POV Peeta

— Peeta, essa está linda! Olha essas colunas! – Annie disse, toda apaixonada por arquitetura.

Clove alisou as paredes, as encostou em sua bochecha e ainda esfregou Tyler em uma delas, literalmente esfregou Tyler na parede, de cima pra baixo, e depois o soltou no chão pra brincar com Noah.

— Dois andares, três quartos, um escritório, sala de jantar, sala de estar, cozinha, três banheiros… e ainda tem lareira – Glimmer disse. – Eu escolheria essa. O que acha Katniss?

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— Ahn… oi? – minha namorada voltou à órbita.

— Tava dando um rolé em Marte, Borboletinha? – perguntei, indo abraçá-la.

Ela riu e aceitou meu abraço.

— Eu estou meio distraída, mas essa é sem dúvida a que eu mais gostei até agora.

— Essa é a última, jumenta – Madge interveio.

— Então já está decidido! – Katniss sorriu.

— Bem, então acho que agora devemos ir procurar os móveis – afirmei.

Madge pegou Noah no colo e roubou sua bolsa de bebê dos meus braços.

— Vão, eu fico com ele. Basta me darem uma carona pra casa. Minha mãe vai adorar babar esse gostoso.

Eu e Katniss agradecemos e fomos ver uns móveis, tipo sofás, mesas e cadeiras, bem como material de cozinha. Nosso orçamento dava muito bem para comprar a casa, os móveis e ainda contribuir com a sorveteria (já em construção), graças às entrevistas que dávamos.

Fomos fotografados por paparazzi enquanto fazíamos nossa pesquisa e até acenamos para a câmera, fazendo careta. Fomos flagrados com flashes enquanto filmávamos nosso vlog também.

Depois de algumas coisas compradas e muitas telefonadas e enviadas de foto para nossas mães – para perguntar sobre os melhores móveis –, Madge nos ligou desesperada.

— Cadê o Noah, Madge? – fiquei tensa.

— Ah, ele tá comendo biscoito com leite e tá muito bem, viu? Tá brincando com a minha mãe também, mas não é isso que eu quero falar.

— O que é então, bacalhau?

— Tribufu, o H&M foi chamado pra fazer um teste pra ver se somos qualificados pra atuarmos em filmes. Os que passarem vão ser ofertados pra fazer um filme do lado de atores famosos! Tapete vermelho, aí vamos nós!

— Tá brincando? Eu de atriz? Será que rola? Não sei não, Madge…

— Você tem que tentar, né? Bem… a gente tem que ir pra LA no fim de semana e nossos testes serão exclusivos. E eu ainda fiz a genialidade de agendar entrevistas ao vivo porque, mana, isso dá dinheiro!

— Tá, eu topo, mas viajar com criança é complicado, Mad.

Ela desligou feliz da vida e Peeta e eu voltamos para casa já com alguns móveis. Enquanto levantávamos uma mesa, Gale brotou no ambiente que nem um pé de feijão e nos ajudou a passar aquela pernuda pela porta. Peeta revirou os olhos sorrateiramente com a presença dele.

— O que faz aqui? – perguntei, dando-lhe um abraço.

— Katniss, eu… eu preciso falar com você… a sós, se Peeta permitir.

Meu namorado levantou os braços em rendição e foi pra cozinha desempacotar algumas coisas.

— Sei que está de mudança e que sua cabeça deve estar cheia, mas Cashmere pagou um teste de DNA com resultado mais rápido e já saiu o meu veredito.

— E então? – Cruzei os braços e ele me entregou um envelope. – Não tem coragem de abrir, né?

Ele balançou a cabeça e parou minhas mãos ávidas com as dele.

— Primeiro, Katniss, antes de você abrir… me diz o que eu devo fazer se… se eu for o pai dessa criança.

Eu suspirei e praguejei isto:

— Sempre eu que tenho que dizer isso, produção? Só o meu roteiro é original?

— Disse alguma coisa?

