Mi Corazón Es Tuyo

"Se é uma bobagem não há motivos para esconder!"


Fechei a porta com cuidado. Violetta ainda não havia me reparado ainda, estava muito concentrada em uma corrente de ouro. Quando finalmente reparou minha presença ficou atônita, talvez porque não esperava que eu a visse como sua verdadeira personalidade – até então – ou porque não esperava que eu viesse. De repente, ela soltou a corrente na sua cama e veio até mim. Eu não sabia se dizia um “oi” ou se começava a perguntar, mas enfim, optei por um abraço que foi retribuído com tanta força, acho que eu me quebraria aqui mesmo.

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– Desculpa – sua voz soou quase inaudível.

– Por quê?

– Eu não cumpri a minha promessa. Suas ligações nunca foram atendidas, suas mensagens nunca foram respondidas, e as cartas... Acho que nunca chegaram até você.

“Talvez você nem tivesse respondido...” penso.

– Eu não fiz por maldade, León. Ocorreu muita coisa lá em Madri... – continuou.

– Tipo?

Ela hesitou um pouco, mas logo respondeu:

– Desisti do meu sonho... – sussurrou.

Então sua vida virou de cabeça para baixo. A vida de Violetta girava em torno desse sonho em que os astros eram a favor, literalmente. Astronomia. Astrologia. Astronáutica. Não sei, para mim tanto faz. Violetta me disse uma vez a diferença entre cada uma delas. Astronomia é o estudo dos astros, astrologia é a influência dos astros na vida do ser humano – o que conhecemos por horóscopo – e astronáutica é a navegação pelos astros. Ela também me disse que se encaixa melhor na engenharia aeroespacial, apesar de ser apaixonada por astrofísica.

– Quê?

– Eu tive que fazer isso, León...

– Mas... Por quê? – indaguei.

– Meu destino é a música e esse é o máximo que eu posso te contar. – falou cabisbaixa.

Esse era o máximo que ela podia contar para todos, mas eu não sou qualquer um, sou o melhor amigo dela. Será que ainda sou? Acho que entendi tudo, e foi como uma faca que partiu o primeiro pedaço do meu coração.

– Não confia em mim, não é? – falei baixinho.

– Não é isso, León. É que... Eu não posso contar. É uma bobagem que, por incrível que pareça, não pode ser contada.

– Se é uma bobagem, não há motivos para esconder...

– Esquece isso, não me faz bem.

Assenti, apesar de estar um pouco desconfiado.

Logo percebi que a corrente que Violetta segurava quando entrei era a mesma que eu havia dado a ela. Peguei-a com cuidado, e ela não entendeu a minha atitude. Coloquei aquela corrente de ouro em seu pescoço, deixando a pingente caído acima da região do tórax, afinal, a corrente era curta.

– Amigos? – perguntei, olhando diretamente nos seus olhos

– Amigos! – respondeu e sorriu fraco.

+++

Eu jamais vou dividir o quarto com alguém, ou pelo menos não com o Jonas. Ele havia me acordado e sequer o Sol havia aparecido no horizonte para iluminar o dia – a não ser que o tempo estivesse fechado. Mas só estava cedo demais. Cinco horas e dez minutos antes do meio dia. Quem o Jonas acha que é para me acordar a essa hora?

– Eu já te disse que não preciso acordar cedo, Jonas. Não insiste nisso!

Ele ignorou e, com uma toalha em seu ombro, entrou no banheiro.

Eu faria qualquer coisa para poder não dividir mais o quarto com o Jonas, ou melhor, já fiz de tudo, mas nunca consegui o que queria. Só resta esperar três anos. Quando eu estiver com dezoito, posso ter a minha própria vida – bem longe de Jonas Vargas. Daqui a três anos, o meu irmão mais velho vai estar com vinte e um anos, será que, se algum dia eu o encontrasse, ele me reconheceria? Talvez não, a última vez que ele me viu eu estava no meu primeiro aniversário. Eu não o reconheceria, nem comparando fotos. Não tenho certeza se vou namorar quando completar determinada idade dependerá muito das “pretendentes” – sabe lá se ainda vou estar com a Ludmila. Ludmila. Terminarei com ela. Eu só me iludi, achando que estava apaixonado.

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Quando menos esperei, o despertador alarma. Seis horas e trinta minutos antes do meio dia. Hora de levantar.

+++

Fui diretamente para o Studio. Chegando lá, encontro a Francesca que veio ao meu encontro.

– Você perdeu a aposta. – cantarolou.

– E você só lembrou-se disso agora. – rebati cantarolando na mesma nota que ela.

Rimos juntos.

Por causa da aposta, vou ter que levar a Fran em algum lugar que ela possa gastar toda a minha mesada, literalmente. Ela passou exatamente dez minutos pensando nesse lugar:

– Shopping, e depois cinema, livraria e loja de doces. – falou, rindo e batendo palminhas.

– Não vou te levar ao cinema – revirei os olhos.

Claro que amigos vão juntos ao cinema, mas eu não estava com vontade de assistir os filmes do gênero que a Fran curte. Romance, drama e tragédia.

– Qual o problema, León?

– Eu te levo em qualquer lugar para fazer qualquer coisa, menos assistir filme.

O sinal toca. Parece que esse assunto só vai ser resolvido depois da aula do Pablo.

Nossa turma não tinha mais que nove alunos, e será dividido em dois grupos de quatro para um trabalho do Pablo, o que eu não entendi bem:

– Mas vai ficar sobrando alguém... – falei.

– Cada grupo tem um representante, e é ele que vai decidir se esse aluno entra ou não no grupo dele.

Os representantes não sabem quem são seus componentes, muito menos sabem sobre esse aluno. Acredito que Pablo escolheu os alunos mais confiantes para desempenhar isso.

Ele anunciou os dois nomes: Violetta e Ludmila. Ficou um clima tenso na sala. Elas duas – a minha melhor amiga e a minha namorada – teriam que chegar a um acordo. Vi a Fran sussurrar algo no ouvido da Violetta que assentiu. Espero que ela não tenha dito nada que depois possa prejudicar o grupo da Violetta. Ela, praticamente, não interage com a turma, e provavelmente é esse o plano de Pablo. Mas Violetta estava segura e depois que o professor conversou com as duas ela passou a sorrir. Percebi que demoraram um tempo para que pudessem chegar a uma conclusão.

Ela veio em minha direção e me abraçou de lado, logo a envolvi em meu braço.

– Então, Violetta e Ludmila entraram em um acordo. – Como? Eu não faço a mínima ideia. Ludmila não é de fazer acordos, principalmente quando não sabe quase nada. Violetta estava confiante e Ludmila entrou em um acordo, elas já deveriam saber sobre os grupos e sobre o “tal aluno” e se o clima estava tenso entre elas só me resta pensar que... – O aluno que estava faltando foi incluso no grupo da Violetta, porém, o grupo que ficará com cinco componentes é o da Ludmila.

Ele anunciou os componentes de cada grupo e só agora pude entender o motivo do abraço, da tensão e da confiança. Eu era o “tal aluno”.