Seria mentira dizer que conseguira dormir uma hora se quer na noite que se passara e ainda sim Scorpius não demonstrava qualquer resquício de estar preocupado. A não ser talvez pelas olheiras gritantes de baixo de seus olhos cinzas ou quem sabe pela sua perna que batia obsessivamente no chão.

— Malfoy, controle-se - Lily sussurrou baixinho - Está me dando nos nervos.

— EU estou uma pilha de nervos - bufou nervoso - se eu ficar mais um segundo nesse avião vou explodir.

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A ruiva fechou a revista que lia com força, encarando-o irritada.

— Bom, então parece que a Rose não vai se casar afinal de contas, não porque você resolveu dizer como se sente, mas sim porque a sua excelência aqui vai explodir o avião todo em mil pedaços.

— Ajudaria muito não ter que lidar com os roncos do seu marido, um pouco de paz e silêncio não me faria mal. - resmungou enfezado - Inclusive como você dorme com isso?

Os dois olharam para Luke que estava com a cabeça apoiada na janela, com a boca aberta e provavelmente com baba escorrendo no seu lado esquerdo enquanto roncava realmente muito alto.

— Tampões de ouvido fazem maravilhas - ela revirou os olhos - Mas isso não é o ponto, a questão é que você parece um adolescente que acabou de dar o primeiro beijo de tão nervoso.

— Lily, será que você não entende? Nós nos beijamos, mas ainda assim estamos voando para Escócia para o casamento dela com outro cara! Acho que já está bem óbvio que eu estraguei tudo, perdi minha chance, não vai acontecer.

— Scorpius - a expressão maternal no rosto da ruiva quase quebrou seu coração - É isso que está te incomodando? Você mesmo disse que aquilo mal foi um beijo e eu tenho certeza que a Rose está completamente confusa… Você não pode culpá-la em não desmanchar o casamento apenas por causa disso, por favor.

Ele abriu a boca, um pouco indignado, prestes a retrucar.

— Ela precisa ouvir, Scorpius. Precisa ouvir com todas as palavras que você a ama e quer ficar com ela, não de um beijo trocado que poderia muito bem só ter acontecido por pressão. Rose precisa saber que você está dentro de verdade, precisa ter a certeza que você nunca deu a ela.

Era verdade e ele sabia. Novamente se sentiu um estúpido por precisar que Lily lhe jogasse na cara coisas tão óbvias que apenas um cego não veria. Mas ele parecia cego a tudo que dizia respeito a ela, não conseguia pensar racionalmente e desesperava-se muito em situações que pediam calma.

Depositou, então, um casto beijo na testa da ruiva. “Obrigado”, pareceu gritar. Nada era mais justo do que dar à Rose tudo que ela merecia.

Lily sorriu e voltou a ler sua revista, parecendo perceber que Scorpius estava mais calmo e precisava, apenas, colocar seus pensamentos em ordem.

Maldito fosse Scorpius Malfoy. A noite passada teria sido simplesmente perfeita se tivesse ocorrido há um ano atrás, jogo de basquete e um beijo. Tudo que ela mais queria. Mas não agora. Não agora que estava noiva, não agora que estava voando para encontrar seu noivo, não agora que seu casamento estava apenas a dias de distância.

Há um ano atrás Scorpius não me queria.

E ela estava morrendo de medo de admitir, no entanto achava que o único motivo pelo qual seu melhor amigo resolvera mostrar algum interesse era porque estava perdendo-a. A criancinha mimada que não queria dividir seu brinquedo, mas também não queria brincar com ele. Tinha medo que se ela se entregasse, ele perderia o interesse. Tinha medo de seu único apelo fosse estar noiva.

Meu deus, por que eu estou sequer pensando nessas coisas?

Tinha muito, mas muito, medo de pensar no que aquilo significava. Não queria, mas sabia que o beijo havia despertado coisas nela que tinha certeza que haviam desaparecido. Não queria, mas podia fechar os olhos nesse momento e lembrar de cada mínimo detalhe. Aquele beijo, aquele maldito beijo, apenas ressuscitara nela suas maiores inseguranças. Será que era possível amar duas pessoas? Estava petrificada de medo porque sentia que amava Colin quase tanto quanto temia que não fosse o suficiente.

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O loiro viu uma movimentação nas fileiras da frente, na sua diagonal, e fechou os olhos apressado.

As mãos da ruiva suavam quando se levantou da cadeira, era realmente ridículo, mas seu coração martelava tanto em seu peito que ela estava com vergonha pensando que as pessoas poderiam ouvi-lo.

Achava que seu estômago não poderia embrulhar mais do que já estava, no entanto Scorpius sempre foi capaz de despertar os sentimentos mais intensos nela. De olhos fechados, com a cabeça reclinada para trás, o pescoço esguio tão convidativo, os lábios levemente entreabertos, ele estava imensuravelmente belo. Foi inevitável pensar no beijo que trocaram, ou melhor, no leve encostar de lábios. Scorpius parecia um anjo, um anjo terrivelmente demoníaco que a deixava mais confusa do que tudo.

Mal reparara que havia estancado no meio do corredor, sentiu seu rosto queimando e acelerou o passo até o banheiro. Ainda que ela soubesse que a súbita vontade de ir ao banheiro fosse nada menos que uma desculpa, uma água no rosto talvez a fizesse bem agora, quem sabe não clareava um pouco seus pensamentos.

Scorpius sentiu o exato momento em que ela passou pelo seu lado, seu perfume seria algo que ele jamais esqueceria. Abriu os olhos em seguida para confirmar que a cadeira dela estava vazia.

Lily abriu um sorriso largo com a cena que havia acabado de presenciar, era ridículo de tão óbvio o quanto tudo era apenas questão de tempo.