Música de fundo para ouvir lendo.

~~

A garota arfa diante da mensagem impactante de Lucas. Por um segundo se sente impressionada a ponto de tremer, mas logo observa o seu redor com a maior cautela, tendo um medo em excesso. Anne suspira um pouco mais forte e se recompõe diante de um lugar desconhecido para ela — nunca havia entrado na casa de Samantha — e tenta manter o que resta de calma. Coloca os dedos sobre o celular e responde com calma a mensagem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Estamos bem”.

Não! Definitivamente, ela não está bem. Sabe que existe alguma coisa estranha, pois sente. Seu celular apita — bateria fraca, — decide voltar para o quarto, pega ligeiramente o copo com a água para Érica e da de ombros para a cozinha gigante. Quem precisa de um copo d'água é ela mesma, mas com firmeza caminha. Tudo piora quando uma tímida melodia paira no ar vinda do piano. Anne para, congela. Arregala os olhos e vocifera antes de dar mais um passo.

— Quem é? Sam? Érica? — O silêncio responde. A garota com medo pega o celular, mas por ironia ele acaba a bateria. Contempla o pânico que acabara de instalar em seu corpo e não tem alternativa, tenta chegar o mais rápido possível na escada de mármore que a levará para os quartos.

Passa pelo piano, não há ninguém. A situação piora, passa por ele ainda segurando a água. Mas não por mais tempo, derruba o copo com o susto que leva. A porta de entrada está riscada, caminha até ela e leva a ponta dos dedos pelas rasuras provavelmente criadas com uma lâmina. Não entende, mas aquilo indica que não estão sozinhos. Eleva sua sobrancelha demonstrando desequilíbrio e corre até o andar de cima.

No banheiro do quarto de Sam, Érica despreocupada deixa a água quente molhar seu corpo nu. Desliza suas mãos sobre a pele quente e lisa, não esconde as lágrimas e o choque em lembrar de seu irmão estripado no palco da festa. Sente a culpa que cai sobre seu corpo como a ducha que toma. Quer fechar os olhos e descobrir que tudo não passara de um pesadelo, mas não, ela sabe que foi real. Com as pernas trêmulas vai sentando no chão escorando o corpo na parede de cerâmica. Chora mais intensamente e não percebe alguém parado do lado de fora do box.

Quando abre os olhos e os leva para o acrílico, não vê nada. Esfrega os olhos e levanta tentando manter a calma. Fecha o chuveiro, passa as mãos no cabelo encaracolado, em seguida pega uma toalha branca pendurada do lado de fora do pequeno box. Coloca um pé para fora, e depois o corpo. Um arrepio percorre sua pele, fazendo seus pelos erguerem. Arfa e torce o lábio ainda chorosa enrola a toalha no corpo na altura de seus seios, para em frente ao espelho. Olha para sua face cansada e destruída pela culpa e pelas lágrimas, — o que dirá para os tios? — Isso que passa por sua mente conturbada. Há anos não os via, e agora reencontrar eles no funeral do irmão, é de mais para ela suportar. Porem, não será apenas o funeral de George se depender da figura alta de sobretudo preto e máscara de ferro parada atrás da negra de cabelo molhado. Érica não percebe, mas quando direciona o olhar novamente para seu reflexo ela vê a segunda pessoa no banheiro.

Não teve tempo de pensar, apenas escuta os gritos de desespero de Anne que descontrolada espanca a porta do quarto que parece trancada. Érica grita, dá um passo para trás e quase cai pelo piso molhado. Gaguejando a única coisa que pensa em dizer:

— Foi você que matou meu irmão? — Edgar sorri por de baixo de seu disfarce, balançando a cabeça positivamente. Em um ato de desespero a garota pega um secador de cabelo no armário e joga em Edgar.

O assassino desvia com a maior facilidade, ela tenta correr e consegue sair do banheiro. Em pânico grita para Anne que se encontra do lado de fora do quarto atônita com tudo.

— Anne me ajude, ele vai me matar.

— Espere, Vitor está vindo. — Vitor assustado com a gritaria acorda, sem camisa e apenas vestindo um shorts de dormir se depara com a situação. Chega junto com Sam quase nua apenas com suas roupas íntimas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— O que foi? Piraram? — A menina despida pergunta, Anne em desespero vocifera.

