Mirtilo

X - Esses pedaços meus


Siwon suspirou antes de erguer o copo de bebida até a boca. Fechou os olhos enquanto bebia, a mente ainda estava muito ativa com todo o acontecimento de mais cedo mesmo depois de meia garrafa de álcool, o que era ruim, porque tudo que Siwon queria era esquecer o que escutara. Devolveu o copo vazio para o balcão do bar e se preparou para segurar a garrafa e encher o copo novamente, seus movimentos estavam vagarosos e a língua pesada de álcool, mas sobre todo o barulho daquela boate, ainda podia escutar o som do choro de Donghae.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Suspirou e quase desistiu de encher o copo. Tinha o velho pressentimento de que mesmo que entrasse em coma alcoólico, continuaria sendo capaz de escutar o choro de Donghae. O frágil e bobo, Donghae. Seu marido. Pai dos seus filhos. Sua metade... Era surreal encaixar esses adjetivos naquela pessoa que mentira para si por vinte anos. Parecia-lhe um filme de terror, onde o marido do detetive, é o verdadeiro assassino. Fazia-o sentir-se estranho. Não era raiva, não era quente no seu peito. Na verdade, era frio e pegajoso. Parecia com saudade e com alguma coisa amarga como decepção. Estava com saudade do Lee, mas decepcionado demais para tentar se aproximar.

Então bebeu direto do gargalo da garrafa, pretendendo afogar todo aquele amargor na sua boca.

— Noite difícil? — escutou alguém dizer, abaixou a garrafa e focou o olhar em quem surgia do seu lado. — Nós devíamos montar um clube: Os rejeitados. — deixou o copo que segurava sobre a bancada para abrir as mãos e contemplar no ar o nome que inventara.

Siwon desviou o olhar para a bancada e voltou a beber do gargalo da sua garrafa, decidido a não dar atenção ao alfa do seu lado. Naquela situação, tudo que o Byun queria, era silêncio para sofrer em paz. Mas Jungsoo parecia tão bêbado quanto si ou só tivesse perdido toda a vontade de odiar Siwon, mas fosse qual fosse o porquê, o Byun só esperava que ele fosse embora. Afinal, não dava pra esquecer tudo que o outro lhe fizera em tantos anos apenas porque os dois estavam passando por um momento ruim.

Jungsoo sentou-se no banco à bancada do bar, sua bebida colorida à sua frente. O líquido dançava diante dos seus olhos, mostrando-lhe o quanto já havia bebido naquela noite. Só que não conseguia parar, não enquanto seu peito doesse daquele modo, tão profundo e latejante. Passou ambas as mãos em volta do copo, contudo não fez esforço para levanta-lo e beber o que restava de álcool. Não havia comido nada até aquele momento, e por isso seu estômago reclamava de tanto álcool — queimava. Olhou para o lado, fitou o perfil dançante de Siwon, o modo como os ombros se encolhiam e o jeito que os olhos estavam sem vida. Alguma coisa em si pedia por um abraço, engoliu em seco. Fitou novamente seu copo e ergueu-o.

Bebeu tudo de uma vez e se deixou ficar parado, fitando a beleza do copo vazio. Sentia-se daquela maneira: terrivelmente vazio. Mas sabia que não estava, pois se conseguisse se concentrar, podia sentir Heechul. Se fechasse os olhos, podia escuta-lo respirar e se conseguisse parar de pensar em Ryeowook, talvez, até conseguisse sentir o seu cheiro. Aquele cheiro engraçado de bergamota, doce e ácido, parecido demais com a pessoa que o portava, diferente do terrivelmente aconchegante cheiro de café que Ryeowook tinha. Só que mesmo com a presença constante que a Marca lhe impunha, Leeteuk sentia-se sozinho. Terrivelmente solitário. Terrivelmente vazio. Como uma peça sobressalente, a peça extra que nunca é usada.

Ele era a peça extra na sua alcateia, sabia disso.

Tudo sempre seria de Kyuhyun e quando o irmão morrera, sobrou para si tentar tapar o buraco que a falta do verdadeiro herdeiro deixou. Foi por isso que casou com Heechul. Lembrava-se bem daquela época, do jeito que o Kim o fitou com os olhos cheios de lágrimas nunca derramadas. Você não me ama. Realmente não amava, mas cada pedaço seu havia aprendido a aceitar Heechul, cada célula do seu corpo obrigou-se a responder aos chamados do ômega, o que afinal não era tão difícil quando se era um alfa casado com um ômega. O instinto fazia aquela relação acontecer, contudo com o passar do tempo, mesmo a raiva que nutria do Kim nos seus dias mais insanos, foi capaz de amá-lo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Amava-o abaixo de si, entre suas pernas, gemendo sob seu toque, o fitando com as iríses vermelhas de desejo. Amava Heechul de cabelo bagunçado com Junmyeon no colo e um sorriso cansado nos lábios dizendo que o filho tinha dormido. Amava-o deitado ao seu lado na cama, seu cheiro espalhado por todos os cantos da casa, mas amou-o mais quando recebeu de si o perdão mais sincero para a sua traição, amou-o com todo o coração quando o viu ninando os filhos que Ryeowook tivera. Mas agora... ainda o amava, de um jeito um tanto confuso agora que o outro Kim não fazia mais parte da história.

Escutou um arrastar de banco e virou o rosto para o lado apenas para encontrar Siwon levantando-se, deixando notas de won sobre o balcão, colocando seu casaco de uma maneira desajeitada, o cheiro de álcool quase tão forte quanto o seu.

— Já vai? — perguntou sem pretensão alguma, havia um tom de decepção na sua voz, o que fez cogitar se ainda era o mesmo adolescente apaixonado, esperando por uma resposta do outro lado da porta.

Siwon não olhou, muito menos lhe dirigiu uma palavra. Apenas se afastou, meio cambaleando, desejando sumir entre os outros clientes da boate, a luz colorida deixava-o sombrio. Leeteuk suspirou antes de soltar o copo vazio que segurava, afastou o banco para ficar de pé e caçou notas de wons no bolso, amontoou-as sobre o balcão, não tendo a decência de conta-las. Deixaria esse trabalho para o garçom, no momento precisava chegar mais perto do ex-amigo, precisava mostra-lo que não podia simplesmente ignora-lo assim.

