POV Peeta

— Obrigada por gravar essa entrevista pro canal, pai – falei, desligando a câmera. Meu pai havia respondido supostamente o que teria feito se Katniss e eu estivéssemos grávidos. Os outros haviam feito o mesmo com seus pais, só que no meu caso e no de Katniss, o público ainda não sabia que íamos ter um bebê, então a entrevista teve que ser baseada em uma possibilidade. E se eu e Katniss tivéssemos um bebê? Você apóia nosso relacionamento?

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— Não foi nada, filho. – Ele suspirou, hesitante em falar alguma coisa. Olhei para ele confuso, esperando que falasse e ele me lançou um olhar duvidoso. – Peeta, senta aí no sofá.

Eu já sabia que ele queria conversar comigo sobre algo sério. Meu pai era da baderna, da bebedeira, então quando ele queria ser sério era porque ou era uma brincadeira ou algo muito importante, tipo casos de vida ou morte.

— Durante a entrevista, você me perguntou se eu aprovava você e Katniss juntos e eu disse que sim, e blá-blá… Mas eu não sei se isso é verdade.

— Como assim, pai? Pensei que já tivesse se acostumado com isso.

Ele suspirou de novo e esfregou a mão na cara, imaginando um jeito mais fácil de dizer isto:

— Ela poderia viver mil vidas e não te merecer filho. Não que eu não ame minha sobrinha, é só que… a Katniss já foi muito…

Flashback On

— Eu achei ela! Ela tá aqui, tio Cinna!

Minha prima caída no chão, rindo, parecia se divertir com meu desespero.

— Cara, eu disse que levava ela pra casa… nem precisava vocês terem vindo aqui – Gale disse.

— Não precisava? – vociferei. – Ela sai de casa sem avisar, não atende o celular e fica até três da manhã numa festa, alcoolizada e drogada? O que você deu pra ela, Gale?

Ele riu e me olhou com os olhos cinzentos vacilantes devido ao efeito de alguma droga.

— Eu não dei nada, Peeta – ele balbuciava. – Ela que arranjou uns bagulhos aí… quando vi, estava beijando várias pessoas ao mesmo tempo e logo em seguida vomitou e saiu cambaleando por aí.

— Katniss? – minha tia apareceu, seguida do meu tio. – Meu Deus, Katniss!

— Ela tá drogada e bêbada, é melhor ir pro hospital pra tirar essas porcarias do sangue dela.

Flashback Off

— Ela mudou, pai – afirmei. – E eu a amo.

— Bem, se você diz… – Ele deu de ombros e deu dois tapas nas minhas costas.

Fiquei na sala até Katniss chegar, coisa que ela disse há algumas horas que ia fazer. Aproveitei para checar as redes sociais enquanto isso, postar algumas fotos, editar uns vídeos e mandar tudo para Madge enviar para o Youtube. Algumas pessoas diziam que achavam que Katniss estava grávida por terem ouvido falar ou por causa das roupas largas, mas isso era minoria e o resto dos nossos seguidores dizia que era tabu.

— Oi, Borboletinha – falei quando ela entrou na sala, sentando ao meu lado e dando um beijo na minha bochecha. – O que acha de fazermos um vídeo ao vivo?

— Ah, eu topo, mas depois a gente vai lá pra cima… – Ela deu um sorriso malicioso que eu retribui com bom-grado.

Cliquei no modo de transmissão ao vivo e notei que várias pessoas já começavam a assistir. Postei nas redes sociais que estávamos gravando um vídeo e elas começaram a correr para perguntar coisas nos comentários e enviar recadinhos.

— Oi, Twill, obrigada pela pergunta , beijo pra você – Katniss disse, beijando a mão e assoprando em direção à câmera. – Peeta e eu crescemos juntos como irmãos, praticamente, então era um pouco complicado isso de se relacionar, mas não é tão estranho porque nós dois sentimos atração e ambos estamos apaixonados. Não conseguimos mais nos ver como primos, não em todos os momentos.

