Minha irmã sempre me falou de amor à primeira vista, sempre me disse que o sonho dela era encontrar alguém que fosse a outra metade dela. Nunca acreditei nisso, porque na verdade, isso é tudo uma baboseira que o ser humano inventou para se iludir.

Aliás, uma coisa que o ser humano sempre conseguiu fazer bem é se iludir. Em todo filme tem aquele bobinha que se apaixona pelo galã. Ou o galã que se apaixona pela mais estudiosa.

Coisa de idiotas. Uma vez vi num livro que o amor destrói as pessoas. Se eu leio? Claro que não, mas alguém citou e especificou que era de um livro. Não o amor em si, mas o fato de senti-lo nos torna tontos e otários.

Me desculpem vocês, românticos incorrigíveis, mas não posso negar o fato de que achava tudo isso uma asneira enorme. Isso mesmo, ACHAVA.

Ontem os meninos conseguiram acabar comigo. Aquela menina exuberante que eu vira saindo de sua casa vai se encontrar com eles hoje. Eles resolveram "bater um papo" com ela e se ofereceram para conversar com ela hoje à noite e lhe mostrar o bairro.

E sabe o pior disso tudo? Eles querem me arrastar junto. Coitados, deixa eles acreditarem que eu vou. Hoje por acaso, é sábado, e sábado é o dia que vou para o centro da cidade.

Já pintaram vários convitinhos do tipo "vamos comigo?", ou " Me encontra na praça hoje às 20 hrs?" ou ainda "Estarei lá à sua espera.". Eles acham mesmo que vou perder minha noite pra mostrar o bairro pra uma desconhecida.

Não sei nada dela além do nome, Charlotte, e da idade, 15 anos. Ela é dois anos mais nova que eu, deve ser muito infantil.

- Você vai sim senhor Nicolas!

- Claro que não senhor Emanuel.- Respondi com sarcasmo, imitando-o

Ouvi um barulho com se alguém tivesse derrubado algo lá fora.

- Viu Nic, eu trouxe os meninos para me ajudarem a te arrastar.

- Ah, mas eu não vou mesmo. Nem que vocês me carreguem!

Dito e feito. Eu, magro do jeito que sou, fui fácil de ser "derrotado" por aqueles cinco. E eles realmente me levaram no colo até metade do caminho. Algumas lombadas depois, me colocaram no chão.

- Agora o mocinho vai comportadinho. - zombou o Alan.

- Vocês são os maiores idiotas do mundo! E me pagam!

- Cala a boca e não reclama Nicolas! Pensa que a gente não viu o jeito que você olhou pra Charlotte? Você "tá" totalmente na dela. E vamos combinar a menina é uma gata não é?

Os cinco começaram a rir, Emanuel me cutucava, para provocar mesmo. Eu desci o resto do morro enviando mensagens de resposta à todos aqueles convitinhos.

Que ódio! Agora estou com a noite presa a uma garota que não sabe nem meu nome e que nunca conversou comigo.

19 e 03. Foi a hora que a gente chegou na rua dela. E lá estava, sentada na calçada, amarrando os tênis, a menina que tarde passada, me deixara atônito.

Ela consegui estar mais linda do que estivera.

Os cabelos agora estavam soltos, nos olhos apenas um delineado e cílios grandes agregavam a beleza do azul claro em sua íris.

E a roupa? Nossa! Ela usava uma camiseta do Mickey com franjinhas, um shorts preto de couro com tachinhas, um bracelete de spikes, um anel de coruja e brincos de aranha.

Só vê-la já fez a noite valer a pena. Mas para dirigir-lhe a palavra eu preciso conseguir falar. Queria tanto ser maior que minha timidez, mas sério, eu não consigo. Se ela não falar comigo, acho que não falo com ela, ou talvez, por um milagre, eu consiga. Sei lá, eu sou tão...

Bipolar.