Me Apaixonei Por Um Imbecil

Você acha que pode confiar?


P.o.v Austin

Senti meus músculos trêmulos, minha mão ficando gelada e suada ao mesmo tempo, as palavras dela me invadiam, e eu estava sem respostas. Ouvir aquilo foi como um grito no vazio, um abismo á minha frente, pronto para me devorar. Senti vontade de chorar, não sei porque. Ela me odiava com todas as forças que podia, enquanto eu estava tentando me acostumar com o sentimento de estar gostando dela. Mas isso não vinha ao caso, eu a havia magoado seriamente muitas vezes, e nunca fui capaz de perceber isso. Achei que era dela ser temperamental assim, mas não. Era apenas ela que eu incomodava, porque ela é a única. Sentimento de culpa, sinto ódio de mim mesmo. Eu fui egoísta esse tempo todo, irritava ela o tempo todo por me sentir bem com isso, ela é a única que me odeia na escola, e sempre achei que esse era um ponto bom, que eu podia viver com isso, mas ela não podia. E vejo agora, que eu também não.

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Deixei a lágrima cair involuntariamente, e repeti aquelas palavras inúteis. Saí daquele lugar e voltei para o quarto dela, fui até a pequena sacada de seu quarto, que tinha a vista para toda a praia. Olhei para baixo e a vi, sentada no mesmo lugar e na mesma posição. Sentei no chão de lado para a vista e para as pequenas grades. Enterrei meu rosto em minhas mãos e deixei a culpa e o arrependimento me consumir. Eu me sentia um completo idiota! Por que fiz isso? Ela não merecia, e não merece. E por que só agora eu vim perceber tudo isso? Como eu não enxerguei que por trás de toda a zoação, ela sentia várias outras coisas, além do ódio?

– Burro! - Xinguei-me - Imbecil! - Levantei do chão e saí do quarto, desci as escadas e olhei para todos os lados, vendo se alguém me reparava ali. Não, as duas mulheres pareciam estar na cozinha, enquanto meu pai e o Senhor Dawson conversavam sobre alguma parceria de negócios na sala. Passei pelo canto das estantes onde ficavam os porta retratos, havia deixado o meu violão encostado ali. Dei uma última olhada na foto da Dawson e saí de casa, totalmente despercebido.

P.o.v Ally

Fiquei mais um pouco sentada ali, pensando em motivos para o Austin ter chorado, e na minha frente! Bem, não foi realmente um "choro", ele deixou escarpar uma lágrima, e agora só me falta descobrir o que se tem por trás dela.

A noite já havia caído. Me perguntava onde ele devia estar, com certeza não estaria aqui em casa. Veio-me a mente pedir desculpas, mas isso seria muita burrice. Ele me enche, me humilha e me faz sofrer com seus argumentos imbecis todos esses anos e eu é quem peço desculpas? Por outro lado, ele também se desculpou, mas por que? Depois de todo esse tempo, por que só agora?

– Filha? - Ouço a voz da minha mãe e olho instantaneamente para trás.

– Oi mãe. - Respondo baixo. Ela se aproxima de mim e me olha com aqueles olhos verdes escuros. Todos sempre diziam que eu não pareço nadinha com a minha mãe fisicamente. Ela é uma mulher alta, com os cabelos curtos e ruivos. Seus olhos são verdes brilhantes, e seu corpo curvado. Com seus trinta e nove anos, que aparenta ter trinta. Dizem que possuo todas as suas qualidades, sua doçura, a generosidade e a sua sinceridade sem limites; mas também seus defeitos, como o temperamental forte e a fonte de ironia inesgotável.

Mamãe sentou na beira da espreguiçadeira, a qual eu estava sentada.

– O que aconteceu, meu bem? - Sua voz era meiga e confortável.

– Nada mãe, só pensando. - Menti. Eu estava fortemente abalada e intrigada com o que havia acontecido mais cedo.

– Você sabe que não consegue me enganar. Pode contar! - É, eu sabia disto.

– É que eu contei algo para uma pessoa, e eu vi que essa pessoa se decepcionou com o que eu disse. Eu não queria, mas eu me senti mal com isso. A reação da pessoa me surpreendeu mais do que eu esperava. E agora eu não sei o que fazer, sinto que a magoei, sendo que já fui muito magoada pela mesma. - Acabei contando, mas emitindo o nome do individuo. Mamãe sorriu.

