Mind Games (interativa)

Capítulo 18 - How I Met Your Father


O homem caminhava em passos rápidos e desgovernados, descontrolado. Estava em uma rua deserta, sendo perseguido. Murmurava palavras rapidamente... Todas as que podia antes que lhe faltasse ar.

– Socorro Emma, ajude-me... Não me deixe aqui, por favor. Não me deixe aqui para morrer...

Um barulho audível pôde ser ouvido detrás do homem. Algo estava se aproximando rapidamente. O indivíduo corre por entre um beco escuro, que acaba se revelando como sem saída. Uma sombra grande cobre a única saída, e foi ficando cada vez menor. Estava se aproximando. Não havia escapatória. O homem sabia que estava prestes a morrer.

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– Emma... Por que você me abandonou? Por quê? Eu pensei que você me amasse... Por que você fez isso comigo?

Um vulto escuro aparece, e entra no beco. O terror está estampado no rosto do homem que se prepara para morrer, mas não sem lutar. Nunca. Uma lágrima escorre de seu olho, e ele dá o seu último sussurro.

– Cuide do nosso filho por mim...

O vulto ataca, desferindo um golpe mortal. A noite é cortada por uma lâmina, que é desferida pelo agressor, e por um grito estridente, de sua vítima. O vulto se vira, contemplando seu trabalho.

– Estou indo atrás de você...

Emma desperta, com um grito. Logo sente o gosto salgado das lágrimas que caiam por sua boca, molhando sua camisola de seda branca. Ela leva as duas mãos ao rosto, entre soluços e se senta em posição fetal enquanto observava o sol despertar lentamente pela janela. O barulho de portas se abrindo subitamente a fez mudar para sua forma de diamante. Que logo se desfez ao ver o rosto do filho que vinha, assustado, em sua direção.

– Mãe... Eu ouvi você gritar, está tudo bem? - John senta ao seu lado e a abraça.

– Sim. - Mente, recompondo-se. - Foi apenas um sonho ruim.

Mais um, corrige ela mentalmente. Fora o seu quinto pesadelo com Will nessa semana. Eles sempre estiveram presentes em suas noites, mas agora pareciam estar ficando mais frequentes. Talvez por estarem de volta ao Instituto.

– Tem certeza? - Ele a encara, preocupado. Ela o olha nos olhos e sorri. Era incrível a semelhança com os de Will. Era como encarar os mesmos olhos que a acalmavam todas as noites anos atrás.

– As vezes você até soa como ele...

– Perdão? - John a encara, confuso. Emma sorri tristemente, passando a mão por entre seu cabelos louros.

– Seu pai... Você se parece muito com ele. Seu modo de falar, sua personalidade. Tudo. Seus olhos... - Ela ri de si mesma. - As vezes eu até me pergunto... Se ele pode me ver pelos seus olhos.

John permaneceu calado. Emma, percebendo seu silêncio, continua.

– Eu nunca te contei a história de como o conheci, contei? - Pergunta. John faz que não com a cabeça. Emma bufa. - Faz sentido. Não é bem uma história para crianças... De fato, eu quase o matei.

– Você não precisa... - John começa, mas Emma o interrompe.

– Mas eu quero. - Seus olhos lacrimejam. - Eu preciso tirar isso de mim. Você nunca percebeu, não é? Claro que não. - Ela funga. - Acho que fiquei boa demais em esconder de você todas as noites que passei em claro chorando e sofrendo por nós dois.

– Helena me disse algo parecido... - Ele olha pela janela, o sol o faz franzir o cenho. - Eu estou cansado de ver as pessoas sofrendo por mim.

– Não é por sua causa... - Ela põe a mão no ombro do filho. - É tudo. Eu não queria te dizer nada agora... Você tem as suas próprias razões para sofrer, não precisava de mais uma. Apenas... Esqueça.

– Como se eu pudesse. Memória fotográfica, lembra? - John aponta para a cabeça. - Igual a ele... Acha que eu também não sofro pelo meu pai? - Ele balança a cabeça. - Eu me lembro dele também mãe. Eu me lembro de tudo. Do dia que eu participei do show da escola como mágico e ele foi meu assistente no truque de desaparecer... - Emma dá uma risada seca.

– Você ganhou o show de talentos...

– E quando vocês me ajudaram a aprender a andar de bicicleta...

– Você ficou dececionado quando descobriu que seu pai estava invisível e segurando a bicicleta para que você não caísse.

