Mais Do Que Você Imagina

Promiscuidade desmedida


Pov Jimmy

Olhei para o espelho pela vigésima vez.

Caramba, eu estava ficando pior que a minha priminha querida, uma lesma disfarçada de gente com um raro complexo de lerdeza.

Ajeitei o colarinho da camisa xadrez, e abri meu melhor sorriso angelical. É, até que eu parecia convincente.

Logo após, passei gel no meu lindo cabelinho e o penteei para trás.

Meus colegas iriam rir de mim. Mas valeria a pena.

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Bianca havia se tornado uma questão de honra.

Peguei minha nova mochila, que me dava um ar mais maduro, e me pus a descer as escadas.

Papai e mamãe estavam tomando seus respectivos cafés, e nem sinal da Chris.

- Ei! – Tento soar animado, porém responsável. Mamãe revirou os olhos e tomou um gole de café. Já papai, escondeu o rosto contra a mão, e emitiu um barulho estranho.

Quando expliquei o porquê da minha repentina mudança, mamãe riu. Christina bufou. E papai escondeu o rosto contra mão, como agora.

Ele me criticou. Disse que eu deveria gostar de alguém mais acessível. Alguém que também gostasse de mim, do jeito que sou. Pedi a ele se queria ser o padrinho. Isso o fez ir “tomar um ar”, enquanto resmungava algo sobre camisinhas furadas e cabelos brancos.

Estava prestes a fazer um comentário qualquer, quando Christina resolveu aparecer.

O que posso dizer dessa minha querida maninha que acabou de fazer nosso pai cair da cadeira, e nossa mãe, engasgar-se?

Pois é. O tombo foi feio. Mas nem dei atenção. Estava ocupado demais a fitando de boca escancarada.

Seu cabelo estava novamente liso, tão comprido que chegava um pouco abaixo da metade de suas costas. Usava uma blusa com um decote generoso. Parecia que suas coisas – argh – estavam dando um bom dia a nós. A blusa vinha até o umbigo, e era de um tom escarlate berrante.

E então a minissaia. Jeans, muito colada. Dava para ver quase tudo. E essa ideia não me agradava. Nadinha mesmo.

A bota preta era de cano longo, salto médio. Seu rosto contrastava o resto. Pouquíssima maquiagem, um brilho labial, talvez. Com aquela expressão de santinha. Santinha, hnm, to sabendo.

Papai pareceu se recuperar, enquanto seu rosto ia ficando vermelho, aos poucos. Mamãe estava estática. Eu permanecia perdido. Pensamentos incoerentes.

Carraca, minha irmã estava parecendo uma cortesã!

- Christina Jacinta Mason! Onde pensa que vai com.. com... com esses pedaços de trapos!?

Papai praticamente urrou.

Finalmente fechei a boca. Aliás, havia até me esquecido de que ela estava aberta. Mas uma mosca que voava alegremente por ali meio que despertou-me.

- Vou indo, antes que perca a carona. Tchauzinho.

Mandou um beijo pra papai, que só faltava espumar, tamanha a cólera, e saiu correndo porta afora.

Bibi, aquele monstro colorido, aguardava em frente ao jardim, com uma Callilda de expressão assustada.

Christina entrou e logo a bugiganga deu partida, deixando poeira em seu rastro.

Caí na cadeira.

- Uau, isso foi... – E minha frase incompleta permaneceu no ar.

Mamãe parecia aflita.

- E agora? – Olhou para papai de uma forma penosa.

- E agora que ela vai ficar de castigo pelo resto da vida. – Completou com uma mordida em seu sanduíche e um exaltado bufar.

- Hnm, acho melhor eu ir. Tchau.

E saí quase correndo daquela casa de pecadores, em direção à parada de ônibus.

Cheguei lá um pouco ofegante.

Eric já se encontrava sentado no banco, aguardando, com uma expressão sombria.

- Ei, cunhado. – Acenei alegremente. O chamava assim, desde, tipo, sempre. Mas nunca na frente da Chris, óbvio.

- Oi.

Aquele cumprimento mais parecia uma sentença de morte.

Estava prestes a ri a pé mesmo, quando o ônibus parou em nossa frente. O deixei entrar antes, e fui logo em seguida.

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Toda aquela confusão se desvaneceu no instante que a vi, sentada sozinha, olhando fixamente para fora da janela.

Bianca nunca ia de ônibus.

Só podia ser o destino agindo em meu favor.

Aprumei-me, e fui em direção a ela. Sentei ao seu lado, e de repente minhas mãos começaram a suar. Fiquei nervoso, o que era ridículo.

Afinal, tudo não se passava de uma aposta.

Desafiaram-me. Disseram que ninguém seria capaz de conquista-la. Nem mesmo eu.

Tenho um pouco de Christina em mim. Certamente que venho de uma família com precedentes de cabeças duras e orgulhosos.

- Olá. – Minha voz soou rouca, aveludada. Vi com satisfação sua pele da nuca arrepiar-se. Quase pulei de alegria.

