A filha dos elementos sabia que estava em problemas e que provavelmente tinha irritado Dimitrius até demais. Durante alguns minutos Gaia considerou em fugir para longe e se manter escondida na natureza para não ter que se encontrar com o arcanjo da humanidade, mas ela sabia que o anjo sempre a encontrava quando desejava isso.

Gaia estava ficando nervosa pelo o que teria que enfrentar ao chegar na mansão do homem que agora era seu marido, a imortal tinha medo de ter que encarar os olhos bestiais de Dimitrius e ver os pesadelos surgirem em sua mente novamente até que o panico tomasse conta do seu corpo.

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E a imortal queria muito se sentir arrependida por fugir da mansão como uma criminosa... Mas como ela poderia sentir culpa por se encontrar com Patrick?

Era impossivel.

A filha dos elementos optou por caminhar pelo caminho mais longo para a mansão de Dimitrius depois que atravessou o portal do inferno até a dimensão que pertencia ao arcanjo da humanidade, mas agora seus olhos já podiam ver a enorme casa escura de perto e até mesmo o rosto sereno de Cameron que segurava sua foice em suas mãos enquanto observava a lamina afiada.

Seus olhos verdes encontraram ela quando Gaia permitiu que o tenente sentisse a sua presença e um sorriso calmo surgiu em seu belo rosto depois que ela se aproximou.

— Eu nunca imaginei que alguém poderia fugir dessa mansão sem ser notada, imperatrice.— Cameron falou de forma orgulhosa.

Gaia se forçou a não revirar seus olhos, pois enquanto ela via a sua própria morte se aproximando, outros se sentiam tapiados pelos “truques” dela. E ela odiou ainda mais ser chamada de imperatrice, pois não conseguia se considerar como uma.

Gaia tinha muito o que fazer para ser digna desse titulo um dia. E ela sabia que nunca chegaria aos pés do que era Niffie e Ellylan para os seus arcanjos.

O dever de uma imperatriz era cuidar daquele que cuidava do seu povo e a imortal não tinha nenhum tipo de intimidade com Dimitrius para agir de tal forma.


— Dimitrius deseja me ver?— Gaia perguntou, torcendo para que a resposta do tenente fosse um simples “ não”.
— Sim.— O tenente a respondeu.— Maximus sentiu sua presença no inferno e o informou. Ele está a esperando e eu irei acompanhá-la até o seu enterro.— Cameron sorriu.

Gaia sorriu para o tenente de olhos verdes, ficando surpresa por se permitir sorrir para alguém que conversava pela segunda vez em sua vida.

— Você não me odeia?— A filha dos elementos se sentiu curiosa, pois a maioria dos tenentes sempre a viam como um perigo para os seus arcanjos por causa da sua função de informante. E como eles não podiam matá-la, nem ao menos tocá-la, os soldados reagiam de forma negativa quando se tratava dela.
— Eu tenho muitas pessoas para odiar antes de me preocupar com sua relação com os anciões.— Cameron falou.

Gaia imaginava que o anjo estava falando sobre a sua família que o obrigava a se casar com uma mulher escolhida por eles mesmos para que a linhagem do seu sangue venenoso continuasse vivo nos futuros herdeiros, mas ela preferiu não perguntar.

A última coisa que a natureza havia lhe contado sobre Cameron era que a família finalmente havia escolhido uma noiva para ele e nada nela o interessava.

Era uma pena, pois tudo indicava que a sua pretendente era fascinada por ele.

— Me leve até Dimitrius.— Ela pediu, decidida a não enrolar mais para encontrar a sua morte ou Gaia poderia ficar o dia todo fazendo perguntas pessoais para o tenente em sua frente, ainda mais quando o mesmo se demonstrou ser tão simpatico.

E a imortal nem ao menos se considerava sociavel para fazer tal coisa.


~ ~ ~


Depois que Gaia seguiu Cameron por quase toda a mansão, os passos do tenente diminuiram quando eles chegaram em um corredor com apenas uma porta no final do lugar. E no momento em que o cérebro dela processou de qual ambiente se tratava aquele, o corpo dela parou de obedecer os seus comando para continuar andando e respirando.

