Meu Vizinho Infernal

Compartilhando sentimentos


Nós três ficamos parados com caras de choque, e de queixos caídos até o chão encarando Ares por vários minutos sem dizer nenhuma palavra.

“Oi?” Falei quebrando o silêncio.

“Você me ouviu.” Repetiu com um sorriso no rosto (que eu nervosamente esperava que fosse falso), e depois virou-se para Zeus. “Eu sei que pode parecer estranho eu reagir desse jeito, mas é que eu não consigo me expressar tão bem quanto Afrodite ou os outros deuses. Sou diferente, e esse foi o meu jeito especial de dizer isso á ela.”

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Eu ainda estava com cara de idiota. Não conseguia acreditar que tinha ouvido aquilo. E ainda por cima vindo dele!

“Você só pode estar mentindo...!” Falou meu pai com a voz falhando.

“Quer que eu faça mais o que? Beije ela?” Perguntou inocente. Meu rosto inteiro ardeu, e meus olhos se arregalaram para Ares. Ainda mais... Depois de ouvir a resposta de Zeus.

“Sim.” Falou ele cruzando os braços.

“Tá bom.” Ares encolheu os ombros.

“Tá bom?!” Repeti olhando pra ele.

Ele segurou os meus ombros e sorriu docemente. Ares foi se aproximando, e eu estava perplexa demais para reagir. Porém... No último segundo eu consegui acordar. Dei um pulo para trás a tempo de fugir dele.

“Não!” Exclamei tampando a boca. “Nem pensar! Você não pode estar falando sério!”

“Estou magoado!” Exclamou ele dramaticamente. Ares fez uma cara triste e voltou-se para Zeus. “Creio que meus sentimentos não são correspondidos. Mas...”

Ele fingiu estar segurando o choro, ou realmente estava segurando o choro. Não consegui notar direito.

“Mas está tudo bem. Acho que não posso mudar nada, porém... Posso fazer isso!” Ele virou-se para mim de repente e fez a coisa que eu mais odiava. “Vou tirar você daqui e enfrentar o problema como um homem!”

Eu estava (adivinha onde!) sobre o ombro dele, enquanto Ares me carregava até a porta. Dessa vez eu nem tive tempo de tentar protestar mandando ele me pôr no chão, pois quando dei por mim ele já tinha me posto em pé na frente da porta (a uma boa distância de Hermes e Zeus).

“Volte para a sua casa, Alice! Eu ficarei aqui!” Exclamou ele para que os dois pudessem ouvir, mas logo chegou perto de mim e resmungou. “Suma da minha frente, Filhinha de Hermes. Eu não preciso mais de você.”

“O... O que foi aquilo?!” Perguntei no mesmo tom baixo que ele usara para mim.

“Aquilo se chama ‘golpe de mestre’. Fingi estar gostar de você e te salvei de um castigo quase certo. Agora Zeus vai me desculpar pensando que eu fui um cavalheiro pela primeira vez na minha vida, e tudo vai ficar bem.” Sorriu ele feliz consigo mesmo. “Agora se manda, Kelly. Isso enquanto ainda tem chance.”

Ares virou as costas para mim e foi andando em direção a Zeus. Agora ele conseguiu. Estava morrendo de raiva.

“Há!” Ri rápido e sem humor e ele parou de andar. “Eu roubei um carro, ganhei mais de 50 multas de transito, entrei no Empire States sem nem mesmo saber exatamente onde era o Olimpo, pareci uma maluca na frente do porteiro, agüentei a música chata do elevador até chegar no 600º andar, atravessei todo esse lugar correndo, interrompi uma conversa de deuses, tudo isso só para engolir o meu orgulho e pedir desculpas para você! Agora depois disso tudo, depois de todos os milhares de eventos que nós passamos juntos, você finalmente resolve se tocar que é um idiota e ser gentil?!