— A pessoa que matou o George tá ai dentro, Vitor arromba a porta, rápido.

— Meu Deus, vou arrombar a porta afastem-se. — Ele fala com seu sotaque alemão e sua voz trêmula como sempre. Sam pega o celular e disca o número da polícia, ainda tentando entrar na adrenalina da situação.

No quarto o desespero aumenta quando o homem retira de seu sobretudo um grande facão. Érica suplica, tenta indagar palavras, mas o choro misturado a saliva impede de qualquer pronuncia. Edgar caminha, enquanto a porta é pressionada por fora. Érica tenta correr, entretanto é impossível, Edgar segura o cabelo da menina e a ergue com um braço ela luta por sua vida. Em vão... Leva um golpe pelas costas antes de se soltar. O homem descontrolado gosta da situação. A porta é ainda mais pressionada e o desespero mais evidente quando os três não escutam mais os gritos de Érica.

Para terminar Edgar se aproxima levanta a garota pelo pescoço, cuspindo sangue ela não consegue manter os olhos abertos. O maníaco encosta ela sobre a porta afasta o facão o mais longe que pode e com brutalidade enfia a lâmina no peito de Érica fazendo-a atravessar o corpo e a madeira da porta. Érica morre com o corpo suspenso na porta. Seu sangue tinge a madeira e escapa pelo lado de fora.

Ouve-se um grito agudo e longo de Sam e Anne. Vitor pasmo vendo o sangue jorrar entre o facão e o buraco não tem outra opção, empurra mais forte a porta arrombando-a, fazendo o corpo de Érica desprender da arma branca. O alemão em pânico invade o local, olha abismado e em choque para todos os lados, porém nem sinal do psicopata, apenas o corpo da negra com os olhos esbugalhados. As meninas não conseguem manter a calma, Sam tenta de todas as formas ligar para a policia. Consegue. Policiais estão a caminho.

— Não… Ela tá morta? — Samantha grita, Anne puxa o braço dela e indaga.

— Temos que sair daqui. — Vitor ainda observa o corpo ensanguentado de sua amiga por alguns segundos, mas não existem formas de ajudar. Ele pega a primeira coisa que vê, o próprio facão que matara Érica.

Armado com o facão de Edgar, o rapaz de quase dois metros dá de ombros para as meninas que se escondem atrás dele. Cautelosos andam pelo corredor, o silêncio reina. Sabem que “ele” os observa, a tensão de saber que o manico ainda está na casa aumenta o grau de pânico. A cada passo o medo atinge um patamar surreal. Sam parece grudar no braço de Anne e de Vitor, aquela menina corajosa, sarcástica e superior desaparecerá. O que resta é uma menina quase nua tremendo dos pés a cabeça.

Um barulho é escutado… Vitor levanta o facão e as duas saltam para o lado, Edgar corre e atinge o garoto maior que ele. Como estavam perto do corrimão da escada ambos caem quebrando o encosto de madeira da escada. Edgar para sobre a barriga de Vitor, o facão longe e o loiro atordoado.

Parece que tudo fica em câmera lenta para Anne que não entende o que está acontecendo. Não cai sua ficha até o momento. Ainda acha que é um pesadelo e que a qualquer momento vai acordar. No devaneio lembra de sua infância, que seu pai vinha acordá-la quando ela tinha pesadelos pesados. Seu velho pai deitava ao seu lado, acariciava seus cabelos e fazia tudo desaparecer como mágica, o medo, o pânico o desespero iam embora... Mas onde está ele? Cadê o pai para acordá-la deste pesadelo? Na mesma noite dois amigos mortos, e diante dela um maníaco mascarado sedento de sangue se esforça para destruir mais e mais. Anne suspira, olha para sua amiga que desolada chora em pânico, Samantha não sai do lugar, não por eles, mas pelo medo. Ela tem que fazer alguma coisa. Enquanto Vitor luta com todas as suas forças para pegar o facão — está debilitado pela queda — Anne age rápido.

— Sam, preciso que fique aqui, ou tente sair.

— Não, vocês...

— O cara tá distraído, vou tentar acertar ele.