- Fique quieto. - Sua voz soou dura, mas não me permiti enganar-me. Ela sentia algo por mim. Precisa sentir.

- Branquinha. – Sussurrei o apelido que lhe dei, em virtude à sua cálida pele. – Dê-me uma chance. Saia comigo.

- Não. – E cruzou os braços, com uma carranca à Christina.

- Por favor... – Baixo a voz, e faço aquela cara de pidão que me concedeu um gatinho. Que foi atropelado no dia seguinte.

- Não. – Sua expressão permanece inalterada.

- Faremos assim. – Limpo a garganta. - Saia comigo hoje, depois das aulas. E prometo lhe deixar em paz.

Seus olhos brilhavam. Praticamente podia sentir o tapa – outro! - que iria levar.

Pov Christina

As pessoas não paravam de olhar para mim.

Era... Desconcertante.

Certa hora, até recebi um assobio. Calli também parecia desconfortável. Pensei em cruzar os braços, mas isso iria contra meus planos.

Eu teria minha vingança. Custasse o que custasse.

Abri um amplo sorriso, e fui até Bea e Daniel. Notei também um estranho, de costas. Hnm, belas costas...

Cheguei até eles, e estava prestes a dar outro amplo sorriso, quando o estranho virou-se de frente a mim.

- James?!

Ele realmente parecia igualmente surpreso.

- Chris... Uau. Nossa. Uau mesmo.

Fico extremamente consciente de seu olhar direcionado a toda extensão de minha pessoa. Tipo, eu, uma bela e saltitante zebra, e ele, um leão morto de fome.

Ah, qual é!

Mas então eis que uma ideia mirabolante me vem à mente. Sabe, ele até que não estava nada mal. Nada mal mesmo.

- Obrigada. Uau para você também. – E dou uma piscadela. Ele sorri de volta. Um tipo de sorriso que te aquece, o que é muito útil quando se está com uma blusa – ou semiblusa, no caso – como essa.

James havia mudado, e muito. Havia partido como um adolescente, e retornara como um homem. Com suas costas largas e másculas, braços torneados, não exagerados, mas no ponto certo. Sorriso largo e sedutor. Enquanto Eric era a lua, James pertencia ao sol. Calor era emanado dele em ondas.

Mal tive tempo de raciocinar, ao ver um Eric prestes a passar ao nosso lado. Dei dois longos passos, e logo estava nos braços de James.

Ergui-me um pouco, para poder ver a expressão de Eric, por cima do ombro de James. Estava inescrutável.

Sorri. Mas por dentro desmoronava.

Ele sequer ao menos parecia ter notado minhas vestimentas, ou sentido um pouquinho de ciúmes. E isso estava me massacrando.

Mesmo assim, sorri. O sorriso mais promíscuo que havia reservado para momento nenhum.

Afinal, parece que esse momento existia. O momento nenhum.

Passei meu braço ao redor de sua cintura, e ele fez o mesmo. Mas havia certa malicia em seu toque.

E então notei. Todos nos fitavam de uma forma estranha. Ergui o queixo. Pouco me importava o que pensariam ou diriam de mim. Quando você sofre, o resto perde importância. Quando você sofre, você aprende a não ligar mais. Esquece-se de como raciocinar.

- E aí, James – seu nome demorou-se em meus lábios – seremos coleguinhas agora?

Seu olhar caiu sobre mim. Com total peso e intensidade. Castanhos. Eles eram castanhos escuros, firmes e bem definidos. Jamais poderia haver dúvidas em relação à cor. Não eram incógnitas.

Não continham o brilho do luar.

Continham o calor do sol. Aqueciam meu corpo, faziam minha pele formigar. Mas por dentro eu permanecia gelada. Entorpecida.

Espasmos, tremores, que não ousavam chegar à superfície.

Suspirei, e tentei desligar tudo.

- Sim, somos, – e aproximou-se – coleguinha.

Meu sorriso promíscuo alargou-se.

- Pois então, vamos?

Puxei-o pela sua quente mão, obrigando-o a vir comigo. Passamos por várias pessoas que faziam questão de nos encarar e cochichar após passarmos por elas.

Entramos na sala de aula, quase toda cheia.

Eric havia se mudado de seu lugar habitual, perto de mim, e ido para o fundão da sala. Grande erro de sua parte.

Só restara uma classe desocupada, na frente de Eric. Puxei James até lá.

O que fiz em seguida, não é algo que eu vá me orgulhar algum dia.

Sentei na classe, ciente de que minha saia minúscula e pecaminosa subira uns bons centímetros, e que muitos colegas meus olhavam em minha direção agora. Inclusive o dono das incógnitas.

Sua expressão não denunciava nada. A perfeita face da indiferença. Mas foi sua mandíbula travada que o denunciou. Percebi, com deleite, que talvez ele sentisse sim, um pouquinho de ciúmes.

- E então, James – a forma como pronunciava seu nome era quase obscena – o que vai fazer hoje à tarde?

