Mirtilo

III - O anjo é o resto de nós


Yesung encarou a Shindong com uma sobrancelha arqueada. Não havia realmente prestado atenção no que o amigo havia dito, mas o final do seu discurso havia chamado sua atenção. O homem tinha os olhos brilhando e um sorriso que beirava o insano nos lábios.

— Olhe só. — Shindong aproximou-se do espécime de lobo amarrado na maca do seu laboratório.

Yesung permaneceu em pé perto da porta, os braços cruzados e o rosto sério. Shindong apanhou uma seringa sobre a mesinha e aproximou-a do garoto lobo amarrado na maca. Ele agitou-se, mas parou de se mexer quando o homem furou-lhe a pele com a agulha da seringa, o líquido transparente foi injetado na sua veia. Seus olhos fecharam por um momento e, depois, tornaram a se abrir, brilhavam em verde. Yesung se aproximou para ver de perto o modo como a respiração dele tornava-se calma e a testa embaçada de suor, os olhos desfocados.

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— O que é isso? — perguntou ao amigo.

— Isso, meu amigo, é um supressor*. — contou, sorriu.

Ele levantou a mão e tocou a bochecha do garoto na maca com a ponta do indicador e não recebeu nenhum revide, então, tornou a encarar Shindong, que ainda sorria como um maluco.

— Essa mistura os deixa calmos em segundos. — estalou os dedos e Yesung acertou um tapa na cara do garoto, mas ele não fez nada além de piscar os olhos lentamente, parecia não ter sentido nada. — Viu? Completamente dócil.

— Interessante. — Yesung disse. — Bom trabalho, Shindong. — deixou um tapinha no ombro do amigo.

Começou a se afastar em direção a saída. Era sempre bom ver a forma como Shindong estava avançando nas suas pesquisas. Logo, eles conseguiriam domar todos aqueles lobos, elimina-los de uma só vez e o melhor, sem resistência. Pensar nas aplicações daquilo, o deixavam animado.

— Ainda não acabei. — o outro disse e Yesung parou no meio do caminho, olhou-o por sobre ombro. — Tenho mais uma coisa para mostrar. — ele pegou na mesinha outra seringa, dessa vez com um líquido azul-escuro. — Se gostou desse, com certeza vai gostar deste aqui. — balançou a seringa entre os dedos.

Andou em direção ao garoto lobo dopado com o supressor, aplicou o líquido em uma veia do seu pescoço. Shindong contou os segundos no relógio. Yesung virou-se completamente para observar, mais curioso do que antes. 10 segundos depois, o garoto na maca se debatia como um animal. Os olhos pareciam mais verdes do que Yesung se lembrava e as presas despontavam, afiadas, para fora da boca, rasgavam os lábios e deixavam-o com uma aparência mais feroz do que se lembrava de já ter visto.

— O supresso os coloca em modo avião, mas esta belezinha aqui, os deixa mais que despertos. — Shindong aproximou a mão do rosto do garoto e quase teve seus dedos arrancados em uma mordida, o som dos dentes batendo reverberou pelo lugar inteiro.

Aquele garoto estava mais que desperto, Yesung pensou. Ele parecia insano, completamente descontrolado. O homem sabia que se o soltassem, ele destroçaria os dois naquela sala e bem poderia destroçar as outras aberrações da sua própria espécie. Destroçaria seu melhor amigo, sem remorso, sem conseguir parar. O sorriso cresceu no seu rosto sem que conseguisse se conter, sabia exatamente onde usaria aquilo.

Até aquele momento, Yesung não havia conseguido provar o quanto lobos podiam ser perigosos, mas ali estava a resposta. Poderia usar aquela substância para dar algum gás no seu projeto, mostrar a todos o quão monstruosos aquelas coisas poderiam ser. Encarou Shindong, o sorriso que havia no rosto do amigo era parecido com seu. Não achava que o amigo sabia exatemente o que tinha feito, ele só pensava na ciência, estava apenas brincando de deus. Yesung, por outro lado, sabia exatamente o que estava fazendo e para quem fazia.

— Chefe. — escutou ser chamado e virou-se para encarar o soldado parado na entrada do laboratório.

Lançou um olhar para Shindong, mas o outro parecia ainda fascinado com sua descoberta.

— Nos continuamos depois. — disse e ele assentiu.

Yesung saiu do laboratório. Seguiu em direção a saída, acompanhou o soldado até o seu escritório. O soldado o deixou na porta e Yesung soube que alguém o esperava ali dentro, entrou e fechou a porta. Não queria que ninguém escutasse sua conversa com a pessoa.

A mulher estava sentada à sua mesa, o sobretudo marrom cobria o seu corpo quase todo, mas Yesung não precisava se preocupar com isso. Conhecia cada curva do corpo da mulher. Ela sorriu quando o avistou, girou na cadeira e cruzou as pernas. O homem aproximou-se da mesa com braços cruzados e a encarou.

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— O que faz aqui? — ele perguntou.

Ela riu mais um pouco, apoiou o queixo sobre a mão e o cabelo claro caiu sobre seu rosto. Yesung não se lembrava de ter conhecido uma mulher mais bonita do que aquela, mas também não se lembrava de ter conhecido tantas mulheres assim. Ele sempre fora o tipo que trabalha demais e depois que havia perdido os pais, todo o interesse que tinha na vida havia sido substituído por vingança.

— É assim que me recebe? Depois de todo esse tempo. — ela balançou a cabeça, os cabelos se agitaram e a luz do sol que entrava pela janela do seu quarto derramou-se sobre sua cabeça, o cabelo brilhou como ouro.

Era, realmente, uma bela mulher. Sequer parecia humana.

— Hyuna. — ele saborou o nome dela na língua, tinha gosto de perigo.

Hyuna afastou o cabelo do rosto, prendeu-o atrás da orelha e lançou um olhar cálido para o homem do outro lado da mesa, mas Yesung parecia estranhamente comportado naquele começo de tarde. Nada nele detonava nervosismo ou qualquer outra coisa que indicasse incomodo com sua presença. Ela tinha, na verdade, percebido certo divertimento nos atos dele.

— Eu vim saber das novidades, querido.

— Não há novidades. — ele puxou uma cadeira para se sentar. — Enquanto não conseguirmos o combinado, não há novidades.

Ela riu mais um pouco, mas, dessa vez, Yesung notou nervosismo em si.

— A culpa não é minha se não conseguiu o que queria. — ela quase rosnou.

Às vezes, Yesung imaginava como ela seria na sua forma de besta. Se pareceria tão bonita quanto agora, duvidava. Então, lembrou-se das drogas que Shindong havia desenvolvido e quis testar-las na mulher. Uma dose de supressor e ela seria mais dócil do que o filhote de um gatinho e uma dose da outra droga e seria mais raivosa que qualquer animal. Seus olhos mudariam de cor como os da cobaia?, se perguntou.