– Sei que muitas pessoas, inclusive eu, já te disseram isso. Mas é sempre o certo a fazer, sei que sabe disto - Ela pegou em minhas mãos e continuou. - Siga o teu coração. Muitas vezes ele não te dar a resposta correta, mas sim a que você precisa. Tente entender as coisas um pouco mais, podem haver detalhes importantes e que você passou despercebida. - Sorriu novamente e beijou minha bochecha. Levantou-se e olhou para o mar, o mesmo sorriso tornou-se sapeca e ela virou-se para mim. - O jantar está pronto. Por que não vai chamar essa pessoa? - Piscou para mim e entrou de novo em casa.

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Fiquei meio confusa com aquilo, e olhei para onde ela havia olhado. Vi o reflexo da Lua na água, e a uma distância considerável do mar, vi uma pessoa sentada na areia. É lógico que reconheci a pessoa, só fiquei me perguntando, como a minha mãe sabia que era o Moon?

Pensei nas palavras dela, e decidi dar uma chance ao que meu coração dizia, mesmo tentando descobrir o que aquela sensação significava.

Levantei da espreguiçadeira, cambaleando um pouco por estar numa posição por tempo demais. Saí da área, caminhando pela grama e chegando a um portãozinho que separava o terreno da praia. Abri-o e andei pela areia, descendo a duna pequena e me aproximando mais do garoto. Percebi que ele carregava um violão em seu colo, e a melodia que se fazia era realmente confortante e boa de se ouvir. Fechei os olhos, e sorri, deixando-me levar pelo som das cordas dedilhadas e das ondas quebrando no mar.

Quando reparei, já estava em sua frente. Ele me olhava interrogativo, e eu não conseguia retirar aquele maldito sorriso do rosto.

– O que faz aqui? - Pergunta finalmente. Ignoro sua pergunta, só pelo fato de não saber como responde-la e sento-me em sua frente.

– Toca? - Digo.

– Sim. - Ele fala. Passam-se uns segundos e reviro os olhos.

– Então... Vai, toca aí uma música! - Reformulo minha fala.

– Ah, acho melhor não. - Desvia seus olhos para o violão. Aquilo me incomoda, ele parece estar tentando evitar fazer contato visual comigo. Solto um longo suspiro.

– Moon, eu estou aqui, ignorando a maior parte do meu cérebro, tentando "Seguir o meu coração", para entender tudo o que aconteceu mais cedo e arranjar uma resposta para minha vontade insensata de te pedir desculpas, e você ainda me dar mais motivos para dar o pé daqui? - Falo tudo de uma só vez, e o Moon me olha desconfiado e sorri de lado. Não me respondeu, apenas encarou as cordas do violão e tocou a música.

Eu admiro o que me faz voltar
A ver a vida como eu sempre quis
Minhas verdades ninguém vai mudar
Nem apagar o que foi feito aqui

Hoje eu sou o que restou da dor
Da minha dor
Não posso me esconder
Mas que a verdade seja dita agora

Eu mudei por você
Mas não quis sofrer
Por ser tão real pra mim

Vou
Aprendo a viver
E num segundo perder
O medo de ser quem eu sou
Ser quem eu sou

...

Me envolvo na música, nunca a tinha ouvido antes, mas tinha gostado.

– Por que escolheu essa música? - Pergunto sem querer. Não sabia se tinha motivo, mas seria muito bom saber qual seria.

– "Mas que a verdade seja dita agora" - Ele repetiu o verso e me olhou nos olhos, diretamente pela primeira vez. Levei um susto, estavam vermelhos, e suas bochechas estavam molhadas.

– O que aconteceu? Por que está chorando? - Aproximei-me mais dele, esquecendo todas as minhas recentes regras de ficar o mais longe dele o possível.

– Eu não sou quem você pensa que eu sou. - Diz.

– Ai meu Deus, vai me dizer que você é um vampiro? - Ele me olha e sorri de lado.

– Você é impossível, sabia? - Ri.

– Só tentando aliviar um pouco o clima. - Rio também. O silêncio se estabelece por uns momentos, e eu tomo uma iniciativa que não pensei que iria fazer nem em um milhão de anos.

Levei minha mão ao seu rosto, e enxuguei suas lágrimas. Ele sorriu para mim.

– Então o que você é?

– Totalmente ao contrário do que você acha que eu sou.

– Bem, já descobri que você tem sentimentos. E olhe, foi uma surpresa e tanto! - Digo rindo. - O que falta?

– Posso confiar?

– Depende, você acha que pode confiar?