Estava farto de ser ignorado. De ser deixado de lado, como se não fosse importante apenas porque não era o primeiro, apenas porque cometeu um erro. Estava cansado demais para ignorar aquela raiva no seu peito, aquela raiva feia que sempre aparecia quando avistava o rosto de Siwon. Então meio correu meio cambaleou por entre as pessoas, afastando-as sem cuidado, procurando Siwon com urgência. O encontrou já fora da boate, vomitando numa lixeira perto da porta. Parecia frágil como um humano, pensou.

— O que aconteceu contigo? — perguntou, dando passos vagarosos sobre a neve até o alfa.

E como esperou, o Byun não o fitou. Limitou-se a limpar a boca com a costa da mão antes de começar a se afastar, mas dessa vez Leeteuk correu atrás de si. Já bastava Heechul e Ryeowook o ignorando.

— Será que pode me responder? — tentou mais um pouco.

E mais uma vez, recebeu apenas silêncio e sons de passos se arrastando para longe de si. Deveria deixar pra lá, seu cérebro o alertou, mas havia álcool demais no seu sangue para que conseguisse escutar o aviso. Molhou os lábios com a ponta da língua e olhou pro céu escuro de noite, suspirou e disse a primeira coisa que sempre quis:

— Eu disse a você. — meio gritou e subitamente viu Siwon parar de andar, como que surpreso pelo que escutava. — Te disse que Donghae te machucaria. — terminou, então estava rindo do jeito que o corpo todo do Byun parecia rígido.

Só que mesmo com aquilo, não foi capaz de arrancar uma única palavra da boca dele, pois Siwon estava dando um passo para longe de si.

— O que há? — meio gritou, irritado demais com aquela falta de interesse em si para esconder. — O filho não é seu? Sabe, não me surpreenderia, Donghae sempre me pareceu o tipo que dorme com qualquer um por dinheiro. — soltou, firme, com ódio demais nas palavras.

Viu Siwon parar mais uma vez, apostava que as mãos escondidas nos bolsos do seu casaco, estavam fechadas muito firmes, irritado demais com o modo como Leeteuk dizia o nome do seu maridinho ômega.

— Na verdade, aposto que Chanyeol também não é seu. — se viu continuando. — Nunca dá pra confiar nesse tipo de gente, me surpreende que tenha se deixado cegar tão fácil, Siwon. — o sorriso continuava no seu rosto quando o ex-amigo virou-se para si. — Uma vez rato de sarjeta, sempre rato de sarjeta. — expos, as palavras desciam como veneno dos seus lábios.

O Byun franzio a testa em raiva e os olhos brilharam naquele âmbar que Leeteuk já tinha gostado na adolescência, e quase abriu os braços para receber Siwon quando o mesmo correu na sua direção. Era só uma pena que fosse para acertar um soco no seu rosto, em vez de abraça-lo realmente.

Sentiu seu corpo ser segurado pela cintura e logo suas costas estavam sendo jogadas contra a neve em frente à boate. Viu quando o alfa ergueu a mão fechada em punho e sentiu o impacto do soco no seu rosto.

— Não fale dele! — Siwon gritou. Parecia como nos velhos tempos, pensou. — Não ouse sequer pensar nele! — mais um soco, bem no queixo dessa vez.

— Por que?! — Leeteuk gritou meio tentando empurrar o alfa de cima de si, mas sem sucesso. — Porque ele é a porra do seu ômega de estimação?!

Mais um soco. Dessa vez sentiu o gosto de sangue na boca, acreditava que seu lábio havia partido, contudo estava inflamado demais em raiva para se preocupar com isso.

— Porque eu o amo! — Siwon gritou contra seu rosto, quase um rosnado.

Leeteuk viu o peito dele subir e descer com afinco e sabia que o seu também estava assim. Tentou empurrar o Byun se cima de si, dessa vez o outro não ofereceu resistência e se deixou cair ao seu lado na neve. Parecia exatamente como nos velhos tempos, se deu conta. Sem a neve, mas com o frio crescendo dentro de si depois que descobriu que Siwon casaria de novo. Virou-se para o lado oposto ao do alfa e cuspiu saliva com sangue na neve. Pelo menos agora não sentia-se mais ignorado, apesar de se sentir humilhado. Não era por ter apanhado tão fácil, era pelo modo como Siwon havia proferido aquela afirmação.

“Eu não posso... estou indo me casar”.*

— Quer saber de uma coisa? — Siwon subitamente falou. — Você nunca foi um bom amigo. — suspirou ao mesmo tempo que sentava-se na neve, se preparando para levantar. — Nós crescemos juntos, mas Heechul sempre foi mais sincero do que você, principalmente na adolescência. E quando você se afastou, eu não soube o que fazer. Talvez, a culpa tenha sido minha, quem podia prever essas coisas, não é? — olhou de relance para o outro alfa, mas Leeteuk fechou os olhos. Não queria ver seu segredo estampado no rosto de Siwon assim, tão claro quanto verdadeiro. — Mas nós ainda éramos melhores amigos... pelo menos até você se comportar como um maluco rancoroso.

— Você fala como se eu não tivesse motivo. — se pronunciou ao mesmo tempo que tomava coragem para abrir os olhos.

— Tinha motivos. Não vou negar minha culpa na morte de Kyuhyun, mas não é disso que estou falando, sabe muito bem.

E Leeteuk sabia mesmo, mas preferia não saber, porque era estranho demais odiar tanto alguém daquele modo, quando as borboletas tinham habitado seu corpo justamente por causa daquela pessoa.

— É por isso que odeia Donghae? — continuou, mas Leeteuk já estava ficando de pé. Precisava fugir daquele assunto o quanto antes. — Você o odeia porque eu o amo?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O Kim parou, cuspiu no chão e voltou a se aproximar de Siwon. Ergueu o rosto para fita-lo bem nos olhos, com raiva demais de alguém que não tinha culpa.

— Eu o odeio, porque assim você é capaz de sentir mil vezes mais minha dor.

Deu um passo para trás, enfiou as mãos no bolso da calça quando Siwon o fitou, sem demonstrar nada na face, existia só o gosto de decepção na língua, como se não pudesse acreditar que aquela amizade tão bonita havia se reduzido ao um monte de cinzas amargas e estivesse decepcionado com o destino.