— A culpa é sua. — ele se enfureceu e ela sentiu satisfação por ter provocado nele qualquer emoção. — Me mandou uma matilha cheia de velhos e doentes**.

— O trato era te dar a localização de uma matilha e isso eu cumpri.

Yesung revirou os olhos.

— Você me conduziu a uma armadilha.

Então, era ela quem estava revirando os olhos.

— Ah, querido, você sabe que não havia razão para que eu fizesse isso. Seria o mesmo que colocar uma faca no meu pescoço. — Yesung comprimiu os lábios e sem poder se conter, atravessou a mesa com as mãos e alcançou o pescoço de Hyuna.

Puxou-a para perto, ela engasgou e o rosto tornou-se vermelho. Yesung sentiu vontade de borrar o batom vermelho nos seus lábios, mas não tinha coragem de soltar o pescoço frágil dela só para isso. Se contentou em apertar, sentir os ossos sob os dígitos, a pele macia, a pulsação acelerada.

— Não brinque comigo. — ele aproximou a boca da bochecha dela, sentiu cheiro da maquiagem e do shampoo. — Eu ainda posso quebrar seu pescoço.

— Pode mesmo? — ela ofegou e o homem notou as iríses ganhando outra cor, os dentes se alongando para fora dos lábios e as unhas tornando-se garras enquanto fincavam-se no seu braço ao tentar afasta-lo.

Yesung a soltou. Tornou a encostar as costas na cadeira, arrumou a postura e a camisa. Hyuna o encarou, os olhos se destacavam em duas cores. O homem notou, com certo orgulho, que havia deixado a marca dos seus dedos na pele dela. Era a punição que podia dar naquele momento. Quem sabe assim, ela entendesse que não devia brincar com ele. Mas Hyuna não era conhecida por sua prudência, pois, no minuto seguinte, estava fitando-o com um sorrisinho no rosto. Convencida de que era ela quem havia ganhado aquele pequeno embate.

— Pare de me provocar. — soou quase como um pedido. — Diga de uma vez o que veio fazer aqui.

Hyuna arrumou a postura na cadeira, de repente, pareceu mais séria.

— Preciso de ajuda para encontrar e me livrar de alguém.

— Um dos seus? — se referiu a espécie de lobos e ela balançou a cabeça em confirmação.

Yesung colocou as mãos sobre a mesa, parecia mais interessado do que irritado — como antes. Hyuna o fitou e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. Eles se fitaram por um momento sem dizer coisa alguma, a comunicação não-verbal que o humano aprendera a ter com a loba. Palavras sempre podiam compromete-los, pensou. Ela sorriu quando puxou uma folha de papel do seu bloco de notas sobre a mesa e escreveu um nome.

— Você provavelmente o conhece. — empurrou o pedaço de papel na sua direção. — Eu só preciso dele fora do meu caminho.

O humano ergueu uma sobrancelha e assentiu. Sabia bem ao que ela se referia. Podia mantê-lo ali, preso em alguma cela, manda-lo para as mãos de Shindong ou só vê-lo morrer de fome, seja qual fosse a alternativa, Yesung sabia que ia ganhar bastante. Assentiu para a mulher e Hyuna devolveu o olhar com a mesma intensidade. Eles podiam ser de espécies diferentes, mas se entendiam muito bem quando o assunto era limpar seus caminhos.

***

Baekhyun sentiu o papel cortar a ponta do seu dedo, o ardor subiu por seu braço e o fez levar o dedo até a boca, chupou o ferimento. Kangin, que puxara os papéis da sua mão, o observou um pouco culpado. Baekhyun ergueu a mão livre e acenou como quem diz ‘tudo bem, não é nada’ e de fato não era. Já havia lidado com coisas piores do que um corte de papel, iria sobreviver. Contudo, o beta continuava o fitando, olhos levemente franzidos como se estivesse tentando encontrar algo em si, mas o Byun não estava escondendo nada apesar da forma como se tornava cada dia mais distraído no trabalho.

Ele tirou o dedo da boca e voltou sua atenção para o resto dos papéis espalhados pela mesa, Kangin comprimiu os lábios e não disse mais nada, limitou-se a sair da sala e levar os papéis que tinha em mãos para o departamento central da alcateia. Baekhyun pegou a caneta e assinou mais alguns documentos, autorizações para distribuição de alimentos e pagamento de contas, mudança de local. Eles haviam decidido acelerar a reparação dos danos no Clã — culpa do ataque que sofreram dos humanos — assim como haviam decidido sair dali. Havia um novo condomínio em finalização para viverem em paz, sem o fantasma do medo os perseguindo.

Contudo, aquilo era segredo. Ninguém além deles próprios sabiam disso, em parte porque tudo poderia soar como uma fuga para Hangeng, quando ainda estavam em investigação e em parte, porque Baekhyun não queria atrair a atenção de ninguém, de nenhum informante humano ou qualquer coisa do gênero, afinal tinha a leve impressão de que nada daquilo havia sido uma conscidência. Mas a cada vez que pensava em como um deles poderia os ter tráido mais louco se achava. Não fazia sentido. Por que um lobo trairia sua própria alcateia? Só se não fosse um lobo, podia ser um humano disfarçado de beta. Alguém que se aproximou sem que nenhum deles percebesse.

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Por mais que ele e Dansom acreditassem que tudo foi apenas consequência da presença dos Lu’s, uma parte de Baekhyun desconfiava. Era como seu avô costumava dizer: tenha sempre uma opção reserva. Baekhyun tinha uma opção reserva e pretendia investiga-la até se sentir tranquilo para abandona-la. Sentou-se na cadeira do escritório, largou a caneta sobre a mesa e puxou a manga do braço esquerdo para cima, só o suficiente para ver a mordida no pulso. As marcas muito bem alinhadas dos dentes de Minseok. Suspirou mais um pouco. Era uma marca recente e se não fosse o uso dos supressores, estaria exalando o cheiro do ex-marido junto com o seu, o que só serviria para atrair atenção indesejada além de fazê-lo ir preso.

Estava sendo descuidado, tinha plena certeza disso, mas o que podia fazer? Se sentia um pouco fora de órbita, como se estivesse flutando, completamente solto no espaço quando não estava perto de Minseok. Achou que podia ser culpa do cio se aproximando, mas ainda faltavam dois meses até o bendito dia, o que fazia toda sua inquietação ser fruto da sua cabeça. Mas a cada vez que estava na presença do Kim, quando enroscava seu corpo no dele, sentia-se acalmar, por isso, pedira à ele que o marcasse.