Gaia já havia vivido durante muito tempo para saber que os arcanjos sempre seguiam um mesmo padrão e um deles era ter o seu quarto afastado de todos e sem nenhum outro cômodo próximo.

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Ela não podia acreditar que Dimitrius pretendia encontrá-la em seu próprio quarto, por mais que desejasse realizar o pedido dos anciões o mais rapido possível, parecia errado estar no ambiente pessoal do arcanjo.

Além do mais, a imortal não queria ter nenhum relacionamento com Dimitrius enquanto ele desejava a sua morte por não obedecer as suas ordens.

No entanto, o que acabou sendo mais inacreditável foi a atitude de Cameron. O tenente, que caminhava em sua frente, abriu uma das portas do quarto do arcanjo da humanidade e se colocou ao lado para que Gaia entrasse, após a imortal entrar no local, Cameron fechou a porta em suas costas sem ao menos se despedir.

Ela não podia acreditar que o tenente estava a jogando para dentro do quarto do imperador da humanidade como se fosse um pedaço de carne para um leão faminto.

E no mesmo momento em que Gaia pisou dentro do cômodo, ela sentiu uma enorme escuridão dominando o ambiente e, para a sua própria surpresa, aquilo não pertencia aos pesadelos da sua alma.

Isso apenas a deixou com mais medo de Dimitrius.

A imortal deu alguns passos para que pudesse sair do hall de entrada do quarto, desejando poder se concentrar na decoração escura do lugar, mas não tendo nenhum sucesso em focar sua mente em qualquer outra coisa além do medo que começava a sufocá-la com mãos fortes ao redor do seu pescoço.

Ela caminhou até que encontrasse Dimitrius sentado em um enorme sofá negro de frente com uma lareira acessa que fazia o único barulho no quarto e como o arcanjo não a olhou, Gaia deixou que seus olhos investigasse o quarto.

O localem que Dimitrius estava formava uma pequena sala e logo atrás a cama feita para acomodar asas ocupava um grande espaço. A imortal não ficou surpresa por se deparar com uma enorme varanda no lado oposto em que ela estava, pois isso fazia parte do padrão de vida de um arcanjo.

O rápido acesso em direção do céu era uma prioridade.

Contudo, o quarto em si parecia vazio demais. Eram apenas os móveis necessários e uma cortina da cor musgo que estava fechada para que a claridade não entrasse no lugar.

A cortina foi a única cor que Gaia encontrou diferente do preto e marrom, mas como estava escuro, ela podia ser facilmente confundida com o negro se não fosse pelo fogo que clareava um pedaço dela.

Naquele momento, a imortal pode concluir que Dimitrius era totalmente o oposto daquilo que demonstrava ser. E ele havia feito um bom jogo para esconder dela a escuridão que dominava a sua alma.

Diferente dos arcanjos, Gaia não podia ver almas, mas como o espirito fazia parte dos elementos que deram vida a ela, a imortal podia sentir todos os sentimentos bons e ruins que manchavam uma alma.

Seus olhos encontraram as asas imóveis que escondiam o corpo imóvel de Dimitrius. E por um momento a filha dos elementos desejou que eles conversassem assim, pois assim ela não teria que encontrar os olhos de uma besta furiosa que traria mil pesadelos para a sua mente.

— Você pode sentar, se desejar.— A voz vazia do arcanjo surgiu em meio ao barulho das brasas que estalavam no fogo.
— Eu estou bem.— Gaia falou, imaginando que talvez fosse melhor se manter onde estava para ficar próxima da porta.

Ela nunca confiou em Dimitrius e naquele momento o arcanjo parecia estar próximo de alcançar a insanidade da sua mente.

Existia muita escuridão em sua alma e Gaia nunca se senteria segura próxima de pessoas assim.

A imortal confiou em Maximus quando o arcanjo permitiu que a escuridão dominasse sua alma, mas ela sabia que a bondade existia dentro dele.

Mas tudo ocorria diferente para o arcanjo mais novo.