Leeteuk deu mais um passo para trás antes de lhe dar as costas e ir embora cambaleando dali. Siwon ainda ficou muito tempo parado observando o ex-amigo desaparecer pela rua, antes de finalmente se deixar cambalear até sua alcateia. Foi andando mesmo, outra hora podia pedir à um dos seus lobos para buscar o seu carro. No momento, precisava pôr os pensamentos no lugar, contudo quando adentrou sua casa, não pode resistir ao impulso de ir até o quarto que dividia com Donghae.

Tentou não fazer nenhum barulho quando abriu a porta, sabia que o ômega não trancaria para ele, nem mesmo quando estava com raiva o fazia. Retirou o casaco e os sapatos de uma forma barulhenta, lançando ocasionais olhares para o corpo do Lee adormecido. Abraçava o seu travesseiro e usava sua camisa, provavelmente em busca do seu cheiro. Quando chegou mais perto notou os olhos inchados e as bochechas molhadas, estivera chorando. Constatar aquilo fez seu peito doer. Odiava-se tanto por fazer Donghae chorar daquela maneira, pois tinha prometido a anos atrás que o protegeria de qualquer um que o quisesse fazer mal, contudo vê-lo tão machucado, o fazia se perguntar se agora teria que o proteger de si. No entanto, Siwon não queria fazer-lhe mau. Nunca quis. Só quis protege-lo... esse tempo inteiro, só tentara protege-lo.

Afastou o lençol e aconchegou-se ao corpo do ômega, trazendo-o para perto e substituindo o lugar do travesseiro.

— Eu vou cuidar de você. — sussurrou baixinho, beijando-lhe os cabelos e tomando cuidado com a barriga de oito meses. — Só não minta mais pra mim. — pediu.

Wonie. — Donghae mexeu-se, meio despertando e Siwon o apertou mais contra si.

— Estou aqui. — assegurou apenas para ter o Lee ressonando novamente, tranquilo.

Mas no dia seguinte, quando Donghae acordou, Siwon não estava ali, fazendo-o acreditar que havia sonhado com o marido ali.

***

Hyukjae fechou o seu robe, amarrando desajeitadamente na cintura antes de andar até sua mesinha no quarto e procurar por seu maço de cigarros costumeiro. Na cama, Lee Hi mexia-se sob os lençóis, um tanto cansada e satisfeita. Observou quando o alfa acendeu um cigarro, com a meia-luz do abajur ao lado da cama, parecia-lhe um tanto pensativo e bem sabia que estava mesmo, a beta era capaz de ler isso nos trejeitos dele. O modo como a respiração parecia espaçada e a forma lenta que a fumaça escapava dos seus lábios, deixava isso claro.

— Aconteceu algo? — se viu perguntando, ajeitando-se sobre a cama e cobrindo sua nudez com lençol de seda.

Hyukjae olhou-a de lado, um tanto confuso com a pergunta, mas logo estava sorrindo, o cigarro pendendo no canto da boca e o deixando mais cafajeste do que realmente era. Havia maldade no seu olhar, brilhando bem no fundo da sua alma, Lee Hi conseguia ver mesmo se não quisesse. Era um dom, sua vó costumava dizer, mas a beta não acreditava muito nisso. Durante boa parte da vida tinha fugido disso, apenas para ser arrastada para ele depois de adulta.

Com 39 anos de idade, Lee Hi não conseguia entender como parara na cama de Park Hyukjae, dividindo prazeres consigo e recebendo privilégios. Na verdade, bem que entendia como havia parado ali... só não gostava muito de pensar nisso, pois parecia-lhe como uma afronta a tudo que recebera de Dal, a deusa Lua.

— Apenas pensando. — o alfa lhe respondeu simplesmente.

Apenas isso, quis acreditar. Mas sabia também no que isso implicava, porque os pensamentos do alfa nunca se resumiam a só pensar. Hyukjae fazia mais o tipo que executava o que pensava.

— Algo importante? — sondou mais um pouco, fazendo graça ao rolar pela cama e deixar o torço nu a mostra.

— Algo que não é para seus ouvidos. — rebateu, sorrindo numa forma de amenizar a rispidez.

Ela calou-se, meio sorrindo, tentando não mostrar o quanto a rispidez do Park sempre lhe feria. Eram anos de convivência, apenas para receber o mesmo tratamento mal-humorado, como se nada do que fizesse fosse bom o bastante para o grande líder Park, mas ela já devia saber quando não passava de uma personificação da irmã mais nova do outro, as duas até mesmo tinham sido amigas na infância e numa parte da adolescência, mas depois que Jihyun desapareceu, tudo que haviam passado juntas tinha sido confinado à sua mente.

O Park tragou o cigarro, virando-se de frente para sua mesa e observando os papéis que haviam ali. Eram fotos dos integrantes da Alcateia Byun, afinal Hyukjae gostava de se manter informado sobre tudo que seus parceiros Byun’s faziam. Afastou com a mão livre uma das fotos. Ergueu uma sobrancelha para a figura de Baekhyun estampada ali, usando óculos escuros e entrando no seu carro em direção ao trabalho. Era um fato que o sobrinho lembrava e muito Jihyun, a forma das mãos, o jeito que a boca se enrugava em desaprovação e os olhos... Sim, aqueles inquietantes olhos castanhos, escuros demais para alguém tão novo.

Às vezes Hyukjae sentia-se culpado por todo o destino que Baekhyun teve. Ele teria tido mais sorte se fosse seu filho, percebeu, mas essa possibilidade havia sido destruída no momento em que Jihyun desapareceu aos 14 anos**. Foi ali, que todos os planos que ele tinha foram por água abaixo, enterrados para sempre no fundo do mar, já que sua irmã foi embora para nunca mais voltar e ainda foi capaz de ter um filho com Siwon. Um maldito Byun, com seu sangue ruim, que manchou tudo que planejara para Baekhyun.

Afastou essa foto e procurou mais algumas. Encontrou a de Kim Minseok, junto daquele garoto ômega chinês. Estavam sorrindo, juntos, em pé no meio fio. Não conhecia o segundo garoto na foto, mas também não se preocupava em conhecer. Sabia que não era tão importante quanto o loiro. O Ômega Principal dos Byun’s. Perigoso demais para alguém com um sorriso tão doce, pensou. O fato era que Minseok sabia coisas demais, sobre pessoas demais e o Park sentia que o mais novo podia, sim, ter conhecimento dos seus planos e isso o incomodava.