Escutou a porta ser aberta e puxou a manga para baixo novamente, escondeu a marca e arrumou a postura na cadeira. Era Dasom que entrava, o cabelo curto e rosto contorcido naquela carranca familiar, fazia-a parecer com Hyukjae. Um pouco estranho de notar, pensou. Comprimiu os lábios para não soltar mais nenhum suspiro, não queria parecer cansado na frente da prima e dar ínicio a um mar de perguntas que não queria responder. Estava cansado da insistência dela para que entrasse com um pedido de guarda caso encontrassem Minseok.

— Precisa dar limites para aquele Kim. — ela disse, os braços cruzados.

Baekhyun piscou os olhos, demorou a entender a quem ela se referia, mas quando lembrou, soltou o suspiro que estivera segurando. Aquela briguinha entre a prima e Jongdae estava o deixando cansado também.

— Deveria só parar de provoca-lo. — puxou um papel para perto, fingiu que lia. Só queria que Dansom fosse embora de uma vez e o deixasse flutuando em pensamentos.

— Ele está aqui há dois meses e já está o defendendo? — indignou-se, puxou a cadeira em frente a sua mesa e sentou. — Realmente, eu devia ter advinhado que se tornariam tão próximos assim.

— Está fazendo de novo. — acusou, baixinho e Dasom erguer as sobrancelhas.

— O que?

— Drama. — Baekhyun abaixou o papel para fita-la. — Está fazendo drama novamente. — a prima teve a decência de corar e engolir em seco, Baekhyun quase riu. — Não sabia que era tão carente.

— Não sou. — devolveu, irritada.

— Não parece.

A porta abriu novamente. Kangin fitou os dois por um momento antes de limpar a garganta para chamar a atenção de ambos, Baekhyun estendeu a mão para receber mais dos documentos que o beta trazia e Dasom ficou de pé, deu uma última olhada para o primo antes de sair do escritório. Tinha coisas para fazer também.

— Onde está Jongdae? — perguntou ao beta.

— Está ajudando na distribuição de casas do novo território.

Baekhyun ergueu uma sobrancelha, impressionado pela iniciativa, mas não disse nada. Terminou de assinar os documentos que recebeu de Kangin e os devolveu, o viu sair da sala e aproveitou para relaxar os ombros. Sabia que logo ele voltaria com mais documentos ou para escolta-lo para outro compromisso. Suspirou, massageou a nuca e fechou os olhos por um momento, escutou a porta se abrir e afastou a mão da nuca, arrumou a postura na cadeira apenas para arregalar os olhos ao reconhecer Kim Ryeowook de pé em frente à sua mesa.

Ele deu um passo em sua direção, puxou uma cadeira e sentou. Deixou a bolsa que trouxera sobre as coxas e encarou Baekhyun. O alfa, não sabia o que fazer, mas tentou o seu melhor para disfarçar a surpresa no seu olhar. Engoliu em seco se preparou para perguntar o motivo da visita do ômega, apesar de, no fundo, ter uma leve ideia.

— Senhor Kim. — cumprimentou e Ryeowook mexeu a cabeça para devolver o cumprimento. — A que devo sua visita?

— Precisamos conversar sobre Minseok. — ele colocou a bolsa sobre a mesa, um reflexo do seu nervosismo.

Tinha passado muito tempo pensando sobre como abordar Baekhyun, assim como tinha passado muito tempo pensando que Minseok voltaria para casa, que ele seria como Kyungsoo — que encontrou o caminho para casa mesmo sem memória. Mas tudo o que havia recebido do filho era silêncio, o mesmo silêncio que a investigação também ecoava. Então, havia Byun Baekhyun. O ex-marido do seu filho. A pessoa mais próxima de Minseok mesmo antes do seu desaparecimento. Se alguém sabia de alguma coisa, deveria ser ele e não só porque Baekhyun era o pai do filhote que Minseok carregava, mas porque ambos eram importantes um para o outro. Contudo, sentado em frente ao alfa, não sabia como dizer tudo aquilo, como perguntar, simplesmente porque tinha medo de receber o mesmo silêncio que tudo que envolvia o filho parecia ecoar. Era doloroso.

— O senhor acha que sei onde ele está? — Baekhyun parecia seguro em suas palavras, como alguém que passou vezes demais por aquele interrogatório. — Acha que estou o escondendo? — ele continuou jogando as perguntas em cima do Kim, achando que o faria recuar em sua decisão de desconfiar de si.

Sim. — a confirmação saiu mais baixa do que pretendia, mais insegura também.

— Senhor Kim...

— Não diga que não sabe de nada, por favor. — implorou. Ele estendeu as mãos sobre a mesa e pegou a mão esquerda de Baekhyun, desesperado. — Minseok sumiu desse jeito, sem ajuda, ainda mais carregando um filho seu. — Baekhyun engoliu em seco. — Não minta para mim, Baekhyun. Eu conheço alfas e nenhum deles ficaria tranquilo em uma situação dessas.

— Eu também estou conduzindo uma investigação para saber o paradeiro dele. — soltou sua mão do aperto de Ryeowook. — Eu também estou...

— Preocupado? — Ryeowook estreteitou os olhos para cima de si.

— Claro. — Baekhyun assentiu, desviou os olhos para os documentos que tinha sobre a mesa. — Senhor Kim, qualquer novidade encontrada seria devidamente compartilhada com Junmyeon e com o senhor. Eu não estou escondendo nada. — tentou mais um pouco, mas Ryeowook parecia longe de acreditar em si.

— Não parece. — ele rebateu, voltou a se inclinar para frente e puxou o pulso de Baekhyun para perto. — Você pode ter tomado supressores para esconder o cheiro dele na sua pele, mas eu sei que se levantar a manga da sua camisa, vou encontrar uma marca.

Baekhyun arregalou os olhos e tentou puxar o pulso para longe, mas Ryeowook só firmou mais o aperto na sua pele. O alfa quase gemeu de dor.

— Eu não sou idiota, Byun Baekhyun. — viu as iríses dele tornando-se esverdeadas. — É do meu filho que estamos falando. Não pode escondê-lo de mim.

— Já disse que não sei onde ele está. — o Byun puxou o pulso para longe, massageou o local que o ômega apertara. — Eu não acho que seja idiota, senhor Kim, acho apenas que está desesperado por uma informação. Mas eu não a tenho.

Ryeowook soltou uma risada soprada e afastou a cadeira, ficou de pé. Apanhou a bolsa e o encarou com desdém.

— Se vai continuar com esse joguinho, acho melhor pararmos a conversa por aqui.

Baekhyun o encarou. Não sabia mais o que poderia dizer para apaziguar a ira do pai de Minseok, mas ao mesmo tempo sabia que não podia fazer nada. Era imprescidivel que ninguém soubesse onde Minseok estava, para a sua segurança. Ryeowook o encarou mais um pouco, mas desistiu do que quer que fosse dizer, e limitou-se a lhe dar as costas. Ele saiu pela porta como um furacão, raivoso demais para esconder. Baekhyun apoiou a cabeça nas mãos e desejou que aquele dia acabassse logo.

