava-lhe coragem para ficar de pé. — Há 23 anos foi realmente tão fiel à sua esposa infiel?

Siwon engoliu em seco e como que vendo o seu desconforto, Jongdae sorriu minimamente e ficou de pé. Deu um passo em direção ao mais velho e esperou, mas qualquer que fosse a coisa, Siwon não lhe deu mais nenhuma demonstração de que compraria aquela história e isso foi frustrante o suficiente para que os dois voltassem ao silêncio. Encararam-se com visível desconfiança e irritação. Jongdae perscrutou seu rosto atrás de alguma semelhança, qualquer coisa que pudesse os ligar. Mas o alfa lhe parecia tão diferente de si, tão longe de qualquer significado que a palavra pai trazia. Por outro lado, Siwon não olhava exatamente para seu rosto.

Estava pensativo, com os olhos em algum lugar aleatório. Quem sabe estivesse observando o rosto da sua mãe? Em um passado muito muito distante? Queria acreditar nisso. Queria que Siwon lhe contasse uma história bonita de romance com sua mãe, desejava que o alfa abrisse a boca e dissesse qualquer coisa contrário à ideia de que ele fora a consequência de uma noite de frustração. Era frustrante ter esses tipos de vontades, mas Jongdae estava tão cansado da forma como tudo deu errado, como suas crenças inteiras desabaram em cinzas bem na sua frente. Queria ao menos poder acreditar que foi desejado em algum momento, quem sabe assim aquele fantasma da rejeição fosse embora e o deixasse ter sonhos bons.

— Houve alguém, não é? — provocou mais um pouco.

O Byun franzio a testa, com irritação. Estava ao ponto de gritar consigo mais uma vez, Jongdae sabia, conhecia aquele olhar cheio de raiva. Já o recebera por tempo demais na infância e depois e depois e agora. No entanto, não desviou os olhos da face do pai, esperou qualquer palavra de ódio, qualquer coisa que não fosse indiferença.

— Providenciarei um teste de DNA. — Siwon disse por fim.

Os ombros de Jongdae relaxaram sem que percebesse. Aquilo parecia melhor do que raiva ou ódio ou indiferença, parecia como atenção, afinal Siwon voltaria a vê-lo dia menos dia. Era reconfortante, mesmo que não quisesse admitir. Contudo, a expressão de Siwon continuava séria, completamente impassível. Se parecia com Baekhyun, pensou. E quando o mesmo foi embora, se perguntou se teria herdado algum trejeito daquele Byun.

Siwon passou por Henry, agradeceu mais uma vez e saiu porta afora, apressado para voltar para os braços do marido e ter a filha sob seus cuidados. Lá ao menos tinha alguma certeza, bem diferente de quando fitava Jongdae. Alguma coisa naquele Kim era terrivelmente familiar ao ponto de ser inquietante. Era a forma dos olhos? O jeito como brincava com as palavras? O humor improprio ou seria algo mais físico como a forma das mãos e dos ombros, o padrão dos ossos do rosto? Por que aquele garoto o deixava desconfortável?

Suspirou durante o caminho até em casa, ignorou os olhares atravessados que recebia dos Kim’s. Passou em frente à casa de Ryeowook e observou Leeteuk sentado na cadeira na varanda, observando o movimento da rua. Não pensou duas vezes quando se aproximou, estava um tanto inflamado na frustração de ter ficado cara a cara com Kim Jongdae para policiar seus impulsos. Parou em frente ao Kim, os braços se cruzando no processo enquanto o fitava de cima com uma carranca enorme, lábios comprimidos e ombros rígidos.

— Perdeu algo no aqui? — Leeteuk olhou para baixo, fazendo graça da forma como o ex-amigo estava furioso.

— Eu vou apenas perguntar uma vez. — Siwon começou num tom perigoso que pegou o outro desprevenido. Seus olhos se encontraram. — Naquela noite, — começou e viu quando Leeteuk arregalou os olhos, sabia muito bem ao que o amigo se referia. — eu me envolvi com alguém?

Jungsoo ergueu uma sobrancelha, ainda um tanto chocado por Siwon tocar naquele assunto depois de tantos anos, principalmente quando haviam prometido nunca falar sobre aquilo... aquela noite.

— Por que esse interesse só agora? — rebateu num nervosismo que não combinava com a situação.

— Só me responda de uma vez. — Siwon rosnou na sua direção, quase abaixou-se para fazê-lo mais perto.

— Responda você primeiro. — devolveu como uma criança birrenta.

O Byun descruzou os braços e pegou o outro pelo colarinho da camisa.

— Acha que isso é brincadeira? — Leeteuk arregalou os olhos quando sentiu o colarinho apertar seu pescoço e percebeu os olhos do alfa tornando-se âmbar.

— Por que é tão importante então? — teve coragem de perguntar e Siwon o soltou.

Não tinha tempo para explicar aquilo, ainda mais quando nem sabia por onde começar. Aquela noite deveria ter ficado no passado, bem enterrada em algum bordel da Alcateia Park. Não deveria ter dado frutos. Não deveria existir um Kim Jongdae. Contudo, mesmo quando dizia isso a si mesmo, tinha suas dúvidas sobre o que realmente aconteceu, afinal ficara tão bêbado que no dia seguinte não era capaz de lembrar de nada. Mas Leeteuk esteve consigo naquele lugar e estava consigo no dia seguinte, quando lhe trouxe para casa. Ele era a única testemunha do ocorrido, da sua falta de respeito com Park Jihyun.

Havia mesmo a traído? Por muito tempo acreditou que nada aconteceu, mas agora já não tinha tanta certeza.

Afrouxou o aperto no colarinho do alfa e então, o soltou, fazendo questão de empurra-lo em direção ao acento. Leeteuk segurou-se em um dos braços da cadeira e observou a forma como o ex-amigo parecia fora de si. Queria perguntar o que aconteceu, mas seu orgulho era mais do que isso, por isso permaneceu apenas o observando, esperando uma resposta para a sua pergunta de antes. Siwon o fitou antes de virar de costas, parecia atordoado, um tanto nervoso demais com aquela questão que exigia que o alfa respondesse. Passou a mão no cabelo escuro, respirou baixinho ao mesmo tempo que o alfa na cadeira desviava o olhar para baixo.

— Eu não sei o que aconteceu naquela noite. — contou de uma vez, antes que a coragem fosse embora. Siwon virou-se para fita-lo, mas os olhos de Leeteuk não estavam em si. — Nós bebemos bastante, nos separamos em algum momento e eu só te encontrei horas depois, o sol já estava nascendo ou algo assim. — Siwon continuou em silêncio até o momento em que o alfa o fitou. — Por que se importa com isso?

— Não é da sua conta. — o Byun fechou-se em si mais uma vez e Leeteuk lamentou a forma como não sabia mais ultrapassar o muro e encontrar as respostas certas. — Obrigado por contar. — ele agradeceu de uma forma dura antes de começar a se afastar.

Jungsoo o observou ir embora, com os ombros duros de ansiedade por alguma coisa, os passos pesados e a cabeça cheia de pensamentos que nunca teria conhecimento. Mordeu o lábio quando o viu entrar na casa ao lado e então suspirou, as mãos estavam suadas por conta da mentira que acabara de contar ao ex-amigo.

***

Jongin deitou-se de bruços ao lado de Lu Han na cama do seu quarto, os pés balançaram-se no ar chamando a atenção do irmão mais velho, que desviou o olhar das planilhas que conferia, os óculos de leitura apoiado na ponta do nariz. Ergueu uma sobrancelha, um pouco desconfiado da forma como o irmão mais novo estava animado, mas quando o viu desenrolar a revista que tinha nas mãos, entendeu bem de onde vinha tudo aquilo.

Lu Jongin estava animado com os preparativos do seu casamento.

— Estou trabalhando nesse bordado. — o ômega mais novo disse, animado para dividir aquilo com mais alguém. Apontou com a ponta do indicador o desenho na página e Lu Han inclinou-se um pouquinho para observar. Eram dois pássaros. — São cisnes. — esclareceu. — Bonitos, não? — o chinês assentiu. — Estou os bordando no meu manto cerimonial. — sorriu.

