Meu Vizinho Infernal

Ares joga boliche


Observação... Se Apolo te perguntar se você gostaria de ouvir um Haicai, diga não. Ou se você fica sem graça demais em dizer não para um Deus tão legal como ele, finja estar tendo um ataque cardíaco, ou simplesmente desmaie. É a melhor solução, confie em mim.

Eu passei um bom tempo ouvindo as poesias dele, e a maioria não rimava, ou era estranha. De qualquer modo... Acho que não foi assim tão ruim. Eu até ri de algumas, mas depois da 120ª você cansa.

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Depois dessa longa tarde de treinamento ( que para mim não foi tão longa assim ), Apolo me levou para casa novamente. Ele parou o carro na calçada, e abriu a porta para mim.

Eu suspirei cansada.

“Tem forças para andar até a porta, ou quer que eu te carregue?” Ele brincou.

Aquela não seria uma má idéia, pensei comigo mesma. Eu sentia as minhas pernas tremerem de cansaço. Estava pronta para desabar sobre alguma coisa macia e dormir um sono profundo.

Mas era melhor não falar nada. Já tinha sorte o suficiente dele estar me treinando, coisa que não deve ser fácil para um Deus. Afinal, acho que são todos bem ocupados.

“Eu acho que consigo chegar até lá.” Falei.

Eu sai do carro, e ele fechou a porta.

“Então eu te vejo amanhã!” Disse ele enquanto eu me afastava.

“Tá certo.” Concordei sem me virar.

Eu cheguei á porta, mas antes de abri-la olhei para trás. Apolo tinha acabado de entrar no carro dele e posto os óculos escuros novamente. Ele sorriu para mim e acenou, e eu retribui.

Seu carro roncou e atravessou a rua em alta velocidade.

Eu finalmente entrei em casa. Estava me perguntando se era melhor dormir no sofá mesmo, ou enfrentar os degraus da escada, quando alguém me chamou a atenção.

“Então?” Perguntou Afrodite. “Como foi o seu encontro ontem? Você nem me contou!”

Eu esfreguei os olhos pedindo para que aquilo fosse uma alucinação, mas era ela mesma.

“Encontro? Bem... Para começar ele era um Deus.” Falei. “Sabe? O irmão mais velho do meu pai.”

Ela revirou os olhos.

“Não quero saber do óbvio, bobinha.” Ela riu. “Quero saber o que vocês fizeram.”

Eu não acreditei naquilo.

“Espera aí... Óbvio? Quer dizer que você sabia que ele era o meu tio... Mas mesmo assim quis que eu saísse com ele?!” Perguntei incrédula.

“Ah... Ele é só o seu meio tio.” Corrigiu ela. “E não tem problema nenhum nisso! Eu vi como vocês estavam apaixonados!”

“Você é a Deusa do Amor.” Falei. “Para você todo mundo está apaixondo.”

Ele pensou naquilo.

“Bem... Isso é verdade.” Disse por fim.

“Ah!” Eu revirei os olhos. “Não foi um encontro, por isso não tenho nada para contar.”

“É claro que tem!” Ela disse. “Diga para mim como foi agora mesmo.”

Aquilo parecia uma ordem, mas foi tão... Fútil, que eu nem levei muito á sério. Mas eu deverei. Afinal ela era uma Deusa. Louca ou não eu tinha que obedecer... Eu acho.

“Tá...” Falei e ela bateu palmas de emoção. “Primeiro eu acho que devo desculpas para você. Eu acabei... Bem... As roupas novas que você comprou para mim... Eu acabei meio que... Arruinando elas.”

Afrodite não ficou com raiva, nem desapontada. Na verdade ela me surpreendeu. Abriu um sorriso largo, e seus olhos brilharam para mim.

“O que foi que vocês dois fizeram?” Quis saber ela.

Senti o meu rosto ficar vermelho.

“N-Não foi nada disso!” Exclamei. “É que eu fui atacada por um javali selvagem!”

Ela revirou os olhos.

“Sei. Vocês semideuses e suas desculpas.” Riu ela. “Atacada por um javali selvagem? Conta outra...”

Eu desisti. Nunca iria convencer ela, e também estava cansada demais para tentar.

“Certo. Nós dirigimos pela praia, voamos naquele carro... Fomos parar no Japão, visitamos uma exposição mitológica, e voltamos para cá.” Contei. “Foi isso.”

