Memórias

De volta ao início


O clima do jantar estava tenso. Ninguém falava nada. Era só “Me passa o bibimbap por favor?”

Abraxas sabia que era por causa dele. Por que as relações sociais precisavam ser tão difíceis?

— É… Juízes, eu preciso falar com vocês. Eu… Queria pedir desculpas pelo meu comportamento mais cedo. O sombrio… Às vezes fica meio entediado. É por isso que ele mexe com a vida das pessoas. Posso dar a minha palavra a vocês de que eu só permiti porque sabia que ninguém iria morrer ou inexistir. Eu também já disse à Jung, mas vou repetir aqui para todos ouvirem. Jung, eu te prometo que nunca mais eu vou comprometer você ou sua família. Eu só quero que possamos viver todos em paz.

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— Por mim — respondeu ela — viveríamos em paz se o sombrio fosse aniquilado.

— Amor, olha pra mim… O sombrio pode ser retardado, mas ele tem a sua importância.

— Que importância, bae?

— Equilíbrio. “A felicidade perderia seu significado se ela não fosse equilibrada pela tristeza”.

— Que fofo Jung citando Jung — disse Abraxas. — E está certíssimo. Não podemos simplesmente eliminar o sombrio, ele faz parte de mim. É como se com ele eu me sentisse mais… Humano.

— Claro, sunbae — disse Namjoon. — Todos os humanos têm qualidades e defeitos. Não acho justo tirarmos isso de você. Você cometeu um erro. Vários erros, na verdade. Mas as pessoas erram.

Abraxas se assustava. Cada vez mais ele parecia uma pessoa normal. Isso o deixava confuso.



Namjoon estava estudando na biblioteca, quando ouviu uma movimentação.

— Quem está aí?

— Michung.

Namjoon foi até ela. Sua barriga estava enorme.

— É… Seus filhos não nascem hoje, criatura? O que está fazendo aqui?

— Eu queria ler alguma coisa. Mas os guias de maternidade já acabaram.

— Também, você leu todos os guias que encontramos aqui e na cidade espelho….

— Exatamente. Eu quero tentar ler outra coisa agora. Sugere algo?

— Você também já leu muitos livros complexos. Por que não tenta ler um livro infantil para suas crianças?

— Que ideia fofa, oppa! Vou aderir.

— Então eu vou pegar algo para você. Espere aqui.

Namjoon foi até a parte de livros infantis e procurou por um livro específico. Não demorou para achar.

Ele pegou o livro, e na mesma hora ouviu Michung soltar alguns ruídos.

— Tudo bem aí, Chungie?

— Oppa…

Segurando o livro, Namjoon correu até ela. Sentada na cadeira, segurava sua barriga.

— Chegou a hora, oppa.

— Aigoo! O que eu faço?

— Me leve pro meu quarto, rápido. E sem pânico.

Imediatamente, Namjoon soltou o livro e ajudou a amiga a se levantar. Com dificuldade, a levou pelos corredores até seu quarto. Em algum momento passaram pela sala dos julgamentos, onde um acontecia. Lá estavam Abraxas, Yoongi, Jungkook, Jimin, Géssyca e Hoseok, que pôde ver a cena. Ele sabia que precisava fazer alguma coisa.

— Hyung, não faz isso… — pediu Jimin. — Vai ficar tudo bem.

— Eu preciso ficar com eles. Abraxas Sunbae! Desculpe interromper, mas eu preciso ir agora. Meus filhos vão nascer!

— Aigo, Jung. Está liberado!

— Gamsahabnida, sunbae.

Hoseok se curvou e foi rapidamente até seu quarto. Porém, na porta, foi barrado por Jin, que estava iniciando a cura apenas com o apoio de Namjoon.

— Owowow! Vai aonde?

— Eu quero ficar com eles.

— Tem certeza? É meio pesado. O Jungkook não quis ficar nem da segunda vez…

— O Jungkook é frouxo. Mas eu esperei anos por isso. Eu preciso ficar perto da minha família, Jin Hyung.

O mais velho hesitou por alguns segundos.

— Ok.

Namjoon bateu na porta e Yumi abriu para Hoseok entrar.

— O papai quer ficar perto da sua família.

— Que inveja — disse Yumi. — Entra logo, oppa.

No quarto, Seohyun e Yumi estavam ajudando Michung com o parto. Hoseok se colocou bem ao lado dela.

— Estou aqui com você, amor.

— A propósito — disse Abraxas — O julgamento está suspenso. Acho que vocês quatro ainda precisam ajudar o Kim Seokjin com a cura, não? Estão todos liberados!

— Aí sim — disse Jungkook. — Vão indo para lá, eu vou buscar os outros na casa Daegu.

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Em instantes, todos os juízes, com exceção de Abraxas, estavam abraçados em frente ao quarto de Hoseok e Michung. O processo demorou bastante até que ouvissem o primeiro choro.

— Quem será que nasceu primeiro? — perguntou Taehyung.

— Foi o garotão — disse Jimin, sorrindo. — O Yanan nasceu primeiro! Agora vamos aguardar a nova princesinha.

O tempo para Yerin nascer foi um pouco menor, mas a cura pós parto foi um pouco mais extensa do que a de Yumi.

— Podem entrar — disse Nana, abrindo a porta.

A cena era das mais lindas. Hoseok e Michung, um ao lado do outro, cada um segurando um bebezinho. Pelas cores dos cobertores, perceberam que ele segurava Yerin e ela segurava Yanan. Os juízes murmuravam coisas como “Que amor!” “Eles são tão lindos!” “Que família bonita.”