O manto cerimonial pertencia apenas aos costumes Lu’s e era feito, exclusivamente, pelos noivos. Representava todas os desejos dos noivos entre si, por isso era bordado com palavras ou símbolos. Jongin estava costurando o seu há dias enquanto Lu Han se perguntava que fim havia levado o de Junmeyon, afinal, da última vez que viu o progresso do alfa, seu manto cerimonial não passava de um emaranhado colorido sem formas. Contudo, sabia que o alfa estava se esforçando quando procurou um professor de bordado na Alcateia Lu e entre dedos furados e sorrisos sinceros, Kim Junmyeon deveria estar fazendo algum progresso. Ou ao menos era isso que Lu Han esperava.

— E como está o de Junmeyon? — perguntou inocentemente e Jongin riu baixinho.

— Ele é péssimo com bordados, mas está se saindo bem para alguém que nunca tinha tentado. — contou e Lu Han ficou feliz pelo irmão.

Afinal, ele parecia genuinamente apaixonado pelo alfa assim como a recíproca era verdadeira. Isso o deixava feliz, um tanto aliviado porque sabia que estava deixando Jongin em boas mãos. Junmyeon cuidaria de si assim como todos os Kim’s da sua família. Seu irmão seria feliz, sabia bem disso e por isso a tranquilidade tomava conta de si.

— E quanto aos outros preparativos? — Han continuou perguntando. — Soube que saíram juntos hoje.

Jongin levantou o rosto para fita-lo, rolou na cama, ficou de barriga para cima e começou a contar sobre tudo que tinham feito naquela tarde. Visitaram algumas lojas na cidade, discutiram sobre a decoração e sobre os rituais de casamentos dos Lu’s, afinal eles casariam na tradição Lu. Junmyeon havia concordado com o pedido do noivo, fazendo Lu Han perceber que ele — talvez — nunca conseguisse negar alguma coisa ao irmão mais novo ainda mais quando o mais novo lhe lançasse aquele olhar violeta bonito.

A cerimônia aconteceria no fim de semana e tudo estava indo como o ômega planejara, o que deixava Lu Han tranquilo o suficiente apenas para se preocupar com a transferência do restante dos seus lobos do território Byun até ali. Algumas casas ficariam prontas antes do casamento e isso era perfeito, porque poderiam fazer uma festa realmente grande. Os Kim’s também pareciam tranquilos com os preparativos para o casamento e nenhum dissera coisa alguma contra a opção de Junmyeon de casar-se na tradição Lu, o que foi uma surpresa devido a forma como eles comportavam-se com demasiada raiva quando perto dos Byun’s.

— E quanto às tatuagens? — se pronunciou depois que irmão terminou de falar sobre sua indecisão quanto as flores que usaria na ornamentação.

Jongin mordeu o lábio, de repente parecia indeciso. Lu Han ergueu uma sobrancelha em expectativa, mas então o irmão estava sorrindo, aberto e o Lu mais velho voltou a relaxar.

— Será aqui. — apontou para um ponto perto do seu coração. — Junmyeon escolheu o mesmo lugar. — e então suas bochechas estavam rosadas e Lu Han imaginou que o alfa deveria ter dito algo bonito nesse momento, algo só para os ouvidos de Jongin.

Uma tatuagem perto do coração era um bom lugar, no fim das contas. Seriam uma marca eterna um no outro, o significado perfeito de alianças quando Lu’s não utilizavam anéis da mesma forma que humanos faziam ou outros clãs. Eles preferiam algo mais incisivo, que marcasse de forma permanente. Então, os lobos do seu clã quando se tornavam parceiros, optavam por uma tatuagem idêntica no corpo. Aquilo os ligaria até o fim da vida, da mesma forma que uma mordida faria entre um alfa e um ômega. No entanto, não havia sucesso em uma marca feita entre ômegas ou entre betas e ômegas, por isso as tatuagens atuavam com a mesma permanência e depois de um tempo, tornou-se parte da tradição.

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— É um bom lugar. — externou e Jongin pareceu mais feliz ainda.

Mas antes que pudessem continuar a conversa, a porta do quarto do mais velho foi aberta, relevando Henry com Yixing nos braços. O filho tinha a cabeça encostada no ombro do tio denunciando a forma como tinha adormecido. Lu Han largou as planilhas que estava olhando sobre o criado mudo, ajeitou os óculos no rosto e se aproximou de Henry, pegou o filho com cuidado. Ele mexeu-se nos seus braços, inquieto pela forma como era separado do chinês, mas logo o pai o estava aconchegando na cama, ao lado de Jongin. Eles dormiam na mesma cama, por segurança. Lu Han sempre podia mantê-lo seguro se estivesse por perto.

— Junmyeon está aí. — Henry disse ao mais novo dos Lu’s.

Jongin se colocou em pé num rompante, deixou a revista sobre a cama enquanto despedia-se dos irmãos e ia ao encontro do noivo. Lu Han pegou a revista, meio rindo e colocou sobre o criado mudo apenas para voltar para perto do filho e terminar de cobri-lo.

— Está com fome? — Henry perguntou depois que o Lu esqueceu da sua presença.

Ele fitou-o antes de assentir. Viu o chinês se afastar sem dizer mais nada. Voltou a olhar o filho, ajeitou travesseiros nos lados do filhote. Tinha medo que o pequeno rolasse direto para o chão quando não estivesse perto. E só então, se afastou em direção a porta, foi até a cozinha para encontrar o irmão. Henry estava fazendo ramen. Lu Han encostou-se no batente da cozinha e cruzou os braços, esperou ser notado, coisa que não demorou muito.

— Você parece cansado. — Henry notou e Han desviou o olhar para a comida sendo feita.

— Apenas um pouco de sono. — desconversou.

— Também recebeu a carta, não? — o chinês não o fitou, estava de costas para si enquanto terminava de cozinhar.

A carta, Lu Han pensou. Havia chegado há uns dois ou três dias. Com prescrições detalhadas do que fazer e uma delas incluía não falar disso com ninguém, no entanto, Henry estava na mesma situação que si. Não fazia sentido não falar com ele sobre.

— O que dizia a sua? — perguntou ao irmão quando o mesmo virou-se de frente para si, uma tigela em cada mão. Entregou uma para Lu Han.

— O que dizia a sua? — Henry sorriu e Han devolveu.

Eles se afastaram em direção a sala, sentaram-se no sofá em frente a tevê ligada no noticiário. Han foi o primeiro a começar a comer enquanto esperava a resposta do irmão.

— Estão apenas me convocando para uma reunião. — respondeu, enfim.

— Idem. — Lu Han confirmou o seu.

O que o fez pensar que todos os ômegas da Organização deviam ter recebido o mesmo convite. Coisa que o deixava mais apreensivo do que se tivesse recebido as instruções explicitas, porque todo esse mistério implicava em alguma coisa terrivelmente obscura e Lu Han não queria que seu irmão se metesse em apuros ou que isso pudesse respingar nos lobos do seu Clã ou no seu filhote. Pensar nesse tipo de coisa, fazia Lu Han se perguntar quando seria livre para tomar suas próprias decisões. No entanto, de repente estava pensando em Minseok e na forma como teve sorte ao ser expulso daquele lugar.

Com toda certeza, o Kim estava bem melhor longe dali.

— Acha que pode ser algo grave? — Henry perguntou um tanto nervoso.

Lu Han assentiu com a boca cheia de macarrão e os lábios brilhando por conta do caldo. Não havia porquê usar palavras delicadas com o chinês, afinal eles dois estavam no mesmo beco sem saída.

Não muito longe dali, Jongin deitava ao lado de Junmeyon, perto do lago e observa as estrelas. Ao menos um Lu estava despreocupado com o rumo da sua vida, não sabia do peso que os irmãos carregavam e muito menos o peso que o sobrinho carregaria no futuro, naquele momento, Jongin apenas aproveitava a liberdade de se estar apaixonado por Kim Junmeyon, ou como ainda o chamava, Suho.

— Eu bordei estrelas no meu manto. — Junmyeon contou em algum momento. Jongin virou-se de lado na grama para fitar o perfil do noivo. — Quero que brilhemos como elas. — explicou virando-se para fitar o outro também.

Jongin sorriu, pequeno, sem mostrar os dentes, um tanto envergonhado. Ele gostava da forma como Junmyeon era terrivelmente doce em suas declarações, de alguma forma combinava consigo quando também era extremamente açucarado para com o alfa. Henry costumava dizer que eles dariam diabetes na alcateia inteira com tudo aquilo, mas Jongin não ligava ainda mais depois do sufoco que ambos tinham passado achando que não ficariam juntos nunca. Só de relembrar isso, sentia seu coração apertar-se inteiro no peito.