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Ela me examinou. Acho que estava querendo ver se eu omitira algum fato, mas por fim viu que eu tinha contado a verdade.

“Aaaaw!” Ela fez. “Vocês dois são tão fofinhos!”

Senti o mesmo que um ursinho de pelúcia sente quando o seguram e falam como ele é bonitinho e tudo mais. Isso fazia com que eu me sentisse um pouco envergonhada, mas fazer o que?

“Certo... Nós não estamos juntos nem nada.” Falei. “Mas... Agora que eu já te contei sobre ontem, será que poderia me deixar dormir um pouco. Com todo o respeito, é claro.”

“Posso ver seus olhos fechando sozinhos daqui. Nossa.” Ela parecia admirada. “O que andou fazendo?”

“Treinando.” Bocejei.

“Treinando para que?” Perguntou ela ingênua.

Eu franzi o cenho. Como assim “Treinando para que?”? Ela não sabia da maldição? Mas... Apolo disse que todo o Olimpo sabia.

“A... Maldição.” Falei hesitante. “Você não sabe?”

Foi a vez dela ficar surpresa. Por um minuto pude ver que ela não tinh idéia do que eu estava falando, mas logo depois isso mudou. Ela soltou um “Aaaah, sei”.

“Você fala da maldição dele?” Perguntou ela apontando para a casa ao lado. “Ah, sim. Tinha até me esquecido.”

“Pois é... Mas eu não. E aposto que Ares tão pouco.” Falei.

“Esquece isso. Ele só está se divertindo um pouco. Ele é um pouco cabeça quente, por isso nem adianta querer mudar a cabeça dele. Mas isso não é problema. Uma hora ele se cansa e para.” Ela deu de ombros.

O jeito com que ela falou aquilo parecia que Ares estava só brincando. Se divertindo um pouco, do mesmo jeito que alguém se diverte jogando boliche.

Só que ela não parecia entender direito que naquele jogo de boliche eu era os pinos. E que ele lançava monstros na minha direção ao invés de bolas. Ele podia fazer isso sempre e errar, mas uma hora eu sabia que seria o meu fim.

“Assim espero.” Suspirei cansada demais para protestar.

Afrodite piscou para mim, disse tchau e desapareceu deixando o meu sofá com um doce cheiro de perfume.

Eu sabia que não podia deitar nele, a não ser que quisesse acordar e me apaixonar pela primeira pessoa que passasse na minha frente. Embora Afrodite fosse só a Deusa do amor, seus encantos e poderes eram bem poderosos.

Me arrastei escada acima e finalmente abri a porta do meu quarto. Sem trocar de roupa nem nada eu me joguei na cama. Meus olhos ardiam de sono. Meus pés estavam me matando.

Ajeitei a minha cabeça no travesseiro e comecei a fitar o teto. Tinha certeza de que iria cair no sono, mas antes que eu pudesse...

“Você lutou bem.” Falou uma voz ao meu lado.

Eu não me mexi, pois não tinha forças. Agora que estava deitada eu não conseguia nem mesmo me mover dali. Simplesmente olhei para o lado, e vi que era o meu pai sentado na cadeira da minha escrivaninha de estudos.

“Você viu, não é?” Perguntei com uma voz débil de sono.

“Vi sim. Ainda estou preocupado, mas...” Ele sorriu para mim. “Estou muito orgulhoso.”

Eu dei um sorriso fraco para ele.

“É bom ouvir isso.” Disse. “Sua filha mais fraca e desajeitada conseguiu sobreviver á um javali selvagem.”

Ele continuou a me fitar.

“Você não é a minha filha mais fraca.” Ele negou. “Ah... Está bem longe disso. Na verdade, eu nunca vi uma semideusa que nunca tinha lutado antes aprender golpes de espada tão rápido.”

Eu ri baixinho.

“Copiei os golpes do Perseu. No filme que passou na TV.” Contei.

Ele riu.

“Eu ouvi isso.” Seu olhar era doce e gentil. “E vi também. É uma garota muito dedicada, tenho que admitir.”

“Mas não veio aqui só para isso, né?” Adivinhei.

Seu rosto tornou-se tenso.

“Alice... Aquele javali foi o menor de seus problemas.” Ele contou. “Vim te avisar que as coisas vão se tornar mais difíceis. Você tem que continuar treinando, para o seu próprio bem.”

