O auditório estava lotado, os três primeiros anos somavam uns cem alunos, mas outras turmas tinham vindo assistir. A professora de artes fez um baita discurso sobre como nos ajudava fazer isso e tal, não prestei atenção em uma única palavra. Estava realmente nervoso com o que poderia acontecer, muitas possibilidades vinham agora a minha mente. Ela parou de falar, todos aplaudiram aproveitei para fazer o mesmo.

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As apresentações começaram. Algumas garotas dançavam, estava meio ridículo. Não deixei de sentir pena delas. Outras vieram depois, tinha gente que desenhava, declamavam poesias... Sem perceber comecei a procurar Joanne na platéia, mas ela não parecia estar em lugar algum.

E se ela não veio? Isso seria realmente uma tragédia. Ok, melhor nem pensar na hipótese. Chamaram meu nome. Não acredito, já? Me levantei e fui andando até o palco, subi rápido as escadas que levavam até ele. Quase cai. Quase, ainda bem. Tirei a capa do meu violão. Ele é todo preto, sem muitos detalhes.

Passei sua alça por meus ombros e andei até perto do microfone, então cometi um erro. Levantei meus olhos e dei de cara com aquela platéia. Senti um frio na minha barriga ao me dar conta do que estava prestes a fazer. Então eu vi, algumas fileiras atrás de onde eu estava. Seu cabelo preso em um rabo bem feito, deixando a vista todos os detalhes de seu rosto. A linha tênue do seu queixo, seu nariz levemente arrebitado, seus grandes olhos azuis esverdeados. Sua pele que lembrava porcelana estava rosada por causa da luz vermelha do palco.

Nossos olhares se encontraram e eu achei coragem para continuar, sabia que precisava fazer isso. Era por ela que eu estava fazendo isso.

-Essa música é uma homenagem a uma certa Lady que uma vez encontrou um Jedi.

Sorri, tinha acabado de pensar nessas palavras. Luke Skywalker e Lady Bug. Não éramos exatamente o casal perfeito, mas afinal, quem liga?

Continuei olhando nos seus olhos e cantando, cada palavra era para ela que eu dizia. Cada nota era dedicada a Joanne. Minha Lady. A garota pela qual eu estava apaixonado. A ótima mentirosa. A que adorava falar mal de mim. A que é critica e cética. E aquela que eu só queria que me perdoasse. Para que mais uma vez eu pudesse dizer que ela era minha.

Acabei o último acorde. A multidão inteira explodiu em aplausos. Mas não dela. Joanne apenas me olhava com a mesma expressão de antes. Indecifrável. No microfone chamaram o próximo nome. Joanne Summer.

Sai do palco, atordoado por ser ela a próxima. Nos cruzamos mas ela nem me olhou. Joanne estava usando botas estilo calboy e uma saia creme até em cima do joelho, e uma básica de lã marrom e uma manta xadrez.

Me sentei a onde estava antes, ao lado de Bruno.

-Nossa, cara. Você toca super bem.

-Valeu.

Falei me sentando. Ela agora estava no palco, perto do microfone, segurava na mão um caderno, e então começou a falar:

“Eu queria poder esquecer, mas isso era impossível

Eu queria sorrir, mas meu sorriso era falso.

Eu queria estar feliz, mas meu mundo era só tristeza

Eu queria te esquecer, mas meu pensamento me levava até você

Eu queria odiar, mas descobri que isso é tão impossível quanto deixar de te amar!”

Sua voz estava trêmula no final, e na última frase seus olhos se fixaram nos meus. Era para mim que ela estava dizendo isso, entendi mesmo sem ela dizer. Do mesmo modo que sei que ela entendeu que antes era para ela que eu cantei.

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Com passadas rápidas ela saiu do palco, desceu as escadas. Mas continuou subindo até que saiu do auditório.

-Bruno, cuida do meu violão?

Sem esperar a resposta dele me levantei e comecei a andar por onde ela tinha ido. A achei sentada no muro perto do pátio de fora. Parei a perto dela.

-Anne...

Ela se virou rápido. Passou as mãos pelos olhos, limpando pequenas lágrimas que desciam por eles.

-Lucas.

Sua voz era um misto de várias emoções.

-Me desculpe.

Ela me olhou nos olhos, então balançou a cabeça negativamente.

-Eu não posso te desculpar agora.

Senti meu coração se despedaçar ao ouvir aquelas palavras.

-Por quê... ?

-Porque já te perdoei a algum tempo.

Sorri aliviado, a peguei com os braços e lhe dei um abraço apertado. O cheiro do seu cabelo era tão bom, parecia morango. A levantei um pouco do chão e a sentei no muro, seu rosto agora estava na altura do meu.

Encostei meu lábios nos seus e logo os dela me corresponderam. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. Acho que só agora percebi o quanto tinha sentido sua falta.

-Por que me desculpou?

Perguntei quando tínhamos parado para recuperar o fôlego. Ela abriu um pequeno sorriso.

-Ah, é que eu tenho uma pequena queda por vocalistas.

-Ah é?

-Aham, por você e pelo Alex Gaskarth.

Franzi a testa, ela riu.

-Okay, gosto mais de você.

A beijei outra vez, dessa vez mais demorado. Minhas mão em sua cintura e as dela no meu cabelo. Movíamos nossos lábios com uma sincronia perfeita.

-Acho melhor voltarmos ao auditório antes que alguém venha atrás da gente.

Concordei com ela e começamos a ir juntos para o auditório. Mas então ela parou, me virei para ver o que tinha acontecido.

-Lucas, me promete uma coisa?

-Claro.

Respondi, acho que rápido demais.

-Não só da boca para fora, quero uma promessa séria.

Assenti com a cabeça, e falei olhando em seus olhos.

-O que quer que eu prometa?

-Que se isso acontecer outra vez vai primeiro me ouvir, vai confiar em mim... Promete?

Continuei olhando em seus olhos com uma intensidade gigante.

-Eu prometo que confiarei em você para sempre.

Ela sorriu.

-Está bom?

Perguntei. Seu sorriso se abriu mais um pouco.

-Não. Está perfeito!

-É, eu sei que sou perfeito.

Joanne revirou os olhos.

-Você tem que estragar o momento?

-Não precisa ficar brava, você também é perfeita!

-Você não tem jeito mesmo, Lucas...

-Humm, posso não ter jeito, mas ao menos tenho você.

-Isso é melhor né?

-Muito melhor, querida!

A puxei pela cintura para mais perto de mim, enquanto entravamos no auditório.