Malditos Cromossomos

A temporada de caça às bruxas


Samuel estava deitado ao lado de Bruno. Ambos olhavam para o teto sem falar nada. O lance com a Angelina parecia incomodar Bruno, mas ele também não quis falar sobre aquilo.

— Como você está? – Perguntou Samuel.

— Piorando – Respondeu Bruno.

Os dois ficaram em silêncio por menos de um minuto, até que Samuel voltou a quebrar o silêncio entre eles.

— Sabe – disse ele – se tem uma coisa da qual não me arrependo de ter trocado de lugar com você, foi por essa cama – Bruno riu. – Cara! É sério! Seu colchão é maravilhoso!

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Meio minuto de risada se passou até que Samuel virou a cabeça no travesseiro e encarou seu sósia. Bruno também o encarou e era como se eles estivessem vendo seus reflexos num espelho.

— Então, você e o Luan... – Samuel tinha um pouco de dificuldade de tocar naquele assunto. Ele e Luan haviam tido uma história no passado, não como Bruno estava tendo no momento, mas tão intenso quanto. – Vocês se beijaram? – Perguntou por fim.

Bruno riu.

— Sim – disse ele – antes da gente transar.

— Meu Deus! – Disse Samuel forçando um tom de nojo na voz. – Você se passa por mim e vai para cama com o meu rival? – A expressão de Samuel era de choque. – Que tipo de clone você é?

— Desculpe senhor “não era um diário e sim um caderno de pensamentos” – disse Bruno rindo. – Mas não se pode fazer muita coisa quando se está apaixonado...

Depois de uma leve pausa na conversa, Samuel perguntou:

— Você se apaixonou por ele?

Bruno sorriu.

— De vagar e ferozmente – respondeu.

Samuel ficou pensativo por um instante.

— Eu não consigo ver o mesmo Luan que você vê – disse Samuel. – Eu só consigo me lembrar de todas as humilhações que ele me fez passar e na vergonha que eu senti quando ele fez o que fez comigo.

Bruno suspirou.

— Ele mudou – disse o clone. – Ele pediu desculpas pelo o que fez com você e eu senti que foi sincero. Acho que a fragilidade dele naquele momento fez com que as barreiras do meu coração se partissem.

Samuel sorriu.

— Isso é bonito – disse ele. – Mas você já parou para pensar que, talvez, ele esteja apaixonado por mim? – Aquilo pareceu confuso. – Digo, pelo Samuel e não pelo Bruno.

— Ele estava lá quando eu disse para o seu pai que eu não era você – disse Bruno. – Ele soube que éramos dois garotos diferentes e ao mesmo tempo idênticos. Quando eu expliquei para ele que eu não era você – Bruno cutucou Samuel com o braço – ele me beijou e disse que me amava... – Bruno fez uma pausa. – E então eu pude contemplar a existência do amor em meio ao caos.

Samuel sabia o que era o caos. Ele ainda acordava no meio da noite suando frio e lembrando a explosão que destruiu sua casa e, consequentemente, matou seu pai. Adair era um homem bom e por mais que eles tivessem suas divergências, não merecia ter tido o fim que teve.

O prédio foi condenado e George mexeu os pausinhos para que todos ao redor acreditassem que a explosão havia sido por um botijão de gás reserva num cômodo da casa. Ele estava ajudando Amélia a resolver a questão do seguro da loja e de tudo que envolvia advogado, papeis e burocracia.

— Se ele te faz feliz... – disse Samuel depois de um suspiro.

Bruno riu.

— Eu tinha essa lembrança dele – disse Bruno. – Ele deitado na cama e eu deitado em seu peito. Nós dois olhando para a chuva batendo na janela na penumbra do quarto. Meu rosto no pescoço dele... e eu sentia o cheiro da sua pele enquanto os dedos dele bagunçavam meu cabelo... – Bruno sorriu. – Foi como se eu não precisasse de mais nada na vida... eu estava, finalmente, completo.