Gaia não conseguia sentir a bondade em meio a escuridão.

Dimitrius estava vivendo conforme o que o bom senso comum dizia, não ao que ele realmente desejava fazer naquele momento.

E naquele instante o arcanjo da humanidade desejava a sua morte.

Quando Gaia se deu conta do que estava se passando, ela começou a se mover para sair daquele quarto sombrio, mas foi impedida quando sentiu uma mão invísivel envolver o seu braço para mantê-la onde estava.

— Eu a avisei para não me trair.— A voz de Dimitrius estava próxima, próxima até demais para alguém que desejava esganá-la. Gaia se manteve de costas para o arcanjo, tentando ignorar o aperto que existia em seu braço.

Gaia nunca havia visto um arcanjo ser tão bom em manipular o ar como Dimitrius fazia, todos os imperadores eram capazes de usar os elementos da natureza a seu favor, mas apenas em uma pequena quantia. Contudo, o anjo da humanidade parecia mandar no ar.

Nem Maximus e Meridius eram capazes de fazer isso com o fogo.

E ela esperava que não fosse morta por um elemento que existia dentro dela.

— Eu não o trai.—
— Você cheira a demônio.— A sua voz vazia foi capaz de congelar a respiração de Gaia.— E fugiu como uma criminosa.—
— Eu não fiz nada de errado.—

O som de um risso amargo surgiu entre eles e Gaia teve que controlar os seus nervos para que nada de ruim acontecesse com o seu corpo.

— Mas ainda assim teme estar próxima de mim nesse momento.—
— Você deseja me matar!— Gaia exclamou.

A imortal escutou som de passos e arriscou a olhar por cima do seu ombro quando o aperto em seu braço sumiu.

Dimitrius caminhava para longe dela, em direção da cortina fechada, mas antes que chegasse até lá, ele parou.

— Você esta certa... Eu quero matá-la.— O arcanjo da humanidade riu novamente e levou as mãos para bagunçar os seus cabelos.— Eu quero matar cada traídor que surgir em minha frente.—

Depois de ouvir as palavras atormentadas de Dimitrius, o nome de Diane surgiu na mente de Gaia e ela pode compreender pelo menos algumas coisas.

Um arcanjo podia perder sua sanidade por muito pouco e não era uma surpresa que Dimitrius estivesse sendo puxado para a escuridão por causa da traição de uma pessoa que ele tanto amava.

Imperadores viviam e sentiam muito mais do que qualquer outro imortal e depois de certo tempo, suas almas começavam a ficar doentes por causa da maldade que existia no mundo. Gaia sabia que Dimitrius ainda estava longe de perder a cabeça para a loucura, mas ele estava ainda mais próximo do que Maximus já esteve um dia.

E ninguém parecia ter percebido isso.

Claro que existiam suspeitas sobre o estado emocional do anjo, mas Dimitrius era tão astuto que conseguiu aprender como esconder tudo o que devia ser mantido longe dos olhos da sua família.

Gaia virou seu corpo e não demorou muito para que o anjo fizesse o mesmo quando ouviu o som dos seus movimentos. E a imortal não temeu depois que encontrou os olhos escuros do imperador, pois neles não existia a raiva de uma besta ou qualquer outro tipo de sentimento.

— Eu amo outro homem,— Gaia foi sincera.— Mas eu não o trai e nem penso em fazer isso.—

Por mais que a imortal desejasse estar com Patrick, rituais eram tão importantes para Gaia quanto profecias.

Ela foi ensinada a honrar e acreditar em tais coisas, não seria o amor que destruiria toda a sua crença.

A imortal realizou junto com Dimitrius o ritual que os tornava como um e não saíria daquela união até que a vontade dos anciões fosse realizada para que a antiga profecia da destruição das dimensões não ocorresse em um futuro desconhecido.

— É claro que não. Você nem ao menos sabe o que é praticar a maldade.— O arcanjo falou de maneira irônica.— O seu único papel na vida é denunciar os nossos atos para os anciões.—
— Eu não faço isso por que quero.— Gaia rebateu, mas se arrependeu no mesmo instante. Tudo o que Dimitrius menos precisava era sentir mais raiva, aquele sentimento apenas traria mais escuridão para a sua alma.
— Eu não confio em você.—

Bom, a imortal tão pouco confiava no imperador da humanidade também e ele era ciente disso.

