Meu Vizinho Infernal

Os javalis de Tokyo


Você não tinha idéia de como eu estava me sentindo. Aquela tinha sido a semana mais louca da minha vida. Eu tinha descoberto quem era meu pai, e quase morrera várias vezes, sendo muitas delas por causa de Deuses. A última coisa que eu queria era descobrir que o cara mais bonito do mundo... O que tinha marcado um encontro comigo, era o meu tio. Bem... Eu podia esquecer esse detalhe de tio, porque ele tinha a mesma fisionomia de alguém uns 4 anos mais velho que eu.

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Era como se eu estivesse falando com um jovem, e não com o irmão mais velho do meu pai.

Mesmo assim... A última coisa que eu queria fazer era conhecer outro Deus do Olímpio. Queria férias de todas essas coisas. Mas como era de se imaginar... Eu não teria.

Mesmo pensando em tudo isso ao mesmo tempo, a minha cabeça parecia mais leve. Tudo parecia mais tranqüilo, enquanto eu disparava em 100 km/h pelas ruas vazias no meu carro favorito.

Eu estava focada na estrada. Pensava que poderia ouvir o som das rodas do carro queimando o asfalto, mas tudo que eu ouvia era a voz de Apolo ao meu lado.

“Então, Alice. O que está achando?” Ele perguntou.

“É... É legal.” Menti. Legal não era nem um quarto daquilo. Era a melhor experiência de toda a minha vida. Nunca tinha corrido tanto! E como vocês sabem, a velocidade faz meu cérebro funcionar.

“Sabia! A maioria dos filhos do meu irmão gosta de correr.” Ele falou. “Se bem que outros gostam mais de roubar.”

Ele olhou para mim. Eu pude sentir isso, pois seu olhar era quente, mas não tirei os olhos da estrada.

“Eu não. Não sou ladra.” Falei.

Ele riu.

“É claro que não.” Falou. “Eu conheço você.”

“De onde você me conhece? Como soube o meu nome?” Perguntei.

“Ah, simples. Você é a garota da maldição, não é? Alice Kelly.” Comentou ele.

“Ah, ótimo. Me conhece por causa disso.” Resmunguei enquanto desviava de um carro.

“Todo o Olimpio na verdade.” Corrigiu ele.

“Todo o Olimpio?!” Exclamei espantada. “Como eles...?!”

“Nós sabemos...”

“Mais do que eu imagino, não é? Meu pai me disse isso.” Falei.

“Seu pai é legal.” Falou ele se ajeitando no carro. “Sabe... Quando ele era menor era bem engraçado. Ele acabou me enganando uma vez e quando eu fui me tocar levou todo o meu rebanho de vaca vermelhas.”

Eu franzi o cenho.

“Vacas vermelhas?!” Repeti. “Mas isso não existe... Existe?”

“Nunca viu uma? Ah! Ótimo! Então eu posso te levar até um campo e...”

“Espera! Está quebrando o acordo!” Eu o lembrei. “Sinto muito mesmo, mas eu já tive problemas demais com Deuses para a vida toda. Não quero mesmo ter que...”

Eu fiquei sem voz. Na nossa frente estava um caminhão andando na contra mão. Ia nos atingir em questão de segundos.

“Ah!” Berrei.

“Opa!” Exclamou Apolo pulando para cima de mim.

Eu fechei os olhos. Eu sabia que Apolo não iria morrer, mas eu sim. Estava ferrada. Completamente ferrada. Não devia ter desviado os olhos para falar com ele. Gostava tanto de velocidade que era até irônica morrer por causa dela.

Bem... Em poucos segundos eu não senti mais o carro se mover. As rodas não estavam mais queimando o asfalto. Tudo ficou extremamente silencioso. Só podia sentir a respiração de Apolo perto de mim. Será que havíamos batido?

A única coisa estranha era que o vento continuava soprando contra o meu rosto, como se eu ainda estivesse andando á 100 km/h. Eu abri os olhos por fim, e o que vi me espantou mais do que o caminhão.

“Aaaah!” Berrei novamente.

“Calma, docinho.” Falou Apolo. “Está tudo bem.”

“Bem?! Como está tudo bem?!” Eu exclamei. “Estamos... Estamos...!”

“Há uns... 300 pés do chão?” Completou ele. “Ou ia dizer alguma outra coisa?”

“Isso mesmo!” Exclamei. “Como?!”

“Correr não é a única coisa que esse carro faz.” Ele sorriu. “Agora preste atenção... Eu vou soltar o volante para você poder dirigir. Mas... Tome cuidado certo? Aqui... Vou... Eu.”

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Ele soltou as mãos do volante, mas eu estava atônita demais para dirigir. O volante ficou parado por uns segundos, mas acabou virando para o lado sozinho.

“Ei!” Ele apressou-se em segurar. “É melhor usar as mãos, senão...”