— Eu já volto — disse Namjoon. — Vou pegar algo que a Chungie deixou para trás.

— Eu também preciso pegar algo — disse Jin.

Namjoon foi à biblioteca e pegou o exemplar de Hansel e Gretel que estava no chão. Na volta, passou pela sala dos julgamentos e viu Abraxas encarando o nada.

— Não vem, sunbae?

— Acho que a Jung não vai querer me ver perto da família dela.

— Deixa de ser bobo, ela já superou isso há muito tempo. Vamos lá.

Relutante, Abraxas acompanhou Namjoon.



— Prontinho, mamãe, aqui está seu Hansel e Gretel. E… Eu trouxe mais uma visita…

— Com licença, será que eu posso conhecer os mais novos moradores da Casa?

Todos olharam para Michung, até mesmo Hoseok, tentando passar segurança.

— É… Claro.

Abraxas entrou no quarto com toda a timidez do luminoso. Parecia estudar o território e evitar qualquer movimento ou aproximação que incomodasse Michung.

— Uma curiosidade interessante, se o sunbae permitir — disse Jimin. — O Abraxas Sunbae está tendo suas primeiras experiências sociais depois de muito tempo. Ver recém nascidos é como algo novo para ele.

— Gostaria de pegar? — perguntou Hoseok a ele.

— Oppa! — sussurrou Michung, como se aquilo fosse uma afronta.

— Eu… Não quero incomodar. Acho melhor não me arriscar, não quero fazer mal a eles. Mas quem sabe outro dia.

— Gente — disse Jin, entrando com a Instax. — Vamos bater uma foto da família?

— Claro! — disseram os pais.

Tiraram várias fotos. Só de cada um dos bebês, dos bebês com os pais, e com os visitantes.

— Essa aqui vai pro Sehun — disse Hoseok, se referindo à foto dos quatro.

— Ele vai adorar — disse Michung. — Por que não leva agora? Eu vou ficar aqui lendo para as crianças.

— Tá bem. Eu já volto, amor!

Jin imprimiu a foto rapidamente e entregou a Hoseok, que foi para a sala da Eva, animado.

Porém, quando entrou, percebeu que algo estava diferente.

A pietá não estava lá.

— Eva?

Não houve resposta.

— Eva, o que está acontecendo? Cadê você?

Hoseok correu até a parte de trás do espelho de água, e viu a estátua em pedaços. Em instantes, se viu apavorado.

— Eva! Aonde você está?

— Acabou, Hoseokie. Ela se foi para sempre — respondeu uma voz vinda da entrada da sala.

— O que você fez com ela?

— Eu? Não fiz nada. É apenas o curso natural das coisas.

— Isso tem a sua cara.

— Eu não fiz nada, já disse. A mamãe foi embora porque agora o Oráculo tem… Novos hospedeiros.

— O que? Não, meus filhos não! Abraxas! Se isso for coisa sua eu juro que eu te…

— Caham! Desculpe, Jung. Não há com o que se preocupar. Isso que vai acontecer aos seus filhos não é ruim, não é castigo. É um dom. A habilidade especial deles. Não poderia ser diferente, herdaram habilidades psíquicas dos pais, assim como Min herdou habilidades naturais dos Jeon. Quanto à eomma… Não deve ficar triste por ela. Ela sim era uma castigada. Por milênios. Mas agora está livre.

— O que aconteceu com ela exatamente?

— Inexistiu. Ou seja, reencarnou. Ela era prisioneira do oráculo, mas agora o oráculo vai conviver pacificamente com seus filhos. Assim como eu convivo com eu mesmo, sacou?

— Mas ele é mau?

— Enquanto eu tenho dois pólos distintos, o oráculo é uma entidade neutra. Você vai conseguir identificá-lo pela impessoalidade das crianças, mas suas passagens não são duradouras nem maléficas. Eles vão tipo, parar e dizer “Isso vai acontecer”. Como eu disse, nada ruim, apenas um dom.

Hoseok continuava olhando para a pietá despedaçada.

— Vamos sentir saudades dela, não é?

— Claro. Imagine você, do nada, se ver sem sua mãe, depois de milênios.

— Alguns anos já foram o suficiente — disse Hoseok, se lembrando de suas duas mães. — E agora… Como eu vou levar a fotografia para o Sehun?

— Ah, você não sabia? Jung, você não precisa de um oráculo para projetar. É só sentar na cadeira do espelho e fazer!

— Ah, sério?

— Sim, vai lá!

Hoseok se sentiu estranho fazendo aquilo, mas projetou sem Eva. Logo se viu no mercadinho. Yonseo estava atendendo algumas pessoas, enquanto isso Hoseok ficou passeando pelos corredores.

— Por que você está tão distraído, oppa?

— Pela primeira vez eu projetei sem meu oráculo… Me sinto estranho.

— O que houve com seu oráculo?

— História longa, depois te conto. Pode entregar algo para o Sehun?

— Como assim?

Hoseok colocou a foto na bancada do caixa.

— Aigoo! Que fofo!

Em seguida, Hoseok usou sua habilidade rara para materializar o objeto.

— Pronto, pode pegar.

— O que… É sério? — Yonseo pegou a foto. — Aigoo! Como fez isso?

— É uma habilidade que gasta muita energia, então raramente uso. Por isso, preciso voltar para minha família. Por favor entregue ao Sehun, está bem?

— Claro, oppa. Parabéns, eles são lindos!

Hoseok riu.

— Gomawo, Yonseo. Até mais!