Ares virou-se para mim aos poucos. Seus punhos estavam cerrados, mas ele tentava manter a calma. Em vão, é claro. Pois assim que abriu a boca, todo o seu teatrinho sobre gostar de mim foi por água abaixo.

“Quer uma medalha por isso, pirralha?!” Retrucou ele com raiva. “Você veio aqui, porque é burra! Não te pedi ajuda em momento nenhum!”

“Não! Eu vim aqui porque você me enganou! Mas tudo bem, pois eu pude tirar uma boa lição de tudo isso.” Rebati igual raiva. “Que nem que você rasteje, implore, chore, ou que isso custe a minha vida... Eu nunca mais vou te ajudar! Você é o pior, Ares seu ingrato!”

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“Ingrato?! Com quem pensa que está falando, Filhinha de Hermes?!” Berrou ele furioso. “Eu não devo nada a ninguém! Muito menos a uma lesada como você!”

Eu te odeio, Ares!” Rugi com ódio.

E eu te odeio também, Kelly!” Rugiu ele de volta.

Sem nem mesmo notar, nós dois estávamos pertíssimo um do outro. Uma distância minúscula, porém perigosa, pois nós começamos a berrar, gritar, e discutir um com o outro. Só paramos, pois fomos atingidos por um raio e lançados contra a parede.

Aquilo doeu muito. Parecia que cada célula do meu corpo tinha sido sacudida.

“Já chega!” Vociferou Zeus.

Eu e Ares tentamos nos levantar, mas ele ameaçou jogar outro raio, e nós nos encolhemos decidindo que ficar ali no chão não era tão ruim assim.

“Vocês dois me causaram problemas pela última vez!” Rugiu pronto para dar-nos uma boa lição.

Nós dois viramos o rosto ao mesmo tempo para não vermos o que iria acontecer. Zeus devia ter nos fuzilado com um de seus raios, mas algo o deteve. Acredito que algo chamado Hermes.

Eu e ele notamos que meu pai estava conversando com Zeus em um murmuro baixo. Por fim, ele parou. Zeus coçou a barba cinza pensativo, e assentiu.

“Ares. Desde pequeno você sempre resolveu seus problemas com pura violência.” Lembrou seu pai.

“Obrigado.” Disse ele.

“Não foi um elogio! Você não pode fazer isso sempre, e se não aprendeu isso quando pequeno, irá aprender agora.” Falou ele, e eu quase senti vontade de rir com o resto. “Ares, você está de castigo!”

Ares arregalou os olhos com raiva e ao mesmo tempo incrédulo.

“O que?! Castigo?!” Repetiu ele. “Eu não sou uma criança, pai! Não pode me pôr de castigo!”

“Acho que ele pode sim.” Concordei engolindo o riso.

“Ele não é o único, Alice Kelly.” Falou Zeus.

“Ahm?!” Fiz voltando-me para Zeus.

“Você deve aprender algumas lições também. Principalmente sobre como se dirigir a um Deus.” Continuou.

“Na sua cara, Filhinha de Hermes!” Zombou Ares apontando para mim.

“Você também se ferrou, gênio!” Rebati.

“Ah, vai á...!” Antes que ele terminasse a frase, meu pai o interrompeu.

“Os dois estão ferrados!” Corrigiu Hermes. “Alice... É melhor parar e ouvir. Para o seu próprio bem.”

“Eu nem fiz nada! É tudo culpa dele, pai!” Apontei para Ares.

“Não! A culpa é dela, pai!” Berrou Ares apontando para mim.

“Ares!” Repreendeu Zeus.

“Alice!” Repreendeu Hermes.

Os nossos pais cruzaram os braços ao mesmo tempo, e eu me senti uma criança de 4 anos levando bronca por ter puxado o cabelo de um amiguinho de escola ou coisa parecida. Que humilhante...

“O castigo dos dois foi sugerido por Hermes, e teve a minha aprovação.” Continuou Zeus, e quando ele contou o que esperava por nós eu e Ares quase tivemos um infarto.