Passou para a próxima foto. Donghae com uma barriga grande demais, o fazia desconfiar se havia apenas um filhote ali, mas de acordo com as informações que tinha, era isso mesmo. Uma menina. Ji Eun. Suspirou, não tinha interesse algum em Donghae, na época que Siwon o conhecera, apostara suas fichas no Lee, porque sabia que só assim o alfa tiraria sua irmã do pensamento e como eles não tinham filhos, parecia só uma questão de tempo até que os dois anos obrigatórios se concretizassem e ele tivesse que devolver Jihyun para os Park’s***. Mas Jihyun era teimosa demais para aceitar isso e fez o possível para engravidar.

Por que ela tinha que ser tão teimosa?

Parou de olhar as fotos. Estava cansado de olhar pra tediosa vida dos Byun’s. Retirou o cigarro dos lábios e o apagou no cinzeiro mais próximo, então se pegou desviando os olhos para a janela aberta. O céu estava escuro e a lua começava a aparecer. Ainda não passava de uma meia linha no horizonte, como um sorriso malicioso, parecia prever um acontecimento inédito, fazia Hyukjae ficar ansioso para o Festival da Fertilidade, que aconteceria quando a lua estivesse brilhando redonda no alto do céu.

— Acha que o Festival desse ano vai ser interessante? — perguntou à Lee Hi, sem olhá-la, deu alguns passos até a janela e a abriu para observar melhor a lua.

— Divertido não seria a palavra certa? — a bruxa devolveu, afinal a Lua Cheia sempre coincidia com o cio dos ômegas, deixando-os vulneráveis demais a qualquer um. O Park sorriu, meio balançando a cabeça em negação. — Interessante em que sentido? — perguntou sentando-se sobre a cama, deixando os seios nus a mostra, o alfa não olhou-a.

— Apenas interessante. — disse simplesmente, mas Lee Hi não precisava de muito para entender o que ele queria dizer.

Havia um ômega novo entre os Byun’s, parecia ser o que o Park queria dizer. Vai ser interessante brincar com ele.

— Não acho que deveria mexer com Kim Minseok. — falou, a voz saindo cheia de aviso. — É perceptível para qualquer um que seu sobrinho tem algum apreço por esse ômega. Não parece certo deixar a aliança Byun-Park mais instável.

— Não me dê conselhos. — rebateu, meio rosnando, fazendo a beta se encolher na cama. — Além do mais, essa aliança nunca trouxe bem a nenhum dos dois clãs. Olhe pra nós, Park’s, sendo reduzidos a meros escravos dos Byun’s. — bufou e fechou a cortina da janela. Começou a andar em direção a cama. — Mas se está tão preocupada em como meus pensamentos podem afetar a Alcateia, deveria se juntar as minhas mães no grupo de orações no Santuário. — então riu, realmente alto, como se fosse a piada do ano. — Até mesmo elas sentem que algo está prestes a acontecer, então, minha cara Lee Hi, por que você não me diz o que é?

Ela deitou-se na cama apenas para ter Hyukjae sobre si.

— Não é assim que funciona.

— E como funciona? — sussurrou contra seus lábios.

— Eu não as peço, as visões vêm por si só. Sem hora, sem data certa, sem significado até que aconteça.

— Está vendo algo agora? — perguntou, os olhos tornando-se prata quando fitava a bruxa.

Lee Hi observou dentro do seu lobo e engoliu em seco. Ela via. Sempre via a mesma coisa quando olhava a alma de Park Hyukjae. Não se conteve em abraça-lo, forte e repentino, seu coração estava aos saltos. Mas era de medo. Não por ele, mas por si mesma.

— O que viu? — perguntou curioso.

— O que vejo sempre. — murmurou contra sua pele. — Sua morte.

Hyukjae riu contra sua orelha antes de deitar seu rosto sobre o peito dela, ficou quieto durante muito tempo enquanto começava a sentir os dedos da bruxa deslizando por entre seus cabelos num cafune. Ele já sabia que morreria, cedo ou tarde. Era um destino inevitável para todas as pessoas, se assegurou. Mas alguma coisa em si se incomodava com o modo como Lee Hi pronunciará as palavras, como se sua morte estivesse cada vez mais perto.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Será alguém que eu conheço? — decidiu sanar sua curiosidade de vez.

— Não fui capaz de ver o rosto. — respondeu automaticamente.

Mentirosa, pensou, mas não insistiu. Algumas coisas deveriam ficar em silêncio, não?

Levantou o rosto e fitou a mulher. Eles se conheciam há tantos anos, compartilhavam momentos demais para que o alfa não conseguisse pensar nela como um ponto de segurança ou até mesmo confiança.

— Se algo acontecer comigo, — se escutou começar, olhando bem dentro dos olhos da bruxa. Ele não era Park Hyukjae, o líder do Clã Park, falando com uma subordinada. Era apenas Hyukjae, seu amigo de infância e amante, pedindo um favor. — tome conta de Dasom.

Park Dasom, Lee Hi pensou. A única pessoa no mundo inteiro que podia ver o coração de Hyukjae, pois até mesmo os monstros sucumbiam ao charme dos filhos.

— Não se preocupe. — o assegurou e o Park voltou a deitar sobre seu peito, ficou quieto novamente, apenas sentindo os dedos dela deslizando por entre seus cabelos.

A bruxa notou quando o líder fechou os olhos, descansando sobre si. Ela quis deseja bons sonhos, queria pedir que sonhasse consigo, mas sabia que era perda de tempo, pois nos sonhos de Eunhyuk só havia espaço para Park Jihyun.

***

Minseok encostou-se na parede ao lado da porta do quarto, usava nada além da camisa do seu pijama, mas mesmo com a neve lá fora, sentia-se aquecido, principalmente quando o corpo de Baekhyun colava-se ao seu, coisa que não demorou para acontecer. Meio sorriu ao sentir a respiração do marido contra a pele do seu pescoço, arrepiando-o por completo. Sentiu as mãos de Baekhyun descendo para o seu quadril com urgência, apertando a carne, marcando a pele com tapas nas coxas, suspendendo-o e deixando que o ômega enlaçasse sua cintura com as pernas.

Arfou, meio abraçando o alfa quando sentiu suas presas rasparem na sua pele, sondando o local que queria marcar desde o primeiro dia de cio. Sempre fazia isso, Minseok já se acostumara e nos seus delírios de prazer, desejara a mordida. Seu lobo agitava-se sempre quando percebia a investida de Baekhyun, bagunçava seus pensamentos e quase o tinha feito aceitar. Quase. Acordara a tempo, afastando o rosto de Baekhyun sutilmente dali, segurando-o entre suas mãos e distraindo sua boca com um beijo.

