Mercy

Capítulo 3


Encantos da Semana
Por Rita Skeeter

Os bailes anuais do Ministério da Magia já são tradição no mundo dos bruxos e nesta coluna também - logo não poderíamos tratar de outro assunto nesta semana aqui, n\'O Semanário das Bruxas!
Tão famosos quanto as próprias festas são os escândalos que elas proporcionam: quem consegue esquecer de Darian Hollingberry, quase sendo apontado para o cargo de segundo assistente para o então ministro Rufus Scrimgeour quando o pobre bruxo tomou umas taças a mais de firewhiskey, subindo na mesa dos pratos quentes e impressionando a todos com uma belíssima imitação de Celestina Warbeck? Pobre Hollingberry, foi presenteado com o doce anonimato e, fontes confiáveis dizem, a perda da namorada depois de descobrir que isso só podia ser justificado pela presença de um lado não-heterossexual que ela desconhecia.
O jovem bruxo não foi a única vítima dos bailes: dois anos antes, Lora Bursnell teve sua promoção para o Departamento para a Regulamentação de Criaturas Mágicas cancelada quando deixou escapar \"acidentalmente\" (e depois de boas doses de bebida) para sua futura chefe que ajudava em uma rede internacional de contrabando de pele de lobisomem, em uma época que o comércio ilegal desses espécimes estava em alta, devido a uma tendência lançada pelo renomado estilista bruxo francês Réné Dubois. Minhas fontes afirmam que ela foi nomeada babá de pequenos lobisomens abandonados na Bulgária, de onde não tem permissão para sair tão cedo.
Voltando ao nosso atual ano, a LXXVII edição do baile trouxe algo que nós esperávamos há muito tempo: uma notícia quente envolvendo o Trio de Ouro da segunda guerra contra o Lorde das Trevas, apimentada pelo acréscimo da tradicional fúria irracional de um Weasley e a presença de um dos antigos servidores do Lorde.
Hermione Granger e Ronald Weasley, os dois melhores amigos do herói Harry Potter, oficializaram seu namoro no final da guerra e seguiam juntos até o dia de ontem; testemunhas, no entanto, afirmam que o relacionamento deles já vinha se desgastando:

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\"É claro que eles talvez só estejam juntos por dinheiro e aparência, sabe? Os dois amigos de Harry Potter namorando, é conveniente para eles; sem contar que deve ajudar horrores para subir na carreira deles. De qualquer forma, todo mundo viu como ele chegou na frente dela ontem no baile, correndo direto para as bebidas, sem nem se importar com a namorada - isso me parece no mínimo suspeito.\"
D. G., 29 anos.

Será verdade? Os eventos que se seguiram no baile apontam que sim. Outros convidados do Ministério viram a hora em que Granger entrou no salão principal, para logo depois sair correndo para a varanda mais próxima - fugindo do namorado que se afogava em firewhiskey, talvez? Ninguém viu a garota voltar da varanda, sendo que esse pedaço da mansão só deixou de ser ignorado quando os gritos do mais novo dos homens da família Weasley ecoaram no salão.
Sobre essa estranha ignorância de todos os convidados da varanda, uma parte geralmente tão movimentada em uma casa, temos mais um comentário de uma leitora:

\"Tenho quase certeza de que elas estavam encantadas. Ou ela ou ele colocaram um feitiço para impedir a entrada de estranhos, que deve ter sido quebrado depois pelo jovem Weasley. Eu mesma tentei ir para a varanda algumas vezes e sempre alguém me chamava de volta ou lembrava de algo para fazer.\"
H. S., 44 anos.

Agora, meu fiel leitor, você se pergunta: \"ou ela ou ele\"? É isso mesmo! Granger não estava sozinha na varanda como muito bem se descobriu depois: ela estava acompanhada por ninguém menos que Lucius Malfoy, de volta ao cenário bruxo desde o ano passado com o término da sua pena imposta pelo Ministério após a guerra. Assim que Weasley foi procurar sua namorada esquecida por ele (e aparentemente, por todo o resto da festa), encontrou-a na varanda, muito mais próxima de um antigo inimigo de guerra do que seria recomendável para alguém com a sua posição de quase-noiva do auror em treinamento!
Vejamos o que mais uma de nossas leitoras tem a dizer!

