Me Apaixonei pela Pessoa que Eu Odeio

Quatro a mesa e uma surpresa desagradável


Ela saiu de cima de mim, suas bochechas pálidas ganharam um leve tom de rosa ao notar o que tinha feito. Joanne parecia estar com mais vergonha do que tinha feito do que arrependimento propriamente dito. Joanne pediu licença e foi até o banheiro. Ficamos apenas três na mesa, enquanto um silêncio perturbador voltava a tomar a sala. Todos ainda pareciam meio estupefatos com o que tinha acabado de acontecer.

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-Vou ver se o almoço está pronto. –Meu pai falou, sua voz em tom normal parecendo alta demais para o ambiente. Eduarda assentiu com a cabeça e ele foi até a cozinha, sumido pela porta.

Deixei meu olhar vagar pelo apartamento, tudo estava em ordem. Os dois sofás cor de vinho, um onde eu estava e o outro onde estava Eduarda. Atrás dela a janela projetava a luz do sol pela sala, deixando tudo com um brilho meio surreal. As paredes beges enfeitadas com algumas poucas fotos. No canto uma mesinha com o telefone, uma lista telefone, um bloco de papel e canetas, a maioria delas não funcionava. Do lado oposto o deck onde estava a televisão, e embaixo dele muitas revistas velhas que há bastante tempo ninguém lia.

A melhor parte de morarmos só eu e meu pai é que a casa fica arrumada por bastante tempo, nós não somos bagunceiros e, para ser sincero, meu pai quase nunca está em casa.

Joanne apareceu pela porta da cozinha e falou em uma voz sem emoção:

-Gabriel pediu para avisar que o almoço está pronto. –A garota nem mesmo olhou para mim enquanto falava.

Eu e Eduarda nos levantamos e seguimos para a cozinha, que é em tons de cinza. Joanne ajudava meu pai, colocando os pratos e os talheres. Olhei para mesa e reparei que meu pai tinha feito lasanha. Sendo sincero, meu pai cozinha mais do que bem. Okay que é meio estranho ele cozinhar, mas ele teve que aprender depois que se separou da minha mão, ou eu e ele teríamos morrido de fome.

Nos sentamos à mesa redonda, todos se serviram. E, antes que o silêncio constrangedor pudesse voltar, meu pai perguntou:

- Como foi à escola hoje? –Sei que isto foi apenas uma tentativa inocente dele de puxar assunto. Mas então me lembrei do que tinha acontecido hoje na escola, e da advertência que estava na minha mochila.

- Ah, a escola foi normal sabe, aula de história, prova de português, eu dando um soco no Pedro, trabalho de biologia. –Falei tentando ao máximo manter a indiferença na voz, fiquei apenas olhando pelo canto do olho a reação dele, rezando mentalmente para que ele não se desse conta do que eu tinha dito.

Infelizmente, não foi o que aconteceu. Meu pai me mirou com os olhos quando falei a parte do Pedro.

-Você deu um soco no Pedro? –Ele perguntou entre dentes, acho que estava tentando não aparentar raiva, por causa da presença de Eduarda e Joanne. Quem diria, salvo por garotas!

- Pois é, mas ele mereceu. Estava falando mal da Beth. –Disse a minha última carta na manga. Comecei a remexer a lasanha no meu prato com o garfo, tentando não olhar nos olhos do meu pai.

-Só por que alguém fala mal da sua namorada, não quer dizer que você pode bater na pessoa. –O pai falou, sua voz meio irritada e meio maldosa. Franzi o cenho, já faz um tempo que meu pai colocou na cabeça que Elizabeth é minha namorada. Já devo ter lhe dito mais de um milhão de vezes que ela não é minha namorada, mas parece que nada faz mudar de opinião a respeito disto.

-A Beth não é minha namorada, pai! –Falei, quem sabe eu ganhasse pelo cansaço. Se bem que em matéria de paciência, meu pai podia ser um monge.

-Aham, claro que não. –Ele falou com aquela voz do tipo “vou fingir que acredito, mas sei que não é verdade”.

Tentei me concentrar em comer meu pedaço de lasanha. Estava ótimo, o queijo derretido junto com tomates, carne e outros temperos. Infelizmente não pude provar mais do que duas garfadas do meu almoço. Ouvi Joanne tossir e levantei meus olhos, a fim de ver o que tinha acontecido. Me assustei ao ver o rosto da garota, que agora tinha manchas vermelhas estranhas.

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-O que aconteceu com você? –Perguntei perplexo. Meu pai e Eduarda também pararam de comer para ver o que tinha ocorrido.

-Por favor, me diga que não tem pimenta nesta comida. –Ela falou, ignorando minha pergunta. Sua voz soando abalada.

-Tem sim, querida. –Meu pai falou de modo afável, e logo emendou. –Por quê?

-Eu tenho alergia à pimenta. –Ela falou enquanto empurrava seu prato para frente.

-Oh. Eu acho que eu tenho um antialérgico, você quer? –Meu pai perguntou, com preocupação. Ele é médico, especializado em traumatologia, mas mesmo assim tem um monte de remédios em casa. Por causa da profissão dele nunca pude fingir estar doente para faltar aula, triste né?

-Não precisa, eu tenho um nas minhas coisas. –Joanne falou com a voz trêmula, ela se levantou. –Com licença.

Falou e seguiu andando em direção a sala. Possivelmente foi embora depois disso. Ouvi a porta bater, confirmando meus pensamentos. Eduarda ao meu lado suspirou ruidosamente.

-Coitada, espero que esta reação alérgica não de em nada. Ela já está com problemas o suficiente. –Sua voz estava com pena, virei para olhá-la de frente.

-Como assim? –Perguntei me referindo aos “problemas o suficiente”.

-Os pais dela morreram há um tempo, e como se não bastasse ainda teve aquela história envolvendo seu namorado. A menina está tão abalada, ela só fala quando lhe perguntam alguma coisa e fica ouvindo músicas o resto do tempo. –Ela balançou a cabeça, como se quisesse espantar os maus pensamentos. - Acho melhor eu ir também ver como ela está.

Eduarda se levantou e seguiu por onde antes Joanne tinha seguido. Olhei para o almoço, que minutos atrás tinha me parecido tão apetitoso. Perdi totalmente a fome com estas últimas informações, e um bolo parecia ter se formado em minha garganta.

-Acho que você tem que pedir desculpas a alguém. –Meu pai falou bem devagar, levantei meus olhos até eles se encontrarem com os deles.

-Ao Pedro. –Eu falei me fazendo de desentendido, para que quem sabe também acreditasse que era ao Pedro que eu deveria me desculpar.

-Você sabe para quem, Lucas. –Ele falou seus olhos duros e sua voz de certo modo áspera.

-É acho que sim. –Falei enquanto empurrava meu prato. Levantei-me e comecei a recolher os pratos para lavar. Bem, pelo menos meu pai não tinha me colocado de castigo.

-E Lucas, você vai ficar um mês sem sair de casa, por ter dado um soco no tal de Pedro.

Agora meu dia tinha, definitivamente, acabado.