Então as mãos de Baekhyun estavam em suas nádegas, apertando forte, puxando pra perto, querendo mais do que Minseok podia dar, mas tentava. Gostava da forma como era levado ao limite, da forma bruta que o alfa se comportava, mandando, prendendo-o em suas mãos. Acreditava que era tudo culpa do seu lobo, mas quando se via gemendo contra os lábios do Byun, como naquele momento, implorando por alguma coisa que não imaginava pedir, percebia que até mesmo seu lado humano sucumbia aos toques do alfa.

O marido mordeu-lhe o lábio inferior, puxando sem delicadeza, apenas para beija-lo com fervor no minuto seguinte. Soltou-se de Baekhyun, ocupou-se em tirar a camisa que usava, puxando os botões com força. Estava ofegante quando sentiu o peito de Baekhyun colar-se ao seu, a boca do alfa descendo para o seu pescoço ao mesmo tempo que Minseok beijava-lhe o ombro, passando a língua na pele, buscando o seu gosto. Não conteve o gemido ao sentir suas costas serem prensadas contra a parede com força e as mãos de Baekhyun apertando-lhe o dorso, quase rosnando contra a sua pele, fazendo- perceber que era tudo culpa do seu cheiro, que do jeito que acontecia com todos os ômegas, se intensificava quando estava excitado. E naquele momento, o ômega se encontrava ao ponto de explodir com toda a forma como seu corpo derretia diante dos toques do Byun.

As unhas se afiaram contra sua pele, subindo por seu tronco, alcançando seus mamilos e puxando-os devagar, numa calma que não pertencia ao momento. Deixando o loiro de olhos fechados, voltando a apertar Baekhyun em seus braços, a ponta das unhas se enfiando em todo pedaço de carne que encontrava. Sentia-se ficar úmido e sabia que Baekhyun tinha plena consciência disso, pois rosnava contra sua pele, como se estivesse ao ponto de dilacera-lo com seus dentes, marcar até sua alma. Gemeu apenas com esse pensamento, pois seu lobo implorava, ansiava, desejava por tudo que aquele alfa pudesse lhe dar.

Baekhyun o desceu de si, segurou-lhe o rosto e o beijou antes de vira-lo de frente para a parede. Sem dizer palavra alguma, o ômega mordeu o lábio. A verdade era que nenhum dos dois tinha capacidade de dizer qualquer coisa, tudo que estava acontecendo era culpa dos seus lobos, culpa do lobo de Baekhyun, daquele maldito cheiro que ele exalava, forte demais para conseguir resistir. Deixava-o com o estômago tremendo, mas era ansiedade e depois foi de prazer quando sentiu os dedos de Baekhyun descendo por entre suas nádegas, atrás do ponto certo. E ao acha-lo, teve coragem de se aproximar para gemer no pé do seu ouvido, apenas ter seus gemidos na mesma amplitude.

Não resistiu em fechar os olhos e inclina-se mais para trás, procurando mais contato. A boca entreaberta e todo o corpo pedindo por mais, só deixava Baekhyun com mais vontade de enterrar-se em si, fazê-lo seu de formas inimagináveis. Havia se tornado um maluco ou que? Seja o que fosse, era tudo culpa daquele cheiro. O mirtilo que parecia ter se impregnado na sua alma.

Forçou mais os dedos para dentro de Minseok, saia e voltava. Rápido. Escutava-o gemer, via-o se inclinar em sua direção, pedindo por mais entre gemidos. Ver aquilo só o deixava mais duro. Minseok era realmente um filho da mãe, com aqueles malditos olhos grandes e uma boca macia demais para que conseguisse formar um pensamento coerente o bastante. Com a mão livre, segurou o seu pênis e começou a se masturbar diante da forma submissa do marido, no entanto, logo estava deixando Minseok e concentrando-se em si mesmo, deixando que agora fosse sua vez de receber atenção.

Então o loiro estava virando-se de frente para si no minuto seguinte, ajoelhando-se. Afastando suas mãos e fazendo o serviço com a boca. E de repente, era Baekhyun que tinha suas costas contra a parede, arfando com os olhos meio fechados enquanto Minseok chupava-o. Sugava a glande, descia língua pela extensão, provava seu gosto sem nunca tirar seus olhos dos de Baekhyun. Olhos esses que estavam sérios demais para alguém que estava gemendo alguns minutos atrás. Mas Baekhyun entendia porquê... era como uma competição. Minseok o estava desafiando, só não era capaz de saber no quê e para o bem da verdade, estava difícil pensar em quê. Suas mãos foram para o seu rosto, alcançaram o cabelo, o puxou para trás e o afastou de si.

Assim não, quase disse. Se o ômega continuasse acabaria gozando e não, não era assim que queria.

O fez ficar de pé, passou o polegar nos lábios, limpando-os, apenas para ter o ômega lhe sorrindo do jeito mais sacana possível, a sobrancelha arqueada, quase dizendo que não podia acreditar naquele ato delicado. E realmente não podia, pois no segundo seguinte Baekhyun estava o empurrando em direção a outra parede, segurando seus pulsos, beijando-lhe a boca com brusquidão, mordendo seu lábio, descontando a frustração de não entender tanto desejo. Virou-o de frente para a parede e sem aviso algum, enterrou-se nele. Era quente e úmido. Deitou a testa na parte de trás do ombro de Minseok ao mesmo tempo que o escutava arfar.

Deveria ter mais cuidado.

Fechou os olhos ao mesmo tempo que beijava-lhe o ombro, traçando um caminho úmido até o pescoço, do jeito mais delicado que conseguia. Não queria machuca-lo, mas estava tão necessitado do seu corpo, que acabava fazendo. Beijou-lhe a nuca, sem mexer o quadril, queria que Minseok relaxasse. As mãos foram para as laterais do corpo dele, apalpando, descendo e subindo, num carinho que não pertencia ao momento. Procurou o seu pênis e começou a massageá-lo, devagar, até que pudesse escutar o marido gemer novamente, baixinho. A ponta do dedão pairou sobre a fenda do seu pênis antes de tocar ali e então mexeu-se dentro do outro. Devagar. Gemeu baixo contra a pele da nuca do ômega, queria mais velocidade. Precisava de mais velocidade, para tentar sanar um pouco daquele calor, aquele maldito calor que parecia vir da sua alma.

