Meu Acampamento de Verão

Capítulo 31: Arcanjo do anoitecer


Já era noite, ou dia, não importa, no mundo inferior não dá pra saber se é de manhã ou noite, tudo é escuro, triste e deprimente.

Gabbe, Drew e eu fomos as únicas que ficamos no reino de Hades, ainda suspeitava do motivo. Drew não iria ficar, mas como iriamos fazer um baile de inverno para um deus, ela teve de ficar.

Gabbe não tinha sono, ficava sentada no parapeito da varanda do quarto no alto do castelo. Os aposentos eram negros, escuros, somente um lustre feito de diamantes e cristais no teto. Quatro camas de casal, todas com forros vermelhos e negros em um estilo gótico. Roseiras negras surgiam cobrindo todas as paredes do grande cômodo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Duas portas duplas feitas de vidro ficavam a direita, elas levavam a uma varanda de mármore negro onde alguns rubis brotavam do chão e piscavam como lâmpadas vermelhas ligando e desligando.

Deslizei os braços sobre as portas duplas de vidro e lá vi Gabriela Alencastro. Mantinha um rosto sério e doce, porém concentrado em tudo ao redor.

Gabbe estava recostada no parapeito de mármore e rubi da varanda. Olhava atentamente para os campos de punição que se estreitavam ao longo de um rio de lava que dividia uma pequena faixa de terra. Fora isso o lugar tinha uma beleza intoxicante que em nenhum outro lugar do mundo seria encontrada. Cristais com mais de 3 metros de altura brotavam do chão. Diamantes pontiagudos reluziam a luz da lava nas beiradas do córrego chamuscado. Algumas certas flores brancas e pálidas cresciam com uma certa luminescência florescente ao decorrer da paisagem.

Eram tantos tipos diferentes de gemas naquele vasto mundo que viveu tanto tempo abaixo de nós. Um mundo de riquezas, dor, sofrimento, melancolia e depressão. Além de tudo, o castelo ficava em volto por uma cratera tremendamente profunda, o rio de magma circulava todo o local.

Segui o olhar de Gabbe até um único ponto, era exatamente um espaço vago entre duas montanhas que ficavam muito longe para se olhar com clareza.

-Cam... -Ela sussurrou.

-Gabbe. –Caminhei até ela sorrindo, queria quebrar aquele clima triste que ela tinha no rosto. –O que faz aqui sozinha? –Perguntei-a.

-Não estou sozinha. –Ela cruzou as pernas deitando-se a cima do parapeito do precipício logo a baixo.

Senti um vento frio roçar minha nuca, era como se dedos estivessem serpenteando por ela e me arrepiando todos os cabelos.

-Ela não esta sozinha. –Karen surgiu de um breve nevoeiro acariciando meu pescoço de leve. –Bu!

Quase pulei de susto se não tivesse reconhecido a voz da filha fantasma.

-Pelos deuses, nunca mais faça isso. –Engoli o soluço de medo.

-Phi. –Karen caminhou rebolando a minha frente até recostar-se no parapeito junto a Gabbe. –O que acha que veio fazer aqui? –Ela perguntou.

-Fugir de monstros? –Sugeri com a voz vacilando.

-Mas estamos cercados por monstros, olhe em volta. –O sorriso que ela tinha no rosto era assassino e frio, dava calafrios e medo de encara-la.

-S-sim...

-Pra quê fugir de algo que você sempre irá encontrar ao decorrer da sua vida? –Karen fitou o chão.

-Ou é correr ou virar espetinho de churrasco para monstro.

-Karen. Essa conversa não vai dar em lugar algum. –Gabbe levantou-se. –O melhor é mostra-la. –Gabriela vagueou até mim debilmente como se estivesse distraída.

-Mostrar o que? –Perguntei.

-Mostrar o que todos os anjos cobiçam nesta década. –Sua mão veio até meu rosto e seu dedo indicador tocou bem no centro da minha testa. -Revelabunt voluntatem meam.

Aquelas palavras eram em latim, eu tinha certeza. Quando seu dedo tocou a minha pele eu senti todos os músculos do meu corpo ardendo em chamas. Era sufocante e moía todos os ossos. Eu estava sendo esmagada e ao mesmo tempo sendo queimada.

Tentei gritar mas palavra alguma saia da minha boca. Minha visão nublou até só restar o breu mais profundo.

