Marcas de uma Lágrima

Capítulo XII


Abri meus olhos novamente, minha cabeça esta zonza e doendo. Meus olhos se acalmam ao encontrar pessoas conhecidas ao meu redor, muitas delas, me assusto e finalmente tenho a visão do problema. Deitado ali no centro, a causa de tamanho alvoroço, estiro minhas mãos tentando entender. Toco meu próprio rosto e a sensação gélida de minhas lágrimas me arrepia, porém ao mesmo tempo que a sentia, não sentia. Era como uma corrente me arrastando lentamente de volta pra o corpo entorpecendo todos meus sentidos.

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Os olhos de ninguém se encontra juntos aos meus. Me arrasto penosamente para mais longe do corpo, é uma dor imensurável, mas não tenho muito o que assistir por ali. Meus braços latejam e uma dor toma conta de meus ombros, definitivamente não me sinto bem. Uma garota de cabelos engraçados chora sentada em uma grande cadeira, me aproximo e aparentemente ela não me vê. Seu rosto está vermelho e lágrimas escorrem por todo ele, consigo ouvir soluços baixinhos e por mais que me force não posso fazer isto.

Meu coração doí e meu corpo responde com uma sinfonia de dores que eu nem sabia que poderia se sentir. Sinto minhas entranhas se contorcendo dentro de mim e por um momento juro que irei vomitar. Desesperado, atoa, procuro um banheiro e encontro o melhor amigo la. Se encarando no espelho. Suas feições são pesadas e amarguradas, seus olhos envoltos em pele negra demonstram que ele não dorme faz alguns dias. Um pequeno conforto me preenche e a sensação ruim se esvai, porém novamente não recebo afeto algum e seus olhos vidrados permanecem la.

— Será que estou sendo egotista? - Ninguém me vê e mesmo assim estou tornando tudo isso sobre mim, mas é tudo sobre mim. Eu causei tudo aquilo, eu sou o culpado e a causa. Eu sou o corpo, ao menos devo ser. Pessoas, choro, amigos, dor, frio, morte.

Me sinto estranho, ouço uma leve voz cantarolar. Apesar de não querer me sentir atraído, eu fui. Caminho pesadamente por entre as pessoas, as vezes as esbarrando entre seus corpos, mas o terror não os distraia. Finalmente me aproximo da voz, porém o medo toma conta de mim. Atrás daquela porta estaria ela a minha espera, respiro fundo e quando dou conta de mim a porta já estava aberta.

— Aproxime-se um pouco mais da luz. - A garota com feições angelicais disse enquanto analisava algo a sua frente. Dei um passo para fora da porta, a luz fez meus olhos doerem e permaneço estático com os olhos semiabertos.

— Você está realmente acabado. Sabe que eu vim por você, não é mesmo? - Ela finalmente me olha com suas madeixas negras caindo sobre sua pele rosada.

— Pois este é o fim, não é mesmo? - Retruco agora já me acostumando com a luz e conseguindo abrir melhor meus olhos.

— Claro que não, ainda ha muito a se saber. - Ela ri enquanto se aproxima de mim.

— Não para mim! - Recuo um passo, mas em vão ela continua vindo ate mim.

— Você deve entrar agora. - Seus braços tocam meu corpo me entrelaçando. Sinto um calor envolver meu corpo e me sinto protegido.

— Vamos? - Um homem se aproxima dela, seus braços me soltam e juntos eles entram. Por alguns momentos permaneço ali atônito, com calmos e pesados passos retorno para dentro.

A morte é tão ruim assim? Lembro da minha infância minha avozinha contando que só poderia descansar quando a morte a acompanha-se. Talvez não é esse monstro criado, ela pode vir nos buscar como uma mãe que nos acolhe em seus braços quando estamos tristes.

Eu tenho certeza que a morte brinca se espreitando por ali, rindo das lágrimas derramadas enquanto aguarda ansiosamente pela próxima pessoa. Recosto meu corpo em uma das cadeiras perto do corpo estirado ali enquanto me perco em meus pensamentos. Todos estão aqui, nem uma pessoa faltou. A culpa me consome e estou perdido. Não consigo olhar para o corpo sem um aperto em meu peito.

"Me vejo deitado ali, não consigo me mover. Uma grande vontade de chorar passa por minha mente, mas nem uma mísera lágrima consigo expelir. Essas pessoas foram as marcas de minhas lágrimas, juntos eles se tornaram minha vida e eles são a mim. Minha mãe se aproxima e seus olhos estavam marejados e profundos. Ela fita meus olhos e ela consegue ver através de mim. Ela vê minha alma. De sua boca as palavras mais cruéis são balbuciadas:

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— Você mereceu isso! -

Em uníssono as pessoas começam a se aproximar e consigo ouvir suas vozes ecoando em minha cabeça. - Você é o culpado! - Elas repetiam inúmeras vezes, sentia minha cabeça doer e uma enorme agonia me preenchendo não consigo mover nem um músculo. Meu corpo doía e as vozes tentavam em enlouquecer."

Foi então que tudo aquilo foi quebrado e uma voz doce balbucia atrás de mim colocando sua mão gélida em meu ombro. Um calafrio percorre meu corpo, mas logo se torna em algo reconfortante e pacífico, nada daquilo havia sido real, eu estava vivo e seguro.

- Sonhando acordado novamente, Luk? -

"O carro freia, Lia grita tentando se proteger em meus braços. As luzes se aproximavam cada vez mais e sinto a morte se aproximando. Vih, está em choque e paralisado, Gavriel tenta correr até ele e quanto mais o carro se aproxima parece que ele não irá conseguir. Ele empurra Vih para fora do trajeto. Seu corpo se choca contra o chão. O motorista finalmente nos vê a quase três metros de distância, ele gira o volante com brutalidade para a direita.

O carro começa a fazer um barulho estridente e quase começa a capotar, porem sua frente se encontra com um grande corpo de concreto, um poste, o carro para com um baque estrondoso e o motorista é lançado pelo pára-brisas. O vidro se quebra com o choque do corpo a ele. Sangue espirra em todas as direções, meu rosto é tomado por sangue e Emi ainda estava nos meus braços.

Por um momento o silencio toma conta do local e minha cabeça ferve a mil. Tudo aquilo fora minha culpa, minha, eu inventei o encontro. Aquele senhor morreu por minha causa. A culpa começa a me corroer e meu coração começa a doer, minha pele suava frio e somente o calor de Emília ao meu lado me aquecia."