\"Assim que eu ouvi a voz do garoto Weasley, eu corri para ver o que tinha acontecido e entrei na varanda pela outra porta. Não dá para negar que Granger e Malfoy estavam bem perto, ela de costas para a grade da varanda e ele sobre ela, inclinado de um jeito estranho... Afinal, eles eram inimigos! Os dois pareciam surpresos em ver o jovem Weasley ali, como se estivessem fazendo algo proibido antes. E levando em conta a posição deles e o feitiço estuporante que atingiu Malfoy em cheio, eu não me surpreenderia se fosse essa a verdade.\"
J. I., 31 anos.

E foi exatamente isso que aconteceu, caros leitores - Weasley estuporou Malfoy, que acabou caindo pela sacada. Testemunhas relatam que Granger, furiosa, lançou um feitiço que deixou o namorado (ou seria ex-namorado?) calado e foi atrás de Malfoy, para reanimá-lo. Essa atitude de Granger só deixa a todos nós mais confusos, por que afinal: ela não deveria ter ficado grata de ter sua honra salva pelo seu amado namorado?

\"Não estou surpresa. Granger nunca mostrou muita honra nas suas condutas, escondendo as suas conquistas de todo mundo para revelá-las no momento mais oportuno - ninguém esqueceu das suas manobras no Torneio Tribuxo com Viktor Krum na escola. Ela agiu de forma indiferente e depois surgiu como o par dele no baile; pode muito bem ser a estratégia dela, fingindo que odeia alguém para ressurgir com ele, como no caso do senhor Malfoy. Ele não merece isso.\"
P. P., 24 anos.

\"Claro que foi errado, trair o namorado em plena festa e na frente de todo mundo... Mas quem pode condená-la por escolher tão bem, não é? Quero dizer, o senhor Malfoy é um bruxo e tanto, basta olhar para as suas roupas naquela noite, os seus cabelos, aquele ar superior e a graça inerente que só os puros-sangues mais antigos possuem... Não dá para culpá-la, realmente. O senhor Malfoy é que tem gostos questionáveis, porque afinal, o quê aquela Granger tem que eu não tenho?\"
A. R., 38 anos.

\"Ron está desolado. Estou dando o melhor de mim para consolá-lo e animá-lo novamente, mas tem sido difícil. Afinal, ser traído por aquele que quase matou sua irmã anos antes e ainda por cima, um ex-Comensal da Morte... Mas eu sei que ele vai sair de tudo isso, ele é um homem maravilhoso que a Granger não merece.\"
L. B., 24 anos.

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Ronald Weasley, Hermione Granger e Lucius Malfoy envolvidos em um triângulo amoroso? Vamos esperar ansiosamente pelo desenrolar dessa história! E não se preocupem, meus caros leitores; Encantos da Semana volta na próxima edição d\'O Semanário das Bruxas, com mais notícias sobre o escândalo mais quente da atualidade!
Nota do Editor-Chefe: a sua colaboração é importante para Rita Skeeter! Mande uma coruja para a nossa redação com seus comentários ou idéias que nós publicaremos na próxima semana juntamente com o texto da coluna. A redação d\'O Semanário das Bruxas garante o seu anonimato; reservamos-nos o direito de publicar somente trechos das cartas.