“Eu... Não acredito.” Murmurou Ares olhando para o nada. “Acho... Que preferia ser mandado para o Tártaro.”

“Eu já me sinto no maldito Tártaro, só de pensar.” Resmunguei, enquanto nós andávamos para o elevador novamente.

Nós estávamos passando na frente de várias casas e lojas do Olimpo (todas construídas no estilo de arquitetura grega). Algumas pessoas agiam naturalmente. Cuidavam do jardim, varriam a calçada feita de pedras brancas, ou conversavam sentada em bancos de mármore espalhados pela rua. Outras, porém, paravam até mesmo de respirar só de ver Ares.

Uma placa me chamou a atenção. Ela indicava algumas direções, mas só uma delas é que foi a responsável por me faze parar de andar.

“Templo de Apolo.” Li distraída. Olhei para Ares. “Eu... Vou lá rapidinho.”

“Não mesmo!” Reclamou ele. “Já estou farto dos ataques do Apolo, e de todo o maldito resto esse lugar. Vamos embora agora mesmo.”

“Mas...!” Ele me interrompeu.

“Passe na minha frente agora, Alice Kelly!” Rosnou ele apontando a direção que eu tinha que seguir. Algumas pessoas pararam e analisaram (com medo) a cena, talvez se perguntando se ele ma mataria.

“Tá bom.” Respondi devagar assentindo. Dei alguns passos para lá. “Eu vou.”

“Acho bom mesmo.” Ares estreitou os olhos para mim, irritado e eu continuei dando alguns passos lentos na direção.

Quando ele já estava convencido que eu iria para a saída, eu me virei e saí correndo para a direção apontada na placa como sendo o Templo de Apolo.

“Ei!” Exclamou Ares atrás de mim. “Vamos embora nem que eu tenha que te arrastar até Jersey, ouviu?!”

“Tenta me alcançar primeiro!” Respondi já a uma boa distância dele.

Eu corri muito. Não tinha noção de para onde estava correndo, pois eu estava muito rápido e não tinha tempo de parar para ler as placas. Isso foi um grande erro, porque depois de virar algumas direitas, seguir em frente, e virar umas esquerdas, eu... Estava completamente perdida.

Olhei para trás e vi que Ares não estava mais me seguindo. Ele tinha se perdido de vista. Olhei em volta depois e notei que não tinha nem idéia de qual caminho eu tinha pego para parar ali.

Estava no meio de um tipo de pracinha pequena. Algumas mulheres muito bonitas conversavam debaixo de umas árvores, mas... Elas eram verdes. Não. Não estou falando das árvores. As mulheres eram verdes.

Ignorando esse fato... Eu resolvi tentar procurar alguma placa que me ajudasse a chegar ao Templo de Apolo, mas o que eu encontrei era bem melhor. Melhor do que qualquer tipo de placa.

“Apolo!” Gritei chamando-o. “Apolo! Aqui!”

Em meu rosto surgiu um sorriso. Era tão bom poder vê-lo novamente, que eu praticamente esqueci de todos os problemas que a mitologia me causou. Tentar esquecer dos deuses?! Aquela fora a idéia mais estúpida de toda a minha vida. Não conseguiria fingir que nada daquilo existia, e nem queria poder esquecer.

Gostava de ver o Apolo, de conversar com ele, e chegava até a sentir uma leve saudade de ficar enjoada de tanto ouvir haicais sem sentido.

Apolo estava comendo uma maçã extremamente vermelha, enquanto andava distraído. Achei estranho ele não ter olhado para mim quando eu o chamei. Por que ele não olhou? Será que estava chateado? Doía em mim só de pensar nessa possibilidade.

Se bem que se ele estivesse eu não o culparia. Eu tinha deixado ele sem explicação quase nenhuma, e saído com o primeiro cara que apareceu. Não que nós estivéssemos juntos... Eu e o Apolo. Mas... Ah. Deixa para lá.