Escutou uma batida na porta e levantou o rosto para ver Kangin abrir a porta, estava trazendo mais documentos para verificar mas a cabeça de Baekhyun não estava mais naquilo. Estava pensando na conversa que teve com Ryeowook. Era um fato que não conseguiria sustentar aquilo por mais tempo, precisava dar um jeito e logo. Por isso, limitou-se a ficar de pé quando Kangin se aproximou da sua mesa.

— Cancele meus compromissos de hoje. — demandou e o beta o encarou, incrédulo.

Aquele era um dos dias cheios para Baekhyun. Ele não podia sair assim sem mais nem mesmo e deixa-lo para apagar os incêndios, mas quando fitou a expressão do alfa, soube que não havia nada que pudesse fazer. Baekhyun estava decidido sobre abandonar o escritório naquele momento e não haveria nada que o fizesse ficar. Kangin suspirou e assentiu. Baekhyun apanhou seu casaco e saiu da sala, apressado, ao que parecia a conversa com o senhor Kim havia sido mais intensa do que o beta achara.

Baekhyun passou pelo corredor, comprimentou alguns lobos no caminho mas não parou para falar com ninguém exatamente. Só avançou e avançou em direção ao estacionamento, onde seu carro o esperava. Ao longe, avistou Jongdae e Chanyeol, mas tratou de apressar o passo. Não queria ter que dá satisfação sobre seu paradeiro naquele momento, precisava só passar despercebido por eles. Precisava só enfiar-se no carro e correr até Minseok antes que enlouquecesse.

A necessidade aparecia com uma urgência que não estava acostumado. Seu pai chamava aquilo de instinto. Era culpa do instinto que sempre estivesse com o pensamento em Minseok, era culpa do instinto que sempre estivesse desconfiado sobre tudo e todos, como se cada pessoa do planeta pudesse ferir Minseok enquanto ele estava naquele estado. O estado que preferia não pensar, mas com que certeza ainda o assombrava. O instinto deixava-o assombrado também, mas nada comparado ao estado em que Minseok se encontrava. A gravidez... o bebê... isso tudo ainda fazia Baekhyun tremer.

O que ele faria com uma criança, afinal? O que ele faria se tivesse que esconder Minseok para sempre? Pensar na possibilidade o apavorava, pensar sobre uma criança crescendo naquelas circunstâncias o apavorava, pois como seria pai desse jeito? Sempre mentindo, indo e voltando? Como construiria um lar seguro para aquela criança?

Apertou o volante e suspirou, então, ligou o carro e deu partida. Seguiria direto para Dongdaemun, sem paradas. Era um risco, mas o tipo de coisa que se permitira correr naquele dia. E além do mais, não achava mais que estava sendo seguido pelo Conselho, quando já havia se passado bastante tempo desde seu depoimento. Se qualquer pessoa de lá desconfiasse de si, ele saberia. Sempre sabia de tudo. Um dos trabalhos de Jongdae era mantê-lo informado.

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Avistou a casa mais cedo do que imaginava. Minseok não estava a vista, imaginou que o encontraria no jardim. Ele passava tempo demais na estufa acompanhado de flores e plantas, que Baekhyun não fazia questão de saber o nome. Às vezes, se entretinha por tanto tempo que esquecia de comer. Era por isso que Baekhyun havia arranjado uma companhia para si.

A senhora Nam foi quem atendeu a porta. Era uma velhinha atarracada com olhos inteligentes e mão habilidosas. Ela fazia parte do clã Byun, era alguém de confiança, alguém que faria de tudo para ser útil para seu líder. Baekhyun gostava dela, a calma com que ela parecia tratar de tudo o fazia se sentir mais normal naquela situação.

Ela o ajudou com o paletó, colocou-o no pequeno ármario perto da porta de entrada.

— Onde ele está? — Baekhyun perguntou afrouxando a gravata e abrindo dois botões da camisa.

— No quarto. — a mulher respondeu. — O senhor Kim não teve uma manhã fácil.

— Enjoos?

A senhora Nam assentiu e Baekhyun suspirou. Minseok havia tido enjoos durante aquele tempo inteiro e apesar do que a senhora Nam havia dito, o ex-marido não havia melhorado. Ao que parecia, Minseok fazia parte dos casos que tinham enjoo até o fim da gravidez.

— Eu vou vê-lo. — Baekhyun avançou em direção a escada e a senhora não o seguiu, só o observou subir e ir em direção ao quarto do ômega.

A casa como um todo era silenciosa, o número de quartos parecia servir para aumentar isso, a solidão. Minseok ficava no maior quarto, gostava do espaço assim como gostava da vista. Baekhyun não reclamava, mas sempre se perguntava se ele não se sentia sozinho ao ter que dormir sozinho naquele cômodo. Ele terminou de avançar pelo corredor, parou em frente a porta do quarto de Minseok e bateu — dois toques na madeira — antes de abrir.

Minseok estava lendo, parcialmente deitado na cama, a barriga de quase cinco meses parecendo maior quando encarava da porta. Baekhyun se sentiu tremer por dentro, um comichão apareceu na boca do estômago quando notou que Minseok sorria na sua direção. Ele fez menção de levantar, mas o alfa largou a maçaneta da porta mais rápido e foi na sua direção. Não queria que ele viesse ao seu encontro, queria ir ao seu encontro para evitar que fizesse esforço.

— Oi. — Minseok sussurrou contra a pele do seu pescoço quando o pegou em um abraço desajeitado.

A ponta do nariz dele encostou na sua pele, de lá para cá em um carinho macio ao mesmo tempo que capturava seu cheiro. Baekhyun prendeu a reciproca do cumprimento na boca, trocou a fala por um ato. Beijou-lhe o primeiro pedaço de pele que encontrou, o ombro. Oi.

— Não achei que fosse vir hoje. — Minseok continuava sussurrando como se falar no tom certo fosse fazê-lo desmoronar.

Talvez, fosse. Por isso, agarrou-se a ele mais um pouco. Não sabia que estava com tanta saudade até o momento em que o teve nos braços de novo. Havia o visto ontem e estava quebrando as regras ao aparecer hoje novamente. Dois dias seguidos era demais, ele sabia. Era o suficiente para que fosse pego, mas não conseguia se livrar daquele medo irracional de que Minseok estivesse mal, que estivesse em perigo, que o bebê...

— Eu senti saudade. — confessou, tão mais baixo que achou que havia só pensado, mas a risadinha de Minseok no pé do seu ouvido o deixou saber que havia dito em voz alta.