Samuel levantou da cama e tirou o celular amarelo do bolso. Ele, por alguma razão, ainda usava o celular de emergência.

— Toma – disse ele entregando o celular para Bruno. – Não é tão tarde, liga para ele e marca um encontro. Eu vou te ajudar a ver ele.

Bruno sentou na cama.

— Isso é impossível – disse ele. – George deu ordens para que todos nós ficássemos aqui até irmos para um lugar seguro. – Ele encarou Samuel. – Você sabe que se a gente sair daqui há uma grande chance do original nos encontrar.

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– Bruno, havia uma bomba na minha casa! – Disse Samuel. – Você acha que se o original não quisesse ter tentado algo contra nós, ele já não teria feito?

Bruno parecia relutante.

— Você quer ver seu namorado ou não quer?

Bruno revirou os olhos.

— Ele não é meu namorado.

— Quer ou não quer? – Repetiu Samuel.

Bruno encarou os pés por dez segundos até voltar a encarar Samuel.

— Como a gente vai fazer isso? – Perguntou ele.

Samuel sorriu.

— Eu tenho um plano.

♦♦♦

— Isso não vai dar certo – disse amador dirigindo o carro para fora do condomínio onde ficava a mansão dos Dylan Cooper. – George me deu sérias ordens para que ninguém saísse do condomínio sem que ele ordenasse.

— Como eu expliquei Amador – disse Samuel – isso é muito importante e prometo que vai ser bem rápido também... George nem vai notar a nossa ausência.

O plano de Samuel era bem simples: pedir para amador levar ele e Bruno numa praça perto de onde ficava o condomínio dos Dylan Cooper para que Bruno pudesse se encontrar com Luan. Ele sabia das ordens de George sobre os funcionários da casa, mas também sabia que nenhum deles imaginava os motivos dos garotos serem idênticos. E foi abusando da curiosidade de amador que Samuel conseguiu fazer com que ele levasse os dois para a praça.

Amador estacionou o carro em frente a um prédio, quinze minutos depois de ter saído da mansão. Ao redor da praça havia uma lanchonete cheia de pessoas sentadas em mesas na calçada, lojas de roupas fechadas e o fluxo de carros típicos de um domingo à noite em Foz do Iguaçu.

— Lá está ele – disse Bruno olhando para um rapaz sentado num banco próximo a uma árvore. Samuel demorou a reconhecer Luan, ele estava diferente, mais encorpado e com a cabeça raspada.

— Não demora – disse Samuel. Bruno assentiu e saiu do carro. Samuel continuou no mesmo lugar olhando o sósia atravessar a rua e ir em direção a seu antigo rival. Os dois se abraçaram e o abraço durou tempo o suficiente para que Samuel parasse de olhar para os dois.

Amador o encarou pelo espelho retrovisor.

— Não tem nenhum outro clone precisando de ajuda, não é? – Perguntou ele.

Samuel riu.

— Não. – disse ele. – Desculpe por mentir Amador, mas isso também é importante – ele olhou para os dois de novo, que agora estavam sentados no banco, Luan de costas para o carro.

Amador ligou o rádio e uma balada pop tocava naquele momento.

— O que vai acontecer agora? – Perguntou o motorista. – Você disse que são clones e que tem alguém caçando vocês...

Samuel encarou amador pelo retrovisor.

— Eu não sei – disse ele. – Carlos deve voltar para Curitiba amanhã cedo e Alisson para o Rio de Janeiro. Já o Dan não tem ninguém, então é bem provável que ele continue com a gente até essa situação se resolver...

Amador estava prestes a fazer um comentário quando a luz do quarteirão inteiro apagou de uma única vez depois de um estrondo forte num poste de luz no final da rua.

— O que foi isso? – Perguntou Samuel. Ele olhou pelo vido do carro, mas estava escuro de mais para distinguir rostos e pessoas.

Um estrondo seguido de outro fez as pessoas da lanchonete começarem a gritar. Amador abaixou o volume do rádio e mais um estrondo forte pôde ser ouvido.