Era um maldito alfa no cio.

Precisava de alivio.

As investidas foram aumentando gradativamente ao mesmo tempo que os movimentos no pênis de Minseok. Escutava seus próprios gemidos e os de Minseok, trazia-o para perto e o afastava no minuto seguinte. De repente, o Byun era só uma confusão de calor, suas moléculas agitavam-se sob sua pele, fazendo-a colar na pele suada de Minseok. E o som úmido que saia disso, era demais para a sanidade dos dois. Sabia que o ômega estava tão perdido quanto si próprio ainda mais quando o escutou gemer seu nome, tão sonoro, parecia música aos seus ouvidos. Mas logo ele mesmo percebia que chamava por Minseok. Sussurrava Kim Minseok no pé do seu ouvido, se agarrando no nome do marido, como uma oração, fazia-o se sentir profano.

Estava descendo ao inferno abraçado ao homem que lhe perturbava os pensamentos na época da escola. Parecia o começo de uma piada infame, difícil demais de acreditar mesmo quando estava vivendo aquilo. Era por isso que preferia não pensar, deixava que seu lobo tomasse conta dos seus atos, afastava seu lado racional dali antes que até mesmo este fosse contaminado com a ideia de querer Minseok para si, apenas para si. Sem Sehun ou qualquer outro. Sentiu as presas despontarem novamente, queria tanto marca-lo que seus dentes doíam. Fechou os olhos ao raspar as presas na pele do marido, devagar demais para sua sanidade. Seu lobo remexia-se, inquieto demais, o encorajando a fazer aquilo de uma vez. Mas sabia que não podia. Minseok nunca o perdoaria se o fizesse. Então só apertou bem os olhos e continuou a estoca-lo, até o momento em que sentiu o marido desfazer-se em sua mão.

Quente.

Não demorou muito até que ele estivesse pegando fogo também, derretendo-se dentro do loiro. Tudo havia tornando-se um turbilhão de calor, só lhe restara tempo de erguer uma das mãos e cravar os dentes no seu braço, apenas para não ter que marcar Minseok. O gosto de sangue inundou seu paladar e o fez abrir os olhos. Soltou seu braço ao mesmo tempo que sentia as presas retraírem, encostou a testa no ombro do ômega, respirando pesado na mesma sintonia que este.

Terminaram deitados no chão do corredor daquela casinha de madeira. Um ao lado do outro, sujos demais de desejos para conseguir pensar em um assunto em comum. Olhavam pro teto, um tanto envergonhados pelo modo como haviam se perdido tão rápido. Baekhyun pensava em mil coisas, repassava as cenas, agora que seu corpo estava mais calmo e quis se enterrar em vergonha. Nem nos seus piores sonhos havia realmente cogitado a ideia de fazer sexo com Minseok, mas para o bem da verdade, seu lobo parecia satisfeito demais com aquilo para que conseguisse fazer seu lado humano ignorar. Olhou de relance para Minseok, notando que seus olhos estavam fechados.

Acabou virando-se de lado, apenas para olhá-lo melhor. Parecia-lhe cansado, pois o suor acumulando-se em sua testa entregava isso e além do mais estava nu. Quer dizer, os dois estavam, mas Baekhyun não queria pensar nisso. Não queria pensar em nada ainda. Estava no cio, podia culpar isso, certo? Pois estava começando a se aproximar mais do que deveria, já que logo estava notando o modo como seu cheiro estava marcado em cada ponto do corpo do ômega. Misturava-se com o cheiro doce de mirtilo e virava alguma coisa gostosa de sentir, subitamente notou que seus cheiros combinavam e antes que pudesse prever, estava com a ponta do nariz em seu ombro, vasculhando atrás de mais dessa mistura.

Fechou os olhos para apreciar, só que alguma coisa deve ter dado errado, porque um bocejo estava vindo e depois ele estava se aconchegando no outro, trazendo-o para perto. E então, eles estavam dormindo. Acordou algum tempo depois, um tanto confuso por encontrar-se agarrado ao Kim, mas depois estava suspirando com o modo como Minseok encolhia-se nos seus braços atrás de um pouco de calor. Desvencilhou-se dele delicadamente, pegou-o no colo e o levou para o quarto. O deixou sobre a cama antes de ir até o banheiro, precisava de um bom banho gelado e fazer um curativo no braço marcado.

Depois daquela breve soneca no corredor, já sentia como si mesmo e ao que tudo indicava, seu cio havia acabado. Demorou-se embaixo do chuveiro, sempre pensando e repassando em sua mente todos os momentos com Kim Minseok naquela casinha. Não conseguia acreditar que o ômega tivera coragem de ficar, logo ele que sempre lhe pareceu tão frágil para aguentar um alfa no cio. Mas se pegou sorrindo embaixo do chuveiro, agradecido por Minseok ter ficado, afinal cios de alfas sempre eram tão dolorosos quando não tinham um parceiro.

Ao sair do banheiro com um braço enfaixado com gaze e esparadrapo, encontrou o ômega ainda dormindo, enroscado no lençol da cama, ressonando baixinho e com as bochechas espremidas. Aproximou-se com uma toalha úmida e o limpou. Devagarinho, passou o pano por cada pedaço de pele dele e quando ele próprio se vestiu, procurou algo para vestir no marido. Encontrou, entre roupas rasgadas, uma camisa e um short, o vestiu com todo cuidado, fazendo de tudo para não acordá-lo, pois não saberia como explicar todo aquele cuidado. Mas todo esse cuidado pareceu ir por água abaixo, quando encontrou os olhos de Minseok abertos, um tanto desconfiados e surpresos quando Baekhyun terminava de abotoar a camisa.

— Seu cheiro está mais fraco. — o ômega bocejou, os olhos se fechando no processo e ficando úmidos nos cantos.

— Acho que acabou. — Baekhyun disse, sentado ao lado de Minseok, na beira da cama, sentia a ponta dos dedos ficarem geladas de nervosismo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Isso é bom. — falou. — Eu me sinto tão cansado. — os olhos se fecharam e ele voltou a se enroscar no lençol, em busca de mais calor.

— Descanse. — se escutou dizer, um tanto baixo.