— Estou feliz que é você. — Jongin disse e Junmyeon sorriu de volta antes de erguer a mão e toca-lhe a bochecha.

— Eu também. — então o aperto não estava mais ali, tinha dado lugar ao quentinho no peito.

Fitaram-se por bastante tempo até que decidiram aproximar-se para que os beijos começassem. As mãos começaram a trabalhar, descendo e subindo por aqui e ali, atos o suficiente para que se separassem, afinal estavam fazendo um voto de castidade até o dia do casamento. Jongin queria uma primeira vez decente, mesmo que não fosse mais virgem, no entanto era a sua primeira vez com um alfa e queria que fosse especial o suficiente. No entanto, era um tanto difícil manter aquele voto, quando vez ou outra, eles se pegavam tocando-se com mais desejo do que o necessário e com a pele quente por algo mais profundo.

— Nós... devemos parar. — Jongin ofegou contra a boca do alfa.

— Com certeza. — Junmyeon concordou, mas nenhum dos dois afastou-se realmente.

Na verdade, apenas voltaram a se ficar daquela forma intensa que parecia fazer parte do seu relacionamento, contudo, Jongin acabou se afastando. Eles voltaram a ficar de peito para cima, fitando coisa nenhuma no céu, em silêncio. Junmyeon gostava de fazer aquilo e Jongin não tinha motivos para odiar o ato, ficar em silêncio ao lado da pessoa que se gosta acabava se tornando um dos momentos mais mágicos.

Nossa casa ainda vai demorar até estar pronta. — Junmyeon comentou.

— Eu queria ver como está ficando. — Jongin pediu.

— Quero que seja uma surpresa. — o alfa sorriu e então virou-se para fita-lo. — É meu presente de casamento pra você. — contou e Jongin se sentiu corar sob o céu escuro daquela noite.

E então, estavam aos beijos mais uma vez. Como adolescentes cheios de hormônios. Jongin separou-se do alfa, ergueu a mão para deslizar a ponta dos dedos por seu rosto e o viu fechar os olhos. Avaliou as olheiras do noivo e forma como ele tinha um rosto carregado de cansaço. Quis suspirar, mas segurou-o na garganta, não tinha que ser aquele que lamenta a condição do parceiro, tinha que ser aquele que o ajuda a superar. Segurou-lhe o rosto com as duas, as palmas estavam quentes contra as bochechas do alfa. Sorriu simples antes de deixar um beijo estalado em seus lábios, ato que serviu para que Junmyeon sorrisse.

Jongin conhecia a situação da Alcateia Kim, não só porque fazia Henry conta-lhe tudo o que acontecia no escritório da Sede, mas também porque observava a forma como os lobos Kim’s não estavam nenhum pouco satisfeitos com a família Byun compartilhando do seu território e até mesmo pareciam com raiva da forma como Junmyeon lhes dava hospedagem. No entanto, todas as vezes que Jongin perguntou sobre isso aos irmãos, tudo o que teve foi uma explicação breve sobre como Byun’s e Kim’s sempre se odiaram.

Começou há tanto tempo que nem o mais velho entre os lobos saberia dizer o real motivo. Alguns diziam que fora por conta de um roubo, outros por conta de uma briga de território, outros por traição e outros por tantas coisas, que Jongin não conseguia a creditar em mais nada. Resolvia ficar com a versão dos irmãos, mesmo que não fosse a mais interessante. No entanto, soubera que as alcateias haviam dado uma pausa nessa rixa quando o pai de Siwon tentou uma aliança com os Kim’s.

O velho senhor Byun havia sido recebido com boas intenções, mas a ganância o levou a quebrar a confiança dos Kim’s — mais uma vez — quando Siwon casou-se com uma Park e mais tarde, a morte do tio de Junmyeon só serviu para jogar mais inflamar mais os ânimos. Contudo, o que realmente incomodava Jongin era a forma como Minseok, um dos herdeiros do Clã Kim, se tornava — aos poucos — um dos motivos de ódio do povo, sendo que ômega casara-se por obrigação com Byun Baekhyun. E pior do que isso, era ver a forma como Junmyeon parecia cada vez mais inclinado a seguir seus lobos nesse julgamento e talvez, soubesse disso.

— As coisas estão difíceis na Sede? — perguntou ao noivo e se preparou para aconchegar-se sobre o peito do alfa.

— Estou tento problemas com meus próprios lobos. — Junmyeon confessou. — Às vezes, eu só queria acordar e saber que os dois anos já acabaram. — desabafou com um suspiro.

Jongin ergueu uma sobrancelha, sem entender ao que ele se referia.

— O que? — expôs sua confusão.

— A cláusula de 2 anos para casamentos arranjados com intuito político-econômico. — explicou e o ômega franzio a testa.

Conhecia aquela cláusula, afinal Lu Han o tinha contado sobre seu casamento, a forma como poderia ficar bem depois de dois anos. No entanto, tudo se ajeitara e fazia bastante tempo que Jongin não pensava nisso, mas deveria ter imaginado que Minseok e Baekhyun ainda estavam vivendo seus anos de cláusula quando não haviam se casado há tanto tempo assim.

— Quer que eles se separem? — Jongin perguntou inquieto, levantou o rosto do peito do alfa para fita-lo.

— Meus lobos se acalmariam e Minseok estaria melhor sem aquele Byun por perto. — Junmyeon respondeu com uma certeza que deixou Jongin nervoso o suficiente para levantar-se e fitar o alfa de baixo. — O que foi? — Junmyeon levantou-se também, confuso com a atitude.

— Os Byun’s não são maus. — defendeu-os antes que pudesse segurar as palavras na boca. — O senhor Lee é a pessoa mais doce que conheci até hoje e o senhor Byun nos tratava com respeito, nunca disse qualquer palavra ofensiva a Lu Han. — continuou para total choque de Junmyeon e mais irritação de Jongin. — E Baekhyun é um ótimo líder. Ele cuidou da minha alcateia como se nós tivéssemos o mesmo sangue, até mesmo ajudou meu irmão com o nosso casamento. — deixou escapar, o que fez o alfa arregalar os olhos. — E você junto com seus lobos estão atrapalhando a felicidade de Minseok.

— Você está se escutando? — Junmyeon devolveu com indignação. — Baekhyun nunca poderia ter ajudado no nosso casamento porque... — e as palavras morreram na sua boca quando percebeu onde o Byun se encaixava naquilo tudo. — Nunca houve um dote**, não é? — perguntou baixinho ao ômega, que negou.

Tinha que admitir que agora estava surpreso. Aquilo era dinheiro demais até mesmo para um clã rico como os Byun’s, mas deveria ter imaginado que os lobos brancos tinham bem mais do que deixavam transparecer e o fato mais incrível disso, era a forma como Baekhyun nunca deu a entender que havia os ajudado naquela época, porque um dos motivos pelo qual os Lu’s eram bem aceitos entre os Kim’s, foi a forma como a sua chegada trouxe prosperidade ao clã, já que Junmyeon conseguiu quitar as dívidas e conseguir novos compradores. Tudo parecia ter dado certo desde a chegada dos Lu’s, no entanto... a frase certa parecia tudo deu certo desde o casamento de Minseok com Baekhyun.

— Lu Han sabia que estava passando por maus bocados com a Alcateia, mas foi Baekhyun quem ofereceu o dinheiro. — Jongin terminou de contar. — Ele sabia que você não aceitaria se fosse ele a entregar, mas sabia que se Lu Han o fizesse, não teria razão para desconfiar.

Junmyeon ficou calado, engoliu em seco. Sentia-se um tanto envergonhado pela forma como estava se comportando como um ingrato. No entanto, mesmo que isso viesse à público, não achava que seus lobos ficariam agradecidos da mesma forma que si. Na verdade, dado os boatos que corriam pelo clã, desde a prisão de Kim Jongdae, duvidava que alguém fosse acreditar naquela história. E mais uma vez, naquele dia, Junmyeon estava pensando no irmão ômega. Minseok precisava ser interrogado, mesmo que não quisesse fazê-lo. Ter esse tipo de certeza, só fazia Junmyeon lamentar a forma como era o primogênito dos Kim’s.