Apolo tirou algo do bolso e foi aí que eu me toquei o porquê dele não me responder. Ele estava com fones de ouvido, e em sua mão direita segurava um Ipod amarelo.

“Apolo!” Tentei chamar novamente, mas ele não me ouviu. Em um piscar de olhos ele simplesmente sumiu. Eu me preparei para correr até o lugar, quando alguém agarrou o meu braço.

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“Peguei você!” Exclamou Ares triunfante, porém no fundo bem irritado. “Escute aqui, Filhinha de Hermes! Eu não...!”

“Me solta, Ares!” Interrompi. “Ele...! Ele estava logo ali!”

“Mas não está mais. Agora vamos embora!” Reclamou me puxando. Tentei com todas as minhas forças me manter no lugar, mas meus pés começaram a deslizar pelo chão.

“Você...! Seu...! Egoísta!” Reclamei com vontade de bater em alguém, mas ao mesmo tempo triste e frustrada. “Apolo sumiu sem que eu tivesse a chance de me desculpar pessoalmente, e você só sabe falar que está com raiva do mundo!”

“Aaaaw!” Fez alguém atrás de nós. “Você é uma garota extremamente interessante!”

Nós nos viramos surpresos, e nos deparamos com Afrodite. Ela usava um vestido rosa claro justo, colares brancos compridos e charmosos, e saltos altos também brancos. Ela enxugou delicadamente uma lágrima dos olhos, e olhou para mim encantada.

“Você... O que está fazendo aqui?” Perguntei á ela.

“Vendo a sua vida amorosa, é claro! É mil vezes melhor que a TV Hefesto!” Sorriu ela emocionada.

“TV... Hefesto?” Repeti sem entender, mas logo me toquei que tinha coisas mais importantes para fazer. “Onde está o Apolo?”

“Viu?!” Parecia que eu tinha perguntado a coisa certa, e ela agora estava feliz por isso. “Eu sabia que se convencesse ele á sumir, isso mexeria com o seu coração! Eu sei que ficou triste ao vê-lo ir embora. Não é lindo?”

“O que?! Mandou ele ir embora?!” Repeti incrédula. “Por que fez isso?!”

“Não é óbvio?” Perguntou ela arqueando uma sobrancelha e sorrindo.

“Ahm... Deixe-me ver... Não?” Respondi irritada.

“Ela está te sacaneando.” Murmurou Ares ao meu lado. Para a sorte dele, Afrodite não ouviu.

“Eu estou animando um pouco o seu destino amoroso, não é lindo? Você tem tanta sorte de ter uma deusa como eu por perto!” Disse ela orgulhosa de si mesma.

“E vou ter muito mais sorte se essa deusa me disse para onde ele foi!” Exclamei.

“Para o templo dele dormir. Pobrezinho... Está tão triste por causa do Dylan Wood.” Comentou Afrodite. “Mas por outro lado... Eu acho que nunca vi o Apolo ficar tão arrasado por causa de uma garota antes. Chega a ser divertido assistir.”

“Como eu chego lá?” Perguntei ignorando o fato da diversão de Afrodite ser terrível e maldosa.

“Não! Espera.” Falou ela levantando os braços. “Você não vai simplesmente ir para lá, vai?! Tem que pensar em um jeito romântico para se desculpar, senão nada disso vai ter graça!”

Respirei fundo para me controlar. Estava prestes a gritar com Afrodite sobre como ela podia ser tão ruim, mas algo me veio a cabeça.

Era verdade. Eu não podia simplesmente ir para o templo dele e falar qualquer coisa. Tinha que pensar em algo, e eu tinha a idéia perfeita.

“Ahm... Pode me fazer um favor?” Perguntei á ela.

Cochichei em seu ouvido a minha idéia, e seus olhos ganharam um brilho vivo e especial. Ela sorriu para mim.

“Ótima idéia. Vamos até melhorar um pouco ela!” Sorriu Afrodite confirmando a sua ajuda.