— Isso são tiros? – Perguntou amador.

— Merda – disse Samuel saindo do carro e ignorando qualquer coisa dita por Amador.

A rua estava um caos. As pessoas corriam de um lado para o outro, completamente desesperadas. Algumas crianças choravam e gritavam por seus pais. Samuel escutou outro tiro e começou a correr em direção à praça, esbarrando nas pessoas que corriam na direção contrária.

— Alguém chama a polícia pelo amor de Deus! – Gritou em desespero alguém.

— Bruno! – Gritou Samuel. Ele correu até a praça na direção onde achava que o banco ficava. – Bruno!

Uma sirene ecoou e Samuel pode ver um carro da polícia se aproximando a todo vapor. As luzes vermelhas foram se aproximando até que Samuel identificou Bruno ajoelhado no chão perto de uma árvore na extremidade oposta.

— Bruno! – Gritou Samuel correndo em direção ao garoto. Ele chegou a tropeçar algumas vezes, mas não caiu. Assim que se aproximou do clone, uma imagem não muito nítida foi se materializado aos poucos. – O que aconteceu...

Bruno estava ajoelhado com sangue nas mãos e na camiseta branca da Adidas.

— Faz parar... – disse ele numa crise de choro que não o deixava falar direito.

No chão ao lado de Bruno estava Luan com o peito ensanguentado, os olhos fechados e sem respirar, aparentemente.

—nãonãonãonãonão... – choramingou Samuel se abaixando ao lado de Luan e tentando estancar o sangue que saia do peito dele. – Uma ambulância! Alguém chama uma ambulância! – Gritou Samuel desesperado.

Um policial veio correndo na direção dele falando com alguém por algum aparelho que Samuel não conseguiu identificar. Bruno continuava ajoelhado ao lado do corpo de Luan com uma expressão de choque no rosto.

— Faz parar... – Bruno tentou dizer. – Eu não... – ele caiu no chão cuspindo sangue – respirar...

Outro policial se aproximou e tirou Samuel do lado do corpo de Luan. Uma ambulância encostou-se à contramão e chegou rapidamente naquela cena. Samuel permaneceu imóvel enquanto via Bruno sendo colocado numa maca, enquanto palavras aleatórias chegavam ao seu ouvido como “ele já está morto”.

Parecia que Samuel estava preso num pesadelo onde tudo se movia muito devagar e era assustador de mais para que ele conseguisse reagir e despertar.

A consciência de Samuel retomou como uma pancada de chuva numa tarde quente. Ele se desvencilhou das pessoas que se acumulavam ao redor e correu até ao carro onde encontrou Amador caído na calçada com a cara toda ensanguentada.

— Amador! – Samuel se abaixou para tentar socorrer o homem. – o que aconteceu?

— Ele chegou e eu não vi – Amador cuspiu sangue na calçada e apontou para a porta do motorista que estava aberta.

Samuel notou que em cima do banco havia um celular preto. Ele pegou o aparelho com a mão direita e como mágica ele começou a tocar. Samuel atendeu a ligação e levou o celular até a orelha.

— Olá – disse um homem do outro lado da linha. – Eu não achei que seria fácil assim acabar com vocês. Na verdade, eu pensei que vocês fossem dificultar as coisas para mim, não que ficariam ao ar livre para eu brincar de tiro ao alvo.

As palavras não conseguiam chegar até a boca Samuel. Ele engoliu em seco.

— O que você quer? – Perguntou ele.

Uma risada sarcástica ecoou alto do outro lado da linha.

— Eu quero destruir a Progênese – disse o homem. – Destruir tudo o que eles tiveram sucesso, tirar tudo daqueles que tiraram tudo de mim... – Uma pausa dramática se fez na conversa deles já que Samuel não conseguiu falar absolutamente nada. – Eu declaro aberta – disse o original – a temporada de caça às bruxas – ele riu. – Ou melhor, de caças aos clones. – Em seguida a linha ficou muda.

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Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.