Miguel e Davi

Capítulo 9 - True Love - 20/03


Ir ao cinema com Davi pela primeira vez parecia mágico. Ir ao cinema, para ele, era o mesmo que confirmar que eles tinham mesmo alguma coisa. Parecia simplesmente perfeito.

Miguel deixara que Davi escolhesse o filme e, claro, como era a cara do garoto, ele não escolheu nada romântico, mas sim um filme de ação, com muitas mortes e explosões por todos os lados. Miguel não ligou muito. Sabia que apenas o escuro do cinema já era romântico o bastante.

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E, lá estavam eles, finalmente. Davi acabara de comprar a pipoca – uma grande para eles dividirem – e eles esperavam na fila. Não comer a pipoca antes dos trailers era muito autocontrole, o que, definitivamente, Davi não tinha.

Miguel, porém, se controlava. Nada de comer pipoca antes. Mesmo que Davi estivesse acabando com toda ela.

Então entraram no cinema. Sentaram-se quase na última fileira, em um dos cantos. Era o lançamento do filme, e o cinema estava lotado, assim, aquele fora o melhor lugar que eles conseguiram pegar. Não era perfeito, mas não deixava de ser bom.

Os trailers começaram e acabaram, e, finalmente, Miguel avançou para a pipoca, apenas para perceber que Davi já tinha comido quase a metade. Não ligou mesmo assim. Toda a vez que ele ia colocar a mão para pegar mais pipoca, Miguel acompanhava seu momento e sentia as mãos se tocando dentro do pacote.

Às vezes olhava para Davi no meio da escuridão, o rosto iluminado pelas explosões do filme. Mas ele não conseguiu ver em nenhum momento o outro retribuir os olhares. O filme devia estar bem mais interessante do que Miguel estava achando.

Miguel estava um pouco irritado por causa disso, é verdade. Mas, nada foi parecido ao momento em que Davi finalmente olhou para ele e, quando Miguel avançou para beijá-lo, o outro foi para trás.

Ele não soube o que dizer, o que fazer. Perguntou baixo qual o problema, mas um desconfortável Davi não soube o que responder. Não fazia nem um dia desde que eles tinham trocado juras de amor na casa de Miguel pela última vez.

Ameaçando falar mais alto, Miguel exigiu uma explicação. Por fim, Davi cochichou algo sobre ter visto um conhecido da irmã dele na fila.

Então Miguel entendeu. Sabia que fazia pouco tempo que o outro tinha se assumido e que não eram todos os que sabiam ainda a verdade. E, Davi estava tentando esconder sua homossexualidade de algumas pessoas que certamente fariam brincadeiras e piadas. Ainda não estava pronto para isso. Ainda não estava pronto para dizer que estava com Miguel.

Um pouco ofendido e sem fazer o que fazer, Miguel se levantou, irritado, e saiu do cinema. Davi precisou apenas de alguns segundos para segui-lo. Apenas conseguiu alcançá-lo quando já tinham voltado para a luz.

– Endoidou? – Davi perguntou, segurando o braço do outro. – O que acontece?

– Você aconteceu! – Miguel disse, ainda irritado. – Por favor, mermão, se não está pronto para me assumir, eu entendo. Mas não seja contraditório. Não quer que os outros nos vejam em público, então não me encontre em público!

– Como assim? – Davi continuou.

– Foi o que você disse – ele ainda estava bravo. – Não quis me beijar pro conhecido da sua irmã não te ver beijando outro homem…

– Não é verdade… – mas nos olhos mel pingados de verde estavam a verdade. E Miguel soube que pensara certo.

– Não pode achar que vai me pegar enquanto ninguém está vendo e fingir que nada está acontecendo em público… – Miguel continuou, perto das lágrimas. – Você disse que me amava…

Davi não respondeu nada, apenas continuou olhando o outro, a respiração alterada.

– Não vá. – pediu por fim, em meia voz.

– Vamos lá então, – ele continuou: – Diga que me ama agora, e eu não vou. Vamos, diga que me ama…

Davi não respondeu nada. Apenas olhou para Miguel, os cabelos arrepiados e os olhos pingados de verde. O outro insistiu:

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– Vamos, diga que me ama! – pediu. – Prove que não se importa com o resto do mundo e eu não vou embora. E, se tudo o que você disse até agora era mentira, então minta de novo agora. Vamos. Diga que me ama.

Mas Davi não conseguia. Ele pareceu rendido, desarmando enquanto ainda olhava Miguel, sem saber exatamente o que fazer. Então puxou o outro para si e o abraçou, antes que o garoto caísse em lágrimas. E, finalmente, apenas para Miguel, ele disse:

– Eu te amo, irmão – e Miguel se sentiu arrepiar. – E nada do que eu disse até agora era mentira. Eu realmente te amo, não seja bobo.

E, de repente, Miguel percebeu que não lhe importava. Por enquanto Davi podia lhe dizer apenas para ele que acreditaria. Por enquanto era o que bastava. Um dia, Davi diria ao mundo que o amava, que ele lhe era tão especial quanto Davi era para Miguel. Um dia. Por enquanto, um “eu te amo” sussurrado em seu ouvido era o que bastava.