— Sim, Bonnie, a Katniss tem só uma irmã, a Prim. Eu não tenho nenhum, mas nós dois vamos tentar fazê-la não seguir os mesmos caminhos que seguimos. Acho que servimos de lição para ela não cometer o mesmo erro. E, não, nosso filho não é um erro. É um acerto feito na hora errada e nós não vamos deixar de amá-lo por causa disso, mas seria mais adequado termos esperado mais alguns anos.

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Depois de uma meia hora, acabamos com o vídeo e deixamos muitos fãs felizes. Tínhamos até um fandom!

— Quer subir agora, é? – perguntei.

— Aham…

Ela foi na frente, enquanto eu guardava o notebook no escritório e pegava alguns petiscos na cozinha, onde minha mãe fazia as contas da padaria.

— Oi, filho. Katniss está aqui?

— Lá em cima – falei, dando um beijo na cabeça de minha mãe.

Assim que entrei no meu quarto azul com marrom, vi a coisa mais linda na minha cama, segurando meu violão. Sorri abobalhado com a imagem.

It's you, it's you, it's all for you (é você, é você, é tudo pra você)

Everything I do, I tell you all the time (tudo o que eu faço, eu te digo o tempo todo)

Heaven is a place on earth with you (o paraíso é um lugar na Terra com você)

Tell me all the things you want to do (me diga as coisas que você quer fazer)

Sentei ao lado dela, observando seus dedos delicados acariciarem as cordas do meu violão, tocando as notas que eu havia ensinado a ela desde a infância. A diferença era que ela cantava mil vezes melhor que eu, e isso compensava a minha melhor habilidade no instrumento. A Barriga incomodava um pouco, pois afastava o violão de seus braços, mas ela parecia estar fazendo tudo bem direitinho.

I heard that you like the bad girls (ouvi dizer que voce gosta das meninas más)

Honey, is that true? (querido, isso é verdade?)

Ela cantou isso com um sorriso provocador tão intenso que eu não pude fazer outra coisa além de tirar o violão dos braços dela e jogá-lo no chão apenas para conseguir alcançar seus lábios com os meus, içá-los e puxá-los em um beijo maravilhado pela declaração musical de minha namorada. Eu sabia que ela estava aperreada com as coisas da escola, com as provas finais e, portanto, se esforçando muito para passar para a segunda série. Ela precisava relaxar um pouco e isso era uma coisa que eu podia fazer bem, muito bem. Nenhuma barriga ia me empatar.

∞ 9 meses ∞

POV Katniss

O cheiro do meu xampu de camomila era mais do que reconfortante. Bem, eu já havia passado para a segunda série do ensino médio e isso era um alívio, mesmo que tenha sido raspando. Eu estava mais do que de boa na lagoa, sossegada na mata, suave na nave… até eu sentir algo estranho e quente na banheira.

Coloquei o celular em cima da tampa da privada para olhar bem e ver a água imutável. Parecia… parecia que eu havia mijado ali, mas eu… eu não sei. Eu saberia se tivesse mijado, não? Estava tudo igual, da mesma cor, mas eu de repente senti uma pressão nas costas, uma pressão forte.

— Mãe? – gritei. – Mãe, estou sentindo aquela pressão de novo!

Minha mãe apareceu esbaforida na porta do banheiro.

— Eu acho que é uma contração, filha, só pode ser…

— Minha bolsa estourou, eu tenho quase certeza disso. Estou tomando banho no meu líquido amniótico.

Minha mãe arregalou os olhos.

— Eu vou chamar o seu primo.

— O quê? Vai me deixar morrer nessa banheira, mãe? Eu… eu não posso estar parindo! Eu vou morrer mãe, vai sair um bebê de dentro de mim! – comecei a me desesperar. – Isso é insanidade, mamã, volta aqui!

— Katniss, se concentre em se vestir, depois você morre – ela gritou lá de baixo.

Saí da banheira em choque, secando meu corpo bolífero com a toalha de maneira frenética e trêmula. Fui ao quarto e peguei da minha Gaveta-Maternidade a minha roupa destinada a usar no dia do nascimento e me vesti com dificuldade. Ao tentar pegar as bolsas já arrumadas, minha e do bebê, senti outra pressão e caí sentada na cama, respirando fundo e tentando controlar a dor, que até então estava suportável.