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– Eu me lembro de todos os momentos... Todos eles. - John olha para baixo. - Eu até decorei a posição de cada fio de sua barba. Cada linha de seu rosto. E eu me lembro de cada detalhe antes de ele me esconder no dia em que tudo aconteceu. E você não sabe o quanto eu tento esquecer.

O silêncio perdurou por alguns segundos. Emma quebra o silêncio.

– Eu o conheci vinte anos atrás... Na S.H.I.E.L.D.

***

Eu trabalhava como uma espiã, já lhe contei isso. Eu era uma agente solo. Fiquei furiosa quando Fury me disse que eu ia trabalhar com um agente. Ele não confiava em mim, eu sabia disso. E até hoje eu sei.

– Frost. Não recebi o seu relatório. - Diz Fury. Emma o acompanhava no corredor, sua capa branca tremulava conforme andava.

– Não tive tempo, estava ocupada demais tentando não ser descoberta. - Diz ela, ironicamente.

– É exatamente por essa sua atitude, Srta. Frost, que eu vou designar um parceiro para você. - Diz o diretor, secamente. Eles viram a direita no corredor.

– O quê? Não. Eu trabalho sozinha, Nicholas.

– É diretor Fury para você. E você não me deu outra escolha.

– É porque eu sou uma ex-criminosa, não é? Você não confia em mim, não importa o quão grande seja meu esforço.

– Eu já tomei minha decisão, Srta. Frost. - Ele aciona o comunicador em sua orelha. - Hill, mande o agente Crane para o meu escritório.

Fury e Emma caminham até a sala do mesmo. Eles a encontram vazia.

– Que estranho. - Confessa Fury. - Ele já deveria estar aqui.

– E estou, diretor. - Um homem surge do nada, sorrindo. Ele trajava um uniforme completo da S.H.I.E.L.D. Emma franze o cenho.

– O que é isso? - Pergunta Emma. - Um novo equipamento da S.H.I.E.L.D?

– Posso garantir que não, senhorita... - Ele lhe estende a mão.

– Frost. Emma Frost. - Ela não o cumprimenta, e ele abaixa a mão.

– Certo... William Crane, mas me chame de...

– É com isso que vou trabalhar? - Ela o interrompe. Fury revira os olhos.

– "Isso" está aqui. - Diz Will. - E tem ouvidos. E um nome também, caso não se lembre.

– Escutem, vocês dois. - Fury se enfurece. - Vocês agora trabalham juntos. Querendo ou não. - Ele acrescenta, olhando diretamente para Emma. - Se acertem.

Ele entra na sua sala e fecha a porta, deixando-os sozinhos no corredor.

– Eu acho que começamos com o pé esquerdo. - Diz Will, suspirando e estendendo sua mão novamente. - Agente nível cento e cinquenta e dois, infiltrador, memória fotográfica, perito com lâminas, mutante portador de fotocinese e invisibilidade nível Beta.

– Mutante? - Ela aperta sua mão, surpresa. - Agente nível cento e quatorze, perita tática e espiã, mutante portadora de telepatia nível Ômega, rajada psíquica nível Alfa e mimetismo diamântico nível Beta.

– Olhe só. - Ele sorri. - Ao menos temos algo em comum.

– Acho que sim. - Emma respira fundo. - Não se sinta ofendido, mas já sei tudo sobre você. Perdeu os pais aos seis anos, viveu em orfanatos até os dezoito. Fez faculdade em Nova York, se graduou e conseguiu um emprego na S.H.I.E.L.D como cientista pelo seu impressionante trabalho na área da genética até que se cansou e resolveu experimentar um pouco de ação.

– Impressionante. - Ele diz, secamente. - A telepatia é algo incrível. É um poder cobiçado por muitos, mas que poucos possuem... Como dinheiro, o que você sempre possuiu... As indústrias Frost estão indo muito bem. Você é morena, mas tingiu os cabelos de loiro para se sentir diferente da família que você odeia. Você tem uma irmã que também é mutante. Entrou no Hellfire Club como dançarina e subiu até o posto de rainha. Cometeu diversos crimes até que o acidente com Cassandra Nova em Genosha matou quase todos os seus estudantes. Daí você começou a lecionar no Instituto Charles Xavier Para Jovens Superdotados. Foi contratada pela S.H.I.E.L.D por causa de incidentes no Hellfire Club e desvia informações de lá para nós desde fevereiro do ano passado.

– Como... Você? - Emma empalidece. Will se aproxima e sussurra em seu ouvido.