Eu dei um sorriso triste.

“Você deve ficar preocupado, não é? Apolo disse que os Deuses não têm permissão para interferir na luta ou no destino dos filhos.” Comentei.

“Você não tem idéia.” Ele falou inquieto. “Por favor. Lembre-se disso, certo? Você tem que treinar para se fortalecer. E não importa se as coisas ficarem difíceis... Tem um lugar que você sempre poderá ir.”

Ele passou a mão sobre a minha testa.

“Você diz o Acampamento Meio-Sangue?” Adivinhei.

Ele franziu o cenho, mas logo deve ter entendido o que eu disse.

“Apolo deve ter te contado.” Presumiu. “Isso mesmo. Lá é um lugar par meio-sangues. Eles podem ficar lá o tempo que quiserem. Tem uma barreira mágica que impede que monstros entrem, assim os semideuses ficam seguros.”

“Eu vou continuar aqui.” Murmurei com muito sono.

“Só lembre-se disso. Sempre vai poder ir para lá.” Falou ele.

“Vou lembrar pai...” Meus olhos estavam fechando sozinhos.

Eu senti ele beijar a minha testa, e depois sussurrar algo no meu ouvido.

“Cuide-se. Eu estarei te vigiando. Vou te proteger o melhor que puder.”

Eu caí no sono, e aposto que ele deve ter sumido.

Meu sonho dessa vez, também foi estranho.

Apolo estava atirando em vários alvos na mesma fazenda em que estávamos treinando. Ele não precisava nem mesmo se esforçar para acertá-los. Parecia estar realmente entediado.

Seus olhos não tinham o mesmo brilho, nem estava sorrindo, o que era estranho. Sempre que eu encontrava ele, ele estava sorrindo ou animado.

“Ah...” Suspirou ele entediado.

“O que você pensa que está fazendo?” Perguntou uma voz rude logo atrás dele.

Apolo não se assustou. Acho que ele já tinha notado que Ares tinha aparecido ali. Limitou-se a pegar outra flecha do cesto e atirar no alvo. A flecha acertou precisamente a flecha anterior, que por sua vez estava no exato centro do alvo.

“Me distraindo.” Respondeu Apolo. “Eu ás vezes esqueço que os semideuses ficam cansados.”

Ares revirou os olhos.

“Não é disso que eu estou falando.” Resmungou. “Quem mandou você ajudá-la?”

“Ninguém.” Respondeu ele encolhendo os ombros. “Eu quis ajudar.”

“Não se meta nisso.” Falou Ares. “Se ela continuar ganhando, vai acabar rápido demais.”

Eu não tinha entendido aquilo, mas nem adiantava eu falar alguma coisa. Minha voz não sairia igual aos outros sonhos.

Apolo olhou para Ares sem expressar nenhuma emoção.

“Você devia esquecer esse lance de maldição. É tão ultrapassado.” Falou ele. “Sabe... Tem um haicai que diz--”

“Não quero saber dos seus haicais.” Interrompeu Ares. “Eu quero que fique fora disso.”

“Hermes quer que você a livre da maldição. Vai fazer isso?” Perguntou ele, e Ares não respondeu. “É... Eu acho que não.”

Ele atirou várias flechas ao mesmo tempo. Elas fizeram barulhos enquanto cortavam o ar, e ao acertar o alvo formaram um desenho. Era o meu rosto. Impressionante.

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“Ela é mais esperta do que você.” Comentou Apolo sorrindo de leve.

Ares riu com desdém, e lançou a sua espada no alvo. Ela arrebentou o círculo de madeira quebrando o meu rosto em vários pedaços.

“Tanto faz.” Falou ele. “Com ou sem a sua ajuda, ela não vai sobreviver por muito tempo. Guarde as minhas palavras, Apolo.”

Ele começou a andar na direção da sua moto, e Apolo olhou para ele. Acho que já estava acostumado com o humor de Ares.

“A sua semideusa favorita...” Ele fez um sinal positivo com o dedão, mas então o virou para baixo formando um sinal negativo e riu. “Já era!”

Sem por o capacete ele ligou a moto e acelerou pela estrada, deixando Apolo lá sozinho.

“Nunca muda...” Murmurou ele sorrindo. “Ai, Alice... Você está em um problemão.”

Por mais estranho que o sonho fosse não foi nada comparado ao que aconteceu quando eu acordei. Nada mesmo.