Peeta e minha mãe chegaram bem na hora.

— Avisei seu pai e os seus tios, eles vão assim que puderem. Peeta ligou para seus amigos durante o trajeto e… Katniss, respire, está tudo bem! – minha mãe disse, abraçando sua filha desesperada.

Peeta pegou as bolsas para mim com uma cara amedrontada e feliz. Prim veio logo atrás ver o que acontecia.

— Katniss vai ter o bebê?

Minha mãe assentiu enquanto Peeta me ajudava a levantar.

— Eu vou junto?

— Não, Prim, você vai ficar na casa da Rue. Quando o bebê nascer, te pegamos lá para você ir conhecer seu sobrinho – mamãe respondeu.

— Ué, por que não posso ir?

— Porque vai demorar horas, Prim – Peeta disse, passando comigo pela porta. Meus cabelos pingavam no carpete. – E o hospital não é um bom lugar pra você, é cheio de gente doente.

Eu fui examinada, tocada, penetrada por mãos e furada mil e uma vezes (minhas veias adoravam explodir na cara das enfermeiras, que ficavam toda ensanguentadas). Minha dilatação ainda era pequena e minha pressão estava alta, mas controlável. Minhas contrações estavam ficando mais constantes e eu implorei por morfina. Infelizmente, me deram no exato momento em que meus amigos chegaram.

— Desculpa a demora, Kat, tivemos que deixar os bebês com nossos avós e vizinhos – Finnick disse, guardando a chave do carro no bolso de sua calça enquanto Madge filmava tudo.

— Peeta – Clove disse –, por que você está com um tênis laranja e outro roxo?

Meu namorado olhou para seus pés surpreso.

— Acho que foi a pressa – ele respondeu.

— E a camisa está ao contrário e pelo avesso – Cato notificou, rindo.

— Marvel – falei meio grogue. – Quer fazer essa sua orelha parar de se mover, por favor? Ela está tentando me seduzir.

— Não tem nenhuma orelha se movendo aqui, Kat – Glimmer disse.

Madge veio até mim com a câmera.

— Isso, gente, são os efeitos da morfina.

Mais tarde, quando cutucaram minha vagina o suficiente para perceber que minha dilatação estava bem maior, suspenderam a morfina e me deram a peridural, e só então comecei a ficar mais sóbria.

— Mãe, pai! Eu… eu estou parindo! Tio Haymitch e tia Effie, eu vou parir, minha gente! Eu vou parir! – Comecei a chorar.

— Katniss, se acalme! – pediram.

— Eu não posso fazer isso, eu estou com medo, eu não quero que ele saia daqui de dentro. Está tão bom com ele aqui…

Não parecia real. Não parecia que ele ia sair dali. Estava indo tudo rápido demais, mesmo com horas se passando.

Madge filmava tudo. Os outros estavam lá fora e foi requisitado que apenas o pai e a mãe ficassem ali dentro, mas a doutora Coin permitiu que Madge gravasse, porque era fã do nosso canal e iria adorar ver a reação do fandom quando visse que eu havia parido.

— Katniss, diga olá para nossos seguidores. Você está num vídeo chamado “parto surpresa”.

— Vai se foder, Madge! – vociferei, gritando. – Essa peridural vai fazer efeito quando?

Doutora Coin checou minhas contrações no monitor por um momento antes de me informar a maior desgraça do dia.

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— Katniss, eu sinto muito dizer isso, mas a epidural não faz efeito em algumas pessoas.

— E você só me diz isso agora? – gritei, sentindo a dor da contração me esmagar por dentro, me dilacerar. Pensei que fosse morrer naquele instante. – Meu Deus do céu! Peeta, eu vou matar você e seus espermatozóides ambiciosos por óvulos! É sério, vem aqui, eu preciso esganar alguém. Essa dor… AAAH! Peeta, seu desgraçado, quem dera você ter um útero. Eu dava um jeito de entrar em você e fazer você me parir pra ver o quão doloroso isso aqui é.