— Só pensando alto. – Sacudi a cabeça pra afastar a loucura. – Bem, meu amigo, acho que a primeira coisa que você deve fazer é ir falar com Cashmere pra vocês decidirem quem vai cuidar dessa criança ou o que vão fazer com ela, porque adoção também existe, sabe? Segundo, você vai contar pra Madge que vai ser pai e vai se ajoelhar até ela te perdoar por ter dormido com Cashmere. Depois, quando ela parar de te bater e você já estiver quase morrendo, diga a ela o quanto a ama, beije-a como louca e explique que você ainda vai ser atencioso com ela. Quando ela chorar, dê chocolate quente e não ouse olhar fixamente pro nariz dela.

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Ele assentiu absorto e confuso e eu abri o envelope, gelando ao ver o que tinha escrito ali.

— Balões coloridos ou um traje executivo?

Eu fechei o papel e olhei fixamente para ele por alguns segundos.

— Bem-vindo ao H&M.

Com dois tapinhas no ombro, deixei-o segurando a sua sentença de estilo de vida e voltei a arrumar minhas coisas.

— E… e agora?

— Ou você surta ou faz o que eu já disse.

POV Peeta

— Você viu o tanto de brinquedo que Noah ganhou no Natal? Muitos foram de fãs… nem sei onde guardar tudo, Jesus amado… E ainda temos que terminar de ler a papelada da sorveteria… e arrumar o resto das coisas da mudança… humpf.

Ela lavou o último prato e eu aproveitei para enroscá-la pela cintura com meus braços. Ela respirou fundo e, de repente, desvencilhou de mim com um gesto abrupto. Vomitou diretamente na pia e eu tive de segurar seu cabelo.

— Eu fico preocupado? – perguntei.

— Não – ela respondeu. – Bem… depende. Por que não vai ver se esquecemos de alimentar os peixes do aquário enquanto eu tomo um banho? Pode me esperar na cama.

— Pelado?

Ela me deu um tapa no ombro e riu.

— Talvez. Seminu, ok?

Eu assenti e lá ia ela. Depois de tirar dois peixes mortos do aquário e alimentar os três remanescentes, verifiquei se Noah ainda dormia em seu quarto e fui para o meu, já começando a tirar a roupa.

Minha futura noiva estava com os braços apoiados na pia.

— Tá fazendo o quê, amor?

— Esperando – disse ela.

— Pelo que, exatamente?

Ela pigarreou.

— Pra te dizer que nós teremos que dar mais entrevistas para bancarmos mais uma boquinha pra comer.

Ela se virou com um teste de gravidez na mão e um sorrisinho maroto.

— Positivo, e eu estou sorrindo pra não chorar.

— Positivo? Isso é loucura, caramba! Mas… é ótimo, Katniss! Isso é ótimo! Vamos ter outro filho!

— Eu tenho dezessete, não era pra ter filho algum, imagine dois! – ela debateu, toda séria, mas não conseguiu esconder o espontâneo sorriso. – Tá, é ótimo, é maravilhoso, mas vai dar trabalho. Você terá uma namorada frustrada, descabelada e doida.

Agarrei-a com firmeza e ela me olhou surpresa.

— Acho que posso aguentar.

— Peeta, sério… acho que vou precisar de ajuda – ela disse, querendo sair do meu abraço. – Não uma babá, mas pelo menos uma faxineira que vem umas duas vezes por semana, sei lá…

— Tudo bem. A gente vai dar um jeito, agora vem cá que eu quero comemorar.

— Tá certo, tem razão. – E ela começou a me beijar de maneira audaciosa. Minha garota estava em chamas. Esperava eu que não estivesse queimando nosso futuro filho.

POV Katniss

— Você pintou o cabelo? Aquela tinta de gestantes presta mesmo? – Madge perguntou, bagunçando meus fios agora loiros. Ela era a única que já sabia da gravidez, além de mim e Peeta. – Por que fez isso, sua louca?

Eu comecei a rir.

— Por quê? Porque a louca da agente que você contratou para nós pediu que eu o fizesse, mas eu até gostei… caiu bem.