O rosto corou. Sentiu-se encolher nos braços do ômega. Não estava acostumado a ser tão verbal daquele jeito, mas Minseok não parecia se importar, ele também não fazia pouco caso. Fazia o se sentir envergonhado, mas de um jeito bom. Por isso, quando Minseok tornou a deitar na cama e puxou para cima de si, Baekhyun não resistiu. Assim como não resistiu quando eles esconderam-se embaixo das cobertas e trocaram beijos tímidos. O cheiro dele era bom, doce na medida certa e quando se misturava com o seu, tornava-se mais convidativo ainda.

Minseok beijou-lhe o pescoço, o ajudou a tirar a camisa. Baekhyun marcou sua pele em alguns pontos, o fez tremer embaixo de si. Eles fizeram amor de um jeito vagaroso e delicado. A mão do alfa enlaçou a do Kim e o desejo de marca-lo apareceu. Era sempre forte, latejando no seu interior e o fazia fantasiar o momento como se sua vida dependesse disso. Por isso, deixou que suas presas raspassem contra a pele do ômega. Queria tanto fazê-lo que não percebeu que apertava-o contra si.

— Baek. — Minseok gemeu, ofegante. As unhas dele rasparam na lateral do seu corpo e Baekhyun estremeceu.

— Desculpe. — sussurrou contra a pele que queria marcar, os lábios substituíram as presas e a língua passou sobre a pele, afim de tentar apaziguar o desejo dentro de si.

Minseok gemeu mais um pouco. Ele tinha um gosto doce contra sua língua. O cheiro dele parecia ficar melhor a cada vez que faziam amor e com a gravidez sabia que tinha ficado mais forte. As pernas dele estavam enlaçadas com as suas e Baekhyun aproveitou o momento para deslizar as mãos pelas laterais do seu corpo. O quadril havia se tornado estreito por conta da gravidez, parecia mais largo enquanto tocava. Sabia que ele havia ganhado peso, mas a constatação levou um arrepio inesperado por seu corpo.

Era sempre complicado na sua cabeça a cada vez que pensava sobre a gravidez, sobre Minseok e uma criança com seu sangue. Tudo soava meio irreal ainda, como se estivesse vivendo um sonho. Ele só não sabia classificar o sonho como bom ou ruim, sabia apenas que era inesperado. Uma supresa meio amarga meio doce, que lhe tirava o sono. O tipo de coisa que ainda não arranjara coragem para falar com Minseok sobre, em parte porque tinha medo da reação dele e em parte, porque não sabia ao certo como se sentia.

Mas ali, enquanto tocava-lhe a barriga de quase 5 meses, o peito parecia inflar e inflar em alguma coisa. Subia direto para os lábios, sem desvios, e o fazia sorrir. Minseok também estava sorrindo quando colocou a mão sobre a sua e beijou-lhe a boca. O ômega ao contrário de si, parecia satisfeito com o bebê no seu ventre. Ele sim sabia classificar tudo o que sentia, catalogava e se afogava em cada uma das emoções sem medo.

— Está tudo bem? — Minseok perguntou.

Baekhyun ainda encarava a barriga. Não percebeu que havia se perdido em pensamentos tão rápido. Ele levantou o rosto e encarou o ômega, assentiu e o beijou devagar. A mão subiu e desceu pela barriga em um carinho sutil que ainda estava experimentando. 5 meses e ele ainda não havia se acostumado, parecia até uma piada de mal gosto, mas Minseok não parecia se incomodar com seus momentos de indecisão, com a calma de maioria dos seus atos. Ele o deixava a vontade, não o apressava assim como não cobrava. Entendia suas limitações melhor do que ele mesmo.

— Você quer...?

— Eu quero.

Eles inverteram as posições. Baekhyun decidiu não pensar mais em nada, se concentraria apenas em Minseok.

***

Jongdae encarou as mãos de Junmyeon sobre a mesa da lanchonete, mas não falou coisa alguma a cerca da aliança que agora adornava seu dedo. Não havia o que dizer, afinal. O casamento já era esperado e como bem conhecia o primo, sabia que ele usaria aquilo para distrair seus lobos de toda a bagunça que Jongdae havia causado, mas ainda assim era estranho pensar em Junmyeon naquele cargo. Agora, ele era um lobo com um parceiro.

— Por que me chamou até aqui? — Junmyeon perguntou depois que garçonete lhe serviu uma xícara de café.

O ex-Kim encarou seu antigo líder e suspirou. Não devia tê-lo chamado, mas ao mesmo tempo não via outra alternativa. Precisava de Junmyeon ainda, apesar das desavenças e dos seus erros. O alfa o fitou, impaciente, esperou uma resposta e parecia pronto para levantar se Jongdae não o respondesse o mais rápido possível.

— Eu, talvez, saiba onde Minseok está. — a incerteza não era tanta assim, mas sabia que a fraqueza na sua voz poderia servir para amolecer Junmyeon.

Um truque. Jongdae era cheio deles.

O alfa estreitou os olhos para cima de si, desconfiado, mas as mãos que fugiam para baixo da mesa para se entrelaçar davam a Jongdae a certeza de que estava perto de tê-lo interessado. O interesse era sempre o primeiro passo para fisgar a isca. Junmyeon cruzou os braços e acenou para a garçonete lhe servir mais um pouco de café na xícara, Jongdae pediu um pouco também e eles não falaram nada até que a mulher se afastasse e Junmyeon desse o primeiro gole.

— Como? — a pergunta saiu rouca, mais baixa e ressentida do que Jongdae podia esperar.

Por um momento, quase achou que ele o questionava como havia sequestrado esse irmão também. Mas afastou o pensamento no segundo seguinte. Dessa vez, não havia feito nada de errado. Ao contrário do que parecia, estava apenas tentando ajudar mesmo que estivesse prejudicando Baekhyun. Mas seria para o seu bem. No futuro, o irmão o agradeceria. Tinha quase certeza.

— Baekhyun não tem sido tão cuidadoso quanto achei. — Jongdae abriu a mochila que trazia e pegou o envelope de dentro, empurrou na direção do alfa. — Na verdade, eu posso estar errado, por isso, quis te falar primeiro.

Junmyeon apanhou o envelope com pressa e o abriu, despejou sobre a mesa as fotografias que Jongdae havia tirado. Algumas eram da parte de trás do carro de Baekhyun, a placa bem evidente. Outras eram do carro entrando em um estacionamento e não mais sendo visto, as outras fotos eram de outro carro.

— Tenho que dizer que meu irmãozinho é bem inteligente. — Jongdae inclinou-se sobre a mesa depois de afastar a xícara de café e apontou para as fotos que Junmyeon via. — Ele entrava em estacionamentos diferentes, trocava de carro e seguia para Dongdaemun, sempre o mesmo caminho para Dongdaemun. — apanhou outra foto, dessa vez a fachada de uma casa de dois andares. — Eu demorei para perceber que ele fazia isso, mas quando me dei conta de que eram rotas diferentes para o mesmo lugar, ficou mais fácil rastrear ele. Ainda mais depois que consegui acessar o GPS do carro e claro, tive ajuda para segui-lo.