Minseok não escutou, estava ocupado demais em voltar a dormir. Baekhyun o observou, avaliou o corte no seu lábio e modo como haviam marcas arroxeadas espalhadas por seu pescoço. Quis avaliar as marcas na sua barriga, mas resolveu não fazer isso, afinal já estava sentindo-se culpado. Tinha plena certeza do modo como não era gentil quando estava no cio, da forma como pode ter conduzido Minseok naqueles dias até o ponto da exaustão. Suspirou, quando notou as olheiras embaixo dos olhos, mas logo depois estava balançando a cabeça, afastando esses pensamentos.

Ficou de pé e foi até a cozinha, atrás de algo para comer, mas com a falta disso, se viu voltando ao quarto. Observando o ômega do batente da porta. Também se sentia cansado, seus olhos pesavam e o bocejo se tornava mais frequente do que queria. Se viu sucumbindo ao cansaço, aproximando-se da cama, afastando Minseok o suficiente para deitar-se ao seu lado e quando o mesmo o abraçou, ainda dormindo, Baekhyun colocou a culpa toda no frio, principalmente quando o abraçou de volta.

***

Lu Han curvou-se para o líder Kim quando adentrou o seu escritório e parou em frente à sua mesa. O Kim levantou-se, meio atrapalhado, havia esquecido da pequena reunião que teria com o líder Lu naquele dia, mas curvou-se de volta, lhe oferecendo um sorriso sincero de desculpas para a toda a bagunça de papéis que era o seu escritório. Também havia esquecido de pedir a Henry que arrumasse aquilo antes do outro chegar.

Andava tão esquecido ultimamente.

— Desculpe-me por toda essa bagunça. — pediu, puxando os papéis sobre a mesa, tentando arruma-los em uma pilha.

— Está tudo bem. — Lu Han sorriu antes de puxar a cadeira e sentar-se. — Parece bem ocupado.

— Apenas tentando organizar algumas coisas. — não queria falar como não conseguia resolver os problemas da Alcateia. — Mas soube que você é um Lu. — levantou o olhar para fita-lo, achava que alguma coisa na aparência do outro podia mostrar que era realmente um Lu, mas não havia nada. Lu Han parecia tão normal quanto qualquer ômega.

— Líder Lu. — ajeitou a maleta preta, que trouxera, sobre as coxas.

— Um ômega? — Junmyeon estava interessado, Lu Han notou, não parecia como desdém o que havia na sua voz. Era só pura e simplesmente curiosidade.

— Só há ômegas no meu clã, senhor Kim.

Junmyeon piscou, apenas agora lembrando-se das aulas de história que recebera dos anciãos na sua adolescência, sobre como os Lu’s tinham sido dizimados na Grande Guerra. Todos os alfas massacrados e os ômegas que sobreviveram, se refugiaram bem longe de qualquer clã. De repente pareceu normal para si que um ômega tenha tomado a dianteira, pois uma alcateia sempre precisaria de um líder.

— Henry me contou sobre isso, mas confesso que parece difícil de acreditar. Nem mesmo betas existem com sangue Lu? — voltou a se sentar, apoiando os cotovelos na mesa.

— Alguns nascem ocasionalmente, mas a grande maioria são ômegas.

— Isso é interessante, porque é evidente que o gene ômega dos Lu’s é dominante. Você acha que entre um cruzamento de um alfa com um ômega Lu, as chances de nascer um Lu são mais altas do que de nascer um beta ou um alfa? — Junmyeon se empolgou.

Genética sempre tinha sido uma paixão para o alfa, algo que puxara do seu pai Heechul, mas quando o dever chamou, Junmyeonteve que optar por algo mais útil para a Alcateia, algo que não envolvia uma faculdade de engenharia genética, como pensara em cursar na adolescência.

Lu Han sorriu, a mão subiu para esconder os lábios, de um jeito gracioso que fez o alfa pensar se todas aquelas lendas sobre o charme dos Lu’s era mesmo só lendas.

— O senhor é engraçado, senhor Kim. — foi educado de uma forma fofa, que fez o Kim corar.

— Me chame de Junmeyon. — pediu e o ômega assentiu.

— Mas Junmeyon, acho que a resposta para a sua pergunta pode vir mais cedo do que imagina, se escutar o que vim propor.

Junmyeon encostou as costas no encosto da sua cadeira, as mãos saíram de cima da mesa e ficaram sobre suas coxas, de repente toda aquela empolgação por genética tinha dado lugar a seriedade que o cargo de líder sempre lhe pedia. Lu Han o fitou com os lábios comprimidos antes de começar a narrar sua história. Contou ao alfa como sua alcateia havia sobrevivido por tanto tempo, contou sobre o ataque aos lobos na América do Sul e ao recente ataque que sofreram.

— Perdi o pai do meu filho no primeiro ataque e quase perdi minha família, nesse segundo. Não sei em quanto tempo eles nos acharam novamente, então, por isso, vim pedir ajuda.

— A ajuda seria, um lugar para ficar? — ergueu uma sobrancelha, estava pensando no quanto de comida e água teria que ceder aos lobos Lu’s, não tinha muito para os seus lobos em decorrência das dívidas e não achava que podia sustentar uma outra Alcateia apenas por boa vontade.

— Sim. — Lu Han foi direto ao ponto, abriu a maleta e pegou o mapa do Clã Kim, o estendeu sobre a mesa e apontou a área assinalada de vermelho. — Mais precisamente, aqui.

Junmyeon inclinou-se um pouco para frente afim de ver melhor ao que Lu Han se referia, pareceu-lhe demais. A área englobava a floresta, perto do rio e alguma parte de onde eles costumavam plantar seus produtos. O alfa olhou para o Lu e suspirou, não lhe parecia viável perder tantos em terras daquela forma, ainda mais agora que seus lobos estavam lidando com uma praga e teriam que mudar de solo. Quer dizer, claro que queria ajudar os Lu’s, mas a época não era favorável e Junmyeon precisava pensar nos seus lobos em primeiro lugar.

— Eu não acho que seja uma boa ideia. — se escutou dizer e Lu Han suspirou.

— Podemos fechar uma aliança, assinar um contrato, se preferir.

— Quando diz uma aliança, está se referindo à um casamento? — o Kim desconfiou. Lu Han assentiu. — Mas líderes não podem se casar. — então Lu Han sorriu, como se o alfa tivesse contado uma piada.