— Isso ainda não é suficiente para que eu queria que esse casamento dure. — insistiu no seu ponto, para total descrença do Lu.

O ômega suspirou e virou-se de costas para o alfa. Estava pronto para ir embora dali sem dizer mais nada, afinal já tinha percebido como o noivo era teimoso demais para abandonar seu argumento.

Teimosia devia ser hereditário entre os Kim’s, pensou amargo.

— Jongin! — Junmyeon chamou quando viu o noivo se afastar. — Jongin! — correu atrás de si, mas o ômega não parou. — Hey, pare com isso. — segurou-lhe o braço na primeira oportunidade.

— Pare com isso você. — o Lu soltou-se do aperto. — Eu sei que acha que está o protegendo, mas ele não precisa da sua proteção ou da proteção de qualquer outro. — Jongin falou, fazendo o alfa se afastar um passo pela forma como suas palavras soavam firmes. — Minseok deveria ser quem diz se quer o fim do casamento ou não.

Jongin suspirou. Não sabia por que ficará tão irritado com o rumo daquela conversa, mas deveria ser a forma como Junmyeon estava se comportando, como se fosse o dono de tudo, como se pudesse controlar qualquer pessoa de acordo com os seus desejos sem pensar no que elas sentiriam. Passou a mão no cabelo e suspirou, frustrado com a forma como tinha saído do controle.

— Nós vemos amanhã. — começou a se afastar sem esperar qualquer resposta do alfa.

Junmyeon deixou, porque sabia como estava se comportando como um idiota naquela história. Ficou muito tempo parado ali, embaixo do céu onde eles tinham se beijado, encarando a escuridão por onde Jongin havia desaparecido. Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos ruins e resolveu que tentaria falar com Jongin novamente quando sua mente estivesse livre de qualquer estresse, pois uma parte sua o estava alertando da forma como estava jogando suas frustrações em cima do casamento do irmão, em cima de Kim Jongdae e em cima de Lu Jongin.

Caminhou de volta para casa, com o rosto inexpressivo por conta da breve discussão na floresta. Quando entrou em casa notou como tudo parecia um tanto calmo para os parâmetros normais, viu Kyungsoo cochilando no sofá com a tevê ligada, a barriga de quase oito meses arrancando um sorrisinho do alfa que se aproximou para cobrir o mais novo com a coberta que estava no chão, deveria ter caído em algum momento. Passou pela cozinha mais não encontrou Ryeowook ou Heechul. Foi em direção ao corredor, iria direto para seu quarto tomar um banho e então descansar. Passou em frente ao quarto do seu omma Heechul e viu a silhueta de Kim Jungsoo na cama, lendo algo.

Não fez questão de falar com o alfa. Não sentia vontade, não queria. Ainda estava ressentido por tudo que o pai alfa fizera. Preferia trata-lo com silêncio e indiferença, quem sabe isso fosse punição suficiente quando não podia expulsa-lo do território devido a marca que compartilhava com Heechul.

Passou em frente ao quarto de hospedes, onde Sehun estava dormindo. A porta estava fechada, denunciando que o alfa não estava ali. Suspirou com isso, um tanto cansado demais. Queria entender o que acontecerá mais cedo entre ele e Minseok, o que havia resultado em todo aquele sangue. Era difícil pensar que o primo poderia ter feito algum mal ao ômega, contudo pior do que isso, era pensar que Minseok havia feito mal à Sehun.

Então, alcançou a porta do quarto de Kyungsoo e Minseok. Estava entreaberta e por isso Junmyeon acreditou que o irmão estaria ali, preparou-se para erguer a mão e abrir a porta de vez. Desejava fazer algumas perguntas, quem sabe pedir desculpas pela forma como o estava tratando. No entanto, desistiu do ato quando notou que havia mais uma pessoa ali dentro. Junmyeon aproximou-se mais da porta, como uma criança curiosa, observou por entre a fresta.

Eles estavam deitados na cama de Minseok, conversando sobre alguma coisa enquanto seus corpos mantinham-se encaixados da mesma forma que Junmyeon estava acostumado a fazer com Jongin. Baekhyun era quem estava falando, vez ou outra mexendo uma das mãos como que desenhando no ar suas palavras ao passo que Minseok se mantia quieto, com uma das mãos entrelaçada ao do alfa. Junmyeon abriu a boca, totalmente descrente da forma como eles pareciam naturais e confortáveis um com outro.

Piscou os olhos e deu um passo para trás. Se sentia mais idiota do que antes, se deu conta. Balançou a cabeça, meio sorrindo. Jongin sempre tinha razão, não? Minseok era quem deveria dizer se queria continuar com aquilo ou não e pela forma como tinha observado, já conhecia a resposta do irmão. Desejava que ele não se machucasse com isso, mas sabia que isso era um tanto inevitável. Continuou o seu caminho até seu quarto em silêncio e com a alma mais leve.

No quarto, Minseok aconchegou-se mais no marido e Baekhyun apertou seu corpo num abraço desajeitado, o que arrancou uma risada do alfa. Eles tinham chegado há algum tempo do hospital, tomaram banho e terminaram deitados ali, falando sobre assuntos aleatórios, contando histórias engraçadas um ao outro como forma de fazer o tempo passar e a tensão do ocorrido, ir embora.

— Está com fome? — Baekhyun perguntou depois que terminou de contar mais uma das suas histórias de infância.

Minseok assentiu, sua garganta ainda doía quando falava por isso, evitava fazê-lo. Eles afastaram-se e Baekhyun ofereceu-lhe a mão para ajudá-lo a ficar de pé. Então, estavam saindo dali em direção a cozinha. Não demorou muito até que estivessem comendo. Haviam improvisado um sanduiche com suco. Comeram em silêncio, mas não de um jeito constrangedor. Estava bom daquela forma, Minseok gradecia.

Quando terminaram, Minseok avistou Kyungsoo dormindo no sofá e com a ajuda do alfa, o levou para o quarto, onde poderia dormir mais confortavelmente. Então, eles terminaram sentados no sofá, assistindo um filme qualquer na tevê. Baekhyun o observou de soslaio, verificando se o marido não sairia correndo para vomitar seu lanche. Mas tudo parecia normal com o ômega, apesar da melancolia que ainda adornava seus olhos puxados. A verdade, era que o Kim estava terrivelmente abatido desde a briga com Sehun. Alguma coisa nele ainda estava em choque com a forma como não mediu seus atos para com o primo, uma pessoa próxima a si.

Ele está bem. — o Byun decidiu dizer pegando Minseok de surpresa. — Sehun, eu quero dizer. — esclareceu diante da confusão em sua face. — O médico apenas o deixou em observação. — queria tranquiliza-lo.

— Tem certeza? — questionou baixinho.

— É claro. — Baekhyun o puxou para perto. — Fique tranquilo, huh? — encostou sua testa na do ômega e o beijou devagarinho, da forma como havia aprendido a apreciar.

Minseok passou os braços envolta de si e o puxou para perto, deixou que suas línguas se tocassem e o beijo tornasse-se mais profundo que o esperado. Baekhyun desceu as mãos para a sua cintura e puxou para seu colo apenas para desfazer o beijo e deslizar os lábios por seu pescoço. Minseok riu, baixinho com o arrepio que veio e Baekhyun acabou acompanhando, quando sorriu contra sua pele com cheiro de mirtilo. Aliás, notava que não havia apenas o costumeiro mirtilo desprendendo-se da pele do marido, o seu cheiro também estava ali, equilibrando tudo. Doce e cítrico juntos. Acreditava que era culpa da convivência, das noites que dormiam juntos, da forma como passavam tempo demais perto um do outro.

A porta se abriu e Minseok assustou-se o suficiente para sair do colo de Baekhyun com pressa. Baekhyun virou o rosto para cumprimentar Heechul e Ryeowook, a expressão neutra enquanto o ômega corava até a raiz dos cabelos e arrancava uma risadinha contida de um dos pais ômegas.

— Já comeram alguma coisa? — Heechul perguntou num tom sugestivo o suficiente para que recebesse uma cotovelada de Ryeowook e fizesse Minseok abaixar a cabeça tamanha a vergonha.