O Park não pretendia contar a Junmyeon sobre Kris, parecia demais envolver um antigo rival do primo naquela história e além do mais, não era como se Yifan soubesse o real motivo de querer encontrar Minseok. E para bem da verdade, Yifan não parecia se importar realmente. Ele lhe cedeu alguns dos seus lobos para ajuda-lo a seguir Baerkhyun e não pediu nada em troca. Jongdae esperava que ele nunca pedisse.

No começo, havia achado que Baekhyun saia para espairecer, mas a desconfiança cresceu no seu peito como erva daninha e precisou investiga-lo para ter certeza que ele não estava mentindo. E para sua surpresa, ele estava. Seu querido irmãozinho não confiava em si o suficiente para lhe contar sobre Minseok, mas confiava em Oh Sehun. Parecia até uma piada de mau gosto. Justo Oh Sehun? O cara que roubou sua oportunidade de ficar com Minseok, quando o mesmo voltou da França.

Junmyeon encarou as fotos, incrédulo, tornou a encarar Jondgae e abriu a boca, soltou um barulho parecido com riso. Mas o som soou amargo para Jongdae. Ele o viu cruzar os braços e se afastar das fotos. Daquele jeito, irritado, o Park percebeu que ele parecia mais velho, um tanto mais cansado. Só, então, notou as olheiras embaixo dos olhos. Ao que parecia, os dias como líder e alfa casado não estavam sendo os mais bonitos.

— Que filho da mãe! — Junmyeon soltou, as bochechas inflaram e Jongdae percebeu que aquele era o máximo de xingamento que o outro conseguia dizer. Quase achou graça, mas prendeu o riso no último segundo. — Mas, espera. — ele inclinou-se sobre a mesa e Jongdae se afastou, parecia demais ficar tão perto do outro. — Como tem certeza de que meu irmão está nessa casa? Não há nenhuma foto provando isso. — passou as mãos sobre as fotos, as espalhou e procurou alguma que refutasse o que estava dizendo, mas não havia.

Tudo se resumia as fotos do carro de Baekhyun, o caminho que ele fazia e a fachada da casa. Não havia nada de Minseok em nenhuma.

— Por isso eu disse talvez. — Jongdae lembrou. — E, preciso que me acompanhe até lá. Vamos tirar a prova. — ofereceu.

Junmyeon arregalou os olhos e arrumou a postura contra o encosto da cadeira. Descruzou os braços e entrelaçou os dedos em sinal de nervosismo. Odiava conspirar com Jongdae novamente, o fazia lembrar dos velhos tempos quando não sabia sobre seu parentesco e o considerava seu braço direito no Clã Kim.

— Eu não sou idiota. — disse. — Todos os bens de Baekhyun foram investigados, o Conselho não encontrou nenhuma irregularidade. Se Minseok estivesse escondido em algum lugar, eles teriam encontrado uma pista e além do mais, Baekhyun passou pelo interrogatório mais vezes do que posso contar.

— Meu irmão é mais esperto do que parece. — Jongdae meio sorriu. — Deve ser de família.

Junmyeon revirou os olhos. Era sempre complicado conectar aquele lobo alfa com Byun Baekhyun. Eles não tinham muita semelhança física, mas Junmyeon conseguia pescar um trejeito e outro parecido aqui e ali. Jongdae o encarou, o sorriso continuava preso no canto da boca.

— Ele teve ajuda de Oh Sehun. — revelou e o alfa abriu a boca, incrédulo.

— Não está falando sério. — fez menção de levantar, tinha certeza que Jongdae brincava com a sua cara.

— Por que eu mentiria? — ele agarrou a manga da sua camisa, Junmyeon puxou o braço para trás e tornou a se arrumar no lugar.

— Por que está me contando tudo isso? — rebateu. — Baekhyun é seu irmão e a não ser que você sofra de alguma compulsão que o obrigue a trair qualquer um que permaneça do seu lado, eu não vejo motivo para estar fazendo isso. — lançou um olhar para as fotos em cima da mesa e Jongdae teve a decência de parecer envergonhado.

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Ele suspirou, pareceu ponderar sobre o que diria, mas, no fim, tornou a encarar o rosto sério de Junmyeon. Não havia para onde fugir. Havia pensado sobre aquilo noites seguidas, dias e dias em completa imersão até perceber que não havia para onde fugir enquanto não sanasse aquela dúvida imensa na sua mente.

— Preciso de algo em troca. — disse, baixinho. Ao menos daquilo tinha vergonha.

Jongdae não tinha vergonha de muitas coisas, mas desperdiçar a chance de se aproximar do irmão parecia demais até para si. Era uma vergonha. O tipo de coisa que ele sentiria pelo resto da vida, no entanto, havia outra coisa para se preocupar. Outra coisa que não deixava sua mente em paz. Precisava saber o que havia acontecido com Lu Han, seu antigo melhor amigo, que até alguns meses atrás achou que estivesse morto e enterrado.

Junmyeon riu soprado e balançou a cabeça em negação.

— Não esperava nada diferente de você. — havia um certo tom de mágoa na sua voz. — O que é? Dinheiro?

— É uma pessoa. — disse e Junmyeon franzio o cenho. — Preciso que arranje um encontro com Lu Han.

— O que?

— Sei que não vai acreditar, mas eu o conheço.

— Então, arranje você mesmo o encontro. — Junmyeon ficou de pé, arrumou o casaco no corpo e fez menção de se afastar, mas Jongdae se preparou para segurar a manga do seu casaco.

— Você não entende. — tentou dizer.

— Tem razão. Eu não entendo. — ele inclinou-se sobre a mesa e o fitou de perto. — Você é traiçoeiro, cheio de si e mesquinho. Eu não tenho a menor ideia do que se passa na sua cabeça, mas sei que não está planejando algo bom quando me pede para trazer Lu Han à sua presença. Eu não vou fazer isso. — demandou.

— Mas Minseok...

— Minseok escolheu o caminho que quer seguir e infelizmente, não é com os Kims. — Junmyeon deu-lhe as costas, apressou o passo em direção à saída.

Jongdae o encarou sua figura ir embora e fechou os olhos, acertou um chute pequeno na cadeira em frente à sua e suspirou. Aquilo era o que menos esperava que acontecesse. Junmyeon deveria aceitar sua proposta e não abandona-lo ali sem nada nas mãos. Encarou as fotos espalhadas sobre a mesa, segurou algumas e as amassou. Guardou-as de mal jeito na bolsa e levantou-se depois de deixar algumas notas de won sobre a mesa.