Nós dois olhamos para frente, e lá estava um prédio. Iríamos bater em um prédio!

Di immortales!” Exclamou ele girando o volante.

O carro virou bruscamente para a direita e passamos raspando pelo prédio.

“O que é isso?” Perguntei tensa. “Di... Alguma coisa.”

Di Immortales?” Perguntou ele.

“É! Ah, por favor... Não me diga que é mais uma maldição...” Eu pus as mãos sobre o rosto para não ver a altura em que estávamos.

“Não. Claro que não.” Falou ele. “Significa... ‘Meus Deuses’. Sacou?”

“Sa-quei...” Assenti.

Olhei para baixo e esse foi o meu grande erro. Eu poderia dizer que as pessoas pareciam formigas, mas... Formigas eram maiores do que elas. Estávamos muito alto mesmo! E o carro continuava correndo á 100 por hora!

“E-Eles não podem ver a gente?” Perguntei.

“Quem? Os mortais?” Ele riu. “Podem, mas... Eles pensam que somos algum tipo de estrela cadente.”

Eu senti o meu sangue congelar. Não tinha medo de altura, mas aquilo era demais.

“A... A... A minha casa é para o outro lado. Eu... Acho.” Falei.

“Acho melhor nos darmos mais uma volta para você se acalmar.” Sugeriu ele.

“Não! Eu quero ir para casa. Agora mesmo.” Falei como uma criança mimada. “Ou pelo menos... Para algum lugar mais perto do chão.”

“Uhm... Eu não sei.” Pensou ele.

“Por favor...” Gemi.

Ele olhou para mim ainda estendido e segurando o volante.

“Certo. Eu sei de um lugar que você vai amar!” Ele sorriu e estalou os dedos. Nós tínhamos trocado de lugar novamente.

“Bem melhor.” Falou ele. “Ficar esticado daquele jeito faz as minhas costas doerem.”

“Pois é...” Murmurei fechando os olhos.

“Vou acelerar um pouco, por isso vai ficar um pouco quente.” Avisou.

“Quente? Como assim quente?” Perguntei sem entender, mas logo percebi o que ele queria dizer.

Não estava olhando o velocímetro, mas pude sentir que o carro ultrapassou os 300 km/h facilmente. Entendi também porque os mortais nos veriam como estrelas cadentes. O carro inteiro parecia que estava sendo fervido, ou pegando fogo literalmente. Eu olhei para a pintura. O amarelo brilhava mais do que o Sol.

Se tratando de Apolo... Eu acho que aquele carro era uma parte do Sol.

Eu fechei os olhos e me encolhi no banco do carona, até que o carro parou rapidamente.

“Chegamos.” Sorriu ele.

Eu abri os olhos.

De algum jeito nós tínhamos parado em uma cidade. Estávamos estacionados perfeitamente em uma vaga perto da calçada.

“Onde nós... Estamos?”

Eu olhava os letreiros e não conseguia entender uma só palavra. Pareciam só rabiscos para mim, mas parecia que Apolo tinha entendido.

“Essa é Tokyo.” Falou ele. “Terra do Sol nascente.”

Ele fez uma mensura japonesa para mim, e eu arregalei os olhos.

“Não brinca... Há um minuto nós estávamos nos EUA. Agora... Nós estamos no Japão?” Perguntei. “Ai... E eu tinha prometido ao meu pai que eu ia me cuidar...”

“Relaxa. Está fora de perigo.” Falou ele completamente calmo. “Afinal de contas... Está comigo.”

“Ah! Obrigada... Me sinto muito melhor.” Falei.

Ele sorriu não entendendo o meu sarcasmo. Eu abri a porta do carro. As minhas pernas estavam tremendo tanto que eu desabei no chão.

Um grupo de japoneses passou e ignorou completamente a minha presença. Apolo falou alguma coisa para eles, mas eles o ignoraram também. Mesmo assim... Acho que ele na se tocou.

“Adoro esse povo. Eles não são legais?” Sorriu ele.

“Não... Acredito.” Falei sem força. “Eu... Pensei que fosse um simples passeio de carro. E quando dou por mim, estou no Japão!”

“Não é uma loucura? Nós nunca sabemos quais rumos as coisas vão tomar.” Falou ele. “Vem. Eu te ajudo a ficar de pé.”

“Eu... Ahm... Ah, obrigada.” Eu hesitei, mas acabei aceitando a ajuda.

Assim que fiquei de pé, pude olhar Apolo nos olhos. Ele era um Deus diferente dos que eu tinha conhecido. Ele me influenciava igual aos outros, mas era diferente. Quando estava perto dele me sentia muito mais ativa, e acordada. Eu queria ouvir música, queria escrever um livro, queria acordar cedo... Era estranho, mas legal.

Lembrava o meu pai. Ele era bem ativo igualzinho á ele.

Eu sorri desajeitada e ele fez o mesmo.