Logo veio um ponto de luz, um breve ponto de luz que ardeu os meus olhos. Tudo se iluminou de vez. A dor sumiu junto a luz que me segou de vez. Eu estava voando, voando livremente pelas mais altas nuvens. Ousei abrir os olhos mesmo sabendo que a luz ainda ardia tudo em volta.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Era um trono gigantesco, não, não gigantesco, inimaginavelmente grandioso e incontavelmente grande. Nada se comparava a ofuscante e radiante beleza que emanava de tal trono. Havia alguém ocupando o trono de luz. Senti uma alegria contagiar e brilhar até o interior. Era algum deus, um deus que não existia na mitologia grega.

“Quem, quem é?” –Perguntava em minha mente.

A visão ficou mais nítida. Eu flutuava sobre ondas de luz, música logo a baixo. Cornetas, flautas, arpas, tambores, saxofones, todos numa orquestra grandiosa e nada se comparava a tal melodia inexplicável. Chegava a ser celestial o tal som vindo abaixo da luz. Mozart? Beethoven? Não podiam se comparar sequer a grandeza de tal melodia grandiosa e mais do que perfeita.

Os mais verdes pastos. As mais grandiosas e perfeitas florestas. O mais azul e puro lago, este lugar não podia ser na Terra, ele não existia. Luzes do tamanho de homens sobrevoavam os mais belos locais da perfeição. Frutos de ouro. Flores que reluziam a própria beleza. Até mesmo a grama inundava a mente com grandeza.

Anjos!

Sim, anjos. Não eram feitos de carne, sangue ou ossos. Eram feitos de luz, da matéria empírea, a matéria da luz em si. Todos os seres celestes feitos somente para adorar seu pai e somente a ele. Por um breve momento pude ver Roland, Ariane, Cam e inexplicavelmente eu vi Gabbe; outros anjos os acompanhavam. Todos possuíam as mais belas plumagens de asas prateadas que reluziam a luz mais majestosa que o próprio sol.

O céu estava coberto e repleto por incontáveis anjos, milhares e mais milhares de anjos que cobriam os mais diversos cantos da própria criação do deus cristão, o Senhor de toda divindade: Deus, o pai criador de tudo e todos.

O céu era iluminado em dourado. O chão era coberto por uma neblina fofa parecendo nuvens finas e sinuosas. Trilhas e caminhos infinitos seguiam daquele gigantesco reino, seguiam para todos os lados do mundo. O ar era carregado de um perfume de frutas e flores. O pomar era dividido em dois e seguido por um campo verdejante coberto pela própria vida e graça. O trono ficava no inicio e fim de toda a grandeza. Pulsando luz. Ao redor do Trono oito formas feitas de prata ondulada se projetavam em um arco, protegiam-no como uma abóbada. Os arcanjos divinos tomavam os tais tronos. Oito tronos para as oito divindades. Gabbe era a segunda da fila. O primeiro era o loiro mais bonito que já havia visto. Os olhos azuis gélidos mais puros e azuis de todo o universo. Corpo definido seguido por cabelo amarelado como areia. Seu sorriso era trivial, celeste, divino, não podia ser posto em palavras.

Gabbe estava mais bela e majestosa. Seus cilhos mais perfeitos de toda a obra divina. Seus longos cabelos loiros eram como fios feitos de ouro. Vestia um longo vestido branco prateado combinando com sua asa prata gigantesca. Sua asa era meio rosada e prateada como a de uma borboleta. Em seu pé estava uma sapatilha de ouro estilo gladiador.

Algo chamou minha atenção. O arcanjo ao lado de Gabbe, ocupava o terceiro posto da criação. Cabelos negros finos e leves, desciam em cascatas negras como se fosse a própria noite. Rosto fino e delicado como uma boneca. Seus olhos eram rodeados por uma leve camada de sombra feita por sua própria pele, olhos tão negros como o próprio céu a noite, brilhavam em prata como as estrelas piscando no céu. Lábios finos e vermelhos como sangue. Ela era muito pálida, num tom metálico.

Lucinda Price. Sim, era a única voz que se repetia em minha mente. Era ela, eu sentia, ela era quem eu deveria procurar, o arcanjo do anoitecer.

Tudo se nublou até voltar a escuridão e por fim tomei-me a cair por terra.