Alguns dias depois do ocorrido em que revi o corpo desfigurado de meu pai (não vou dizer que não gostei), eu e Foxy estávamos sentados num canto qualquer, encostados na parede, relembrando os velhos tempos, quando Freddy apareceu rindo como se alguém tivesse contado uma piada muito boa. Foxy ficou surpreso: risos eram uma coisa um pouco rara por ali.

–Freddy... por que, exatamente, você está gargalhando? - ele perguntou, confuso.

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–Foxy, meu amigo! - Freddy exclamou. -Você não sabe quem está de volta! Reconhece o nome Mike Schmidt?

–Quem é Mike Schmidt? - puxei levemente os cabelos ruivos de Foxy para chamar sua atenção, mas não funcionou.

–Você está brincando! - ele disse para Freddy. Se levantou e foi até ele. Os dois deram as mãos e começaram a fazer uma dança estranha, gargalhando, parabenizando um ao outro e girando loucamente em círculos irregulares. Para não me sentir excluída, entrei na roda e comecei a dançar e rir também, participando da ciranda maluca sem saber por que.

Quando os dois se acalmaram e caíram no chão, com as mãos na barriga e ainda rindo, eu disse:

–Não faço a mínima ideia do que está acontecendo aqui. Alguém me situa, por favor?

Freddy se levantou, mas Foxy continuou no chão.

–Mike Schmidt é ninguém menos que o guarda noturno que trabalhou na nova pizzaria, alguns meses depois que você foi embora. - explicou Freddy. - Encontrei seu currículo na mesa do Escritório. Nós pretendíamos matá-lo aquela época, mas ele conseguiu nos evitar em todas as noites em que esteve aqui. O problema é que não poderemos matá-lo quando ele vier trabalhar aqui.

–Não custa tentar - ponderou Foxy.

Ficamos alguns segundos em silêncio.

–Bem, amigos - disse Freddy - vou voltar para o Palco. Sinto muito atrapalhá-los - ele disse com uma piscadela e um sorriso maroto, atravessando a parede.

A sala ficou absurdamente silenciosa.

–Bem - comecei - o que você acha que podemos fazer com o guar--

Fui interrompida quando suas duas mãos agarraram minha cintura, me fazendo soltar um grito agudo. Caí no chão, bem ao lado do Foxy, que me olhava de uma maneira carinhosa. Enrubesci violentamente.

Foxy me puxou para mais perto, sorrindo, e me abraçou com cuidado, como se eu pudesse me quebrar como vidro. Corada, mas me sentindo extremamente confortável e contente, me aconcheguei. Ali era meu lugar, nos braços de Foxy, onde eu me sentia amada e cheia de vida. Passamos horas assim, no chão, abraçados.

–x-

Eu não sabia que era possível dormir quando se é um fantasma, mas parece que sim. Acordei com a cabeça sobre o peito de Foxy, um braço seu em minhas costas e o outro debaixo da cabeça. Ele não deixara de me abraçar durante um segundo sequer.

Observei seu lindo rosto. Ele dormia profundamente. Tracei com a ponta dos dedos o contorno de sua boca e suas sobrancelhas. Ele se mexeu levemente. Sorri, tentando me levantar cuidadosamente para não acordá-lo, mas ele me segurou.

–Fiquei mais de trinta anos sem te ver, Mangle. Acho que eu mereço isso - ele sorriu, abrindo os faiscantes olhos dourados. Recostei-me nele novamente. Foxy levou sua mão até meus cabelos e começou a acariciá-los, fechando os olhos novamente.

Uma cabeça loira surgiu na porta. Foxy não percebeu, mas Chica quase entrou na sala, parando abruptamente ao ver a cena. Abriu a boca em um gritinho mudo. Bonnie apareceu atrás dela, e a loira não conseguiu impedir que ele visse eu e Foxy abraçados daquela maneira.

Ele abriu a boca para fazer um comentário, mas Chica, na ponta dos pés, selou seus lábios beijando-o, tomando o maior cuidado para não fazer barulho algum. Depois que eles se separaram, Bonnie a fitou boquiaberto, vermelho como um tomate. Chica empurrou-o levemente corredor afora e lançou-me um olhar de cumplicidade antes de sair dali. Eu agradeci sorrindo e olhando para ela com gratidão estampada no rosto. Eles saíram, deixando eu e Foxy a sós.

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Alguns minutos depois, Foxy disse:

–Nunca me senti tão vivo e satisfeito.

–Vamos ver quando conseguirmos caçar o tal Mike Schmidt - ri.

–Sou um caçador nato, Mangle. - ele sorriu mostrando os dentes brancos.

–Ah, é? - desafiei. - Vamos ver se consegue me caçar.- Levantei me abruptamente e me lancei ao teto, fixando-me na estrutura cheia de goteiras.

–Eu sou mais rápido do que você pensa! - ele entrou na brincadeira, indo atrás de mim. Por fim, ele me segurou pela cintura, me levou ao chão e começou a me fazer cócegas, ao que eu tentava inutilmente fazê-lo parar.

Ainda rindo, segurei suas duas mãos com força, colocando cada uma delas na minha cintura, e enlacei meus braços no dele. Ele me olhou confuso por um segundo antes que eu o beijasse. Inicialmente, ele não expressou reação, mas logo Foxy começou a corresponder a meu beijo. Ele enterrou os dedos de uma das mãos em meus cabelos, e eu me deliciei com aquela sensação. O beijo pareceu durar apenas um segundo, ao mesmo tempo que parecia uma eternidade. Eu poderia continuar ali, com Foxy, por anos, mas fomos interrompidos por uma voz que não me era estranha vindo da porta.

–Ora, ora, ora. Parece que o casal está de volta. - Ao me virar para a fonte da voz, vi um garoto alto e esguio, usando uma blusa de mangas longas pretas que era listrada com branco no antebraço. A calça tinha o mesmo estilo. Seus cabelos pretos esvoaçavam como se tivessem vida própria, e os olhos pretos faiscantes nos olhavam como se fôssemos presas. Foxy rangeu os dentes. Surpresa e amedrontada, perguntei:

–...Puppet?