“Alice Kelly... É um nome diferente para uma meio-sangue diferente.” Falou ele. “Você tem 19 anos. Gosta de corridas, de dias nublados, e de mitologia. Acertei?”

“Como sabe isso tudo sobre mim?” Perguntei.

“Eu simplesmente sei.” Falou.

Ele olhou em volta.

“Ei, tive uma idéia.” Falou ele olhando para mim. “Não precisa ser um Deus para notar que você precisa de um descanso. Sente-se no carro, que eu já volto. Consegue se manter fora de perigo por alguns minutos?”

Eu pisquei os olhos.

“Uhm... Acho que sim.” Concordei.

Ele sorriu, abriu a porta do carro, e eu me sentei. Eu o observei sumir no meio da multidão de Tokyo, enquanto respirava bem devagar. Doce chão... Era tão bom não estar voando na altura dos aviões em um conversível descontrolado.

Eu fechei os olhos e relaxei. Mas para minha infelicidade isso só durou alguns minutos.

Como se viesse do meio do nada, alguma coisa pulou encima do capô do carro fazendo um barrulho terrível. Era para eu ter me assustado, ou gritado, mas não foi isso que aconteceu. Eu esperei alguns segundos. Desejei com toda a minha força que aquilo fosse coisa da minha cabeça. Estava ficando paranóica, era essa a explicação que eu queria acreditar.

Minha mão estava cobrindo o meu rosto. Eu a retirei bem devagar para dar uma espiada na criatura que estava no capô. Para a minha enorme surpresa... Se tratava de um javali selvagem.

Eu olhei em volta imaginando como aquele bicho saiu correndo pelo meio da cidade sem que ninguém nem mesmo ligasse. Encarei o bicho e pude ver que seus pequenos olhos pretos estavam brilhando intensamente na minha direção, com nada mais do que o puro ódio e desejo de matar.

“A-Apolo...!” Eu chamei baixinho. “Vem aqui... Tipo, agora!”

O bicho se remexeu no capô, que agora estava completamente arranhado e amassado. Ele bateu as patas com força, e eu sabia que aquilo significava: “Corra agora!”.

Obedecendo a sua ordem, eu abri a porta do carro. Antes que pudesse correr, o javali emitiu um som agudo e pulou na minha direção. Por sorte consegui me abaixar, e ele passou raspando por cima da minha cabeça.

Ele parou no chão, se virou e correu na minha direção novamente. Eu consegui desviar dele e começar a correr na direção oposta a qual Apolo tinha ido.

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A cidade era lotada, o que não facilitava nada uma fuga ágil. A medida que eu fui correndo e desviando das pessoas, ficava cada vez mais pasma. Ninguém. Absolutamente ninguém parecia dar a mínima para uma garota que estava sendo atacada por um javali! Eu tentei gritar e pedir ajuda, mas fui completamente ignorada.

Depois de uma corrida de vários metros, eu virei a minha direita derrapando no chão. Eu apoiei a minha mãe direita no chão, e consegui entrar na rua. E esse foi o meu maior erro.

A rua não era bem uma rua. Era um beco sem saída entre dois prédios. No fim dele tinham algumas latas de lixo. Na parede de tijolos do prédio á minha esquerda tinha uma escada de incêndio. Eu olhei para a entrada da rua. Lá estava o javali selvagem pronto para me matar.

Ele bateu a pata algumas vezes no chão, do mesmo jeito que fez quando estava sobre o capô do carro. Só que dessa vez... Eu não teria para onde correr.

O javali furioso não perdeu muito tempo. Depois de alguns segundos me encarando ele tomou impulso e correu na minha direção. Eu não sei o que deu em mim. Acho que a maioria das pessoas pode chamar isso de instinto, mas não tenho certeza ainda.

Tudo parecia estar se movendo em câmera lenta. Eu olhei na direção da escada de incêndio á minha esquerda e pulei o mais alto que consegui. Por pura sorte novamente eu consegui alcançar o chão de ferro que ficava á uns 3 metros do chão. Como eu consegui chegar até lá... Nem me pergunte.

Eu podia senti o javali tentando pular par ame alcançar ou só tentar morder o meu pé, mas era inútil. Ele deu uns pulos, porém só conseguiu chegar perto de mim uma vez. E essa foi a minha deixa para chutar o focinho dele com toda a minha força.

“Sai daqui!” Exclamei.

Ele emitiu um som de dor e cambaleou para trás, entretanto eu sabia que aquela luta ainda não tinha acabado.

Pelo menos eu sabia que estava salva enquanto estivesse pendurada lá, mas... Isso não durou muito tempo como já deve ter imaginado. Pois quando eu olhei para cima, notei que tinha alguém lá, olhando para mim. Seu sorriso era maldoso, mas parecia estar se divertindo muito com aquela cena. Seus olhos brilhavam como bolas de fogo.

“Olá, sobrinha.” Sorria Ares. “Que bom revê-la.”