— Eu sei, é por isso que vim oferecer a mão do meu irmão mais novo em casamento. — começou a guardar o mapa em sua maleta novamente e procurou o envelope que guardara ali mais cedo e que Baekhyun o tinha dado antes do cio. — É tradição no meu clã que aquele que oferece a mão, também ofereça um dote. — não era, mas Junmyeon nunca saberia. Empurrou o envelope em direção ao Kim. — Meu irmão é mais valioso que todo esse dinheiro.

Junmyeon engoliu em seco antes de pegar o envelope. Abriu-o, um tanto nervoso, afinal não era todo dia que alguém lhe oferecia dinheiro. Seus olhos quase se arregalaram diante de tantos zeros, mas manteve a compostura no último segundo. Não podia deixar que Lu Han visse o quanto estava abalado pelo tanto de dinheiro ali. Era um cheque gordo demais, para que conseguisse dizer qualquer coisa.

— Talvez não seja suficiente. — o líder Lu começou a falar diante do silêncio do Kim. — Mas quero que saiba, que eu não sou apenas um líder pedindo ajuda, sou um pai preocupado com a segurança do seu filhote. Yixing é o bem mais preciso que tenho e eu não posso simplesmente ficar sentado esperando que aqueles Humanos venham até nós.

O alfa entendia. Sabia muito bem como era querer proteger todos aqueles que amava, como era lutar para que todos terminassem bem. Sim, ele conseguia ver a sinceridade estampada no olhar do Lu, mas ainda assim... aquele tanto de área o incomodava, pois nem sequer estava pensando em como seus lobos reagiriam diante da notícia do seu casamento com um Lu. A raça extinta. Os bonitos e precioso Lu’s que haviam desaparecido na Grande Guerra, junto dos Lee’s e Huang’s. Contudo, o que realmente o estava incomodando, quando devolveu o envelope para a superfície da mesa, foi a forma como saberia que teria que desistir de Kai para sempre se aceitasse esse acordo com Lu Han.

Vinha se encontrando com o ômega durante a semana, nas madrugadas, sempre que podia escapar dos seus afazeres com os Kim’s e era tão terrivelmente bom estar na companhia dele, nunca sendo cobrado de nada, apenas sendo o bom e velho Suho. Só que todas vezes que o tinha que devolver para a Alcateia Byun, pensava em como eles dois nunca poderiam passar de encontros casuais. Seus lobos nunca aceitariam outro casamento com um Byun e muito menos aquele Byun, que nem sequer tinha alguma ligação com a Família Principal, apesar de ter aqueles inquietantes olhos violeta.

Se viu num dilema. Preso sobre a corda bamba, sem a menor ideia de para onde correr. Sabia das suas responsabilidades como Junmeyon, mas nunca tinha pensado em como isso iria afetar Suho. Empurrou o envelope para longe de si, como se tê-lo perto sugasse o oxigênio das suas células, dificultava a respiração. Era dinheiro demais para que pudesse contar nos dedos, era suficiente para pagar as dívidas e começar de novo, com uma nova safra. Era suficiente para seus lobos, mas não era para si e dificilmente achava que seria algum dia, no entanto, eram seus lobos. Seus pais estavam no meio disso. Todos estavam contando consigo para tirá-los do fundo do poço.

Mordeu o lábio ao mesmo tempo que Lu Han notava seu desconforto. Não lhe parecia certo que o alfa tivesse ficado desconfortável com a proposta. Ele e Baekhyun tinham discutido os pormenores daquilo por semanas. O Byun até mesmo tinha entrado em contato com seu banqueiro na Inglaterra, retirado uma grande quantia e oferecido a Lu Han, como um presente****. Eles haviam planejado a melhor tática para convencer o líder Kim e oferece-lhe aquela quantia de dinheiro parecia o melhor, quando o outro estava afundado em dívidas, só que olhando agora para o modo como seus olhos pareciam perdidos, Lu Han só conseguiu atribuir isso ao fato de que eles não se conheciam. O Clã Lu não passava de desconhecidos para os Kim’s, era óbvio que o alfa se mostraria desconfiado.

— Lhe darei um tempo para pensar. — se pronunciou ao mesmo tempo que Henry batia à porta.

— Entre. — Junmyeon disse e logo o ômega chinês estava ali colocando mais papéis sobre sua mesa.

Lu Han trocou um olhar com o ômega antes de ficar em pé.

— Seu envelope. — o alfa empurrou-o na sua direção, mas o Lu balançou a cabeça em negação.

— Fique com ele, para te ajudar a pensar. — curvou-se ao mesmo tempo que Junmyeon se colocava de pé, curvando-se também em seguida.

— Eu te acompanho até a saída. — Henry se pronunciou, saindo junto de Lu Han, deixando Junmyeon com seus pensamentos novamente enquanto a porta se fechava.

Fitou o envelope sobre a mesa, mas não teve coragem de o trazer para perto. Ficou de pé e procurou seu celular, precisava esfriar a cabeça, precisava pensar fora daquele lugar. No entanto, não pode se impedir de ficar mesmo assim. Tinha compromissos demais para aquele dia, coisas que não podia mais adiar. Precisa resolver tudo aquilo de uma vez, o único problema era apenas que tudo culminava para aquele maldito envelope sobre a mesa. Pesava diante dos seus olhos, crescia, englobava e o sufocava naquele cômodo, estava o deixando maluco apenas olhá-lo.

Era a solução dos seus problemas como líder e sua ruína como homem e lobo. Seu lado racional não lhe parava de dizer o que tinha que fazer, como tinha que pegar o telefone e ligar para Lu Han aceitar aquilo de uma vez. Salvar a todos, consertar as coisas, ser um bom líder. Mas mesmo quando segurou o telefone, não conseguiu discar os números. O sorriso de Kai estava cravado em sua alma, piscando embaixo das suas pálpebras sempre que fechava os olhos, o deixando saber o quão injusto era querer sempre o bem de todos e nunca poder querer o seu. Se perguntou se foi assim que Baekhyun se sentiu quando casou-se com seu irmão ou se Leeteuk havia sentido essa confusão quando assumiu a liderança no lugar de Kyuhyun. Fazia o entender o quanto um líder não tinha realmente querer. Tudo era sobre e para a Alcateia.

O lobo forte protege a si mesmo, mas o lobo mais forte protege todos os outros. O lobo mais forte era o líder. Ele era o líder.

Encarou mais uma vez o telefone, engoliu toda sua confusão e fez o que era certo: colocou seu coração em segundo plano. Ele só esperava algum dia poder se perdoar...