– Existem maneiras diferentes de se obter informações. Eu sempre procuro saber mais sobre os agentes com quem trabalho. - Ele se afasta dela. - Eu nunca esqueço. Memória fotográfica, uma bênção e uma maldição.

– Estou impressionada. - Ironiza, recompondo-se. - Mas isso será provisório. Logo Nicholas irá perceber que cometeu um erro ao me colocar com você. Não leve para o lado pessoal. - Ela dá as costas para ele, e caminha para lone dali.

– Não levar para o lado pessoal? - Will a segue. - Você escuta o que fala? Bom, eu sinto muito se eu não sou o que você queria, mas você ouviu o diretor. Se servir de consolo, eu também não queria estar aqui.

– Mentira. Como eu mencionei antes, você era um rato de laboratório. Está louco por alguma ação, e eu sou sua única chance de consegui-la.

– Quer parar de entrar em minha cabeça? Que inconveniente.

– Ah... Então sou eu a inconveniente? Você estragou...

Ficamos assim por mais algumas semanas até que finalmente começamos a nos tolerar. Não foi fácil, mas acabamos fazendo muitas amizades naquele emprego. Trabalhamos com os X-Men, o que não era novidade para mim, com os Vingadores... Certa vez até com o Quarteto Fantástico, mas essas são outras histórias...

***

– Para resumir, foi assim que eu conheci o seu pai. - Termina. - Não é o que se pode chamar de clichê, mas mesmo assim...

– Ele controlava a luz? Eu pensei que ele tinha apenas invisibilidade. - Questiona John.

– A invisibilidade, como você deveria ter aprendido, consiste em desviar os raios de luz. - Diz Emma. - Seu pai podia fazer qualquer coisa ficar invisível... Além de absorver luz, emitir luz, ele podia até mesmo criar hologramas rudimentares de si mesmo. Ele era um mutante Beta, mas era bem poderoso.

– Beta? Eu pensei que éramos caracterizados por níveis...

– Sim e não. - Emma continua. - As duas classificações são válidas, mas essa é mais específica. É avaliado o nível de cada mutação. Sendo o nível Épsilon o menor, e Ômega o maior.

– E você é uma telepata nível Ômega? - John arregala os olhos.

– Surpreso? - Ela sorri. - Sim. Só não derrotei Jean anos atrás porque ela tinha o poder da Fênix, por isso que Xavier também não conseguiu. E também porque ela tinha um arsenal completo. Geocinese, telecinese, aerocinese... Ninguém pode contra tanto poder. Ou você o controla ou ele te destrói.

– Ou ele te cega e te faz cometer coisas horríveis. - Complementa John, lembrando-se de Carrie. Emma lê as entrelinhas.

– Não deixe isso destruir você. - Ela tenta soar confiante. - Eu vou te treinar, como deveria ter começado anos atrás apesar da sua insistente recusa. Logo será um telepata tão poderoso quanto eu... Mas isso pode demorar dependendo dos resultados do teste de hoje.

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– Teste? - John arqueia uma sobrancelha. Emma dá um tapa em sua própria testa.

– Ah, merda... - Ela bufa. - Era para ser um teste surpresa. Psylocke vai me esfolar viva.

– E quanto ao teste? - Insiste John. - Do que se trata?

– Uma prova prática. Vamos reavaliar os níveis de poder das turmas superiores de acordo com a classificação epsilon-ômega. É apenas uma maneira mais precisa de classificação. Nada que devam se preocupar. - Ela se levanta da cama. - Eu, pelo contrário, tenho muita coisa para me preocupar. Tenho que ir com Hank para fazer uma revisão no Cérebro para seu treinamento amanhã. Tenho uma reunião com Kitty e... Céus! Stark e os outros ainda estão aqui. - Ela bufa. - É melhor você ir logo. Descanse mais um pouco. Algumas horas de sono extra vão fazer bem para você.

– Para você também. - Diz John, levantando-se.

– Falar é fácil... - John vai em direção à porta. - E filho...

– Sim?

– Mantenha a história do teste entre nós. - Pede. - E faça uma cara de surpresa. Psylocke vai descobrir cedo ou tarde, mas um pouco de atuação nunca matou ninguém.

– Certo mãe. Até logo.

– Até...

John volta para o seu quarto e se deita por alguns minutos até cair no sono novamente. Emma toma um banho enquanto se afoga em seus pensamentos e em uma promessa, feita anos atrás para um homem morto. Uma promessa que consistia em manter seu filho vivo a qualquer custo.

Mas não devemos fazer promessas aos mortos...