Princesa Lívia

P.O.V. Lívia

Respirei fundo abrindo os olhos.

– Ela acordou! – exclamou Ian

–Lívia como está se sentindo? – perguntou um homem vestido de branco, provavelmente um médico

– Bem. – respondi sentindo a garganta seca

A partir daí o médico passou a me examinar, tateando minha cabeça entre outras coisas. Nesse momento Arthur entra no quarto e me encara, sentando-se próximo a mim e pegando minha mão.

– Que bom que acordou. – olhou-me parecendo cansado – Se lembra do que aconteceu?

Forcei, para me lembrar, mas só conseguia me lembrar até Ian deixar o meu quarto e tudo se apagava.

Neguei com a cabeça.

Arthur acenou para que todos saíssem do quarto deixando-nos a sós.

– Lív, onde conseguiu isso? – disse me mostrando meu pulso esquerdo

Me espantei ao perceber que no lugar em que a senhora fez um corte uma tatuagem de árvore se estendia até a palma da minha mão.

– E-eu...- sussurrou a voz da senhora na minha cabeça me fazendo praticamente pular da cama – Eu não sei.

Se meu coração disparado não denunciava minha mentira, provavelmente minha cara de espanto denunciava.

Arthur olhou em meus olhos de forma desconcertante.

Se havia algo em Arthur que eu detestava olhar eram seus olhos. Pareciam tão determinados e perigosos, porém ao mesmo tempo confusos como o de uma criança perdida.

– Você pode confiar em mim. – afirmou

– Eu estava correndo, esbarrei em alguém e senti meu pulso incomodar, mas continuei correndo, é só isso que lembro... – contei minha meia verdade

Isso pareceu ter ao menos feito-o engolir.

– Tudo bem... Se arrume faltam só cinco horas para o baile.

– O que?! – me engasguei

– Você ficou apagada muito tempo. – e com isso saiu do quarto

*.*.*.*.*

– Uau você está linda! – dizia Lilly admirada

Lilly era a garota que Ian gostava, ela havia sido encarregada de me ajudar com o vestido do baile. As horas pareciam correr e minha vontade de ir ao baile parecia diminuir a cada segundo.

– Você deveria ir. – incentivei – Aposto que Ian não se importaria de acompanha-la.

Ela arregalou os olhos correndo para perto da caixa de jóias em busca de um colar pra mim.

– Não sei do que está falando.

–Eu vi o jeito que olha pra ele e ele pra você é o mesmo jeito que... – parei com um bolo na garganta ao lembrar de Seth meu lobinho

– Você tinha alguém lá?

Confirmei com a cabeça.

– Não posso, Arthur me pôs para trabalhar na cozinha essa noite, além do que Ian e eu juntos seria proibido... – suspirou triste

– Sobre Arthur eu cuido dele e sobre Ian... O baile é de máscaras ninguém precisa saber que é você. – sugeri com um sorriso maroto

– Eu nem tenho vestido...

Saí pelo enorme closet e dei um vestido que ela havia se encantado há alguns segundos.

A mesma ficou sem jeito e quando pensou em não aceitar falei:

– Não diga nada, só se vista, que vou procurar uma máscara pra você!

*.*.*.*.*

Se for verdade que Arthur que escolheu meu vestido... Bom, tenho que admitir que bom gosto é o que não falta. Meu vestido era roxo feito de tecidos leves que ficavam esvoaçantes me fazendo duvidar que eu pudesse manter um pouco de descrição, minha máscara era em tons de roxo ao lilás, com uma pedrinha entre os olhos.

Respirei fundo e dei um passo na direção da escada, onde Arthur me esperava fazendo uma reverência, que respondi com um leve inclinar de cabeça. Ele estendeu seu braço em minha direção onde segurei firme morrendo de medo de cair.

– Está linda Lívia.

– Obrigada. – respondi um pouco envergonhada

Descemos lentamente as escadas. Senti minhas pernas tremerem ao observar a quantidade de pessoas no salão. “Logo você se acostuma.” Ouvi a voz de Arthur em minha mente me assustando.

Paramos ao centro do salão, Arthur acenou com a cabeça para a orquestra que logo começou a tocar uma música que identifiquei como sendo a da Bela e a Fera.

{Música: Beauty and the Beast /Notas iniciais}

Nos inclinamos em um cumprimento, em seguida nos aproximamos, minha mão direita pegou a sua e minha mão esquerda pousou sobre seu ombro.

– Era meu desenho preferido quando pequena. – sussurrei

– Eu sei. Por isso a escolhi...