Mas Baekhyun parecia não se abalar com o flagra, apenas divertia-se internamente com tudo aquilo. A dinâmica da família de Minseok sempre o deixava surpreso, uma surpresa boa dado a timidez com que a sua se comportava.

— Trouxemos comida tailandesa. — Ryeowook ergueu as sacolas que estava segurando antes de ir em direção a cozinha.

Minseok levantou-se e lançou um olhar para o marido, numa pergunta silenciosa se viria e Baekhyun negou com a cabeça. Não estava com fome, estava apenas preocupado com o marido, temia que ele estivesse doente. Mas Minseok parecia normal quando foi em direção a cozinha, atrás de um pouco mais de comida. Na verdade, ele parecia terrivelmente faminto quando demorou bastante tempo na cozinha. Baekhyun escutava o som das vozes da sala, algumas risadas e ficava feliz pela forma como os pais não o tratavam diferente depois do casamento, da forma como Junmyeon estava fazendo. Sabia que o loiro se magoava com aquilo, principalmente quando vinha do irmão mais velho.

Algum tempo depois Kyungsoo apareceu, com o rosto amassado de sono e se juntou a conversa dos Kim’s na cozinha. Eles ficaram bastante tempo lá, tempo suficiente para que o filme na tevê chegasse ao fim e Baekhyun mudasse de canal até encontrar outro. Mas quando eles saíram de lá, Minseok parecia mais alegre, como se tivesse tomado uma vitamina de animação. Baekhyun sorriu para si quando o marido sentou-se ao seu lado no sofá.

Ryeowook e Heechul não demoraram a se recolher e mesmo Kyungsoo, depois de uma conversa engraçada sobre como ele não conseguia ver seus pés por conta do tamanho da barriga, também os deixaram sozinhos. E mesmo Minseok, depois de uns minutos começou a bocejar, deixando claro para o alfa como estava cansado. Eles se despediram com beijos tímidos e sorrisos mais tímidos ainda que faziam o peito de Baekhyun se aquecer inteiro.

Minseok foi em direção ao seu quarto e Baekhyun resolveu que dormiria na casa dos pais, ao lado, e por isso respirou fundo quando saiu da residência Kim. O loiro ainda o observou pela janela, desejou sorte e relaxou os ombros quando o viu entrar na casa. Esperava que tudo desse certo enquanto preparava-se para dormir.

De banho tomado, deitou-se em sua cama, fitou o teto e bocejou mais um pouco. Mas não conseguia fechar os olhos e dormir da mesma forma que Kyungsoo fazia na cama ao lado, abraçado num tipo engraçado de travesseiro. Seu pai Ryeowook havia explicado que aquele travesseiro ajudaria o gêmeo a dormir melhor e de fato, Minseok percebia, Kyungsoo parecia mil vezes mais relaxado com aquele travesseiro do que sem ele.

Fitou o horário no seu celular, encarou os aros do seu óculos sobre o criado mudo ao lado da cama e suspirou mais uma vez naquela noite. Deveria ser onze horas quando decidiu caminhar pela casa, atrás de um pouco de sono ou qualquer coisa que o fizesse relaxar. Estava tão inquieto e nem ao menos entendia porque. Terminou na cozinha, vasculhando a geladeira atrás de sorvete.

Comeu boa parte do que encontrou, no escuro da cozinha. Depois estava na sala, assistindo qualquer coisa na tevê e se perguntando onde todo aquele cansaço de antes tinha ido parar. Deitou-se no sofá e suspirou, a luz da tevê lhe dava alguma segurança quando não gostava tanto assim do escuro total. E não soube precisar o momento, mas, de repente, estava repassando na sua mente tudo que acontecerá naquele dia.

O jeito como ele e Baekhyun haviam dormido juntos na casinha, a diversão na beira do lago, a briga com Sehun... Fechou os olhos com isso. Sentia-se tão culpado, tão arrependido do que fizera. Nunca quis machucar o primo e muito menos mata-lo, pois bem sabia que se não tivesse se parado, teria arrancado a vida do corpo do alfa em um piscar de olhos. E ter essa certeza o assustava, assustava mais do que a possibilidade de ser o culpado da morte de uma pessoa da sua família.

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Odiava a forma como a Organização havia mexido com a sua cabeça, as lembranças do terrível treinamento ainda o assombravam e as mortes... estavam todas guardadas em sua mente. No entanto, o que havia de pior nisso era a forma como se pegava fazendo tudo com extrema naturalidade. Ainda lembrava-se da sensação do primeiro tiro disparado em direção a um alvo, a jeito como a arma não tremeu na sua mão e seu rosto se manteve impassível.

Missões de pequeno porte que eles costumavam realizar com intuito de eliminar os mais fracos e também ter uma previa de qual classe cada ômega pertenceria. Minseok costumava se dar bem nessas missões, achava divertido a adrenalina no sangue e sede de vencer o mantinha são. Gostava de competir contra Henry, numa brincadeira que só os dois entendiam. Contudo, eles sempre estavam no topo do ranking, diferente de muitos outros.

E a punição para os últimos da lista, Minseok só descobriu no dia da sua formatura. Ninguém podia sair dali sem ser um deles e não ser um deles, significava nunca mais sair, Minseok conhecia o mandamento. E quando atirou nos seus colegas de classe, em frente aos professores, soube que nunca queria estar do outro lado da arma. Queria ser aquele que a segurava e sabia que Henry pensava da mesma forma, contudo, uma vez que se recebi a tatuagem no corpo, não havia maneira de se livrar dela.

A Organização o caçaria até o inferno, por isso, quando encontrou a carta sobre seu criado mudo assim que chegou do hospital, não se surpreendeu. Havia escondido a carta embaixo do colchão antes que Baekhyun visse, afinal não sabia como o marido podia reagir e para o bem da verdade, ele mesmo não sabia como deveria reagir quando qualquer ômega no seu lugar estaria exultante com a ideia de ter sido convocado novamente, afinal isso significava que ainda se tinha um propósito para viver.

Viver, pensou amargo. A Organização nunca o deixaria em paz, foi um bobo quando se enganou com isso durante esse tempo inteiro. Desde o momento em que rejeitou a proposta de Hyuna, Minseok esteve esperando o momento em que seria morto, mas quando o silêncio lhe foi dado em troca, havia apenas se deixado aproveitar como o belo idiota que era.

Suspirou mais um pouco e fechou os olhos, estava tão cansado disso. Queria ter uma vida normal com Baekhyun, sem medo de um dia acordar e descobrir que estão oferecendo uma recompensa por sua cabeça, mas isso parecia ser o tipo de coisa que nunca aconteceria. Talvez, devesse aceitar a proposta de Sehun e esconder-se na sua alcateia, pois sabia que só um louco atacaria aquele lugar, mas também sabia que ômegas negros estavam em toda parte, vestindo o manto de lobo normal. Ômegas da Organização faziam parte do seu dia a dia, tão natural quanto respirar.

Abriu os olhos e pôs-se de pé, foi até a cozinha e bebeu um pouco de água, apenas para ter coragem o suficiente para sair dali. Quem sabe se fizesse uma caminhada, seus pensamentos pudessem clarear.

Estava frio lá fora e o céu sem estrelas, o deixava inquieto. Haviam poucos lobos na rua, alguns sentinelas aqui e ali. Os cumprimentou antes de se afastar, pretendia ir até a floresta atrás de um pouco de silêncio e ar puro, mas desviou o caminho no último segundo e se viu entrando no hospital. Perguntou a enfermeira onde era o quarto de Oh Sehun e seguiu pra lá com o coração aos saltos e as mãos suando em puro nervosismo.

O alfa estava dormindo quando entrou no quarto, pálido na cama de hospital recebendo soro na veia e ressonando baixinho. Minseok aproximou-se da cadeira ao lado da cama e sentou-se lá. Estava de pijama, se deu conta e com os pés descalços e bem imaginava que seu cabelo estava bagunçado, mas ao menos tinha seus óculos. Subiu as pernas e abraçou os joelhos, encolheu-se inteiro naquela cadeira e ficou observando o primo e ex-noivo.

O curativo se destacava no ombro, enorme como a culpa que sentia. Perguntou-se se o alfa estava sentido alguma dor, se tinham o dopado para que dormisse daquele jeito. As respostas não vieram, o que veio foi a forma como começou a bocejar fraquinho e os olhos pesaram, se viu cochilando naquela posição, a cabeça deitou-se sobre os joelhos juntos.