- Hnm, - chegou mais perto, bem mais perto, e pegou uma madeixa minha que havia caído sobre meus olhos – gosto do seu cabelo assim. – E percorreu com dois dedos toda sua extensão, para logo após larga-la, fazendo com que os fios caíssem com uma cascata. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios.

- Obrigada. – Limpei a garganta, incerta. Tentei de novo. – Mas o que você vai fazer depois?

- Sei lá. Acho que nada. Ainda tenho que ajeitar algumas coisas no meu antigo quarto. E você?

Fiquei consciente de que ele ia se aproximando aos poucos, cada vez mais perto. E cada vez mais os olhares iam parecendo mais pesados.

Mordi o lábio, irritada. Eu estava praticamente me oferecendo para ele, e o idiota nem notara. Olhei pelo canto do olho para Eric, cuja expressão era neutra e os braços estavam cruzados.

Abri a boca, prestes a responder sua pergunta, com um nada, e que tal se juntássemos nossos nadas?, quando Eric resolveu nos agraciar com sua fala.

- Você tem detenção, esqueceu?

Pisquei. De fato, havia esquecido, mas não iria admitir isso.

- Hnm, claro que eu lembro. – E dei de ombros. Espera, talvez ele não tenha dito isso para, sei lá, tentar me afastar de James?

Inclinei-me para trás, de modo que pudesse olhar para os dois, apoiada em um cotovelo. Abri um meio sorriso.

- Por que, isso importa? – Complementei com uma sobrancelha erguida.

- Nem um pouquinho. – Sua vez de dar de ombros. – Agora, será que poderia sair dali?

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A princípio pensei ter escutado errado. Mas então compreendi. Voltei meu olhar para James, que observava a tudo com uma expressão estranha.

Puxei-o pela frente da blusa, com uma só mão. Ele veio com facilidade, na verdade, pareceu agradar-lhe a ideia. Agora havia uma perna minha em cada lado seu, e muito pouco espaço entre nós. Fiquei balançando os pés, para tentar disfarçar o nervosismo.

- E que tal se saíssemos após eu terminar minha detenção? – Sugeri, e mordi o canto da boca. Seu olhar se demorou em meu ato, e sua mão tomou a liberdade de apoiar-se em minha perna, onde terminava a saia.

- Claro. Eu te busco, ok?

Sorriso promíscuo.

- Perfeito.

E pulei da classe.

Ignorei os olhares, enquanto ia para meu lugar, rebolando de forma exagerada a cada passo. E quando alguém me encarava demais, eu retribuía o olhar, com o dobro de intensidade. Eu os intimidava.

Sentei-me, e bem quando terminei de cruzar as pernas, o professor entrou.

Adivinha qual?!

Ah, o bom e velho Borges. O mesmo sujeitinho que me agraciou com uma estupenda detenção ao lado daquele acéfalo.

- Olá tur... – E parou abruptamente, ao ver-me. Ficou vermelho, típico dele, ao visualizar minhas pernas à mostra. – Senhorita Mason, retire-se da minha aula, imediatamente. Não tolerarei esse tipo de comportamento.

Fiz uma cara de desentendida.

- Não compreendo. Do que o senhor está falando? Poderia ser um pouco mais explícito?

E dá-lhe corada violenta.

- Saia!

Confesso que fiquei um pouquinho assustada, nunca o vira tão fora de si por tão pouco.

Apanhei minha mochila, que sequer ao menos havia aberto, e dirigi-me à porta. Quando passei pelo ser abominável número dois com fortes tendências a ficar vermelho, atirei-lhe um beijinho soprado. Só faltava ele chutar-me para fora da sala.

Segurei o riso enquanto andava pelos corredores desérticos.

Fui degustando com os dedos as texturas das paredes, sentindo-me cada vez mais leve. E leve. E leve. A flutuar. Solta. Perdida nas dúvidas e incertezas.

Fechei os olhos, e me aderi inteiramente ao momento. Esqueci tudo aquilo que andara preocupando-me. De repente era apenas uma garotinha, que não sabia o que fazer em seguida. Aquilo não durou mais que alguns momentos. Alguns minutos. O suficiente para quase chegar a fazer alguma diferença.

Mas quando abri meus olhos e retornei a realidade, estava tudo perdido. O momento havia vindo, e ido, sem alterar minha situação.

Eu deveria estar triste, mas não conseguia discernir meus sentimentos bem o suficiente. Estava tão, mas tão confusa! Nada parecia fazer sentido.

Foi então que aconteceu.

Não por escolha, muito menos por opção, simplesmente por acontecimento aleatório. Podia ser com qualquer outra garota desiludida. Mas foi comigo.

Algo dentro de mim se partiu, quebrou, transformou-se em pequenos, milhares, e delicados estilhaços. E então esses pequenos fragmentos juntaram-se, aos trancos e barrancos. Alguns já não se encaixavam mais. Outros ficaram fora de ordem.

Era eu. Um quebra-cabeça montado ao contrário, de uma forma impossível.

Impossível mas realizável.

Adeus Chris Piradinha.

Olá, Chris promíscua e remendada.