— Você precisa de ajuda, Dimitrius.— Ela sussurrou com medo da reação que o anjo em sua frente teria por ouvir tais palavras.
— Não se intrometa em minha vida, Gaia.— A ira surgiu como uma lamina afiada em sua voz.— Quando assumi o trono, eu a avisei para não se intrometer ou a mataria.—
— Se deseja me matar, poderia ter feito isso antes de nos casar.— Ela falou.— Eu preferia morrer do que me casar, foi você quem decidiu o contrário.—
— Eu não pretendo trazer problemas para meus irmãos.—
— Então não permita que sua mente siga em direção da loucura. Você sabe que está em perigo ou não teria aprendido a esconder as manchas em sua alma até mesmo de mim.—
— Eu não preciso da sua opinião.—
— Se você se demonstrar ser uma ameaça para tudo aquilo que os criadores construíram, os anciões irão matá-lo.—

O arcanjo sorriu de maneira assustadora.

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— Você se tornaria uma viúva muito feliz, não é mesmo?— Os olhos de Dimitrius faiscaram com o desprezo.— Seria livre para estar com quem realmente ama.—
— Eu não desejo sua morte, Dimitrius.— Gaia murmuriou, se dando conta naquele momento que apesar de sempre temer o anjo, ela nunca desejou o mal para ele.
— E eu não desejo a sua, mas eu irei destruí-la se encontrar um amante. E não me importarei em matá-lo, mesmo se for um tenente dos meus irmãos.—

Gaia não duvidava da ameaça do arcanjo, ela nunca duvidava sobre nada quando a ira e o orgulho de um homem estava envolvido em um assunto. Além do mais, Dimitrius já disse no passado que podia fazer Gaia sofrer sem precisar matá-la já que não podia cometer tal ato.

— Eu não sairei mais dessa casa sem estar acompanhada de Cameron.— Gaia murmuriou com certa vontade de chorar.

Ela estava abrindo mão da sua liberdade, da sua própria vida e de Patrick por causa de um arcanjo que caminhva a beira da loucura.

E tudo por que ele não confiava nela.

Claro que Gaia não exigia isso tão rapidamente com tão pouco convivio, mas ela duvidava que o anjo fosse capaz de dividir confiança com qualquer pessoa quando o problema que transformou sua alma era exatamente isso.

No entanto, a imortal não podia permitir que um arcanjo caísse em meio da loucura.

Muitas coisas seriam perdidas, muitas pessoas morreriam.

A natureza iria se desequilibrar completamente.

E o dever de Gaia era manter o equilibrio dela.

Pelo menos durante algum tempo, até entender a mente complexa de Dimitrius, ela faria tudo o que o arcanjo desejava para mantê-lo calmo.

A filha dos elementos precisava ajudá-lo.

— Você age como uma prisoneira...— O arcanjo resmungou sem nenhuma emoção enquanto se virava em direção das portas que o levaria até a varanda do lado de fora.— Vá embora.— Dimitrius pediu.

Gaia obedeceu o anjo que governava a humanidade, mas no momento que a imortal fechou as portas em suas costas, suas pernas cederam ao peso do seu corpo. Se Cameron, que a esperava do lado de fora, não tivesse a segurado por seus braços, era provavel que a filha dos elementos encontrasse o chão.

— Você está tremendo.— Ele comentou enquanto a ajudava ficar ereta.

É claro que estava.

Depois de enfrentar a ira fria de um arcanjo com pensamentos sombrios que envolviam sua morte, Gaia estava até mesmo surpresa por não ter desmaiado diante dos olhos de Dimitrius.

Por um único segundo a filha dos elementos se sentiu feliz por ter conseguido controlar ou esquecer o ataque de panico que poderia dominar seu corpo por estar próxima daquele arcanjo.

Era uma pena que nem sempre isso acontecia.