— Minseok? — acordou com alguém lhe chamando. — Minseok? — os óculos estavam machucando sua bochecha quando levantou o rosto.

Esticou as pernas, seu corpo inteiro doía pela forma como tinha adormecido naquela posição. Escutou uma risada e quando conseguiu focar o olhar, encontrou Sehun acordado em sua cama. Se viu sorrindo de volta.

— O que faz aqui? — o alfa perguntou.

Minseok esticou os braços antes de responder.

— Eu vim te ver. — contou e Sehun sentiu-se corar onde estava, coisa que passou despercebido pelo ômega.

Sehun desviou os olhos do ex-amante, olhou para a decoração do seu quarto. As paredes pintadas de branco o faziam lembrar-se da infância, dos breves momentos em que visitava a Alcateia Kim. Todas as vezes que tinha algum mal-estar, terminava em um quarto como aquele no hospital. Por vezes, os primos ficavam lhe fazendo companhia até que pudesse voltar a brincar, mas na maioria das vezes era Minseok que estava sempre consigo quando Junmyeon e Kyungsoo gostavam de brincadeiras mais intensas. E ver o primo ômega ali, ao lado da sua cama, da forma aconteceu tantas vezes no passado, o fez se perguntar se eles tinham voltado no tempo.

Não reclamaria se acontecesse, afinal isso ao menos significava que eles não pertenciam a ninguém, que eram só crianças.

— Como está se sentindo? — Minseok inclinou-se sobre si, a mão se ergueu para conferir a temperatura na sua testa e Sehun retesiou-se com a aproximação repentina.

O cabelo loiro estava bagunçado e um tanto grande, enquanto o óculos estava torto no rosto. Havia uma pintinha bem pequenininha no meio do lábio superior, os olhos puxados como os de um gato e as marcas arroxeadas dos seus dedos na pele do seu pescoço. Notar todos esses detalhes o deixou triste. Como pôde machucar Minseok daquela forma?

— Desculpe-me. — pediu em vez de responder a pergunta do ômega.

O Kim fitou-o de onde estava, afastou-se quando notou a forma como estavam terrivelmente perto. Aquela aproximação o deixava desconfortável o suficiente.

— Está tudo bem. — Minseok disse quando suas costas voltaram a se encostar no encosto da cadeira, ele abaixou o rosto, puxou as mangas do seu pijama para baixo até que cobrissem metade da sua mão.

Parecia tão pequeno daquela forma, Sehun pensou. Tão inofensivo.

— Você quem deveria me desculpar. — ele disse, envergonhado. Nem sequer tinha coragem de levantar o rosto para fita-lo. — E-eu poderia tê-lo matado. — parecia ao ponto de começar a chorar pela forma como sua voz falhou.

— Minnie. — Sehun chamou, mexeu-se na cama e conseguiu pegar as mãos do ômega. Minseok levantou o rosto e o fitou. — Está tudo bem. — sussurrou e viu as lágrimas acumulando-se nos cantos dos olhos dele, por baixo das lentes dos óculos.

— Sehun. — o lábio inferior tremeu e o alfa não conseguiu fazer outra coisa que não fosse trazer o ex-noivo para um abraço. — E-eu sinto muito. — Minseok soluçou. — E-eu nunca quis machuca-lo. — Sehun deslizou a mão por sua costa.

Conhecia o ômega por tempo suficiente para saber que ele não se referia mais ao ferimento em seu ombro, estava falando de algo mais profundo. Alguma coisa que só Sehun sabia e isso só o deixou mais triste com toda aquela situação. Eles nunca deveriam ter deixado de ser crianças, pensou amargo.

Minseok chorou contra seu peito ao mesmo tempo que Sehun se permitia aproveitar o momento para sentir o seu cheiro, como um viciado faria. Sentiu as lágrimas do ômega molhando sua pele, fazendo-o se arrepiar enquanto uma certeza inquietante tomava conta de si: o cheiro de Minseok estava diferente. Havia alguma coisa cítrica misturada com o doce do familiar mirtilo, alguma coisa parecida demais com cheiro de Baekhyun para que não pudesse reconhecer. Apertou o corpo do ômega contra o seu achando que assim o seu coração não ficaria mais apertado, que não se quebraria em milhões de pedacinhos, da forma como sentia acontecendo a cada vez que notava como nunca poderia se livrar de Baekhyun.

O cheiro na pele do Kim era confirmação suficiente pra isso. Fechou os olhos, sentiu que poderia começar a chorar também, mas decidiu que podia fazer isso em qualquer outro lugar, naquele momento queria apenas confortar Minseok. Então, engoliu o seu choro ressentido de alfa rejeitado. Esperou que o Kim relaxasse os ombros e se afastasse envergonhado para poder soltá-lo, mesmo que seu lobo implorasse para que o fizesse.

— Melhor? — preocupou-se com loiro e Minseok assentiu enquanto puxava as mangas do pijama para limpar os olhos, por baixo das lentes dos óculos e depois limpava as lentes. Sehun observou o ato, mordendo o lábio em apreensão, queria tanto perguntar algo mas não sabia como fazê-lo e quando o Kim voltou a fita-lo, ele soube que não poderia nunca fazer a pergunta, porque isso significava perder a atenção do ômega. — Está sem sono?

Minseok assentiu antes de erguer a gola do pijama para esconder o arroxeado da briga de mais cedo em sua pele, onde percebia que Sehun fitava a cada pedaço de tempo. Uma parte do alfa agradeceu pelo ato.

— Sua mãe sabe que está aqui? — o ômega trocou de assunto e Sehun negou.

Não contaria aquilo para sua mãe nem em um milhão de anos, pois sabia como a beta o proibiria de vir até o território Kim sem uma escolta ou como amaldiçoaria Minseok e os Byun’s até a última geração. Joohyun era protetora demais com o seu único filho, tanto que Sehun se sentia sufocar, as vezes, com tanto cuidado.

— Você veio me contar uma história? — Sehun se viu perguntando, fazendo referência a todos os momentos em que tinham passado juntos na infância.

Minseok sorriu, tímido, encolheu-se na cadeira e o fitou. Não houve uma confirmação ou coisa do tipo, o que veio, na verdade, foi o silêncio aterrador. Pegou o alfa de surpresa e deixou o clima melancólico, porque Sehun entendia muito bem em que ponto ômega queria chegar. E de repente, ele se viu no mesmo patamar, lutando contra o medo da resposta que receberia. Disse a si mesmo, enquanto via o loiro morder o lábio com força, que se ele falasse qualquer coisa, rebateria com o que lhe incomodava.

— Hunnie, — o Kim começou baixinho e Sehun engoliu em seco, sem coragem alguma de fazer o que prometeu a si mesmo. — sobre o que aconteceu hoje de manhã, sobre o que você viu... — ele abaixou os olhos, puxou o tecido das mangas do pijama, nervoso. — eu e Baekhyun... — não sabia porque se sentia na obrigação de dar uma justificativa, mas estava o incomodando a forma como ele não conseguia classificar o que acontecia entre eles.

— Está apaixonado por ele. — Sehun resolveu dizer, trazendo os olhos de Minseok para si, novamente.

Havia bastante tristeza no olhar de Minseok para alguém que estava apaixonado. Sehun acreditou que fosse por culpa sua, afinal fora si mesmo quem provocou aquela situação desconfortável para ambos, no entanto, quanto mais fitava o ômega, mais percebia a forma como ele não estava pronto para se apaixonar e muito menos feliz com isso. O que havia de errado?

— Está com medo? — o Oh sussurrou para o ex-noivo, como se a ideia de sentir medo fosse totalmente irreal.

— Todos vão me odiar se eu estiver. — Minseok disse, voltou a abaixar a cabeça, mas Sehun sabia que ele começaria a chorar.

— Eu não te odiaria. — se viu falando.

— Mesmo? — levantou o rosto com uma irritação que Sehun não sabia de onde vinha, ainda mais pela forma como o castanho dos seus olhos estavam terrivelmente brilhantes. — Porque hoje de manhã parecia que me odiaria pra sempre.