Caminhou até o estacionamento e entrou no seu carro. Encarou o horário no seu relógio, estava atrasado para o seu trabalho no Clã Byun. Ele havia dito a Kangin que ia fazer uma pausa para o almoço, mas parecia demais ir até o outro lado da cidade apenas para comer. O beta desconfiaria, sempre desconfiava, mas, afinal, todos desconfiavam de si. Jongdae vivia sob um imenso holofote, todos os seus passos registrados e analisados. Todos queriam um pedaço seu para olhar de perto, tomar de conta, menos Baekhyun. Na verdade, tudo que o irmão parecia querer de si era distância. Por mais que Jongdae tentasse se aproximar, tudo o que sempre recebia do Byun eram dois passos para trás e estava começando a ficar cansado de correr atrás do mesmo.

Ele deu meia volta com o carro, pegou o caminho para Dongdaemun. Estava na hora de fazer uma visitinha. Quem sabe, quando mostrasse que sabia do segredo do irmão, este o considerasse como alguém confiável. Suspirou e tentou esquecer do fracasso que havia sido sua pequena reunião com Junmyeon. Era o melhor a se fazer naquela situação. Ele não podia entrar no território Kim sem o alvará do líder, também não podia acampar na entrada e esperar por Lu Han sem parecer um maluco. Infelizmente, aquele havia sido seu plano fracassado. Agora tudo que lhe restava era correr de volta para Baekhyun e fingir que não havia sido um grande filho da mãe por alguns minutos.

Incrivelmente o caminho até Dongdaemun não era longo, estava mais perto da lanchonete do que podia imaginar. Ele avançou pelas ruas cantarolando uma música qualquer do rádio. Avançou devagar pelo bairro e achou a casa mais cedo do que pensou. Ela erguia-se bonita, pintada de branco, de dois andares e com um pequeno jardim na frente. Havia uma velha regando as flores no meio daquela tarde, o sol alcançava-a e a fazia suar. Jongdae imaginou que não estava sendo um trabalho fácil para a senhora, por isso, pensou em oferecer ajuda. Bancar o bom moço sempre lhe abria portas.

Estacionou o carro longe da casa, para que a velha não desconfiasse que estava ali bisbilhotando. Andou até a casa, parecendo despreocupado, só alguém que estava passeando. Ele se imaginou pedindo uma informação para puxar assunto, lançando um sorriso encantador e oferecendo ajuda com as flores. No entanto, teve todo seu plano arruinado quando avistou um carro conhecido estacionado do outro lado da rua, a alguns passos da casa. Havia alguém no volante, escondido pelos vidros escuros. Mas Jongdae conseguia ver um pouco da sua silhueta e engoliu em seco.

Enfiou as mãos nos bolsos e atravessou a rua. Só podia ser brincadeira que Kim Ryeowook estivesse ali, logo ali. Lançou um olhar para a velha que ainda regava as flores antes de correr até o carro. Bateu no vidro, o ômega se sobressaltou mas abaixou o vidro. Usava óculos escuros e o cabelo parecia mais escuro do que Jongdae lembrava-se.

— Senhor Kim? — Ryeowook revirou os olhos e destravou a porta para que entrasse no carro.

Jongdae abriu a porta e se acomodou no banco do carona. Ryeowook subiu o vidro novamente e os escondeu.

— O que está fazendo aqui? — Jongdae perguntou.

O ômega o encarou, retirou os óculos escuros do rosto — coisa que o Park achou que fazia parte de algum tipo de disfarce — e os colocou no painel.

— Não me surpreende que esteja aqui. — ele bufou e desviou o olhar do rosto do outro, tornou a encarar a casa branca que Baekhyun frequentava. — Aposto que Baekhyun teve a sua ajuda para trazer meu filho pra cá.

Jongdae ergueu uma sobrancelha, a mão subiu e se alojou na nuca em sinal de vergonha. Ao que parecia havia tirado aquele dia para sentir isso, só esperava que aquilo não se tornasse rotina. Encarou o senhor Kim, confuso e desconfiado, mas tudo que recebeu de volta foi um olhar um tanto irritado.

— Senhor, não sei ao que se refere... — começou, mas foi interrompido por um tapa.

A bochecha esquerda ardeu e a boca se abriu em incredulidade. Ryeowook estava mais fora de si do que Jongdae imaginara.

— Não ouse mentir para mim! — ele esbravejou. — Eu segui seu irmão até aqui e sei que o ajudou a esconder Minseok.

Jongdae ergueu a mão e colocou contra a bochecha que ardia, massageou a pele e comprimiu os lábios. Talvez, merecesse mesmo aquele tapa, mas não por aquele motivo. Haviam outros que pesavam mais na sua lista e se Ryeowook soubesse de todos, era provável que lhe desse uma surra. Piscou os olhos demoradamente e virou-se para espiar pela janela, ao que parecia a velha tinha acabado de regar as flores e havia voltado para dentro da casa, acabando assim com o plano de Jongdae de se aproximar.

— Eu não estou mentindo. — tornou a se virar para Ryeowook. — Eu não sabia que Baekhyun estava escondendo Minseok até hoje de manhã, então, vim aqui conferir. — explicou, os olhos do Kim estreitaram-se sobre si, mas ele não disse nada e nem precisava, Jongdae sabia que ele não confiava em si.

Assim como Junmyeon, Ryeowook tinha seus motivos para sempre manter um pé atrás em relação ao Park e Jongdae não o culpava, afinal, havia feito por onde para receber aquela fama. A cicatriz no seu rosto era motivo suficiente para que ninguém jamais quisesse tentar confiar em si.

Ryeowook bufou e desviou os olhos do seu rosto, os ombros relaxaram e Jongdae soube que não seria expulso do carro. Eles permaneceram em silêncio, as mãos do ômega fecharam-se no volante com força, deixava que o Park visse os nós dos seus dedos brancos. Ao que parecia, o senhor Kim estava nervoso, apreensivo ao máximo como se esperasse o pior do outro, mas Jongdae não pretendia fazer nada. Estava ali para observar, era o seu plano desde o início.

— O senhor seguiu Baekhyun até aqui? — resolveu puxar assunto quando o silêncio começou a se tornar desconfortável.

Ryeowook assentiu. Na meia luz, dentro daquele carro, ele parecia mais novo do que realmente era e fazia Jongdae sentir um pouco mais daquela simpatia que sempre cultivou para com ele. Apesar dos seus erros, ainda era alguém que sentia demais por ter magoado Ryeowook, a única pessoa que havia sido o mais próximo de um pai para si. Ainda lembrava-se dos momentos que passaram juntos, das conversas e das risadas. Eram momentos que o faziam se sentir normal, nada além de um lobo, sem a solidão de sempre no seu encalço.

— Para alguém que está escondendo meu filho há meses, Baekhyun foi bastante descuidado hoje. — disse e Jongdae se pegou rindo, um sopro escapou da sua boca.