Encarei seus olhos tentando entender. Arthur era um mistério, seus olhos que por muitas vezes eram nebulosos, hoje pareciam tão cristalinos quanto água, suas palavras não pareciam ensaiadas ou sequer forçadas, de fato parecia haver certo desconforto talvez pela vergonha de demonstrar algum tipo de afeto, me fazendo por um momento desejar que eu tivesse tido a chance de tê-lo realmente como pai.

– Pensei que ficasse por aqui sempre. – falei

– Você é minha filha Lív, acredite ou não eu estive lá... Nos seus primeiros passos, primeiro dia de escola, quando quebrou seu braço, quando seus poderes começaram a se desenvolver...

Aquela havia me pegado de surpresa. Por mais que uma parte de mim dizia para não acreditar, no fundo havia uma força muito maior que me permitia sentir um carinho por ele.

– Cuidado Arthur, posso criar falsas expectativas.- brinquei, apesar de em parte ser verdade

Ele me puxou mais para perto me rodopiando e então falou:

– Eu te amo Lív, por mais que eu não seja o melhor pai do mundo e nem chegue perto disso, de uma forma que eu não entendo eu te amo. Sempre tentei negar isso, mas você é sangue do meu sangue, você é otimista e persistente, e por mais que negue você é desafiadora e incontrolável como eu. Não tem como fingir que não me importo com você.

Uma lágrima caiu dos meus olhos sendo recolhida pela mão de Arthur.

– Feliz aniversário, Lívia. – sussurrou me rodopiando uma última vez antes de acabar a música.

*.*.*.*.*

O baile continuou entre várias e várias músicas, sendo a maior parte delas desconhecidas por mim, porém todas muito belas.

Após algum tempo Arthur me chamou ao palco.

Minhas pernas tremiam se não fosse o braço de Ian, que me guiava, eu já teria caído em frente a todos.

– Com grande honra apresento-lhes Lívia Owell, princesa do Reino de Tharthmus. – declarava Arthur

Ergui uma sobrancelha em sua direção, ele pôs seu sobrenome no meu nome e nem me perguntou oque eu achava sobre o assunto. Deixei ele ler isso em minha mente, o mesmo apenas me retribuiu com um sorriso torto.

Um homem que estava no meio do palco passou a recitar alguns versos em latim dos quais confesso não ter entendido uma palavra, não que eu tenha me esforçado pra isso. Arthur apesar de continuar em sua postura ao lado do homem era perceptível o seu tédio.

Alguns minutos depois fui virada em direção ao povo, logo sentindo a pressão da coroa em minha cabeça. A coroa apesar de linda e delicada, ao ser colocada sobre minha cabeça parecia ter o peso do mundo, me deixando um tanto quanto desconfortável.

Inclinei-me levemente em sinal de respeito e compromisso com meu papel de princesa. Recebendo o inclinar de todos em respeito.

Enfim as músicas voltaram a tocar, eu estava perdida com tantas pessoas vindo me cumprimentar sem eu ao menos conhecê-las.

*.*.*.*.*

Após muitas danças com convidados eu me encontrava perto de uma janela enorme que deixava o ar frio entrar, aliviando meu cansaço.

Sinto uma mão com luvas tocando meu obro com delicadeza, viro me deparando com um homem mascarado. Ele me estendia a mão como num convite para a dança.

{Música: Say (All I Need) /Notas iniciais}

Não estava querendo dançar, além de que só de pensar em como Seth ficaria chateado meu coração se apertou. Porém quando vi Kevin se aproximando não hesitei em pegar a mão do desconhecido, nos dirigindo a pista de dança.

Nos posicionamos e começamos a dança, de alguma forma aquele homem era tão familiar. Tudo nele parecia me atrair... Balancei a cabeça espantando esse tipo de pensamento, tendo o rosto do meu lobinho em minha mente.

– Você está linda, princesa! – elogiou, apesar de mal poder ouvir por conta do barulho

Sorri sem graça.

– Eu tenho namorado. – falei

Ele riu, mas riu muito, fiquei irritada com aquilo, tentando me afastar, mas ele me mantinha presa em seus braços.

– Calma linda! Eu sei que tem.

– Pois não parece! – retruquei

Eu procurava por alguma escapatória naquele mar de gente, quem sabe Arthur ou Ian me ajudassem agora.

– Acredite em mim, eu sei muito bem que você tem um namorado. – sussurrou próximo ao meu rosto finalizando sua fala com um sorriso e piscar de olho

Espera! Só havia uma pessoa no mundo que fazia aquilo, com aquela naturalidade.

– Seth?! – exclamei antes de uma grande explosão quebrar todos os vidros do salão fazendo todos gritarem apavorados