O alfa engoliu em seco. Já havia repassado aquele erro milhões de vezes na sua mente, a forma como gritara, o jeito como partiu para cima da pessoa que dizia amar. Tinha se comportado como um maluco, nem um pouco do que costumava ser. Culpa do seu ciúmes, da possessividade que todo alfa tinha. Sempre desprezara a forma como alfas podiam se tornar irracionais quando inflamados por emoções fortes, mas tinha se comportado como um.

— Eu perdi a cabeça. — desculpou-se mais um pouco. — Foi um ato totalmente idiota da minha parte.

— Eu também não estava pensando. — Minseok balançou a cabeça, ficou de pé e se afastou até a janela do lugar.

Estava fechada pela persiana, o ômega procurou uma fresta com os dedos e olhou para fora. Estava totalmente escuro lá fora, todos deveriam ter ido dormir deixando a noite para os sentinelas. Sehun ajeitou-se na cama e observou a silhueta do ômega. Era escuro por conta da noite e da forma como a luz do quarto estava apagada, mas a visão noturna dos lobos o ajudava a ver tudo no cômodo e isso incluía, ver Minseok. Capturar sua imagem e guardá-la para sempre em sua mente. Ele fitou o soro no seu braço e não pensou duas vezes antes de tirá-lo e então, estava indo em direção ao ômega.

Parou atrás de si. Minseok levantou o rosto para fita-lo ao passo que o corpo se virava para ficar de frente para si. Era muito maior do que o ômega, mas o mais fraco entre os dois, mesmo que o Kim não parecesse se importar com isso quando se aproximou um pouquinho mais e o abraçou com delicadeza. Sehun passou os braços por seu corpo também, o trazendo para mais perto, enfiou a ponta do nariz no topo da sua cabeça, em meio aos cabelos claros bagunçados. Encontrou um pouco mais do cheiro doce de mirtilo e do cheiro tinto do alfa Byun, as batidas do seu coração enfraqueceram no peito com isso.

Então, apoiou o queixo no topo da cabeça do ômega, fitou as persianas fechadas da janela e esperou pelo momento em Minseok fosse se afastar, mas nada veio. O ômega apenas continuou ali, apertando-o, quieto, respirando contra sua pele, deixando-o perceber que o Kim apreciava sua presença. Isso o encheu de esperança para fazer uma loucura.

— Minseok, — chamou e não ouve resposta, mas sabia que o ômega escutava. — fuja comigo. — pediu com urgência. — Podemos ser felizes na minha alcateia, eu posso protege-lo. Só... só venha comigo. — apertou-o mais em seus braços. — Por favor.

E contra todas as expectativas, Minseok soluçou contra seu peito. O alfa sentiu as lágrimas mais uma vez na sua pele, descendo por sua barriga a medida que Minseok sufocava naquele choro de desculpas que Sehun não aguentava mais receber.

— E-eu não posso. — o ômega sussurrou, por fim.

— E o que você pode?! — Sehun não sabia de onde a raiva vinha, mas ela estava ali, fazendo-o se afastar de Minseok, segura-lo pelos ombros e fita-lo nos olhos. — Vir aqui e mexer com a minha cabeça? — sacudiu-o com brutalidade ao passo que os olhos do ômega só vertiam mais lágrimas. — Está me deixando louco, Minseok. — lamuriou-se soltando os ombros do Kim. — Acha que eu não sei que está brincando comigo? — bufou, passou a mão no cabelo e afastou-se um passo do ômega. — Eu sinto o cheiro que sai da sua pele, vejo a forma como olha pra ele, te escutei gemer o nome dele de uma forma que nunca fez com o meu.

Minseok cobriu o rosto com as mãos e soluçou alto, os ombros tremendo e fazendo Sehun se sentir um monstro, mas ele não conseguia parar. Aproximou-se, novamente, afastou as mãos do Kim do seu rosto e segurou-lhe o queixo.

— Acha que eu não sei que está grávido? — falou amargo apenas para ter os olhos de Minseok arregalando-se na sua direção, alertando como não tinha ideia do que o alfa falava e ver isso, só serviu para Sehun se sentir pior. — Está gravado no cheiro que sai da sua pele. — explicou com uma voz cansada, soltou o queixo do ômega e se afastou até a cama, ficou de costas para si. — Eu achei que fosse culpa da forma como vocês estavam sempre juntos. — continuou e Minseok enxugou as lágrimas, ainda surpreso pelo que escutava. — Mas agora... quando você está aqui... — o amargor dava náuseas no Kim. — Ele está impregnado no seu corpo. — virou-se para apontar para a barriga do loiro.

Minseok olhou na direção, sem coragem alguma de erguer as mãos até lá. Estava totalmente em choque por tudo o que escutava. Não achou que realmente engravidaria até aquele momento, não era um exemplo de ômega religioso, mas uma parte sua agradeceu pela misericórdia de Dal, por ter lhe concedido o seu pedido. E de repente, sem que conseguisse se controlar, estava sorrindo. Havia conseguido. Ergueu a mão para esconder o sorriso do rosto, mas Sehun já havia visto apenas para ter uma parte sua morrendo mais um pouco. Como Minseok podia ficar feliz com aquilo? Com a certeza de que teria um herdeiro do Clã Byun?

— Você quer isso? — Sehun perguntou subitamente, indignado com o jeito como o Kim reagia. — Ao menos sabe o que isso significa?

União completa dos clãs, Minseok respondeu mentalmente. Lu Han estaria satisfeito com a forma como cumpriu sua parte no trato. Baekhyun teria um herdeiro e ele... ele não teria que ir embora. Mas não podia falar isso em voz alta para Sehun, tinha medo da sua reação. Então, ficou calado. Sehun suspirou diante do seu silêncio e resolveu acata-lo também, sentou-se na beira da cama e fitou o ômega de lá.

O Kim abaixou os olhos, apertou os dedos uns nos outros, nervoso com a forma como eles tinham ido de mal a pior naqueles poucos minutos. Minseok suspirou e encostou as costas na parede, acabou sentando no chão, de frente para Sehun. Encolheu as pernas, abraçou os joelhos e o observou um tanto desconfiado. O alfa quis rir daquilo, mas limitou-se a balançar a cabeça.

— Eu e Baekhyun iremos duelar amanhã. — se viu contando.

— Você está louco. — Minseok disse. — Não pode ganhar um duelo contra Baekhyun.

— E contra qualquer outro, também não. — Sehun concordou, fazendo o Kim se sentir envergonhado pelo que dissera, mas não era como se fosse culpa de Minseok o fato de ter nascido doente.

— Eu sinto muito.

— Está tudo bem.

E ali estava o silêncio novamente, desconfortável demais para que qualquer um deles quisesse continuar com aquilo.

— Sabe, não precisa fazer isso. — Minseok se referiu ao duelo.

— E o que eu deveria fazer? Provar a todos que sou um fracote? — rebateu amargo.

Minseok mordeu o lábio, abaixou os olhos e ficou quieto. Sehun fez o mesmo. Ambos se encararam por bastante tempo até que decidisse que não queria mais aquilo para si e deitasse na cama. O Kim o fitou de onde estava, deitar de costas para si, fingir que sua presença não estava mais ali. Machucou de uma forma que não esperava, porque sentia que era assim que aconteceria com todos quando descobrissem sobre o filhote em sua barriga. Esperava que Baekhyun também não o rejeitasse, afinal nunca tinham conversado sobre filhos ou qualquer coisa do tipo e além do mais, a sua gravidez foi algo planejado. De uma forma ou de outra, usou Baekhyun, mesmo que não gostasse de pensar assim.

Fechou os olhos e engoliu o medo, ficou de pé e foi até a cama de Sehun. Pretendia ir embora dali, quem sabe amanhã estivesse longe o suficiente para não ver o alfa perder para seu marido. No entanto, quanto mais se aproximava de Sehun, percebia que faria qualquer coisa para vê-lo seguro.

— Não pode ir duelar amanhã. — pediu mais um pouco e o alfa virou-se na cama para fita-lo. — Por favor.

Sehun suspirou e se preparou para pedir que fosse embora. O duelo não era mais sobre quem ficaria com Minseok, era sobre como Sehun sempre seria o alfa mais fraco em qualquer lugar se não comparecesse.

— Fuja comigo. — Minseok se ofereceu, a voz nem mesmo vacilou. — Vamos fazer do jeito que quer, sim?

O líder Oh sentou-se na cama rapidamente, encarou o ômega, sem acreditar no que escutava. Minseok fugiria consigo mesmo com um filhote de Baekhyun na barriga?