— Ele anda cada vez mais distraído. — falou com pesar, como se o irmão estivesse doente.

Ryeowook riu, meio encostou a testa no volante e olhou para Jongdae de canto de olho.

— É culpa do instinto***. Ele provavelmente não percebe como está agindo. — explicou.

Jongdae virou o rosto e encarou a casa. O sol se punha no horizonte e começava a mergulhar tudo em um tom azulado. No segundo andar da casa, ele viu uma luz acender e alguém sair para a varanda esticando os braços para cima. Quando reconheceu o tom de loiro do seu cabelo, chamou a atenção de Ryeowook para aquela direção. O ômega observou o filho com os olhos grandes, brilhantes demais para que Jongdae não achasse que ele fosse se derramar em lágrimas. Mas não derramou, ele apenas fungou baixinho e limpou o canto dos olhos enquanto mordia o lábio. Ambos permaneceram em silêncio.

Ryeowook piscou os olhos para afastar as lágrimas de vez. Estava com tanta saudade do filho, que não conseguia medir. Se não fosse Jongdae ali com certeza já teria saído daquele carro e ido ao encontro do filho. Mas precisava se controlar, afinal, bem sabia que não ia ser bom invadir aquela casa como um maluco, só iria fazer Minseok se afastar. E tudo o que menos queria era que o filho o odiasse, então apenas se afastou da janela do carro, encostou as costas no encosto do banco e suspirou.

— Você quer uma carona? — ofereceu ao ex-Kim.

Jongdae piscou, assustado com a mudança brusca no comportamento do ômega. Negou, disse que seu carro estava perto dali. Ryeowook abriu a porta para que saísse e não disse mais nada para o alfa. O Park o viu ligar o carro e ir embora. E de onde estava, Jongdae olhou para cima e avistou Minseok aproveitando o pôr-do-sol. Enfiou as mãos no bolso do jeans e andou em direção ao seu carro. Não havia mais nada para fazer ali.

***

Minseok demorou a perceber que Baekhyun queria alguma coisa de si. Começou com um olhar mais demorado e com as mãos dele presas uma na outra, parecia nervoso aos seus olhos, mas o ômega não sabia como perguntar sobre isso, por isso, apenas dava algum espaço ao ex-marido e esperava que ele tomasse a iniciativa em querer conversar sobre o que quer que o estivesse incomodando. Ele encostou-se na bancada da pia e mergulhou uma das batatas fritas no molho verde antes de levar a boca.

Eles haviam saído do quarto há poucos minutos. Baekhyun ainda estava com a face relativamente amassada de sono e Minseok também se sentia sonolento, ele teria permanecido mais na cama se não estivesse com tanto desejo por batatas fritas. A Senhora Nam havia as preparado quando soube da fome do ômega, juntamente com o molho verde — que era uma mistura de coisas que Minseok não conseguia nomear, mas que estava bastante bom para o seu paladar. Vez ou outra, ele tinha desejos, nada muito alarmante. Às vezes, desejava por frutas, principalmente mirtilos, o que era uma ironia e tanto. Mirtilos pareciam ser as únicas coisas que não o deixavam enjoado, então sempre havia bastante na geladeira.

Contudo, naquela noite, estava louco por batatas fritas. E aquelas que estava comendo, estavam tão terrivelmente deliciosas, que sequer notou que fazia caretas a cada vez que comia uma. Baekhyun notou, até mesmo achou graça algumas vezes, mas não disse nada. Na verdade, ele permaneceu tão quieto, que Minseok acabou esquecendo da sua presença até o momento que o escutou limpar a garganta relativamente alto, ao que parecia ele havia dito alguma coisa.

— O que? — perguntou, o rosto bonito confuso e com o canto da boca sujo de molho verde.

Baekhyun sorriu, mais apaixonado do que gostaria de esconder. Ele se imaginou sendo uma pessoa diferente e observando aquela cena de outro ângulo, com certeza, ele parecia um tanto patético olhando para Minseok daquele jeito. As mãos tremeram na mesma intensidade que a boca do estômago e ele engoliu em seco.

— Eu só... só estava pensando em algo. — arranjou coragem para dizer, a coisa que trouxera há alguns dias e escondera no quarto de Minseok, pesava no bolso da sua calça. — Bom, não é nada demais. Só, só uma coisa. — apanhou a caixinha e a empurrou sobre a bancada da pia.

Sabia que não estava fazendo sentido algum, mas esperava que o seu ato dissesse tudo o que pensava. Porque o que mais tinha feito sobre aquilo era pensar. Desde o momento em que Dasom havia sugerido que se casasse novamente com Minseok, a ideia não o abandonara mais. E agora, estava ali, botando em prática aquela insanidade. Era provável que a prima sequer estivesse falando sério, era mais que provável que a família de Minseok enlouquecesse de vez e que recebesse olhares feios do Conselho, mas estava cansado de ter sua vida mandada e desmandada. Queria fazer aquilo do jeito certo, pela primeira vez queria escolher com quem casar.

Piscou os olhos lentamente para ganhar coragem e encarou Minseok mais um pouco. Era incrível a capacidade que tinha de regredir nos anos quando estava na presença do Kim. Sentia como se tivesse dezesseis anos de novo. O Byun observou quando os olhos de Minseok se arregalaram levemente e ele mastigou mais rápido a batata na boca, teria achado graça se não estivesse tão nervoso. Tratou de esconder as mãos atrás das costas e se limitou a acompanhar os atos do outro.

O ômega limpou as mãos na calça de moletom e trouxe e a caixinha para perto com a ponta dos dedos como se temesse que ela explodisse na sua frente. O coração estava aos saltos apenas com a ideia do que era. Abriu a caixinha com cuidado. Baekhyun direcionou a si o mesmo olhar ansioso que sustentava e quando a caixinha abriu-se por inteira, Minseok arfou baixinho diante da aliança. Era igual a que tinha perdido, a que tinha sido obrigado a parar de usar, a que fazia um par com a que o alfa ainda usava no dedo.

— Está me pedindo em casamento? — Minseok se escutou perguntar, o tom de diversão se sobressaindo sobre seu nervosismo.

— Você está aceitando? — Baekhyun devolveu no mesmo tom, apenas um pouco mais ansioso.

Minseok sorriu, pegou a aliança e colocou no dedo. Deixou a caixa vazia sobre a bancada e Baekhyun relaxou os ombros, o estômago parou de vibrar e o sangue pareceu correr na direção certa nas suas veias.

— Talvez. — estendeu a mão com a aliança em direção ao alfa para mostra-la.

Baekhyun alcançou sua mão. Deu a volta na bancada sem larga-la e o puxou para perto, deixou um beijo na sua testa e Minseok descansou o rosto sobre seu ombro.

— Eu aceito. — ele confirmou, baixinho contra sua pele e Baekhyun sorriu.