Hermione jogou a revista longe, batendo os punhos contra a mesa da sala em uma tentativa de diminuir a raiva que sentia, mas não foi bem-sucedida; sua frustração e ódio praticamente mortal por Rita Skeeter continuavam tão grandes quanto antes.
Respirando fundo e puxando a maior quantidade de ar que ela conseguia para seus pulmões, a bruxa sentiu que era inútil continuar a provar que ela era forte; não havia ninguém ali no apartamento para ver a sua demonstração. Soluçando alto e deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto, a jovem deslizou até o chão, ficando ao lado da mesa que socara com tanta força momentos antes. Apenas o barulho do seu choro ecoava na sala de estar vazia.
Ela se assustou ao ouvir um barulho vindo da sua lareira, seguido de um clarão. Movendo a mão para a sua varinha que estava no bolso das vestes, ela se virou na direção do objeto para encontrar o rosto de Ginny Weasley no meio do fogo, parecendo muito preocupada.
- Hermione! O quê houve? - a garota perguntou do fogo, vendo a amiga com o rosto marcado de lágrimas, o cabelo já costumeiramente volumoso em desalinho e a sua posição incomum no chão do apartamento.
- Ginny... Eu... - ela não conseguiu terminar de falar, apontando para a revista que estava a quase um metro dela, as folhas dobradas umas sobre as outras de qualquer jeito; uma modelo estrelava a capa, sorrindo de um modo afetado e em posições diferentes a cada segundo, ignorada pelas outras duas garotas.
Interpretando aquilo como um convite para ir até o apartamento de Hermione, o rosto de Ginny de repente sumiu do fogo, a lareira ficando quieta por alguns segundos até uma luz esverdeada brilhar ali, admitindo a figura completa da única menina dos Weasley na sala. Ela nem se preocupou em espanar as cinzas que normalmente grudavam na roupa, correndo até a amiga caída.
- Mione? Hey, Mione... O quê houve? - ela perguntou outra vez, lembrando do objeto que a outra mulher havia apontado momentos antes. Acariciando suavemente as costas de Hermione que ainda chorava de um jeito sentido, Ginny usou a outra mão para apontar a varinha na direção da revista - Accio revista!
O conjunto de folhas grampeadas veio parar na mão da ruiva, que reconheceu o título com um leve franzir do cenho. Aquele não era o tipo de literatura que se encontraria normalmente na casa de Hermione Granger, mas ela resolveu não fazer perguntas quando a amiga falou de novo:
- Abra... Abra na página 23, Ginny. - a bruxa falou com um fio de voz, tentando controlar os tremores violentos que sacudiam seu corpo junto com alguns soluços - A coluna da R-Rita... Skeeter.
A bruxa ruiva piscou algumas vezes, sem entender absolutamente nada. A história de hostilidade entre Rita Skeeter e Hermione Granger já era antiga e não haveria motivo para a amiga estar lendo aquele jornalismo de quinta categoria produzido pela animaga não-registrada se...
Entendendo que aquela era a fonte das lágrimas da bruxa, Ginny abriu na página certa e começou a ler a coluna, sua expressão variando do neutro ao começo do artigo e chegando no mais puro desgosto com o final, na nota do editor. Ela também atirou a publicação longe, ficando tão vermelha quanto seus cabelos naquele momento de raiva:
- Aquela vaca! - ela gritou, se levantando do chão e incinerando a revista depois, voltando logo em seguida para o lado de Hermione - Eu não acredito que ela escreveu uma coisa daquelas! Mas, Mione... Você não tem que se preocupar com o quê essas pessoas dizem; quem lê essa revista não merece o mínimo de credibilidade.
A bruxa mais velha ergueu o rosto, seu choro agora reduzido a ocasionais suspiros e soluços mais curtos; sua face estava manchada por duas trilhas feitas pelas lágrimas mais cedo. Ela passou a mão pelos cabelos, tentando domá-los enquanto respondia:
- Eu sei, Ginny. Mas as pessoas lêem, isso não deixa de ser verdade. E como é que eu vou trabalhar segunda-feira desse jeito? Com as pessoas me encarando como se eu fosse a mais baixa das bruxas, alguém da pior espécie sendo que eu não fiz nada? Nada!
A ruivinha assentiu com a cabeça em silêncio, cruzando as pernas no chão e batendo de leve no ombro direito da outra:
- Eu acredito em você, Hermione. Eu já ouvi várias vezes do Harry o que essa Skeeter dizia dele... Todos nós sabemos. E isso explica algumas coisas.
- Explica? - a recém-promovida bruxa piscou os olhos castanhos, encarando a amiga - Explica o quê, Ginny?
- Ron voltou para a Toca, Mione. Está lá desde a volta do baile de ontem... Minha mãe já tinha me avisado, então eu vim aqui para saber o quê tinha acontecido, porque conversar com Ron é ouvir uma história tão verdadeira quanto Lockhart falando das suas conquistas... - ela parou de falar - Você se importa que eu fale assim dele?
- Do Ron? Eu não, mas ele é seu irmão!
- Não, do Lockhart! - a ruivinha riu, tirando o primeiro sorriso de Hermione naquele sábado - Desde o dia que eu soube que ele se recusou a descer até a Câmara Secreta, eu me revoltei com ele.