— Tudo bem, Lavignia é bem profissional, tá? Mas não precisa fazer tudo que ela manda. Eu a contratei porque… porque é muito pra uma pessoa só e muitos produtores não me levam à sério. E agora vocês vão fazer um filme, provavelmente, as coisas vão ferver. Aliás, meu ouvido vai já se desintegrar de tanto atender telefone pra vocês.

Eu suspirei pesado e olhei a data no calendário do celular. Em três dias seria Ano Novo.

Voo 247, última chamada.

Agarrei Noah em meu colo e deixei que Peeta levasse minha bagagem de mão.

— Tapete vermelho aí vamos nós, Noah.

Foi o primeiro dia que andei de limusine. Quando chegamos na agência da gravadora, seguranças seguravam os fãs e fotógrafos estavam nos esperando. Eu fui o mais simpática possível, é claro, e nós fomos muito bem recebidos lá dentro.

— Muito bem, Clove, você primeiro – disse o diretor da agência. – Vamos fazer o seu teste.

Enquanto isso, eu e Peeta tentávamos fazer Noah comer.

— Noah, vamos, tem que comer. Está uma delícia… Humm…

Ele virava a cara para a colher.

— Olha o aviãozinho, Noah! – tentei e Peeta fez o favor de fazer o barulho de aviãozinho.

Nem isso funcionava.

— Glimmer, me dá aquele seu Kit Kat – falou Marvel.

Ele deu uma das gêmeas para uma ocupada Madge (cheia de papelada) e veio com um pedaço de Kit Kat para Noah. Ele abriu um bocão para receber o chocolate, mas era apenas ilusão. Marvel substituiu de última hora o Kit Kat pela papinha de cenoura e Noah comeu a colher inteira. Acho que ele viu que estava bom e continuou comendo.

— Graças a Deus. Obrigada, Marvel.

Ele deu um beijo na testa de Noah e foi falar com Cato sobre Los Angeles.

Fomos chamados respectivamente para o screen test. Cada um voltava sem resposta, apreensivo, e eu estava começando a ficar com medo.

— Muito bem, Katniss, aqui o seu roteiro. Você pode ficar lendo ele. Já teve alguma experiência com atuação?

— Peça da escola conta? Eu fui a Rapunzel uma vez. Peeta foi meu príncipe. – Ele riu. – Gosto de atuar, só nunca levei muito a sério.

— Bem, agora vai levar. – E sorriu.

Me posicionei para a câmera e uma mulher contracenou comigo. Fiz o melhor que pude, sem ser exagerada nem bruta. Natural é a palavra. Tentei ser natural. Meu coração batia forte no peito e, assim que acabou, o diretor bateu palmas.

Eu corei imediatamente.

— Meu Deus, Katniss! Você arrasou! Vai pegar o papel principal, com certeza.

Eu saí de lá toda feliz e foi a vez de Peeta. O processo das audições durou exatos dois dias e nós voltaríamos no dia no Ano Novo. Precisavam fazer vários e vários testes, várias escalas.

Quando todos terminamos, fomos reunidos numa salinha de reunião para recebermos o veredito.

— Muito bem, H&M, os qualificados para essa produção em específico são: Katniss, Peeta, Finnick e Glimmer.

Eu bati palminhas que nem uma foca nessa hora.

— O resto de vocês têm potencial, mas ele precisa ser aprimorado e nós nos disponibilizamos a dar aulas de atuação para vocês, se quiserem esse ramo. Bem… Madge, você também foi escalada.

— Oi? Hein? Mas meu teste foi podre, moço.

Ele riu descontraidamente da reação dela.

— Você será a segunda produtora do filme, vai ver coisas como cenário, vestimentas e maquiagem… Faz um bom trabalho agendando tudo para esse grupo, é uma mulher que faz.

Ela ficou ereta, toda orgulhosa do elogio. Mulher.

— Ai, chefinho, eu vou dar o meu máximo.