A única coisa que ele fez enquanto eu chorava e gritava foi apertar a minha mão e gritar junto comigo, que apertava aquele conjunto de ossos, músculos e cartilagens com força total. Minha mãe apenas tocava meu braço enquanto olhava entre minhas duas pernas arreganhadas para o lado, escancaradas para a vista do mundo, da médica e das enfermeiras. Os micróbios do ar deviam estar dizendo olha, uma vagina dilatada por dentro, vamos dar uma olhada lá?

— Não toca em mim, porra! – vociferei. – Eu estou sentindo dor aqui! Me larga, mãe, isso irrita!

Madge com a câmera nas minhas ventas se deu mal quando fiz força pela primeira vez, porque eu me inclinei para frente e taquei a cabeça na câmera, considerando que a filmagem dela ficaria podre por causa disso. Mas, falando sério, era a pior dor que eu já havia sentido na via e a última coisa que eu queria era ser tocada e perturbada!

Depois de trinta e nove empurradas, a doutora pôde dizer:

— A cabeça já está aqui, Katniss!

Peeta largou a minha mão um segundo para ir ver e voltou chorando.

— É loiro, Katniss, e bem cabeludo.

— Mais um empurrão, filha! Força, falta só mais um ou dois.

Eu estava fraca, sem forças e muito, mas muito cansada; entretanto, quando me deparei com a possibilidade de ter meu filho em meus braços isso já não mais importava. Eu estava com medo, assustada, mas extrema e infinitamente feliz. Então eu fiz, eu empurrei com toda a força que eu podia empurrar e de uma só vez eu senti ele deslizar para fora do meu corpo. Foi questão de segundos até eu escutar o choro dele e ele ser depositado em cima de mim, sendo limpo e enxugado em cima do meu tórax pelas enfermeiras. Era um emaranhado de panos muito grande para eu conseguir vê-lo com clareza, mas, assim que consegui enxergar seu rostinho de anjo, meus olhos viraram água e eu já não era mais Katniss Everdeen, uma garota de quinze anos que era mãe. Eu era apenas mãe naquele momento, independente da idade. Única e esplendorosamente mãe, sem distinção.

Levaram ele para ser limpo e Peeta acompanhou tudo com a câmera. Até Madge e minha mãe choravam.

— Eu mesmo que fiz essa coisinha? – perguntei para minha mãe. – Eu que gerei esse pingo de gente tão perfeito? Como eu pude fazer algo tão extraordinário, mãe?

— Fazendo, filha. Pessoas extraordinárias fazem coisas extraordinárias.

Então ele veio até mim, todo empacotado e com um gorrinho na cabeça, os olhos querendo abrir. Suas bochechas eram enormes e ele era muito pesado, muito gordinho, o bebê mais lindo e perfeito que eu já havia visto. O contorno do seu rosto, seu narizinho… eu havia mesmo feito ele? Aquela coisinha sossegada e amável, pura?

— Bem-vindo, Noah – falei, fungando e olhando para Peeta com orgulho. Ele chorava também e acabou me dando um beijo. Eu estava tão extasiada olhando nosso filho que nem havia percebido que ainda cutucavam em mim. – É, o nome cai bem. Significa descanso.

— Por que cai bem? Bebês não dão trabalho? – perguntou Madge novamente com a câmera.

— Porque foi o que eu senti quando o vi, me senti em paz. E mesmo que nossa vida venha a ser bagunçada e maluca, eu sei que quando olhar pra ele vou me sentir sossegada, descansada. Pelo menos mentalmente.

Então a enfermeira o acomodou facilmente nos meus braços sem experiência nem jeito e fez com que ele pegasse meu peito. Demorou uns cinco minutos, mas, quando ele descobriu como se fazia, não parou de sugar leite.

— Seu bebê nasceu bem grandinho, Katniss – Coin começou a dizer. – Quatro quilos e duzentos gramas, 51 centímetros e saudável como um touro.

– Tia, pode doar aquelas roupinhas de recém-nascido – Peeta disse. – Nosso filho já vai ter que usar roupas de rapaz crescido.

Minha mãe riu e acariciou a cabecinha do neto.

— Bem, acho que eu vou ir editar o vídeo com os outros. Eles devem estar na lanchonete, pra variar – Madge desligou a câmera e se despediu de Noah com um beijinho assoprado.

Lição do dia 12 de junho: ♥