— Não Anne, você vai morrer! — Anne deixa Sam na escada, corre com rapidez e salta entre os sofás da sala, caindo ao lado da lareira de tijolos brancos, o que encontra de arma é um arpão de limpeza grande e pontiagudo. Não demora para agarrá-lo e avançar sobre Edgar. Vitor segura os braços do mascarado, surpreendendo ambos, a jovem enfia o arpão no ombro de Edgar, que urrá de dor caindo para o lado.

— Vitor pega ele! — Sam berra. Anne ajuda Vitor levantar. Mas não espera no que acontece em seguida. Edgar levanta do chão em fúria, seus olhos estão avermelhados de ódio e o ar ao seu redor muda, o demônio desperta.

Edgar até então estava agindo como planejado, mas agora seu outro eu acorda. E infelizmente Ester não está para tocar um suave Jazz ou injetar os remédios que acalmam o desorientado homem. A visão dele fica embaçada, o sangue que cai de seu ombro se misturando com suor, o rancor entra em colapso com sua mente. A única coisa que pensa neste momento é: matar.

— Vou acabar com todos vocês – ameaçou com uma voz rouca e grave. Vitor manca, Anne ajuda ele ficar de pé, os dois assistem Edgar retirar o arpão do ombro com a maior facilidade.

— Vamos embora! — Sam vocifera, correndo para outro cômodo, Vitor se solta e completa jogando a menina para o lado.

— Corra atrás da Samantha, ela só é durona conosco, não vai conseguir se nós dois morrermos.

— Mas...

— Vai! — Anne obedece. Vitor salta sobre Edgar, que joga o rapaz para o lado com os dois braços, a força dele parece sair de onde não existe.

O assassino caminha firmemente, balança o arpão de um lado para outro, sua cabeça entra no ritmo, parece dançar com o que vivência, gosta de ver o desespero no rosto do rapaz. Que antes mesmo de levantar leva um golpe: o arpão é cravado com violência em seu ombro no mesmo lugar onde existe a ferida de Edgar. Com uma voz maligna ele indaga, enquanto crava mais fundo em Vitor.

— Agora somos irmãos de ferida. — Ele gargalha, Vitor grita de dor, tenta se soltar, porém Edgar com a outra mão retira do bolso um canivete, que é direcionado na garganta do rapaz, matando ele no mesmo instante. O sangue salpica na máscara de ferro, Edgar retira ela e lambe o líquido viscoso.

— Meninas? Onde estão vocês?

As janelas e portas estão trancadas, cadeados foram colocados junto com as trancas. O maldito assassino havia premeditado toda a sanguinolência, fazendo o desespero das duas subir. Anne mantêm a calma e tapa a boca de Sam que chora. Escutam passos, as duas estão dentro do escritório dos pais de Samantha. Anne sussurra no ouvido da amiga.

— Tem que haver uma saída.

— Na porta dos fundos tem uma passagem de cachorro, a do Max meu labrador. Passamos por ela e saímos.

— Vamos tentar sair sem ele perceber.

— Tudo bem. — Ela responde Anne tremendo.

As duas levantam de onde estavam escondidas, mas ainda agachadas vão até a porta. Anne abre sorrateira, apenas uma brecha, mas o seu pior pesadelo está a espreita no corredor. Pensa no pior, — Vitor está morto — sinaliza para Sam voltar e se esconder. A garota arfa em um desespero abundante, desliza para debaixo da escrivaninha do escritório e Anne para dentro do armário.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A escuridão do lugar é tomado por uma luz quando a porta é escancarada. Edgar mascarado, cheio de sangue e com um facão entra no escritório, as duas observam. As veias de Samantha quase explodem de tanta força que faz para não gritar e denunciar seu esconderijo. E a garota corajosa de cabelo castanho sabe que se ele descobrir onde estão, morrerão. A única coisa que resta é rezar.

Edgar dá um passo para frente, olha para todos os cantos do escuro cômodo. Quando chega perto da escrivaninha onde se encontra uma delas, o que vem da janela faz ele dar de ombros para sua vítima. Uma luz piscante invade o lugar. A polícia chega.

— Porra! — ele murmura.

Anne e Sam conseguem por fim respirar. Mas será que acabou?