- Eu também. - a mais velha concordou com a cabeça - Quero dizer, eu estava petrificada, mas...
- Entendo. - Ginny fez uma careta e voltou ao assunto original - De qualquer forma, eu imaginei que vocês tivessem brigado de novo ou qualquer coisa assim, e queria saber o quê tinha acontecido. Isso explica muita coisa, sobretudo os olhares da minha mãe. Ela acredita na Skeeter.
- Muita gente acredita, Ginny. - Hermione comentou com um tom de resignação na voz.
- É, mas eu queria que minha mãe não estivesse entre eles. Minha família me dá nojo, de vez em quando. - ela suspirou, e voltou os olhos para a amiga - Como foi? Eu não lembro de ver você ontem, no salão.
- Ah, Ginny... - a bruxa mais velha mudou de posição, cruzando as pernas para ficar de frente para a amiga - Você viu o convite? Com as coordenadas?
- Claro que vi. - ela assentiu com a cabeça.
- Ron não quis que eu o ajudasse com a aparatação, insistindo que ele tinha de fazer isso sozinho... Sendo que eu faço isso no meu trabalho e estou acostumada.
- Clássico.
- Então ele finalmente conseguiu, e quando nós chegamos... Ele foi direto para as bebidas, comemorar. Eu fui atrás, andando mais devagar por causa do salto.
- Eu odeio saltos.
- Não gosto deles também, mas são necessários. - a garota replicou, conjurando um lenço com a sua varinha e assoando o nariz delicadamente - Desculpe. Então, quando eu cheguei no salão, eu senti algo estranho... Demorou algum tempo, mas eu descobri: a festa de ontem foi feita na antiga mansão dos Malfoy, Ginny.
- Malfoy? Aquela era a mansão deles? - a garota ruiva pareceu surpresa com a revelação - Eu... Mione. A guerra!
- Sim... - a garota replicou, sentindo um tremor percorrer todo o seu corpo - Eu só conseguia pensar em sair dali, em fugir daquele lustre de cristal e daquela sala... Não sei como Harry e Ron não perceberam, Ginny. Eu juro que não sei. Eu corri e saí na sacada, onde eu encontrei...
- Lucius Malfoy. - a menina pronunciou o nome com uma considerável dose de revolta; algo perfeitamente compreensível vindo dela - E ele não te atacou nem nada?
- Não!
A resposta de Hermione foi tão enfática que Ginny se assustou; respirando fundo, Hermione sacudiu a cabeça e prendeu o cabelo em um coque, usando uma caneta que havia caído no chão quando a revista foi atirada.
- Não, Ginny. Na verdade, eu vi o senhor Malfoy outro dia, no cemitério. No dia do aniversário de morte do Professor Snape.
- Pelas barbas de Merlin! O aniversário do Snape... Droga, eu esqueci. Mas ele estava lá?
- Sim. E ele foi civil, não fez absolutamente nada e foi embora. E na festa também não, por mais estranho que seja! Ele me ouviu comentar sobre a mansão e conversamos, apenas. Pouca coisa. - ela acrescentou, lembrando dos elogios e decidindo não os incluir no relato - Eu achava que o Ministério havia redecorado tudo, colocado as flores, mas ele disse que as flores sempre existiram e me apontou três estufas. É verdade, Ginny: existem três estufas lá, uma delas onde o Professor Snape inclusive fazia experimentos.
- Eu não imagino o Draco cuidando de flores na sua infância. - Ginny respondeu com um semblante esquisito antes de rir - Mas eu acredito em você; provavelmente Snape precisava de um lugar para suas maluquices, e ele e Malfoy eram amigos.
Hermione concordou com a cabeça.
- Eu estava olhando para essa estufa quando Ron chegou... E entendeu tudo errado, estuporando Malfoy e falando com aquela voz pastosa e bêbada. - Hermione fez uma cara de desprezo, engolindo a raiva que tentava voltar - Ah, Ginny. Eu sei que ele é seu irmão, mas...
- Ele é meu irmão e um idiota. Infelizmente são coisas compatíveis.
- Eu vou ter de concordar com você. - as duas sorriram de forma cúmplice, a bruxa mais velha então prosseguindo com a narrativa - Por mais que eu já tenha odiado Malfoy nos anos de Hogwarts e tudo mais, ele não tinha feito nada. Nada, Ginny, nem mesmo me insultar! Então...
- Você não o atacou de volta. Justo.
- É. Foi o que eu achei, mas...
O olhar que Hermione lançou ao montinho de cinzas que representava os restos mortais da revista queimada foi tudo que ela precisou fazer para Ginny entender o que ela queria dizer. Abraçando a amiga, ela puxou a outra para cima conforme ambas se levantaram.
- Deixa essas pessoas para lá, Mione. Você vale muito mais do que a opinião de gente invejosa. Venha, você vai trocar de roupa e depois eu te pago um sorvete no sr. Fortescue. Você não pode deixar que essas pessoas te derrotem. Você ganhou de Voldemort!
Hermione sorriu, apertando a mão da amiga.
- Tem razão, Ginny. Só me dê alguns minutos para trocar de roupa.
- Ok. - a garota assentiu, deixando-se cair na poltrona que ficava perto da mesa. Sabendo que a amiga podia ouvir tudo do seu quarto, ela gritou - Mione!
- Quê?
- É verdade o que dizia uma daquelas cartas?
- Qual delas?
- Que o Malfoy estava bonito?
- GINEVRA WEASLEY!

Continua...

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