— Não está falando sério. — Sehun rebateu.

— Por que eu mentiria? — devolveu na mesma rapidez.

Eles fitaram-se com demasia antes que o alfa se aproximasse atrás de um beijo, mas Minseok foi mais rápido quando beijou-lhe na bochecha, demoradamente.

— Ao amanhecer, me espere fora da alcateia. — Minseok sussurrou no seu ouvido.

Sehun se viu assentindo, surpreso demais e o coração aos saltos.

O ômega fez um carinho em sua bochecha antes de se afastar.

— Onde está indo?

— Preciso resolver algo antes. — disse e continuou o caminho até a porta.

O Oh o observou ir embora, o peito cheio de uma esperança que não combinava com aquela noite. Ele olhou em volta, avaliou o quarto de hospital e suspirou, a esperança morreu aos poucos no seu peito. Já havia visto aquele cenário antes***, se deu conta. Minseok nunca fugiria consigo.

Enquanto chegava a essa conclusão, Minseok corria para fora daquele hospital em direção a qualquer lugar seguro, se surpreendeu quando se viu voltando para casa. Mas não conseguiu evitar olhar para o lado e avistar uma das janelas da casa de Heechul com a luz acesa. Mordeu o lábio, nervoso e um tanto ansioso com a possibilidade daquele ser o quarto de Baekhyun. Acabou desviando o caminho até lá, louco por um pouco de calor humano, mas não qualquer calor. Se deu conta de que queria o cheiro de Baekhyun, os seus toques e som da sua voz. E isso eram pistas o suficiente para que sentisse os olhos encherem-se de lágrimas, porque isso mostrava o quanto estava vulnerável perto do alfa, o quanto estava se entregando à ele e o quanto queria continuar o fazendo.

Era a primeira vez que sentia-se tão livre perto de alguém, mas toda essa liberdade o fazia se sentir dividido. De um lado estava o seu clã cobrando fidelidade e do outro, estava Baekhyun, apenas Baekhyun não lhe cobrando coisa alguma. E agora havia aquela criança em seu ventre, havia os boatos de traição rondando pela alcateia, havia Kim Jongdae dizendo coisas insanas sobre sua paternidade, havia Junmyeon o tratando como um criminoso, havia aquela carta da Organização embaixo do colchão da sua cama. Não tinha espaço para gostar de Baekhyun ali. Não tinha nem mesmo espaço para seus desejos ali.

Deveria apenas ser tudo o que sempre exigiam dos ômegas: obediente. Seguir todos os passos, abaixar a cabeça, fingir que não sente nada. Ser uma peça maleável nas mãos dos alfas que comandavam sua vida. Enxugou os olhos quando parou em frente à janela iluminada, mordeu o lábio para evitar o soluço, respirou fundo.

O que ele estava fazendo?

Porque estava se deixando levar daquele jeito. Era só dar meia volta, encontrar Sehun e nunca mais olhar para trás. Era só fazer um aborto e esquecer que aquela gravidez aconteceu, nem ao menos precisava contar a Baekhyun. Era só ir atrás de Junmyeon e dizer que odiava os Byun’s, que tudo era encenação. Era só ir até a Organização e dizer que aceitava ser um ômega negro, pedir desculpas e ser a melhor marionete de todas. Era só esquecer de si mesmo, deixar seus sonhos para trás, pisotear aquele sentimento até que morresse. E então, o que? Esqueceria de todos os olhares, das conversas bobas e dos toques mais íntimos?

Ergueu a mão e bateu no vidro.

Não houve resposta.

Deu um passo para trás e se preparou para ir embora.

Mas então, a janela estava se abrindo, relevando um Baekhyun de cabelo escuro bagunçado e sem a parte de cima do seu pijama. Minseok arregalou os olhos, mas de repente estava sorrindo para o marido da mesma forma com que ele o fazia. Nem em um milhão de anos se imaginaria fazendo aquilo, escolhendo um Byun em vez de todo o resto. Avançou na sua direção, entrou pela janela da forma como um adolescente faria e agarrou-se em Baekhyun para beijá-lo. Queria um pouco de conforto depois de toda a turbulência dos seus pensamentos.

— Você está gelado. — o marido sussurrou contra o seu pescoço. — A quanto tempo está aí fora?

— Eu não sabia se essa era a sua janela. — Minseok disse outra coisa.

— Foi um belo chute. — Baekhyun riu e afastou-se para fita-lo, Minseok riu de volta. — Sem sono ou apenas saudade? — continuou brincando.

— Quem sabe, um pouco dos dois. — respondeu no mesmo tom apenas para apoiar o queixo no ombro do alfa. — Eu posso dormir aqui? — sussurrou.

— Estava esperando que fizesse o pedido. — Minseok riu do jeito como ele falava.

Era estranho pensar que eles riam bastante quando estavam juntos, acreditava que ninguém acreditaria em si se dissesse como Baekhyun tinha um ótimo humor quando todos estavam acostumados com a forma como o alfa tinha uma postura séria demais.

Baekhyun o conduziu até a cama, o ômega sentou-se lá enquanto via o marido fechar a janela. O abajur em cima do criado mudo estava aceso deixando o quarto amarelado. O Byun aproximou-se e o loiro deitou-se, de modo que o alfa parou em cima do seu corpo. Baekhyun sorriu antes de deixar um beijo em sua testa e tirar o óculos de seu rosto, os colocou desajeitamente sobre o criado mudo. Minseok piscou os olhos na sua direção, queria contar sobre a gravidez, mas achava um pouco cedo e fora de clima, por isso, calou-se.

Eles se fitaram por bastante tempo daquele jeito antes que Minseok começasse a se sentir corar embaixo do marido, então Baekhyun estava procurando seus lábios com delicadeza. Se deixou levar pelos toques, esqueceu-se dos problemas que tinha em mente. Quando o marido deslizou os lábios por seu pescoço, o ômega só conseguia desejar e mais e mais daquilo. Em sua mente só havia Baekhyun.

As peças de roupas foram embora aos poucos, os beijos tornaram-se mais urgentes e os toques mais precisos, havia uma certa leveza empregada em cada ato que só servia para que Minseok se distanciasse mais do que tinha feito e quisesse mais do que Baekhyun fazia consigo. Em algum momento, eles trocaram de posição, o Kim estava por cima do corpo do alfa, beijando-lhe os lábios com demasiado desejo. Baekhyun ofegou contra seus lábios, num meio gemido que só serviu para que Minseok arrepiasse-se inteiro. Separou-se dele aos poucos, mas o Byun o trouxe para perto novamente, a mão na sua nuca o mantia onde deveria estar. Agradeceu pelo toque, porque sentia como se fosse derreter nos braços do esposo e ao menos aquela mão na sua nuca, mantia suas células no lugar.

As mãos de Baekhyun deslizaram por seu tronco até chegarem no quadril, Minseok o fitou de cima, o cabelo loiro jogando-se ao redor do seu rosto. O alfa fitou-o de volta, os lábios finos vermelhos do esforço dos beijos de antes e o seu coração batia tão rápido quando notou a forma como os olhos do ômega tornavam-se avelã aos pouquinhos, o castanho ia embora de um jeito tão simples que Baekhyun acreditou que aquela deveria ser a oitava maravilha do mundo.

— Faça amor comigo. — Minseok subitamente pediu, baixinho, enfiando o rosto na curva do seu pescoço, aspirando o seu cheiro e escondendo as bochechas coradas.

Baekhyun estremeceu com aquelas palavras, aquele pedido. Não estava pronto para escutá-lo, muito menos acatá-lo, mas se surpreendeu com a forma como queria realiza-lo. Girou na cama, fazendo com o ômega ficasse por baixo de si, procurou os seus olhos. Com uma das mãos afastou os fios de cabelo que colavam-se na sua testa, aproximou o rosto para beija-lhe as bochechas, a testa, os olhos e então, a boca, numa confirmação silenciosa do pedido de Minseok.

O ômega sorriu contra o beijo, estava entregando-se de vez ao alfa. Nada de muros, nada de mentiras ou dúvidas. Queria ser apenas Kim Minseok, aquele que entregou seu coração a Byun Baekhyun.

Mas quando Baekhyun acordou, no dia seguinte, Minseok não estava ao seu lado.