— Ei, mas espera… Katniss e Peeta compraram uma casa e nossa sorveteria no Colorado – Finnick falou. – Nós estávamos nos programando para comprar um carro e…

— Terão que deixar tudo para trás, meninos – Lavignia disse. – Terão que se mudar para LA. Vale a pena, sabia? Vocês vão ganhar milhões por cada filme que fizerem.

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— Hum… tipo… quantos milhões? – Glimmer murmurou descontraidamente, como se não fosse uma pergunta indelicada.

— Se o lucro for o que pensamos que será, uns 10 milhões. Imaginem quando todos vocês fizerem os filmes, hein? E os pequenos podem participar também.

Então ele pegou uns papéis para lermos e assinarmos com calma depois e começou a explicar o filme:

— Vocês têm que manter sigilo da história, beleza? Tem tudo no contrato. Se falarem, serão processados. O resto do grupo pode ouvir, mas terão que ficar de bico fechado sobre o enredo. É o seguinte: a história se passa em Atlanta e nós vamos gravar algumas semanas lá. O filme conta sobre a vida de uma adolescente cujos pais morrem e a tia a abandona. Os amigos dela tentam ajudá-la a despistar a assistente social enquanto procuram pela tia. Todos pensam que ela abandonou a sobrinha, mas era só parte de um experimento governamental para saber como a adolescente se portaria em uma situação dessas. Durante o processo, o personagem de Katniss é apaixonada pelo de Peeta, mas ele é pelo de Glimmer. Finnick gosta de Katniss e tudo é uma confusão só, mas no fim tudo dá certo e os pares vão se ajustar com a realidade. Vocês só terão que se beijar mutuamente, tudo bem?

Peeta e eu nos entreolhamos e ele sorriu.

— Não, tudo bem, somos amigos. Vai ser estranho, mas dá pra encarar. – Ele respondeu.

— Ei, não é tão ruim assim me beijar, viu? – Finnick fez biquinho. – Katniss, conto com você para escovar os dentes.

— Haha, gracinha! – brinquei, toda irônica. – Não sou eu que tem bafo de onça crônico.

Nós rimos e o diretor disse:

— Que bom, ótimo que vocês levam isso de boa. É importante.

Peeta segurou minha mão e me sussurrou um “vai dar tudo certo”.

— E quanto a nossa casa, tio? – Clove perguntou, ajeitando o gorducho do Tyler no colo.

— A gravação durará apenas três meses, mas vocês vão morar em uma mansão em Hollywood. Nós vamos dar a vocês.

Suponho que nossas gargantas estavam travadas demais para agirmos, nos mexermos ou agíssemos. Eu estava pirando por dentro, mas congelada por fora. Então Madge começou a gritar e a baderna teve seu início.

— Meu Deus, June… opa, Maybell! Nós vamos morar em Hollywood! Quero muito topar com Leo DiCaprio – Glimmer delirou.

Madge pulava, literalmente, mas ao mesmo tempo chorava por causa de Gale.

Eu e Peeta nos entreolhamos e rimos que nem dois malucos.

— Pessoal – o diretor começava a rir –, antes eu preciso falar com os pais de vocês porque precisamos que sejam emancipados para morarem longe deles e terem responsabilidade pelas decisões de contrato, tudo bem?

— Tudo maravilhoso, tio! – Clove o abraçou.

Ele achou estranho, mas retribuiu.

— Agora, minha gente, partiu Malibu! Peguem seus trajes de banho – Finnick saiu saltitando que nem uma gazela.

— Ai, sua besta, espera! – Peeta foi atrás, fazendo o mesmo.

Dessa até Noah riu.

— Ei, por que vocês não escolheram atores de verdade? – perguntei. – Por que quis ter o trabalho de fazer aquela pilha de testes com a gente?

— Vocês prometem. O futuro de vocês promete brilhar em Hollywood. Isso gera lucro.

— Entendi… e pra isso temos que largar tudo que temos em Denver... isso já está cristalino para mim.

Lição do dia: não se precipite. Tudo pode mudar.